terça-feira, 31 de maio de 2011

Globo abafa crise da Fifa

Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

Amigo navegante mineiro chama a atenção deste ansioso blog para a forma pela qual o G1, o Globoesporte.com e o Bom (?) Dia Brasil tratam do escândalo que enrola a Fifa e Ricardo Teixeira.


Na capa do G1 há suborno.

Na informação interna não há mais suborno.

O interessante, porém, é a informação que segue a reportagem do Bom (?) Dia Brasil. O repórter informa que a própria Fifa considerou Ricardo Teixeira inocente de ajudar a Rússia a derrotar a Inglaterra na disputa pela Copa de 2018.

Como se sabe, um dirigente do futebol inglês disse ao Parlamento inglês que Ricardo Teixeira lhe perguntou o que você tem aí para mim.

A Fifa inocentou Teixeira.

E a Globo inocentou a Fifa e Teixeira.

É mais ou menos como se o Vaticano inocentasse o Bispo de pedofilia.

Em tempo: o jornal nacional do Ali Kamel não ousou perder tempo com o Ricardo Teixeira. Fez uma reportagem que absolve o presidente da Fifa e sequer mencionou o presidente da CBF. O que seria do Esporte da Globo sem o Ricardo Teixeira ? Ou será o contrário?

sábado, 28 de maio de 2011

Revista Época quer matar Dilma

Por Brizola Neto, no blog Tijolaço:

Alertado por um leitor, fui ver a capa da Época, na qual uma foto da presidenta, de olhos fechados, é usada para ilustrar uma matéria sobre uma suposta gravidade de seus problemas de saúde.

É sordidamente mórbida.

Registra que os seus médicos dizem que ela “apresenta ótimo estado de saude”, mas a partir daí tece uma teia mal-intencionada e imunda sobre os problemas que ela apresentou e os outros que tem, normais para uma mulher da sua idade.

O hipotireoidismo, por exemplo, é problema comuníssimo entre as mulheres de mais idade. É por isso que todo médico pede a eles, sempre, o exame de TSH. E o hormônio T4 – Synthroid, Puran, Levoid, Euthyrox e outros – tomado em jejum, é a mais básica terapêutica, usada por anos e anos por milhões de mulheres do mundo inteiro.

A revista publica uma lista imbecil de “medicamentos” que a presidente tomava, em sua recuperação de uma pneumonia, listando tudo, até Novalgina, Fluimicil e Atrovent (usado em inalação até por crianças), e chegando ao cúmulo de citar “bicarbonato de sódio – contra aftas”.

Diz que o toldo que abrigou Dilma de uma chuva, em Salvador, ” lembrava uma bolha de plástico”.

Meu Deus, o que esperavam que fizessem com uma mulher que se recuperava de um pricípio de pneumonia? Que lhe jogassem um balde de água gelada por cima?

Essa é a “ética” dos nossos grandes meios de comunicação. Não precisam de fatos, basta construírem versões, erguendo grandes mentiras sobre minúsculas verdades.

Esses é que pretendem ser os “fiscais do poder”.

Que imundície!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Espanha: A indignação das ruas

Por Mauro Santayana, em seu blog:

Os protestos populares na Espanha não diferem, em sua essência, dos que ocorreram e ocorrem nos países árabes. Excluída a observação de que a Europa começa nos Pirineus, que tenta localizar historicamente a Península Ibérica na África, há mais do que a proximidade geográfica na semelhança entre os movimentos. Se, no caso dos países árabes, muitos dos manifestantes se insurgem contra o poder pessoal, na Espanha esse protesto se dirige contra o sistema como um todo.

No capitalismo neoliberal, dominado por banqueiros corruptos, políticos corruptos, intelectuais corrompidos, e alguns poderosos meios de comunicação, pouco importa o partido que se encontre no poder: a ordem de domínio e de exploração é a mesma.

A ocupação das ruas não é nova na história. A possível desordem nas manifestações populares nem sempre é má. Muitas vezes é a expressão da ira dos justos. O padre Francisco Lage, de Belo Horizonte, ao ser questionado por liderar manifestações populares, no início dos anos 60, costumava dizer que muitas vezes é preciso a desordem das ruas, para que se imponha a ordem nas consciências.

Em uma dessas manifestações, em favor dos trabalhadores municipais havia meses sem receber, o padre montou um presépio humano na véspera do Natal, que se encenava, alternadamente, sob a marquise dos grandes bancos. Os banqueiros se reuniram e fizeram generoso empréstimo à Prefeitura, a fim de livrar-se da incômoda manifestação de fé.

Por mais que os meios de comunicação finjam não perceber o que tais manifestações anunciam, o povo está começando a sair às ruas, e às ruas sairão, em todas as latitudes e longitudes, em busca de uma vida mais humana. As instituições estatais não podem continuar a serviço dos mais fortes, nessa promiscuidade escandalosa entre os que dominam o capital financeiro e os que ocupam os governos. Os grandes jornais norte-americanos não noticiam, como deveriam, os movimentos que, de forma discreta, por enquanto, começam a surgir naquele país, protestando contra a crescente e insuportável desigualdade social.

Ontem à noite, milhares de pessoas se reuniam na Porta do Sol, centro geográfico de Madri, convocados pelo movimento suprapartidário dos indignados, sob o lema de Democracia Real, Já. Não admitem que a crise econômica seja resolvida com o sacrifício dos trabalhadores, enquanto as corporações multinacionais, dominadas pelos grandes bancos – como algumas que nos exploram no Brasil – continuem beneficiadas pelo governo.

Hoje, são os “socialistas” que se empenham em favorecer o capitalismo neoliberal, como ontem foram os conservadores, dentro do sistema eleitoral vigente – parlamentarista e de listas fechadas, registre-se. Como disse o comentarista Iñaki Gabilondo, de El Pais, os partidos devem deixar a sua postura narcisista e entender o que se passa na sociedade real da Espanha. Terão que se refundar, com seriedade e urgência.

Enganam-se os que se encontram no poder. Se, em toda a História, o poder foi situação precária, sujeita às intempéries sociais, em nossos dias sua fragilidade é maior. A força da internet tornou veloz a mobilização dos inconformados e a explosão dos indignados. Como bem comentou o jornalista Ramón Lobo, em seu blog acolhido por El País, “Madri não é Tahrir, mas o vírus é o mesmo: o fastio de uma juventude sem esperança - diante de um mercado minguante que se “moderniza” cortando direitos sociais e empregos - com o único horizonte de contratos imundos, de longa duração. Prevalece a voz oficial, a dos outros, a da linguagem burocratizada, a das entrevistas coletivas sem perguntas, a dos intocáveis”.

Frente aos superbilionários que, todos os anos, se reúnem em segredo, para dividir o mundo em novas colônias, a indignação das ruas é a legítima e necessária ação de defesa dos oprimidos. Em todas as latitudes.

A luta pelo novo marco regulatório

Do sítio do Instituto Telecom:

O Marco Regulatório – Propostas para uma Comunicação Democrática foi tema de seminário promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), nos dias 20 e 21 de maio, no Rio de Janeiro. A partir dos debates dos Grupos de Trabalhos, que abordaram temas como a regulamentação audiovisual; controle público, meio e suas concessões; convergência digital e democratização da banda larga foi definida uma plataforma política do movimento que será entregue ao governo.

Entre as propostas aprovadas nos Grupos de Trabalhos do Seminário estão a resolução de que a comunicação social seja considerada um bem público respeitando a diversidade, a liberdade de expressão e a transparência, e acesso às informações; a regulamentação do artigo 223 da Constituição Federal diferenciando os sistemas público, privado e estatal, inclusive na questão da produção e programação de conteúdo, assim como a do artigo 221, que deve dar garantias para a produção e veiculação dos conteúdos regionais e independentes.

Também foram defendidas ações como o fortalecimento da Telebrás, a determinação de que o serviço de banda larga seja prestado em regime público; a proibição da renovação automática das concessões, que devem passar a estabelecer limites à concentração e ficarem impedidas de ser transferidas, arrendadas ou ainda concedidas a políticos com mandato.

O evento ocorre, justamente, num momento decisivo para o país quando, depois de muita luta e pressão da sociedade civil, o governo montou um grupo de trabalho para, a partir das propostas da Confecom, formalizar um anteprojeto de criação do Marco Regulatório da Comunicação.

De acordo com o assessor executivo do Ministério das Comunicações, James Görgen, presente ao Seminário, o governo está preparando uma proposta de regulamentação dos artigos 221, 222 e 223 da Constituição, que tratam especificamente da produção e programação de rádios e televisões e da concessão e renovação de outorgas e regras de propriedade.

Görgen reconheceu que ainda falta a parte relativa às telecomunicações e, embora não tenha dado mais explicações, destacou a necessidade de algumas mudanças na Lei Geral de Telecomunicações de maneira a atender a evolução do serviço de banda larga, a universalização dos serviços de telecom e os conteúdos transportados por eles.

Görgen anunciou ainda que o Minicom pretende criar uma "mesa de diálogo" com a sociedade para discutir temas do anteprojeto de regulamentação das comunicações no país. Para o Instituto Telecom, o anúncio é relevante porque, ainda que tardiamente, representa o reconhecimento oficial do governo do direito da sociedade civil opinar nas decisões sobre o setor.

Mas, é preciso que fique claro como vai funcionar a escolha e a participação das entidades civis nesse processo e, principalmente, o que será feito a partir disso.

As audiências públicas e os debates antes do anteprojeto ser levado para votação no Congresso são a base para a participação popular e devem ser feitas de maneira acessível para a população.

O coordenador-geral do FNDC, Celso Schröder, alertou para o fato de que o diálogo entre o governo e a sociedade será positivo para a proposta do Marco Regulatório desde que não haja um retrocesso com a retomada, por parte da iniciativa privada, de discussões já superadas na Confecom. "Não podemos perder mais tempo e dinheiro com isso. Os atores que quiseram participar, participaram. O momento, agora, é de o governo apresentar sua proposta. Aí, a gente pode até sentar, clarear as ideias, mas não começar mais um debate", defendeu.

Durante o encontro, a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular, também destacou: “Enquanto houver esse déficit de democracia na política de comunicação social do nosso país e estivermos defasados em relação à revolução tecnológica que ocorreu no setor (telecom) nos colocamos numa situação ainda mais precária. E o fato de não termos acompanhado no plano institucional legal normativo aquilo que se avançou nas tecnologias no mundo impactou enormemente nas comunicações sociais do nosso país,” declarou.

Para o Instituto Telecom, o protagonismo da sociedade civil é fundamental para a democratização da comunicação no país. Apesar das últimas ações do Minicom darem sinais favoráveis ao Marco Regulatório, é preciso que a população continue pressionando e deixe claro que esta é uma das principais tarefas do Ministério das Comunicações, assim como a universalização da banda larga e a definição deste serviço em regime público. Afinal, embora a criação do Marco Regulatório seja uma luta antiga, até agora o governo não definiu um prazo concreto para que ele seja debatido com a sociedade e siga para votação no Congresso Nacional.

Nós, do Instituto Telecom, consideramos extremamente importante o diálogo do governo com a sociedade, mas não basta apenas ouvir as propostas dos setores sociais. É preciso que estas sejam efetivamente respeitadas e postas em prática. O acesso aos veículos de radiodifusão e serviços de telecomunicações não pode ser concentrado nas mãos de uma minoria. As comunicações têm que atender ao interesse público. Não podem e nem devem ser privilégio de alguns.

Caso Palocci: a luta é política

Por Brizola Neto, no blog Tijolaço:

Não estou fazendo juízo de valor sobre qualquer situação. Nem tenho porque condenar ou absolver alguém antes de que os fatos sejam esclarecidos. No mínimo, antes que se aguarde a entrega, esta semana, das informações pedidas pelo procurador-geral da República ao Ministro Antonio Palocci. E, mais de uma vez, já disse que nunca morri de amores por sua linha de idéias político-econômicas.

Seja como for, os fatos alegados não se referem a ações de Governo, mas atos e negócios praticados fora do Governo, pelos quais, se for o caso, ele deve responder.

Todos, aliás, devemos responder por nossos atos.

A análise que cabe agora não é jurídica ou factual.

É política.

Fracassado o discurso da “inflação”, é o da moralidade que resta à mídia e à oposição.

Ora, moralidade é indispensável.

E a direita brasileira nunca fez muita questão dela.

Não estamos diante de um caso de purismo moral.

Estamos diante de um caso de ataque político. O Governo Dilma está sendo acossado por uma via indireta, mas que chega ao Palácio.

Ou a gente já se esqueceu de como foi o processo eleitoral? O alvo estava na mesma sala hoje ocupada por Palocci.

E isso precisa ser enfrentado.

Ninguém se iluda, isso não vai passar “com o tempo”.

Pode passar a situação específica. Mas outras, não importa se verdadeiras ou falsas, aparecerão.

Não que não importe ser verdade ou mentira. Claro que importa, mas para nós, não para a oposição.

Porque é o único discurso possível para uma oposição esvaziada e incapaz de fazer seu papel, o de oposição política.

Precisa que a a mídia faça por ela.

E que nós, pela melhor das boas intenções e com os olhos mais fixos na árvore do que na floresta, embarquemos na “onda”. Esqueçamos da política e nos ocupemos apenas em lidar com “escândalos” e, enfraquecidos, deixemos de lado o que estamos aqui para fazer: dar um país digno ao povo brasileiro.

Não me é confortável dizer essa verdade. Poderia estar aqui surfando a onda das denúncias, até porque não tenho nada a perder, pessoal ou politicamente, e nenhum acerto político a obter.

Mas tenho, sim, algo a perder. Todos temos. Permitir que se enfraqueça politicamente o Governo Dilma é abrir caminho para a direita derrotada, apesar dos métodos “éticos” e “morais” que todos vimos.

Não significa acobertar nada, ao contrário. mas de esclarecer, abrir, informar e debater.

De reagir e não sermos levados como cordeiros ao matadouro.

Porque estas situações começam aparentemente “do nada”. Mas, se não houver reação e combate, ninguém pode prever quando e como acabam.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Palocci e o “Feirão da Caixa” vão eleger o Cerra em 2014

Por Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada

Este ansioso blogueiro foi com a mulher, Geórgia Pinheiro, diretora- executiva do Conversa Afiada, e o dileto amigo Miro Borges, presidente do Instituto de Mídia Alternativa Barão de Itararé ao “Encontro de Blogueiros e Redes Sociais – PE”, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, neste sábado.

Na entrada, esbarramos numa fila monumental.

Interminável.

Que dava a volta ao Centro, um prédio amplo, espalhado.

Era muita gente.

Estávamos atrasados, mas este ansioso blogueiro se aproximou da fila.

Era o segundo dia do “Feirão da Caixa”.

Falou com um e com outro.

Um jovem casal, muito simpático, por exemplo,

Ele, analista de sistemas, ela, assistente de RH.

Eles têm bebê e moram de aluguel num apartamento de três quartos.

Preferem um próprio, mesmo que menor.

Ele explica que não pretende usar o FGTS – “quero guardar para uma eventualidade”.

Está na fila para comprar um apartamento de 70 m2, com dois quartos.

Encontro um homem de 60 anos, jovem, forte, cabelo devidamente pintado de acaju, e uma mulher bem mais nova, simpática.
Quais são seus planos ?

Um apartamento de R$ 200 mil, ele explica.

Vocês moram de aluguel ?

Moram.

Quer um quarto para o bebê, é isso ?, eu pergunto.

Ele pisca o olho, ela protesta: “nem pensar !”.

O ansioso blogueiro segue em direção aos blogueiros ansiosos.

Geórgia se vira e diz: “você acha que eles querem saber de Ley de Medios, Miro ? Eles querem é casa própria !”.

O ansioso blogueiro se vira para o Miro e diz: “Miro, isso aí é capitalismo na veia !”.

Miro, quieto.

“Miro, o Lula foi o mais capitalista dos presidentes do Brasil !”.

Amigo navegante, sabe quantas pessoas entraram naquela fila: 15 mil por dia, em dois dias !


Reflexões no avião de volta a São Paulo.

O Palocci lambuzou a imagem de probidade que cercava o Governo da Presidenta.

A crise do mensalão passou longe da Ministra Chefe da Casa Civil.

O Palocci é uns dez mensalões: do PT, do PSDB e do DEMO, juntos.

A classe média vai ao Paraíso da casa própria – “toda classe média do mundo quer isso”, diz a Geórgia – e, como toda classe média, se torna conservadora.

Este ansioso blogueiro já disse aqui que, sem a Ley de Medios, a Classe C vai eleger o Berlusconi.

Hoje, como observaram o Mino e a Carta Capital, o Aécio (o do bafômetro) e o Cerra (do Paulo Preto e do “perito” Molina) estão mudos – passam a mão na cabeça do Palocci, com medo do telhado de vidro.

Mas, em 2014, se alguma coisa balançar o coreto da estabilidade econômica …

Se alguma coisa der a sensação àquele analista de sistemas de que estão querendo que ele volte à classe “D”.

Se alguém ou alguma coisa ameaçar sua vertiginosa ascensão …

Se os Brucutus do Cerra – o Cerra sempre fica mudo, quando se trata de denunciar a corrupção – desembrulharem a empresa do Palocci e o faturamento de 10 milhões entre o fim da campanha da Dilma e a posse na Casa Civil …

Dez milhões em dois meses, amigo navegante !

Se, se, se …

A oposição vai se pendurar no pescoço da UDN e do Partido Republicano Paulista e empunhar a velha bandeira de guerra: a Moralidade e os Costumes.

Se não houver uma Ley de Medios para a presidenta mostrar o que é uma fila do “Feirão da Caixa” (porque se o jn do Ali Kamel falar vai ser para espinafrar a falta de ar condicionado do lado de fora do Centro de Olinda)…

Se, se, se …

O Cerra será eleito em 2014.

Clique aqui para ler”Filho de Roberto Marinho redigiu a Carta aos Brasileiros do Palocci, segundo Palocci”.

Folha quer tirar sangue dos aposentados

Por Altamiro Borges, no Blog do Miro

Todo o terrorismo midiático sobre o retorno iminente da inflação tem objetivos marotos. Visa defender os interesses do capital, em especial da oligarquia financeira. Para manter seus altos rendimentos, os neoliberais pregam, na maior caradura, a retirada de direitos dos trabalhadores. A mídia rentista cumpre o papel de bater o bumbo!

Dois ataques estão em curso. O primeiro é contra o salário mínimo. A mesma mídia que criticou as centrais sindicais por exigirem um aumento maior em 2011 – acusando-as de “romperem acordos” –, agora prega um reajuste menor em 2012. A desculpa é que o aumento previsto provocará a indexação dos preços, elevando a inflação. Contra os trabalhadores, a mídia defende a manutenção do acordo; já quando o acordo beneficia dos trabalhadores, ela defende que seja rasgado. É muito cinismo!

Terceira reforma da Previdência

O segundo ataque também já está no forno. É por uma terceira fase da “reforma” da Previdência. A mídia, a serviço da oligarquia financeira, defende o aumento do tempo de aposentadoria e das contribuições previdenciárias. Em seu editorial de hoje (23), a Folha volta a bater nesta tecla – retomando velhas teses neoliberais.

O conteúdo é o mesmo; o invólucro é que muda. Desta vez, a Folha cita os exemplos da Europa para justificar o ataque. Afirma que no velho continente, devido à grave crise econômica, o tempo de aposentadoria já é mais elevado. Só não explica que a crise não decorre das pensões e aposentadorias, mas sim dos socorros bilionários aos especuladores – que já quebraram as economias da Grécia, Irlanda, Portugal e que contaminam outras nações européias.

Merkel, a heroína neoliberal

Marota, a Folha relata que Angela Merkel, premiê da Alemanha, exige que os países mais abalados pela crise elevem o tempo das aposentadorias para terem acesso a novos empréstimos. A medida, obviamente, esbarra em forte resistência – é uma das razões principais das greves recorrentes na Grécia e da atual onda de protesto na Espanha. Mesmo assim, a Folha afirma que este é o caminho. “Toda proposta de mudança no sistema previdenciário costuma trazer sério risco para a popularidade dos políticos”.

Tendo a neoliberal Merkel como heroína do deus-mercado, a Folha sugere a mesma “coragem” à presidenta Dilma e elogia o novo ministro da Previdência. “Garibaldi Alves Filho acerta ao colocar o tema em discussão. Ele propõe um plano para elevar a 65 anos a idade mínima. A regra valeria só para quem começar a trabalhar após a mudança”.

Alerta ao sindicalismo

A única ressalva à proposta do ministro é que ela ainda manteria o diferencial entre os sexos. “A expectativa de vida das mulheres é superior à dos homens. Parece recomendável, do ponto de vista econômico, a extinção desse diferencial no limite de idade”.

Como se observa, o salário mínimo e as aposentadorias estão no alvo da mídia neoliberal. O sindicalismo precisa ficar bem atento. Prepara-se uma nova ofensiva contra os direitos dos trabalhadores!

sábado, 21 de maio de 2011

Vocês tampouco conseguirão sabotar Dilma

Por Eduardo Magalhães, no Blog da Cidadania

Sei que vocês estão lendo o que escrevo. Então, só para começar, quero avisá-los de que, se acham que conseguirão fazer com Dilma o que não conseguiram fazer com Lula, estão muito enganados. E, se acham que encontraram resistência antes, esperem só para ver agora.

Nesse caso do Palocci, vocês acham que, como ele é alvo de antipatia da esquerda por suas boas relações com o mercado, parte dos que apoiaram a eleição de Dilma poderão ser manipulados indefinidamente, como estão sendo no caso do principal ministro dela.

Quanto tempo acham que vai demorar para ficar absolutamente claro que os alvos não são Palocci ou Dilma, mas o governo? Vocês tentam sabotar o governo para que não consiga continuar melhorando o país, o que é a única chance de vocês voltarem ao poder.

Quanto tempo mais será necessário para que todos percebam que cada vez mais ministros estão virando vossos alvos? Ana de Hollanda (que fez um monte de bobagens), Nelson Jobim, Fernando Haddad, Antonio Pallocci… Todos vão entrando na roda, em maior ou menor grau.

O caso de Palocci é mais sério. Apesar de suas questionáveis posições políticas e ideológicas (por ser do PT), está inserido no projeto de Dilma, que apoiei na eleição. E, neste momento delicado da economia, com a guerra cambial internacional açulando a inflação, ele é primordial.

Vocês não estão gastando toda essa artilharia contra Palocci à toa. Sabem muito bem que a queda do principal ministro do governo, neste momento, poucos meses após a posse, seria um desastre para o governo e para o país. Continuam apostando no caos.

Sim, Dilma e o governo ainda hesitam em partir para a briga. Mas se acham que é medo, lembrem-se de que Lula também hesitou. Uma hora ela vai se cansar de ser sabotada e vai reagir tanto quanto o antecessor.

E não se animem se conseguirem derrubar Palocci. Vocês derrubaram o José Dirceu e acharam que tinham dado um golpe mortal no PT, mas, ao fim, ferraram-se.

Eu, particularmente, bancaria essa briga já. Mostraria, por A mais B, que Palocci enriqueceu como enriquecem todos os que ocupam o cargo que ocupou porque o sistema permite isso, legalmente. Não há nada de errado. Palocci fez nada mais do que aproveitar a boca.

Vocês sabem que eu gostaria de ser crítico em relação ao governo. Sabem que nunca ganhei nada do governo, que nada ganho e que luto muito pra sobreviver. Já me investigaram, que eu sei. Vocês não entendem minhas razões? É porque se pautam por vocês mesmos…

Vou infernizá-los, meus caros. Podem ter certeza disso. E não tenho medo de vocês. Farei quantas manifestações forem necessárias, farei quantas representações forem necessárias, escreverei tantos textos quantos forem necessários…

Sabem por quê? Só vejo uma forma de melhorar minha vida. Há alguns meses, durante um almoço com amigos e um parlamentar, ele me perguntou se poderia ajudar em alguma coisa no caso de minha filha doente. Eu lhe disse: faça por todos que ela se beneficiará também.

Julgam-me ingênuo? Vocês é que são. O país está melhorando à revelia de vocês. E este governo, como o anterior, trava uma guerra contra o preconceito. São preconceitos étnicos, de orientação sexual e regional, no mínimo. Preconceitos que vocês criaram.

Vocês não conseguiram nem quando tinham base de apoio muito maior no Congresso. Agora, golpistas, a situação é muito mais adversa e seus métodos não variam. Serão surrados pela sociedade, que continuará apoiando Dilma se ela continuar melhorando a sua vida.

Aliás, tomem cuidado porque a armação contra Palocci pode se voltar contra vocês. Estou sabendo que se levarem muito adiante essa safadeza, vossos amiguinhos da área econômica do governo FHC vão ter que entrar na roda. E vocês sabem o que isso significa.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cultura: mercadoria ou bem comum?

Por Emir Sader, no sítio Carta Maior:

Todo o programa neoliberal, assim como o diagnóstico que levou a ele, pode ser sintetizado em um ponto: desregulamentar. O diagnóstico de por que a economia tinha parado de crescer, depois do ciclo mais longo de expansão capitalista no segundo pos-guerra, se centrou no suposto excesso de regulamentação. O capital se sentiria inibido para investir, por estar cerceado por excesso de normas, leis, políticas, que bloqueariam a “livre circulação do capital”.


Chegado ao governo, o neoliberalismo se pôs a privatizar patrimônio público, a diminuir o tamanho do Estado, a abrir as economias nacionais ao mercado internacional, a “flexibilizar” as relações de trabalho, entre tantas outras medidas padrão codificadas no chamado Consenso de Washington e colocadas em prática por governos às vezes com origens ideológicas distintas, mas todos rendidos ao “pensamento único”. Todas elas são formas de desregulamentação, de retiradas de supostos obstáculos à circulação do capital.

Quando se privatizam empresas se está levantando obstáculos para que o capital privado se aproprie delas, se está desregulamentando o mercado de propriedade de empresas. Quando se aceita a não obediência a normas básicas da legislação do trabalho para contratar trabalhadores, se está desregulamentando o mercado de trabalho. Assim para todas as medidas do receituário neoliberal.

Promoveu-se assim, rapidamente, o maior processo de concentração de riqueza que tínhamos conhecido, tanto a nível nacional, quanto mundial. Sem proteções dos Estados, os mais frágeis, os mais pobres – a grande maioria de cada sociedade, em especial as periféricas, - se viram indefesos diante das ofensivas do capital e dos Estados centrais do capitalismo.

Direitos, como aqueles à educação e à saúde, foram deixando de ser direitos para se transformar em mercadorias, compráveis no mercado. Quem tem mais recursos, compra mais e melhor, em detrimento de quem não tem. Riquezas naturais, como a água passaram a ser mercadoras, compradas e vendidas.

O Estado, principalmente nas suas funções reguladoras – de afirmação dos direitos contra a voracidade do capital – passou a ser vítima privilegiada dos ataques neoliberais, pregando-se o “Estado mínimo” e a primazia do mercado, isto é, da concorrência feroz, em que os mais fortes e mais ricos ganham sempre.

Até a cultura foi vítima de um grande embate, para definir se se trata de uma mercadoria mais ou de um bem comum. Do ponto de vista institucional o debate se deu para definir se a cultura deveria ser objeto da Organização Mundial do Comércio (OMC) e, portanto, uma mercadoria a mais, ou no âmbito da Unesco, considerada como patrimônio da humanidade, como bem comum, com as devidas proteções. Terminou triunfando esta segunda versão – apesar da brutal oposição e pressão dos EUA, que chegaram a se retirar da Unesco.

Foi um momento muito importante de resistência ao neoliberalismo, que queria reduzir também a capacidade de cada povo, de cada nação, de cada setor da sociedade, de afirmar suas identidades específicas, dissolvidas pela globalização. Queriam desregulamentar também a cultura, deixá-la ao sabor das relações de mercado, sem proteção de regulações estatais.

Mas o embate não terminou por aí, porque o poder avassalador dos capitais privados, nacionais e internacionais, é um fluxo permanente, cotidiano, buscando expandir seu poder de mercantilização. As TVs públicas, por exemplo, se debilitam no seu papel diferenciado dos mecanismos de mercado que regem as TVs privadas, enfraquecidas pela falta de financiamento, apelam ao mercado e induzem seus mecanismos – como aconteceu tristemente com a TV Cultura de São Paulo.

Programas como o de Pontos de Cultura, do MINC, surgiram na contramão dessa lógica homogeneizadora da globalização na esfera cultural, buscando incentivar e proteger todas as formas de diversidade de cultural, de afirmação da heterogeneidade das identidades de setores sociais, étnicos, regionais, diferenciados.

Muitos outros debates atuais hoje no Brasil – o dos Commons, da propriedade intelectual, dos direitos de autor – são também objeto de duas concepções diferenciadas, uma regulamentadora – anti-neoiberal – outra desregulamentadora, neoliberal, mercantilizadora. No marco mais geral do embate entre neoliberalismo e posneoliberalismo, é que a natureza das posições fica mais clara. Por um lado, as normas protetoras que consideram a cultura como um bem comum, de outro, a desregulamentação, que a consideram uma mercadoria como outra qualquer. Do seu desenlace depende a natureza da cultura no Brasil na segunda metade do século XXI.

Preconceito descortina país pouco cordial

Por Marcelo Semer, no blog Sem Juízo:

Homofobia, xenofobia, sexismo. Ojeriza ao pobre e um renascido antissemitismo.

Houve de tudo um pouco no cardápio tétrico dessa última semana de nenhum orgulho e muito preconceito.


Onde foi parar, afinal, aquele Brasil, um país de todos?

O deputado Jair Bolsonaro acusa seus colegas de quererem transformar crianças em gays - como se uma campanha contra a intolerância pudesse controlar orientações sexuais.

Pelo sim, pelo não, a bancada religiosa impede a aprovação da lei que criminaliza a homofobia, para que os portadores das palavras de fé e esperança possam gozar da liberdade de disseminar preconceitos.

Parece piada, mas não é.

E o que é piada nem parece.

Rafinha Bastos tenta em vão fazer rir ao dizer que "toda mulher que se diz vítima de estupro é feia". O estuprador, então, não merece pena, mas um abraço. Ria-se com um barulho desses.

Rafinha, o homem mais influente do Twitter, segundo o nada desprezível New York Times, não está sozinho nesse novo humor bolsonaro, que busca agredir e chocar, custe o que custar.

Seu colega Danilo Gentili tuíta a um milhão e meio de seguidores grotesca piada com o Holocausto, para justificar uma imaginária aversão de judeus a vagões, sem compreender o que havia de preconceito de classe no repúdio ao Metrô em Higienópolis.

Moradores do bairro fizeram um abaixo-assinado contra a estação Angélica, e uma psicóloga descortinou em entrevista o principal motivo da rejeição: a chegada ao bairro de uma "gente diferenciada" que acompanha estações de Metrô - drogados, mendigos e, enfim, faltou acrescentar: pobres de todo o gênero.

A reação positiva e bem-humorada ao preconceito se deu com um churrasco-manifesto diante do luxuoso shopping Higienópolis, sábado último, em uma mobilização espontânea e sem líderes, provocada a partir de um convite que se alastrou no Facebook.

Mas nem o próprio Facebook escapou incólume da semana trágica.

O site de relacionamentos censurou a foto de perfil de uma mulher amamentando.

A imagem era justamente o ponto de partida para a campanha contra a proibição de amamentar em público, tomada pelo instituto Itaú Cultural. A campanha acabou resultado em um "mamaço" diante da própria instituição.

Curioso como o sexismo convive bem com a exposição erótica, mas não com o ato de saúde e carinho que é mais pura expressão do amor materno. Corpo nu da mulher só como objeto, jamais como sujeito.

Infelizmente, porém, nem todos os atos de preconceito ganharam a mesma indignação na rede social.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou reportagem mostrando que com o crescimento de roubos no bairro do Morumbi, a Polícia Militar decidiu isolar a favela de Paraisópolis com uma operação chamada Saturação.

Os detalhes do tratamento daquela "gente diferenciada" são simplesmente impactantes: bloqueios da entrada da favela das 7h às 23h, três incursões diárias por suas vielas e ladeiras e soldados armados com potentes metralhadoras revistando as pessoas que entram ou saem da comunidade.

Os desabafos dos moradores não repercutiram no Facebook, mas merecem destaque: "Isso só serve para marcar todos como bandidos"; "Fui levar meu filho à escola com um monte de soldados e cavalos cercando minha rua".

Já imaginou se isso acontecesse em Higienópolis?

Se todas as pessoas da cidade são revistadas quando saem de suas casas, vivemos em um Estado Policial. Mas se apenas os favelados o são, vivemos um Estado ainda pior. Naquele que discrimina a suspeita, e em decorrência da maior vigilância, criminaliza a pobreza.

Alguém duvida que uma Operação Saturação, próxima a badaladas casas noturnas, não resultaria também em inúmeros crimes vinculados a entorpecentes?

Ou uma revista casa a casa em ruas dos Jardins não levaria à apreensão de armas ilegais, como muitas vezes se faz nas comunidades com mandados de busca coletivos?

A presunção de culpa não está distribuída igualmente pela sociedade.

E não está, porque, afinal de contas, a presunção de culpa é nada mais nada menos do que a mais fiel tradução do preconceito.

Mídia democrática e limites da internet

Por Jaime Sautchuk, no sítio Vermelho:

A Internet é apontada, hoje, como a redenção, o alvorecer da era da verdadeira democratização da mídia, os meios de comunicação no mundo. Está mais do que claro, porém, que essa é mais uma ilusão, de tantas que a história nos guardou.


No varejo, tudo bem, todo mundo pode acessar e trocar lá suas mensagens. Fazer páginas, blogs, redes e tudo o quanto quiser para falar de política ou sexo é fácil e até banal. É como se fosse uma válvula de escape para as angústias dos viventes. No atacado, porém, a história é muito diferente. O buraco é mais embaixo.

Como no passado, com outras mídias, esta também está sob controle das forças que dominam o mundo. Em temas de importância estratégica para o centro do mundo, em especial os Estados Unidos, as redes são monitoradas e conduzidas. E em momentos de crise, há a possibilidade de controle total. E aí, babau democracia.

Muitos exemplos têm sido mostrados até na grande mídia, meio sem querer, mas que deixam claras as tendências do sistema internético. Um deles é o caso do Egito, onde foram bloqueadas as linhas de celular e o acesso via computador, pelos técnicos do regime então em vigor.

No entanto, os gerentes das redes mundiais intervierem e as desbloquearam. O motivo pode ser qualquer um. O que nos chama atenção, contudo, é a possibilidade de isso ser feito. Tanto o bloquear quanto o desbloquear, como era alardeado, seriam coisas impossíveis. Para usar a linguagem dessa mídia, ksksksks...

Por outro lado, há incontáveis páginas alocadas na rede que não são passíveis de acesso. É o caso, por exemplo, da página das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs), que existe, mas que no Brasil ou nos Estados Unidos, ninguém consegue acessar, por motivos “técnicos”.

Isso nos remonta à própria história dos modernos meios de comunicação. Desde a sua primeira etapa, que foi a da luta pela liberdade de imprensa. Esta era pelo direito de se possuir uma máquina impressora, até então estatais, como forma de, a partir dela, exercer outra liberdade, a de expressão.

Transferiu-se apenas o controle das máquinas das mãos do estado para as mãos dos setores privados que controlam inclusive o estado. Ou seja, os meios seguirem nas mãos das elites. E estas sempre estiveram a favor do colonialismo, da dominação do mundo, do subjugo de povos, da exploração de recursos naturais e assim por diante.

Veio então o rádio, no limiar do século 20, e com ele a mesma esperança de democratização do acesso e liberdade de expressão. Doce ilusão. Nas frequências do rádio voaram as ideologias das forças colonial-imperialistas, com enorme importância especialmente no período da segunda Grande Guerra e, depois, na chamada guerra fria.

A influência de emissoras como a BBC de Londres, na Grã-Bretanha, e da Voz da América, nos EUA, para citar dois exemplos, foi brutal no período pós-guerra. É claro que, de outra lado, havia a rádio de Moscou, também com potentes transmissores em Ondas Curtas, e, já na década de 60, a rádio de Havana, em Cuba, que entrava rachando em toda a América Latina, especialmente na região amazônica.

Mas, também aí era possível ter controle. A BBC e a Voz praticaram incontáveis vezes o recurso do jamming, que significa “engarrafamento” e, no caso, expressa o ato de entrar com uma onda magnética sobre outra, na mesma frequência, e assim picotar a transmissão indesejada.

Nós temos um grande exemplo disso aqui no Brasil. A Rádio Nacional da Amazônia, estatal, foi criada durante a ditadura militar para embananar as ondas da Rádio de Havana. O objetivo foi plenamente atingido. Não havia essa preocupação, por exemplo, com a BBC da Jamaica, que era colônia britânica, e isso explica a influência da música caribenha na região norte do País, especialmente no Maranhão.

O fato é que, também no caso do rádio, a mídia ficou nas mãos de estados e de grandes grupos econômicos com a mesma coloração ideológica. E é esta a situação que até hoje vigora.

Com o advento da TV, de novo se esperava alguma forma de abertura. Mas, a TV incorporou, no caso dos EUA, a prática que já vinha em curso no cinema desde antes da guerra, com o conhecido uso de Hollywood como base de difusão da ideologia ianque.

Mesmo no Brasil, onde a matriz da TV foi o rádio e não o cinema, ocorreu o mesmo processo, já que ainda hoje boa parte da programação televisiva daqui é de enlatados, termo que vem das latas redondas que traziam os filmes do cinema e, depois, os programas de TV.

O processo que se vê agora segue o mesmo caminho. É certo que a Internet abre chances que eram inexistentes e amplia a possibilidade de acesso. Não há dúvida sobre isso. A questão, no entanto, é que os limites já estão bastante bem desenhados.

PIG lamenta oposição “meia-bomba”

Por Esmael Morais:

O Partido da Imprensa Golpista (PiG) decidiu tomar o lugar das legendas de oposição ao governo Dilma Rousseff. Os principais jornais criticaram nesta semana os dirigentes maiores do PSDB – Aécio Neves e José Serra -- porque eles não estariam cumprindo seu papel de algozes de Antonio Palocci, diante da denúncia envolvendo a evolução patrimonial do ministro-chefe da Casa Civil.


Se os partidos de oposição nada fazem para desestruturar o governo, a velha mídia faz. Portanto, resolveu sair a campo.

Não é a primeira vez que o PiG despiu-se do mando da conveniente imparcialidade. Nas eleições de 2010, diante da fraqueza de José Serra no enfrentamento da candidata de Lula, o Partido da Imprensa Golpista posicionou-se raivosa e preconceituosamente contra Dilma.

O episódio Palocci sinaliza que a trégua do PiG com o governo Dilma acabou (se é que ela existiu algum dia). O fato é pedagógico porque havia um sem-número de militantes governistas que acreditavam no refresco dado pela velha mídia à nova gestão. Os grupos econômico-midiáticos apostavam numa ruptura entre a presidenta e o ex-presidente visando fragmentar a esquerda.

A aliança inquebrantável entre Lula e Dilma levou o PiG ao ataque nesta semana, substituindo as principais lideranças dos partidos de oposição.

Serra e Aécio, como bons tucanos, decidiram ficar em cima do muro. Preferem acumular gordura para o embate mais adiante, em 2014, quando pretendem disputar com Dilma. Eles mostraram que têm tempo político diferente do das empresas de comunicação, embora operem juntos na maioria das vezes em interesses comuns.

Surra na Câmara

O PMDB foi peça-chave na derrubada do pedido de sessão para discutir a convocação do ministro Antonio Palocci. Nesta quarta, apenas 72 parlamentares votaram a favor e 266 votaram contra.

Rindo por dentro

Boa parte do PT não se envolveu no imbróglio do ministro-chefe da Casa Civil. Não defende, nem ataca. Ri por dentro e assiste de camarote ao bombardeio midiático-oposicionista. Trata-se de ajuste de contas no partido por vias heterodoxas.

Só no tapetão

Sem votos no Congresso para instalar CPI, a oposição tentará atingir o “coração” do governo Dilma – leia-se Palocci – apelando a medidas administrativas e judiciais.

Conspiração ianque

ONGs capitaneadas pela SOS Florestas Paraná (?) lançaram nesta quarta um movimento para brecar a votação do Código Florestal e substituir o relator da matéria, deputado Aldo Rebelo (PCdoB). O comunista já avisou que “daqui não saio, daqui ninguém me tira” porque seriam entidades a serviço de uma conspiração ianque.

Vai ou não vai?

O governo tentava um acordo com a oposição para votar o Código Florestal na noite desta quarta.

Marcha da Maconha-1

O juiz Davi Capelatto concedeu habeas-corpus preventivo para 17 pessoas que pretendem participar da Marcha da Maconha, no próximo sábado (28), em São Paulo. O magistrado citou o ex-presidente FHC como defensor público da maconha, sem nunca ter sofrido processo.

Marcha da Maconha-2

Por outro lado, o deputado delegado Francisquini (PSDB-PR) protocolou no Ministério Público Federal representação contra o Google por hospedar o site http://marchadamaconha.org. Por que o parlamentar tucano não faz uma representação contra FHC?

*****

A política como ela é:

A previsão de Requião

Na semana passada, o senador Roberto Requião (PMDB) recebeu em Brasília uma comitiva de prefeitos paranaenses que participavam da Marcha dos Prefeitos. Lá pelas tantas, um “atrevido” perguntou-lhe à queima-roupa:

- Requião, como está o Pessuti?

Sem titubear e para o espanto dos presentes, o senador foi lacônico:

- O Pessuti morre até o final deste ano.

Na mesa, os prefeitos revezaram-se entre gargalhadas e espanto com a sinistra previsão do senador.

O ex-governador Orlando Pessuti (PMDB) era vice de Requião. Os dois estão rompidos há um ano, depois de militarem juntos quase três décadas.

* Contatos com a coluna: http://colunadoesmael.com – E-mail: esmaelmorais@hotmail.com – Twitter: @esmaelmorais

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A inocência deslumbrada de Palocci

Por Eduardo Guimarães, no Blog da cidadania

As “denúncias” contra o ministro-chefe da Casa Civil do governo da presidenta Dilma Rousseff suscitam uma avalanche de reflexões, as quais, na opinião deste blog, para quem não está fazendo jogo político são as mais importantes, apesar de que não estão sendo discutidas.

Em primeiro lugar, a artilharia contra Palocci integra o que poucos destacaram apesar de estar ficando cada vez mais claro: acabou-se a “lua-de-mel” entre este governo e a imprensa golpista. Foi bom (?) enquanto durou, mas já era.

Dilma bem que tentou. Foi simpática, não fez provocações, chegando ao nível de ter ido prestigiar o jornal que já põe as garras de fora e se mostra disposto a infernizar o novo governo, ainda que, por enquanto, poupando a sua titular diretamente, o que pode significar uma mudança sutil de estratégia, de atacar o governo sem agredir pessoalmente o titular como ocorria na época de Lula.

Mas por que, isso? Será que Dilma está contrariando tanto a mídia conservadora e aqueles que ela representa? Está nada. Apenas não está cortejando essas forças, como queriam.

Após o episódio da festa de 90 Anos da Folha, tudo voltou ao normal. Dilma apenas tentou ser gentil e desarmar espíritos, agora se vê.

Todavia, a direita entendeu como rendição. É sério: entendeu que os vencedores se renderam só para não terem o desgaste de lutar. Aqui já se dizia, porém, que, se Dilma os contrariasse – ou quando os contrariasse –, qualquer esforço de distensão iria por água abaixo. E foi.

Vamos entender por que a onda com inflação, Copa do Mundo, livros didáticos e, sobretudo, contra o “homem do mercado”, Antonio Palocci.

Este, também não entendeu o jogo. Acha que basta não contrariar interesses ou contrariá-los o mínimo possível. Não basta. Tem que favorecer a esses interesses e fazer oferendas no altar midiático.

É claro que há interesses que a direita midiática não quer ver contrariados. Essa história de acabar com a miséria no Brasil, por exemplo, vai custar mui caro. Mas se pagar bem, que mal que tem?

Ou seja: a mídia quer contratos, quer demonstrações de respeito, quer poder. Se o governo não oferece, danou-se.

Vejam o caso de Palocci. É claro que ele enriqueceu após deixar o Ministério da Fazenda na esteira da grande farsa que foi o caso do caseiro Francenildo, subornado pela direita midiática para acusar e derrubar um dos principais ministros do governo Lula.

Querem me informar, então, qual foi o membro de equipe econômica que não ganhou rios de dinheiro após a passagem pela área econômica de um governo?

Por que a imprensa nunca se interessou pela evolução patrimonial de um professor universitário como Persio Arida, que, depois da passagem pela vida pública, tornou-se banqueiro? Porque todos sabem que passagem pela área econômica do governo, ainda mais como ministro da Fazenda, dá muito dinheiro.

Ao sair do governo, o então ministro da economia Antonio Palocci levou consigo informações privilegiadas assim como levam todos os que atuam na área econômica governamental. Mas a mídia só quer saber o que Palocci fez com tais informações. Os outros “não interessam”.

Há um período de “quarentena” que membros da área econômica do governo têm que cumprir após deixarem o cargo, mas é ridiculamente baixo. Seis meses. Seis míseros meses e o sujeito que dirige a economia do país, e que carrega todas as informações que carrega, pode cair nos braços do “mercado”.

É óbvio que todos lucram com isso e, se isso é imoral, é para todos e não só para Palocci. Fica óbvio, então, que a questão em relação a ele é política e não de interesse público.

Agora, não vamos deixar passar batida a conduta, não de Palocci, mas da classe política. Por que alguém que deve primar pela conduta sóbria como um ex-ministro da economia e que, agora, ocupa o cargo de ministro dos ministérios compra um apartamento de seis milhões de reais?

A resposta é deslumbramento. Esse é um mal que aflige de tucanos a petistas. Atinge a toda classe política. O poder deslumbra. A autoridade deslumbra. Tudo isso afasta o político da sociedade, estigmatiza-o e causa danos irreparáveis à confiança na democracia.

A Síria e o imperialismo dos EUA

Por Sara Flounders, no sítio português Resistir:

Quando o imperialismo dos EUA se empenha num ataque a qualquer governo ou movimento, os movimentos políticos dos trabalhadores e dos progressistas para uma transformação precisam forçosamente de reunir o maior número de informações disponíveis e assumir uma posição.


É uma cobardia manter-se neutro e é uma traição alinhar com o polvo imperialista, que procura dominar o mundo.

Isto é o ABC dos movimentos dos trabalhadores ao longo dos 150 anos de lutas com consciência de classe. É a própria base do marxismo. Reflecte-se nas canções sindicais que lançam o desafio "De que lado é que estás?" e por intermédio dos dirigentes sindicais que explicam vezes sem conta: "Uma ofensa feita a um é uma ofensa feita a todos".

O mundo árabe está a ser abalado por uma explosão social. O imperialismo americano e todos os antigos regimes da região a ele ligados estão a tentar desesperadamente gerir e conter esta revolta de massas, que ainda está em evolução, canalizando-a de modo a não ameaçar o domínio imperialista na região.

Os EUA e os seus colaboradores também estão a tentar dividir e corroer as duas alas de resistência – as forças islâmicas e as forças nacionalistas seculares – que, em conjunto, derrubaram as ditaduras apoiadas pelos EUA no Egipto e na Tunísia. Há neste momento um esforço concertado dos EUA para virar essas mesmas forças políticas contra dois regimes na região que se têm oposto ao domínio dos EUA no passado – a Líbia e a Siria.

Tanto a Líbia como a Síria têm os seus problemas de desenvolvimento, que são exacerbados pela crise geral do capitalismo global e por décadas de compromissos que lhes foram impostos quando tentavam sobreviver num ambiente hostil de ataques permanentes – políticos, por vezes militares, e que incluíam sanções económicas.

Os bombardeamentos dos EUA/NATO sobre a Líbia clarificaram a posição do imperialismo em relação a este país. Os exploradores transnacionais estão apostados em apoderar-se totalmente das mais ricas reservas de petróleo da África e eliminar os milhares de milhões de dólares com que a Líbia estava a contribuir para o desenvolvimento de países africanos muito mais pobres.

A Síria também é um alvo do imperialismo – por causa da sua heróica defesa da resistência palestina durante décadas e da sua recusa em reconhecer a ocupação sionista. Não podemos esquecer o apoio da Síria ao Hezbollah na sua luta para acabar com a ocupação israelense do Líbano e a sua aliança estratégica com o Irão.

Embora seja difícil compreender uma grande parte da situação interna da Síria, é importante assinalar que, nesta luta em curso, apareceram nítidas declarações de apoio ao governo sírio e contra as tentativas dos EUA de desestabilização vindos de Hugo Chávez da Venezuela, do secretário geral do Hezbollah Seyyed Hassan Nasrallah do Líbano e de diversos dirigentes exilados do Hamas, a organização palestina que foi eleita pela população de Gaza. Estes líderes políticos têm sofrido campanhas de desestabilização dos EUA que utilizaram maquinações dos media empresariais, de grupos da oposição financiados a partir do exterior, de assassínios programados, de operações especiais de sabotagem e de operacionais da Internet bem treinados.

Do lado da supostamente "oposição democrática" estão reaccionários como o senador Joseph Lieberman, presidente da poderosa Comissão de Segurança Nacional do Senado, que apelou ao bombardeamento da Síria a seguir ao da Líbia. Os veementes apoiantes da oposição na Síria incluem James Woolsey, antigo director da CIA e conselheiro da campanha presidencial do senador John McCain.

A Wikileaks denuncia o papel dos EUA

Um artigo intitulado "Os EUA apoiaram secretamente grupos da oposição síria", de Craig Whitlock (Washington Post, 18 de Abril) descreveu com grande pormenor as informações contidas em telegramas diplomáticos americanos que a Wikileaks enviou a agências noticiosas de todo o mundo e publicou no seu sítio web. O artigo resume o que esses telegramas do Departamento de Estado revelam sobre o financiamento secreto de grupos políticos da oposição, incluindo a difusão de programação anti-governamental no país através de televisão por satélite.

O artigo descreve esses esforços, financiados pelos EUA, como fazendo parte de uma "campanha já antiga para derrubar Bashar al-Assad, o líder autocrático do país" que assumiu o poder durante o mandato do presidente George W. Bush e continuou com o presidente Barack Obama, apesar de Obama ter afirmado estar a reconstruir as relações com a Síria e ter enviado um embaixador para Damasco pela primeira vez em seis anos.

Segundo um telegrama de Abril de 2009 assinado pelo principal diplomata americano em Damasco na altura, as entidades sírias "consideravam obviamente quaisquer fundos americanos destinados a grupos políticos ilegais como equivalentes a um apoio à alteração do regime". O artigo do Washington Post descreve com algum pormenor as ligações entre a TV Barada da oposição, financiada pelos EUA, e o papel de Malik al-Abdeh, que está na sua direcção e distribui vídeos e protestos actualizados. Al-Abdeh também está na direcção do Movimento para a Justiça e Democracia, que é presidido pelo seu irmão, Anas Al-Abdeh. Os telegramas secretos "relatam receios persistentes entre os diplomatas americanos de que os agentes de segurança sírios tenham descoberto o rasto do dinheiro a partir de Washington".

Papel da Al Jazeera

Talvez que o desafio mais revelador e a denúncia da campanha de desestabilização na Síria tenha surgido com a demissão de Ghassan Ben Jeddo, o jornalista mais conhecido do noticiário da televisão Al Jazeera e chefe do seu escritório de Beirute. Bem Jeddo demitiu-se como forma de protesto pela cobertura preconceituosa da Al Jazeera, referindo-se sobretudo a uma "campanha de difamação contra o governo sírio" que transformou a Al Jazeera numa "agência de propaganda".

A Al Jazeera fez uma cobertura favorável do imparável levantamento popular de milhões no Egipto e na Tunísia. Mas este canal de notícias por satélite também noticiou extensivamente todas as reivindicações e acusações políticas, independentemente de serem ou não consubstanciadas, feitas pela oposição política tanto na Síria como na Líbia. Tornou-se na voz mais forte na região, seguida por milhões de visitantes, a clamar pela intervenção "humanitária" dos EUA, zonas de interdição aérea e bombardeamento da Líbia. Portanto é importante compreender a posição da Al Jazeera como uma corporação de notícias, principalmente quando ela afirma ser a voz dos oprimidos.

A Al Jazeera, que tem a sede em Qatar, nunca noticia que 94 por cento da força de trabalho no Qatar é formada por imigrantes que não têm quaisquer direitos e existem em condições de quase escravatura. A repressão brutal do movimento de massas na monarquia absoluta do Bahrein, que fica mesmo ao lado de Qatar e está hoje ocupada por tropas sauditas, também pouca cobertura recebe da Al Jazeera.

Será que esta censura existe porque as Notícias TV Al Jazeera são financiadas pelo monarca absoluto de Qatar, o emir Sheikh Hamad bin Khalifa Al Thani?

È muito importante assinalar que a Al Jazeera nunca se refere à imensa base militar americana Central Command ali mesmo em Qatar. Os aviões de controlo remoto levantam regularmente daquela base em missões secretas por toda a região. Qatar também tem enviado aviões para participar no bombardeamento dos EUA/NATO na Líbia.

Qatar trabalha em ligação estreita com o Departamento de Estado dos EUA apoiando a intervenção americana na área. Qatar foi um dos primeiros estados árabes, e o primeiro dos estados do Golfo, a estabelecer relações com Israel. Durante o bombardeamento de Gaza por Israel, em 2009, cancelou essas relações mas já propôs restabelecê-las.

O Facebook e a contra-revolução

A CIA e a National Endowment for Democracy tornaram-se especialistas na utilização duma barragem dos media sociais, tal como o Facebook, o Twitter e o Youtube para atulhar os governos visados com milhões de mensagens fabricadas, boatos falsos e imagens.

Alertas fabricados sobre lutas e divisões entre facções rivais nas forças armadas da Síria, com vista a provocar demissões, vieram a provar-se serem falsos. Por exemplo, o major general al-Rifai (Ret.) desmentiu, por não terem fundamento, notícias difundidas por televisão satélite de que estava a liderar uma divisão nas forças armadas. Acrescentou que já se tinha reformado há dez anos.

Izzat al-Rashek, da Comisão Política do Hamas, e Ali Baraka, representante do Hamas no Líbano, desmentiram publicamente afirmações de que a liderança desta organização de resistência palestina estava a mudar-se de Damasco para Qatar. Ali Baraka explicou que isso era uma invenção americana para pressionar Mahmoud Abbas da Fatah e impedir a reconciliação palestina, agudizando o conflito entre os movimentos de resistência e a Síria.

O governo sírio denunciou que franco-atiradores tinham disparado sobre manifestações, visando militares e policiais na tentativa de levar a polícia a abrir fogo sobre os manifestantes.

Boatos, publicações anónimas na Internet e notícias por televisão satélite destinadas a agudizar diferenças sectárias fazem parte da campanha de desestabilização.

Carácter duplo da Síria

Não é difícil perceber porque é que o imperialismo dos EUA e os seus peões na região, incluindo Israel e as monarquias corruptas dependentes da Jordânia, do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita, querem ver uma 'mudança de regime' na Síria.

A Síria é um dos poucos estados árabes que não tem relações com Israel. Várias organizações de resistência palestina têm escritórios no exílio na Síria, incluindo a Hamas. A Síria é um estreito aliado do Irão e do Líbano.

A Síria actualmente não é um país socialista nem país revolucionário. O capitalismo, com as suas inevitáveis desigualdades, não foi derrubado. Há uma classe capitalista na Síria, muita gente dentro dela beneficiou das 'reformas' que privatizaram antigas indústrias anteriormente na posse do estado.

No entanto, o estado sírio representa forças contraditórias. Tem sido um bastião na defesa das conquistas alcançadas nas lutas anti-colonialistas e nos levantamentos das massas árabes nos anos 60 e 70. Durante esse período foram feitas muitas conquistas sociais importantes, foram nacionalizadas as principais indústrias e recursos que tinham pertencido ao capital estrangeiro e foram feitos importantes avanços nos cuidados de saúde garantidos, nos padrões de vida e na educação.

A Síria, sob o Partido Baath Socialista Árabe, é um país rigorosamente laico. Manteve a liberdade de religião para toda a gente, embora sem permitir que um grupo religioso dominasse ou fosse promovido pelo estado.

Mas o regime na Síria também tem reprimido duramente as tentativas dos movimentos de massas, com base no Líbano e na Síria, que pretendiam continuar a lutar. Justificou a repressão dos movimentos passados apontando para a sua posição precária mesmo ao lado de Israel, o impacto das duas guerras israelenses em 1967 e 1973, e a consequente ocupação israelense e anexação da importante região dos Montes Golan na Síria durante 44 anos.

Anos de sanções dos EUA e anteriores tentativas de desestabilização também tiveram um efeito cumulativo. O aparelho de estado, sempre temeroso duma intervenção externa continuada, passou a ter medo da mudança.

É essencial reconhecer este carácter duplo e não desculpar nem ignorar todos os problemas que daí decorrem.

A Síria ainda tem o fardo acrescido de albergar mais de 500 mil refugiados palestinos e seus descendentes nos últimos 63 anos. As condições destes são melhores do que em qualquer dos países vizinhos porque, ao contrário do Líbano e da Jordânia, os cuidados de saúde, o ensino e a habitação são acessíveis aos palestinos na Síria.

O impacto da guerra do Iraque

A maciça invasão americana e a destruição do Iraque vizinho, o debate Bush-Blair sobre um ataque semelhante à Síria em 2003, e as novas e duras sanções sobre a Síria aumentaram a pressão intensa.

Mas o factor mais perturbador nunca é discutido nos media: mais de um milhão e meio de iraquianos invadiram a Síria para fugir aos últimos oito anos de ocupação dos EUA.

Esta foi uma invasão brutal para um país com uma população de 18 milhões em 2006. Segundo um relatório de 2007 do gabinete do Alto Comissário para Refugiados dos EUA, a chegada diária de 2 000 iraquianos desesperados teve um impacto enorme sob todos os aspectos da vida da Síria, em especial nos serviços prestados pelo estado a todos os seus cidadãos e a todos os refugiados. A Síria tem o nível mais alto de direitos cívicos e sociais para refugiados em toda a região. Outros países vizinhos exigem uma conta bancária mínima e impedem a entrada de refugiados pobres.

A chegada inesperada destes refugiados iraquianos teve um impacto dramático nas infra-estruturas, nas escolas primárias e secundárias garantidas, nos cuidados de saúde grátis, na disponibilidade de habitações e noutras áreas da economia. Levou a um aumento de custos a todos os níveis. Os preços dos géneros alimentícios e dos bens básicos aumentaram 30 por cento, os preços do imobiliário de 40 por cento e as rendas de casa em 150 por cento.

Os refugiados iraquianos também beneficiaram dos subsídios estatais sírios na gasolina, na alimentação, na água e noutros bens essenciais fornecidos a toda a gente. Uma massa tão grande de gente desempregada levou ao abaixamento dos salários e a uma concorrência acrescida nos empregos. O impacto das dificuldades económicas globais durante este período difícil agudizou os problemas. (Middle East Institute, 10/Dezembro/2010, relatório sobre Cooperação com Refugiados)

Os EUA criaram a crise de refugiados, que provocou a deslocação de mais de 25 por cento da população iraquiana, por causa da violência sectária. No entanto, são os que aceitam o menor número de refugiados e dão menos do que o custo de um dia de guerra no Iraque para os custos de assistência das Nações Unidas. As sanções americanas na Síria aumentaram as deslocações económicas.

Tudo isto reforçou a consciência do governo sírio e da população quanto aos perigos da ocupação americana e da desestabilização interna e quanto ao banho de sangue que pode resultar da violência sectária instigada pelos EUA.

Washington afirma estar preocupado com a instabilidade na Síria. Mas o imperialismo americano enquanto sistema é obrigado a criar a instabilidade. O domínio esmagador e o poder das corporações militares e petrolíferas na economia dos EUA e os enormes lucros dos contratos militares reforçam infindavelmente o pendor para procurar soluções militares.

Todas as declarações feitas pelo governo sírio têm reconhecido a importância de fazer reformas internas importantes embora mantendo a unidade nacional num país extremamente diversificado que tem diferenças históricas na religião, nas tribos e nas regiões e contém actualmente 2 milhões de refugiados.

As diversas nacionalidades, religiões e grupos culturais na Síria têm todo o direito de fazer parte deste processo. Mas o que eles precisam sobretudo é do fim da constante e cruel intervenção dos EUA.

EUA fora da Síria!

Avança o projeto de regulação da mídia

Por Samuel Possebon, no sítio do Instituto Telecom:

Discretamente, o projeto de Lei de Comunicação vai sendo lapidado no Ministério das Comunicações e deve começar a ganhar forma definitiva já no próximo mês. O ministro Paulo Bernardo estabeleceu ao grupo de trabalho que está redigindo o documento que conclua até o final de maio um resumo com os principais pontos do texto a ser proposto. Esse briefing deve ser levado à presidenta Dilma Rousseff e depois discutido dentro do governo, especificamente com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM) e com o Ministério da Cultura.


Essas discussões internas precedem o debate público, que deve acontecer no segundo semestre. Este noticiário apurou que já está praticamente concluída a modelagem legal que será proposta referente ao setor de radiodifusão e em relação à estrutura regulatória. O que ainda está sendo discutido são as possíveis alterações na Lei Geral de Telecomunicações que poderão ser feitas no âmbito da revisão do marco regulatório.

PGMU

Esta semana o ministro Paulo Bernardo deve levar à presidenta Dilma Rousseff um primeiro esboço das linhas de ações que serão seguidas pelo Minicom em relação ao Plano Nacional de Banda Larga, para atender à exigência presidencial de que se crie uma infraestrutura moderna e capaz de massificar o acesso à Internet a velocidades de pelo menos 1 Mbps.

Paulo Bernardo, após participar do evento promovido pela Anatel e pelo Ipea sobre pesquisa e desenvolvimento, confirmou que já conversou com a presidenta e que deve se encontrar com ela esta semana para tratar do tema. Segundo ele, o ministério já tem algumas propostas a serem levadas, mas só vai torná-las públicas após apresentar para Dilma.

Em relação à vaga ainda em aberto para o conselho diretor da Anatel, Bernardo disse que ainda não tem uma definição dos nomes que serão sugeridos à presidenta e que não deve fazê-lo esta semana.

Protesto em Higienópolis incomoda a mídia

Por Altamiro Borges, postado em seu blog

O “churrascão em Higienópolis”, o protesto irreverente contra o patético elitismo de alguns moradores deste bairro “chique” da capital paulista, continua rendendo comentários na mídia. Nem dava para esconder o sucesso da manifestação realizada no último sábado – que, segundo a PM, mobilizou 700 pessoas e, segundo os mais otimistas, reuniu 4 mil manifestantes.



Cobertura esconde caráter político

No geral, os telejornais trataram o evento como uma grande “festa”, sem ressaltar seu caráter eminentemente político de repúdio ao preconceito de 3.500 moradores que assinaram abaixo-assinado contra a construção de uma estação de Metrô – que traria, segundo uma das signatárias, “gente diferenciada” para o bairro, como mendigos, camelôs e os pobres.

A TV Globo, por exemplo, até deu destaque ao churrascão – o que não é comum na emissora, que sempre esconde ou criminaliza os protestos populares. Mas preferiu tratar o episódio em termos “técnicos”, ouvindo “especialista” do governo tucano sobre a utilidade da estação do Metrô. Evitou abordar o caráter classista do evento, a sua crítica ao preconceito da elite paulistana.

O pitbull da revista Veja

Já alguns “calunistas” tentaram desqualificar o protesto. Reinaldo Azevedo, da Veja, foi um dos mais agressivos – se é que algum dia ele não já foi hidrófobo. Preocupado diante do “preconceito contra os ricos”, até mentiu para agradar seus cegos seguidores. Garantiu que o ato no shopping Higienópolis reuniu “não mais do que 50 ou 60 pessoas – e estou sendo generoso”. Ridículo!

“Eu estava no meio da turma, disfarçado de cachorro, para não ser identificado”, relata Reinaldo, o que reforça o seu apelido de pitbull da Veja. Raivoso, ele afirma que os manifestantes eram os “burguesotes extremistas”, os “festivos” e os “petralhas”, como ele rotula, agressivamente, a militância petista e de esquerda. Pelo tom, o protesto irritou o queridinho da nobre famiglia Civita.

Tentativas de desqualificar o ato

Já Fernando de Barros e Silva, da Folha, foi mais cuidadoso, mas não conteve o veneno. Ele realmente esteve no churrascão – sem qualquer disfarce de cachorro. Eduardo Guimarães até teve um bate-boca civilizado com o jornalista “primário”, conforme relato no Blog da Cidadania. Em sua coluna, ele jura que “não pretendo tirar o brilho do evento”, mas procura desqualifá-lo.

Afirma que o churrascão foi “das classes médias (médias mais altas do que baixas). O povão era residual” – como se isto retirasse a importância da mobilização. Ancorado num amigo, diz que “o protesto parecia um playground revolucionário”. E ainda teoriza: o ato expressou “uma fração de classe reagindo ao sentimento ostensivamente antipovo de representantes dessa mesma classe”.

Razões do incômodo

Este incômodo de setores da mídia pode ter várias explicações. A primeira é a rejeição a qualquer protesto popular. As elites têm medo do povo na rua, seja exigindo direitos ou criticando os desmandos das elites. Gente na rua só é bom quando é manietada, quando serve aos seus interesses de classe – como nas marchas golpistas de 1964, insufladas pela Folha e outros jornalões.

A outra explicação decorre da crescente força da internet. Em três dias, sem qualquer material impresso ou ação mais organizada, centenas de pessoas foram mobilizadas para participar de um protesto contra o preconceito da elite. As redes sociais cumpriram papel determinante. Isto deve apavorar um bocado os opressores e os seus serviçais na mídia.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Censura aos blogs: a era das trevas

Por Esmael Morais:

Inicio nesta semana a missão de escrever diariamente esta coluna. Confesso que revezo sentimentos de alegria e tristeza. Alegria por estar começando um novo desafio. Tristeza por surgir essa oportunidade num momento em que o meu blog (http://esmaelmorais.com.br) encontra-se censurado pela Justiça, a pedido do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), há exatos 38 dias. Tecnicamente, aos olhos do judiciário paranaense, são sete meses de escuridão.

A censura ao meu blog teve início nas eleições de 2010, quando o então candidato ao governo do Paraná alegou ficar “abalado emocionalmente” com as minhas postagens. Mais de 500 posts foram removidos da página pessoal por solicitação de Richa, mas, mesmo assim, ele não se contentou até retirar-me do ar em quatro oportunidades.

Para fugir à censura nesses sete meses de perseguição hospedei meu blog em um servidor nos Estados Unidos, mas os advogados de Richa ameaçaram a empresa e me derrubaram naquelas plagas. Depois, em março, retornei a hospedá-lo numa empresa de São Paulo e, por meio de uma liminar na Justiça do Paraná, novamente me censuraram. Desde então, estou impedido de me expressar, de trabalhar.

O que diziam as postagens que “abalaram emocionalmente” o governador do PSDB? Ora, denúncias de caixa 2 na eleição de 2008 – quando ele disputou a reeleição na prefeitura de Curitiba – tudo também repercutido nos demais órgãos de imprensa do Paraná e do Brasil.

Faço aqui um parêntese. Nunca ofendi ninguém pessoalmente. Não é o meu estilo. O “crime” que cometi foi opinar sobre pessoas públicas que ocupam funções públicas. Relatar o mau uso do erário e mostrar o que a velha mídia não mostra devido relações políticas, econômicas e familiares entre si. O meu blog sempre discutiu – e vai continuar discutindo – políticas públicas e cidadania.

Folgo em repetir uma observação do colega blogueiro Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada. Segundo ele, tenta-se estabelecer no país uma linha jurídica única para calar os blogueiros e instituir uma jurisprudência contra liberdade na blogosfera.

Tem razão Paulo Henrique Amorim. A “judicialização da censura” tem como objetivo intimidar a blogosfera pelo bolso.

Como a maioria dos blogueiros não tem dinheiro para pagar as pesadas multas imposta pelo judiciário, o caminho que resta é censurar, calar, estuprar a Constituição, atentar contra a liberdade de expressão na internet.

O meu advogado, Guilherme Gonçalves, tem afirmado que não faz sentido de existir a censura em pleno Estado de Direito Democrático porque não se trata de uma página anônima. Mesmos se houvesse ofensas poder-se-ia requerer direito de resposta e outros tipos de reparação, mas jamais tolher a liberdade de expressão.

Também recorro ao advogado e professor universitário René Ariel Dotti, que em artigo esclarece a questão dos princípios em conflito:

“... o conflito entre a liberdade de informação e os direitos da personalidade, entre eles os relativos à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, será resolvido em favor do interesse público visado pela informação.

“A liberdade de informação se efetiva através do exercício de três direitos correlatos: a) o direito à informação; b) o direito de se informar; c) o direito a ser informado.”

Dito isto, volto ao cerne da questão. Fiz um relato específico da criminosa perseguição que meu blog sofre com a “judicialização da censura” para reforçar a ideia de que existe em curso no país uma tentativa de calar a blogosfera. Creio que se não houver uma reação em rede regressaremos à era das trevas, onde será proibida a livre manifestação de pensamento e o exercício do contraditório diante da ofensiva de endinheirados e políticos mal-intencionados.

Defendo que a luta contra a censura na blogosfera deva ocupar o centro das discussões no 2º Encontro Nacional de Blogueiros, que ocorrerá de 17 a 19 de junho, em Brasília, sob pena de a escuridão tomar conta da internet como um todo.

Coluna do Esmael: http://www.colunadoesmael.com - Twitter: @esmaelmorais - E-mail: esmaelmorais@hotmail.com

Os riscos da arrogância do Império

Por Leonardo Boff, no blog de José Dirceu:

Conto-me entre os que se entusiasmaram com a eleição de Barack Obama para presidente dos EUA, especialmente vindo depois de George Bush Jr., presidente belicoso, fundamentalista e de pouquíssimas luzes. Este acreditava na iminência do Armagedon bíblico e seguia à risca a ideologia do Destino Manifesto, um texto inventado pela vontade imperial norte-americana, para justificar a guerra contra o México, segundo o qual os EUA seriam o novo povo escolhido por Deus para levar ao mundo os direitos humanos, a liberdade e a democracia. Esta excepcionalidade se traduziu numa histórica arrogância que fazia os EUA se arrogarem o direito de levarem ao mudo inteiro, pela política ou pelas armas, o seu estilo de vida e sua visão de mundo.

Esperava que o novo presidente não fosse mais refém desta nefasta e forjada eleição divina, pois anunciava em seu programa o multilateralismo e a não hegemonia. Mas tinha lá minhas desconfianças, pois atrás do Yes, we can (“sim, nós podemos”) podia se esconder a velha arrogância. Face à crise econômico-financeira apregoava que os EUA mostraram em sua história que podiam tudo e que iam superar a atual situação. Agora por ocasião do assassinato de Osama bin Laden ordenada por ele (num Estado de direito que separa os poderes, tem o Executivo o poder de mandar matar ou não cabe isso ao Judiciário que manda prender, julgar e punir?) caiu a máscara. Não teve como esconder a arrogância atávica.

O presidente, de extração humilde, afrodescendente, nascido fora do Continente, primeiramente muçulmano e depois convertido evangélico, disse claramente: “O que aconteceu domingo envia uma mensagem a todo o mundo: quando dizemos que nunca vamos esquecer, estamos falando sério”. Em outras palavras: “Terroristas do mundo inteiro, nós vamos assassinar vocês”. Aqui está revelada, sem meias palavras, toda a arrogância e a atitude imperial de se sobrepor a toda ética.

Isso me faz lembrar uma frase de um teólogo que serviu por 12 anos como assessor da ex-Inquisição em Roma e que veio me prestar solidariedade por ocasião do processo doutrinário que lá sofri. Confessou-me: ”Aprenda da minha experiência: a ex-Inquisição, não esquece nada, não perdoa nada e cobra tudo; prepare-se”. Efetivamente assim foi o que senti.

Pior ocorreu com um teólogo moralista, queridíssimo em toda a cristandade, o alemão, Bernhard Hâring, com câncer na garganta a ponto de quase não poder falar. Mesmo assim foi submetido a rigoroso interrogatório na sala escura daquela instância de terror psicológico por causa de algumas afirmações sobre sexualidade. Ao sair confessou: “o interrogatório foi pior do que aquele que sofri com a SS nazista durante a guerra”.

O que significa: pouco importa a etiqueta, católico ou nazista, todo sistema autoritário e totalitário obedece à mesma lógica: cobra tudo, não esquece e não perdoa. Assim prometeu Barack Obama e se propõe levar avante o Estado terrorista, criado pelo seu antecessor, mantendo o Ato Patriótico que autoriza a suspensão de certos direitos e a prisão preventiva de suspeitos sem sequer avisar aos familiares, o que configura sequestro. Não sem razão escreveu Johan Galtung, norueguês, o homem da cultura da paz, criador de duas instituições de pesquisa da paz e inventor do método Transcend na mediação dos conflitos (uma espécie de política do ganha-ganha): tais atos aproximam os EUA ao Estado fascista.

O fato é que estamos diante de um Império. Ele é consequência lógica e necessária do presumido excepcionalismo. É um império singular, não baseado na ocupação territorial ou em colônias, mas nas 800 bases militares distribuídas pelo mundo todo, a maioria desnecessária para a segurança americana. Elas estão lá para meter medo e garantir a hegemonia no mundo. Nada disso foi desmontado pelo novo Imperador, nem fechou Guantánamo como prometeu e ainda mais, enviou outros trinta mil soldados ao Afeganistão para uma guerra de antemão perdida.

Podemos discordar da tese básica de Abraham P. Huntington em seu discutido livro O choque de civilizações. Mas nele há observações, dignas de nota, como esta: “a crença na superioridade da cultura ocidental é falsa, imoral e perigosa” (p.395). Mais ainda: “a intervenção ocidental provavelmente constitui a mais perigosa fonte de instabilidade e de um possível conflito global num mundo multicivilizacional” (p.397). Pois as condições para semelhante tragédia estão sendo criadas pelos EUA e pelos seus súcubos europeus.

Uma coisa é o povo norte-americano, bom, engenhoso, trabalhador e até ingênuo que admiramos, outra é o Governo imperial, que não respeita tratados internacionais que vão contra seus interesses e capaz de todo tipo de violência. Mas não há impérios eternos. Chegará o momento em que ele será um número a mais no cemitério dos impérios mortos.

As piadas de mau gosto de Rafinha Bastos

Nota da Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal:

A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) vem a público manifestar sua indignação pela maneira como o “humorista” Rafinha Bastos, da TV Bandeirantes, faz piadas com os temas estupro, aborto, doenças e deficiência física. Segundo a edição desse mês da Revista Rolling Stone, durante seus shows de stand up, em São Paulo, ele insulta as mulheres ao contar anedotas sobre violência contra as mulheres.

“Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço”. Isso não é humor, é agressão gratuita, sem graça, dita como piada. É lamentável que uma pessoa – considerada pelo jornal The New York Times como a mais influente do mundo no twitter -, expresse posições tão irresponsáveis e preconceituosas. Estupro é crime hediondo e não requer, em nenhuma hipótese, abordagem jocosa e banalizada.

Vale lembrar que qualquer mulher forçada a atos sexuais, por meio de violência física ou ameaça, tem seus direitos violados. Não há diferenciação entre as vítimas e, tampouco, a gravidade e os danos deste crime diminuem de acordo com quaisquer circunstâncias da agressão.

Assim, a SPM condena a banalização de tais preconceitos e, como organismo que visa, sobretudo, enfrentar a desigualdade para promover a igualdade entre os gêneros, a Secretaria repudia esse tipo de “humor” e qualquer forma de violação dos direitos das mulheres. Humor inteligente e transgressor não se faz com insultos e nem preconceitos. A sociedade não quer voltar à era da intolerância e, sim, dar um passo adiante.

Advogado pede impeachment de Gilmar ao Senado e à OAB

Por Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada

No dia 12 de maio, quinta-feira, às 13h11 o advogado capixaba Alberto de Oliveira Piovesan, inscrito na OAB-ES sob o número 2909, protocolou na presidência do Senado o pedido de impeachment do ministro Gilmar Mendes, aqui neste blog chamado de Gilmar Dantas (*).

Quem recebeu o documento de Piovesan foi a funcionária Vivânia que tem a matrícula número 9067 do Senado.

No mesmo dia, com o protocolo de número 2011.1803804-01 Piovesan entregou a mesma petição à Ordem dos Advogados do Brasil.

Este ansioso blogueiro conversou por telefone com Piovesan no início da noite desta segunda-feira e fez duas perguntas:

Por que tomou esta atitude ?

Piovesan respondeu que a atitude nasceu de seu sentimento de brasilidade. Porque considera dever cívico de um cidadão combater desmandos.

O Sr. é membro de algum partido político ou tem alguma filiação política ?

Sou apolítico.

Clique aqui para ler a íntegra da petição.

Leia a seguir a reportagem que o Novo Jornal fez sobre o pedido de impeachment de Gilmar Dantas (*).

Pedido o “impeachment” de Gilmar Mendes


Advogado protocola no Senado Federal pedido de “impeachment” do Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes


Acompanhado de um robusto relatório, o pedido de “impeachment”, do Ministro do STF, Gilmar Mendes, foi apresentado pelo advogado Alberto de Oliveira Piovesan, no ultimo dia 12 de Maio na Presidência do Senado Federal, em Brasília.


Embora em torno do pedido tenha-se determinado “sigilo”, o assunto caiu como uma bomba na Casa legislativa, já debilitada perante a opinião pública nacional, devido os diversos escândalos envolvendo seus membros. Sem dizer que grande parte dos senadores encontra-se processados perante o Supremo Tribunal Federal.


Na petição, o comportamento do Ministro Gilmar Mendes é duramente questionado. Principalmente sua relação com o advogado Sergio Bermudês. Seu escritório de Advocacia, além de empregar a esposa de Gilmar Mendes, teria patrocinado diversas viagens do Ministro ao exterior.


Os fatos narrados são gravíssimos e demonstram o quanto o Poder Judiciário esta contaminado por práticas questionáveis. A relação dos “parentes” de membros do Poder Judiciário é trazida de maneira clara e comprovada.


A documentação, as provas e as testemunhas arroladas são de auto teor explosivo.


São testemunhas:

Deputado Federal Protogenes Queiroz

Desembargador Federal Fausto De Sancts

Jornalista Luiz Maklouf Carvalho- Revista Piauí.

Jornalista Moacyr Lopes Junior- Folha de São Paulo.

Jornalista Catia Seabra- Folha de São Paulo.

Jornalista Felipe Seligman- Folha de São Paulo.

Agente da Polícia Federal Jose Ricardo Neves.

Advogado Dalmo de Abreu Dallari-USP.


Nos termos da lei nº 1079, de 10 de Abril de 1950, depois de protocolado o pedido de “impeachment”, o presidente do Senado, deveria criar uma comissão processante. Formada por senadores que emitiram parecer sobre o pedido que seria submetido à aprovação do Plenário. Se aceito o pedido, abre-se o procedimento de “impeachment”. A assessoria de imprensa da Presidência do Senado informou à reportagem de Novojornal, nesta segunda-feira (16), que o pedido foi encaminhado no mesmo dia, 12/05 para Assessoria Jurídica da Casa que deverá assessorar a presidência na tramitação da matéria.


Em procedimento semelhante e anterior, em relação ao ex-Procurador Geral Aristides Junqueira na década de 80, o presidente adotou o mesmo critério.


Cópia da petição acompanhada de toda a documentação foi entregue também na última quinta-feira 12/05, ao Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Dr. Ophir Filgueiras Cavalcante Junior.


A OAB nacional, procurado pala reportagem de Novojornal, não respondeu até o fechamento desta matéria.

O churrascão contra o preconceito

Por José Dirceu, em seu blog:

Os tucanos não imaginavam que a mudança de local da estação do Metrô fosse dar tanta dor de cabeça. Cedendo aos apelos dos moradores “diferenciados” de Higienópolis e Pacaembu, vivem um imbróglio que cresce dia a dia. Cerca de 700 manifestantes participaram, neste sábado, do protesto bem humorado contra as mudanças de local da estação.


A reação foi muito maior do que esperavam os organizadores do “churrascão”, convocado em uma página do Facebook. Cerveja, batucada e ambulantes vendendo camisetas com o slogan “gente diferenciada” marcaram o ato, apoiado por jovens, moradores e pessoas indignadas com a anuência do poder tucano ao preconceito dessa pequena elite, poderosa e racista, que se sente ameaçada pela mera circulação do povo em seus bairros.

Fernando de Barros e Silva, editorialista da Folha de São Paulo, lembra que o público presente ao ato “é uma fração de classe reagindo ao sentimento ostensivamente antipovo de representantes dessa mesma classe”. Para a antropóloga Silvana Rubino, da USP, a polêmica vai muito além: “já assumiu o tom de luta de classes".

Em O Estado de São Paulo, Raquel Rolnik, comenta em “Lições do churrascão”, que há um modelo de cidade que tem orientado o desenvolvimento de São Paulo (e das cidades brasileiras) pelo menos desde o final do século 19: um urbanismo segundo o qual "qualidade" é sinônimo de "exclusividade". Para ela, no episódio de Higienópolis simplesmente “convergem de forma perversa coalizões de interesses econômicos enlaçados - por relações pessoais ou de classe - com interesses políticos”.

Indignação de muitos

Hoje, no Painel do Leitor da Folha, várias cartas comentam o assunto. “No Primeiro Mundo a maioria dos habitantes usa o metrô”, afirma Richard Zajaczkowski, estranhando a rejeição dos moradores da região pela estação.

Já Sérgio Penha Ferreira, morador próximo à estação Vila Madalena, ressalta que, na sua região, o Metrô não causou os constrangimentos alegados pelos que recusam a estação em Higienópolis ou Pacaembu. Por fim, José Carlos Sampaio traz um argumento de ordem prática: “Tivessem os parisienses temido a presença dos “diferenciados”, hoje não teriam as estações Foch, na Madeleine ou na Royale”.

É isso. As elites brancas, expressão que empresto do ex-vice governador Cláudio Lembo, não surpreendem por sua reação preconceituosa e mesquinha. Apenas se expõem perigosamente à indignação pública.

Aécio Neves e a censura em MG

Da redação do sítio Fazendo Media:

Com base em denúncias que circularam pela internet em meados de 2003, o Laboratório de Mídias Eletrônicas (LabMídia), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), produziu um vídeo demonstrando que o governo estadual de Minas Gerais, na gestão de Aécio Neves (PSDB), cerceava a liberdade de imprensa no Estado. Com depoimentos de um ex-diretor da filial da Rede Globo em Minas Gerais e outro do jornal impresso o Estado de Minas, além de outros veículos e jornalistas, são apresentadas as dificuldades e até restrições em disseminar informações contrárias aos interesses do governo à época. A produção e roteiro são de Marcelo Chaves, e o material é datado de 2005/2006.


Marco Nascimento, ex-diretor executivo da Globo Minas, que passou seis anos por São Paulo, onde foi chefe de redação por dois anos, lembrou de quando o governador Aécio Neves, recém eleito, adiou uma entrevista para o programa “E agora governador?”. A conversa só foi realizada meses depois no telejornal local, e com algumas dificuldades:

“A assessora veio depois dizer que as perguntas não estavam combinadas”, disse o ex-diretor. Andréa Neves, por sua vez, responde no vídeo que “é incomum haver quebra de formato proposto e aceito por ambas as partes, sobretudo numa entrevista ao vivo”. Algum tempo depois, a assessora chamou o diretor para um almoço, no qual reclamou da cobertura de jornalismo da emissora e criticou uma matéria que denunciava o consumo de crack perto da delegacia de investigação em Minas. A reportagem também denunciava o desvio de função policial para presídios e a superlotação carcerária, além da corrupção na corporação. Segundo Nascimento, a assessora disse que “essa matéria veio num momento ruim para o governo do estado”.

As denúncias não param por aí. Paulo Sérgio, ex-apresentador do Itatiaia Patrulha, afirma que “era veladamente proibido de cobrar do governo através do chefe, Marcio Poti”, que dizia “tudo o que você fizer eu quero na minha sala”. Como ele relatava problemas no comando da polícia, resolveram tirá-lo do programa.

Além dele, o famoso jornalista esportivo, Jorge Kajuru, quando trabalhava na Band, em 2004, denunciou na porta de um jogo de futebol que enquanto 42 mil ingressos foram colocados à venda para o povo cerca de 10 mil foram direcionados para convidados especiais da CBF e do governo de Minas. E a entrada para estes era a mesma das pessoas portadoras de necessidades especiais. No meio da matéria Kajuru informa que vai entrar nos intervalos comerciais e não retorna. Além da reportagem ficar pela metade, ele foi demitido. São vários os exemplos, outros jornalistas deram depoimentos no vídeo relatando as dificuldades de se publicar matérias mais críticas ao governo.

Chegou a tal ponto essa situação que todas as notícias que pudessem contrariar o governo eram contestadas pelos assessores, diz o ex-diretor da Globo Minas. Acabou que Marco Nascimento foi demitido, apesar de ter sido chamado pela própria empresa para sair de São Paulo e assumir o cargo de direção em Minas. E com a demissão desses profissionais, um dos jornalistas diz que eles ficam marcados e outras empresas se negam a contratá-los, chegando a ficar seis meses sem emprego por sustentar opiniões contrárias ao governo. Sindicatos entraram com uma ação no Ministério Público Federal, para investigação de acordos empresariais com o estado de Minas, mas o Ministério Público Estadual engavetou os processos.

É importante estar atento a esse lado da figura de Aécio Neves, atual referência da oposição capitaneada pelo PSDB. Não se trata de criticá-lo em defesa do atual governo, mas pela liberdade de expressão. Seu partido, junto à mídia, bombardeou Brasil afora críticas à liberdade de imprensa quando o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) foi proposto pela governo junto à sociedade.

E atual presidenta Dilma Roussef também já recebeu críticas por suas manifestações em cobrar maior responsabilidade dos meios de comunicação de massa. Aécio, por sua vez, foi cogitado a vice presidente de José Serra nas últimas eleições, e vem crescendo como liderança aos olhos da mídia hegemônica. O senador tem grandes chances de se candidatar às próximas eleições, e essa sua relação com a mídia não pode passar despercebida.

sábado, 14 de maio de 2011

O império da mídia ou o Brasil

Por Luiz Carlos Antero, no blog Conversa Afiada:

Ao longo das últimas décadas, obedecendo ao lado conservador da trajetória republicana, manteve-se naturalmente intocada a “liberdade” das concessões dos meios de comunicação e cresceu a ascendência do império da mídia e de seu PIG (Partido da Imprensa Golpista, na lúcida definição difundida por Paulo Henrique Amorim) sobre a informação — manipulada, moldada e deformada como mercadoria, em favor dos seus interesses.

É o ambiente que, ofendendo a sociedade, oferece o caldo de cultura para a impunidade de banqueiros como Daniel Dantas et caterva e de toda sorte de especuladores e exploradores da economia popular”.

Este poder consolidou-se — na fase neoliberal dos anos 1990 — como política de Estado, vedando-se à sociedade o controle de uma imprensa calhorda e solidamente instalada na chantagem dos afagos publicitários e fundada nos acordos das glamurosas oligarquias. No pano de fundo, secundou a hegemonia do capital financeiro-especulativo e dos contratos firmados na crista das privatizações, submetendo o país a uma nova colonização pelos interesses hegemônicos internacionais.

Completou-se exitosamente, desse modo, a obra da ditadura militar que sustentou, à base da intervenção imperial dos EUA e apoio dos generais da direita, a secular continuidade conservadora das elites brasileiras.

Lula, política e estruturalmente imobilizado, não mexeu com nada disso que significa algo mais que uma teimosa permanência dos princípios “do poder de Estado” a clamar pelo simbolismo de rebeliões populares que coloquem o poder político, limitados ainda à esfera de governo, em consonância com seus interesses.

Tais princípios mantém ancorados aspectos típicos das transições de ruptura, postergados continuamente — ao longo da nossa formação histórica — pelo gradualismo determinado em parte pela ação secular de violenta “regulação” das revoltas populares e em parte pelas claudicações, neutralismos e impasses dos movimentos de oposição ao conservadorismo — em prejuízo do conforto reservado ao afago popular tão precioso na resolução de tais graves questões.

Grilhões de caserna

E, nesse aspecto, a persistência dos bolsões vinculados ao regime militar, que incorpora a impunidade aos torturadores e ao prolongamento do feroz autoritarismo anticomunista, se manteve como aspecto subjacente à “Carta aos Brasileiros”, inoculando os governos progressistas quanto ao tratamento das feridas remanescentes. E que não se acanhou ao prestar incondicional apoio à principal candidatura de oposição a Dilma nas eleições de 2010.

Nos desdobramentos, e nas chantagens negociadas no tenso segundo turno eleitoral do ano passado, impôs-se um corrosivo cartucho do mercado, gasto com a simbólica promoção de Antonio Palocci à condição de membro privilegiado do novo governo, reciclado e novinho em folha para cumprir o papel sujo de conspurcar os avanços nos quais votou a população.

Uma persistente reserva estratégica do poder, portanto, se fundamenta no capital financeiro e também no persistente controle da propriedade territorial — e seu moderno agronegócio, evoluído na linha sucessória desde as originais sesmarias e capitanias, onde a força terrestre, o Exército brasileiro, zeloso artífice dos golpes militares na História republicana, teve seu berço como guarda privada e pretoriana dos senhores rurais desde a primeira fase da colonização brasileira.

(Explica-se, desse modo — entre outros, cruciais — os fundamentos do atualíssimo ódio de uma fração de oficiais do velho pensamento ao MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Primeiro 31 de março sem ordem dia

É este um terreno no qual também se trava uma cavernosa luta para impedir que a natureza das forças armadas seja afirmada em seu padrão constitucional. Exemplarmente, a solenidade na qual a Presidenta foi condecorada diante de 70 oficiais generais, no início de abril de 2011, o império da mídia atuou novamente em uníssono no acirramento de contradições entre “a ex-guerrilheira” e a caserna que afagou sua tortura.

A ênfase priorizou aos cortes orçamentários, entre outros folguedos que dançam em meio a fatos e versões, explorando a cilada que enreda o governo Dilma no contingenciamento de R$ 50 bilhões do Orçamento Geral da União — mantendo como intocada obra do imaginário e do acaso os mais de R$ 200 bilhões comemorados pelo sistema financeiro no ano de 2010, os escandalosos lucros privatizados das concessões públicas e de uma empresa (doada) do porte da Companhia Vale do Rio Doce.

O PIG não tratou da condecoração da Presidenta, mas da apresentação de novos oficiais generais. Exatamente quando, pela primeira vez, os quartéis foram orientados à determinação de excluir da ordem do dia as comemorações de 31 de março, uma sagrada referência anual ao golpe militar de primeiro de abril de 1964.

Nessas e em praticamente todas as circunstâncias, enfim, nunca coube à sociedade brasileira, alienada da ascendência sobre o aparato de mídia, determinar o tratamento da informação.

Desfecho secular

Narra a nossa História que o Estado, precipuamente e em diversos períodos, exerceu o controle sobre os meios de comunicação — e sistematicamente a favor das tradicionais oligarquias. As primeiras tipografias permanentes foram instaladas no Brasil somente no século XIX, com a vinda da Família Real, em 1808. “A Gazeta do Rio de Janeiro” foi o primeiro jornal brasileiro, editado oficialmente pela Imprensa Régia. No mesmo ano surgiu o “Correio Braziliense”, quando, aos censores reais, cabia a decisão acerca do que podia ser publicado.

Tal trajetória conheceu escassos momentos de liberdade e extensos e extenuantes períodos de autoritarismo e repressão, com ênfase no Estado Novo (1937-45) e na ditadura militar (1964-1985). Em 1931, Getúlio Vargas criou o Departamento Oficial de Propaganda (DOP) — que, em 1939, tornou-se o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), com a missão do controle sobre os meios de comunicação e difusão da ideologia do Estado Novo. Por Decreto, todos os meios de comunicação submeteriam seus conteúdos ao DIP.

A Constituição de 1946 restabeleceu a liberdade de imprensa, mas o Golpe de 1964 a submeteu — em obediência à plena subordinação ao imperialismo norte-americano. A censura foi novamente estabelecida, agora mediante dispositivos vinculados à edição de Atos Institucionais, a apreensão e destruição de jornais, a perseguição de jornalistas, escritores e intelectuais.

Decisiva batalha

No período neoliberal — que se estendeu pela década perdida de 1990 até o ano de 2002 — o controle da informação transferiu-se para as próprias empresas de comunicação, firmando-se a censura aos fatos (e suas interpretações) de acordo com os interesses de classe e parâmetros de referência no grande capital e seus centros financeiros hegemônicos mundiais, reconhecidos no império da mídia.

A imprensa foi submetida à glacial lógica de mercado, sustentada numa legislação que legitimou esta concentração das empresas de comunicação em quadrilhas que atuam com o vigor de onipotentes empresas multinacionais. Dessa forma, transferiu-se do Estado para os bunkers conservadores a emblemática censura, arremetida agora em feroz oposição às propostas democratizantes, invariavelmente qualificadas como “atentados à liberdade de imprensa”.

É o que se passa no mundo, em todo lugar onde a mídia, sob o domínio e a serviço do velho capital, ridiculariza, confunde e banaliza a vida, submetendo os povos, em seu próprio nome, à indigência cultural — com o sórdido objetivo de perpetuar a ignorância, a miséria, a violência, as guerras e a fome sob todos os seus aspectos. No cotidiano, essas evidências são arremetidas contra a humanidade, como ocorreu no bizarro episódio da execução de Osama bin Laden, um protótipo das suas criações funcionalmente articuladas ao conjunto da obra, na urdida lógica imperialista.

Nessas condições, prenuncia-se a batalha que requer da sociedade brasileira um profundo engajamento na luta pela conquista do direito à informação comprometida com o projeto da construção de um País soberano, justo e igualitário, tomando em suas mãos o horizonte da liberdade. É o império da mídia e de suas elites ou o Brasil — na inexistência de um terceiro caminho ou opção.