sábado, 26 de janeiro de 2013

Folha: muito barulho por nada



Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

A Folha de S.Paulo comemora, na edição de quinta-feira (24/1), um aumento na circulação de jornais no ano passado e celebra com reportagem de meia página, principalmente, o fato de haver crescido 0,3% no ano, superando seus rivais e tomando a liderança da circulação. O Globo também noticia a melhora nos números do setor, com um texto mais discreto, e faz a ressalva: o desempenho da imprensa brasileira caiu nos últimos três anos.

Como o crescimento do acesso a sites noticiosos na internet ainda não produz receita suficiente para gerar otimismo, há pouco a comemorar. O Estado de S.Paulo, que aparece no relatório do Instituto Verificador de Circulação como tendo perdido 4,9% de seus leitores no último ano, ignora completamente o assunto.

Além da evidência de que os jornais tratam as informações de acordo com seus interesses específicos, a comparação das edições dos três principais jornais de circulação nacional sobre esse assunto demonstra que eles fazem uma leitura muito particular dos dados de seu próprio mercado.

No ano passado, quando houve um aumento de 3,4% na circulação dos diários, comparativamente a 2010, o comportamento dos três títulos foi diferente: como o Estadão havia crescido 5% e a Folha havia encolhido os mesmos 5%, a festa estava na casa ao lado (ver aqui).

Neste ano, é a Folha que comemora, principalmente porque conseguiu superar o Super Notícia, jornal popular de Minas Gerais, que liderava as vendas, e se tornou o diário de mais leitores no país. No entanto, os indicadores enganam quando se limitam a porcentagens.

Se observarmos os números, vamos notar que a Folha está festejando um total de 297.650 leitores, número inexpressivo se for considerado o mercado potencial do Brasil. Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), as vendas avulsas ficaram estagnadas em 2012 e o aumento total se deveu ao desempenho das assinaturas, impulsionado pela expansão das edições digitais.

Como se sabe, as versões digitais dos jornais não produzem uma receita suficiente de publicidade para sustentar os gastos de operação das empresas jornalísticas.

Menos fidelidade

Por outro lado, a imprensa continua contornando o fato relevante de que a circulação de jornais de papel, de modo geral, é sustentada pelas vendas dos diários chamados populares, com preço de capa inferior a R$ 1.

Os números de 2012 podem estar indicando que, após seis anos de aumento na participação de famílias de renda média no consumo de jornais de até R$ 0,99, esses consumidores começam a comprar eventualmente os títulos que custam mais de R$ 2. Ainda assim, a venda média diária de jornais foi de 4,5 milhões de exemplares – número recorde, mas ainda pífio em comparação com o mercado potencial.

Também chama atenção a nova característica do mercado: uma maior oscilação nos desempenhos de cada título, o que indica que o setor não consolidou uma estratégia capaz de assegurar um crescimento estável.

Como se sabe, o valor da mídia costuma ser vinculado ao seu poder de influência, o que normalmente é demonstrado pelo grau de fidelidade do leitor. Picos de venda não significam, necessariamente, um valor maior da mídia, se não estabilizarem a circulação em patamares mais altos por um longo período.

Ao divulgar os novos números do IVC, a Folha de S. Paulo procura destacar o seu próprio desempenho no mês de dezembro de 2012, comparando-o ao de dezembro de 2011. Nesse mês, especificamente, a Folha superou seu principal concorrente em 26%, produzindo um quadro oposto ao de dezembro de 2011, quando foi o Estadão que derrubou a Folha, mas o mercado não costuma se impressionar com números circunstanciais.

O que precisa ser demonstrado é que a mídia tradicional finalmente produziu um modelo de negócio capaz de monetizar a audiência da internet nos mesmos níveis da receita gerada pela publicidade no papel. Os indicadores não apontam nessa direção e apenas demonstram que os jornais estão aproveitando o aumento fenomenal dos acessos à internet em banda larga para captar assinaturas digitais.

A maior presença da Folha na rede, pela dinâmica do portal UOL, explica seu melhor resultado. Mas ainda há grandes desafios a superar, como o caráter extremamente homogêneo do universo de leitores e a falta de diferenciação entre os produtos oferecidos ao público.

Quem se entubou foi o El País



Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

Ódio.

O que levou o jornal espanhol El País a publicar uma foto falsa de Chávez entubado no hospital, numa das maiores barrigadas da história do jornalismo, foi a raiva que seus editores têm dele, Chávez.

Chávez representa, ideologicamente, o oposto do conservadorismo mofado do El País. A forma como o jornal trata Chávez remete à truculência desonesta com que a Globo fala dele.

À inépcia editorial o El País juntou a grosseria torrencial. O jornal se desculpou a seus leitores pela falha histórica, mas não a Chávez, a seus familiares e ao povo venezuelano.

Um vigarista italiano que fabricou entrevistas com celebridades até ser descoberto reivindicou a autoria intelectual do crime jornalístico.

Ele disse que inventou uma foto a partir de um e a pôs em circulação nos subterrâneos do mundo dos jornais. Afirmou ter ficado surpreso ao vê-la na primeira página do El País.

A versão do jornal é que foi vítima de uma trapaça de uma agência fotográfica que teria cobrado 30 000 euros pela imagem sensacional.

Um homem aparece entubado. Ele parece com Chávez, como tantos mestiços venezuelanos. E foi como Chávez que o El País o identificou.

Não tivesse o governo venezuelano descoberto a origem da imagem – um vídeo do YouTube com um doente parecido com Chávez – e a falsificação teria conquistado ares de verdade.

A oposição venezuelana diria que ali estava a prova de que Chávez está semimorto, e o El País se gabaria de um furo extraordinário. A foto ficou meia hora no site do jornal. E os exemplares em que ela aparecia na primeira página foram recolhidos, num vexame sensacional.

A justiça prevaleceu, e quem terminou entubado não foi Chávez – mas o arrogante, insolente, medíocre jornal espanhol.

Nota de falecimento... do PSDB



Por Leandro Fortes, na revista CartaCapital:

A reação formal do PSDB ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff sobre a redução nos preços das tarifas de energia elétrica, em todo o país, é o momento mais lamentável do processo de ruptura histórica dos tucanos desde a fundação do partido, em junho de 1988.

A nota, assinada pelo presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra, de Pernambuco, não vale sequer ser considerada pelo que contém, mas pelo que significa. Trata-se de um amontoado de ilações primárias baseadas quase que exclusivamente no ressentimento político e no desespero antecipado pelos danos eleitorais inevitáveis por conta da inacreditável opção por combater uma medida que vai aliviar o orçamento da população e estimular o setor produtivo nacional.

Neste aspecto, o deputado Guerra, despachante contumaz dessas virulentas notas oficiais do PSDB, apenas personaliza o ambiente de decadência instalado na oposição, para o qual contribuem lideranças do quilate do senador Agripino Maia, presidente do DEM, e o deputado Roberto Freire, do PPS. Sobre Maia, expoente de uma das mais tristes oligarquias políticas nordestinas, não é preciso dizer muito. É uma dessas tristes figuras gestadas na ditadura militar que sobreviveram às mudanças de ventos pulando de conchavo em conchavo, no melhor estilo sarneysista. Freire, ex-PCB, tansformou a si mesmo e ao PPS num simulacro cuja fachada política serve apenas de linha auxiliar ao pior da direita brasileira.

O PSDB surgiu como dissidência do PMDB que já na Assembleia Constituinte de 1986 caminhava para se tornar nisto que aí está, um conglomerado de políticos paroquiais vinculados a interesses difusos cujo protagonismo reside no volume, a despeito da qualidade de muitos que lá estão. A revoada dos tucanos parecia ser uma lufada de ar puro na prematuramente intoxicada Nova República de José Sarney. À frente do processo, um grande político brasileiro, Mário Covas, que não deixou herdeiros no partido. De certa forma, aquele PSDB nascido sob o signo da social democracia europeia, morreu junto com Covas, em 2001. Restaram espectros do nível de José Serra, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias.

Aliás, o sonho tucano só não morreu próximo ao nascedouro, em 1992, porque Covas impediu, sabiamente, que o PSDB se agregasse ao moribundo governo de Fernando Collor de Mello, às vésperas do processo de impeachment. A mídia, em geral, nunca toca nesse assunto, mas foi o bom senso de Covas que barrou o movimento desastrado liderado por Fernando Henrique Cardoso, que pretendia jogar o PSDB na fossa sanitária do governo Collor em troca de assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores. FHC, mais tarde chanceler e ministro da Fazenda de Itamar Franco, e presidente da República por dois mandatos, nunca teria chegado a subprefeito de Higienópolis se Covas não o tivesse impedido de aderir a Collor.

Fala-se muito da extinção do DEM, apesar do suspiro do carlismo em Salvador, mas essa agremiação dita "democrata" é um cadáver insepulto há muito tempo, sobre o qual se debruçam uns poucos reacionários leais. É no PSDB que as forças de direita e os conservadores em geral apostam suas fichas: há quadros melhores e, apesar de ser uma força política decadente, ainda se mantém firme em dois dos mais importantes estados da federação, São Paulo e Minas Gerais.

E é justamente por isso que a nota de Sérgio Guerra, um texto que parece ter sido escrito por um adolescente do ensino médio em pleno ataque hormonal de rebeldia, é, antes de tudo, um documento emblemático sobre o desespero político do PSDB e, por extensão, das forças de oposição.

Essas mesmas forcas que acreditam na fantasia pura e simples do antipetismo, do antilulismo e em outros venenos que a mídia lhes dá como antídoto ao obsoletismo em que vivem, sem perceber que o mundo se estende muito além das vontades dos jornalões e da opinião de penas de aluguel que, na ânsia de reproduzir os humores do patrão, revelam apenas o inacreditável grau de descolamento da realidade em que vivem.

Mídia tucana vestiu a carapuça


Por Altamiro Borges, em seu blog

“Surpreende que desde o mês passado algumas pessoas por precipitação, desinformação ou outro motivo tenham feito previsões sem fundamento”.

“Nesse novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás”.

“Hoje podemos ver como erraram feio os que não acreditaram que era possível crescer e distribuir renda”.

“O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingindo por previsões alarmistas”.

Pronunciamento de Dilma Rousseff em cadeia nacional de rádio e televisão.


A presidenta não deu nome aos bois, mas o recado foi direto para os “pessimistas” e “alarmistas” da mídia golpista e seus papagaios (ou tucanos?) da direita nativa. Tanto que os jornalões de hoje sentiram a paulada e vestiram a carapuça. O Globo, Estadão e Folha, os três principais diários nacionais, publicaram editoriais magoados e ressentidos. Depois de baterem tanto no governo, prevendo o pior dos mundos, eles agora pedem compaixão. Dá até dó! Ao mesmo tempo, sem perder a pose, eles partem a retaliação.


O Globo choraminga 

No maior cinismo, o jornal da famiglia Marinho afirma que “Dilma erra ao explorar energia como tema político”. Mas não foi O Globo que deu manchetes terroristas sobre o risco iminente de apagão no país? Não foi ele que abriu amplos espaços para os alarmistas de plantão – alguns com interesses especulativos no mercado de capitais – para atacar o projeto de redução das contas de luz? Agora, o jornal afirma que “a redução das tarifas é bem-vinda porque aumentará a competitividade do país”. Por que não falou isto antes?

Mas, mesmo acuado, o jornalão não abandona seu partidarismo. Esquecendo-se que apoiou o golpe e a ditadura, ele critica Dilma por ter acusado de “pessimistas e alarmistas — em um tom apelativo, beirando o sentimento de patriotismo a que governos autoritários militares recorriam com frequência — aqueles que revelam preocupação, não infundada, com o setor. A redução dos custos da energia é mérito do governo Dilma. E é demérito continuar explorando politicamente a questão, que não se equaciona com bravatas”.


Estadão e Folha estrebucham

Já o Estadão também criticou o tom do pronunciamento na TV. “A presidente acaba de fazer o seu primeiro comício para a reeleição... Deixando patente o caráter eleitoral do seu show televisivo, Dilma se referiu à questão de forma a deixar mal os governos tucanos desses Estados. ‘Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que estou dizendo’, fingiu exortar, com ar superior”, protestou jornal, que hoje até parece o órgão oficial do PSDB.

Na mesma linha – num discurso repetitivo, típico do pensamento único que impera na mídia nativa –, a Folha também elogiou a queda nas tarifas de energia, mas condenou o “indisfarçável tom eleitoral” da presidente Dilma. “Não há dúvidas quanto aos benefícios que essa medida poderá trazer à economia do país. Para além do alívio no bolso de cada cidadão, diminuir o preço da energia é um passo importante para restaurar parte da competitividade do setor privado brasileiro”. Mas, porém, contudo...
“Permanecem obscuras questões sobre o custo da iniciativa... Em certo sentido, pelo menos uma parcela da redução parece alcançada de forma artificial”. E, pior de tudo, “durante seu pronunciamento de cerca de oito minutos, Dilma Rousseff não tocou nesses pontos. Preferiu, com um triunfalismo que não encontra respaldo na realidade, ressaltar o que seriam os sucessos de seu governo e criticar, com uma agressividade inusual, os que ‘são sempre do contra’”. Como se nota, o pronunciamento doeu nos barões na mídia!