Autor: Antonio Barreto, Cordelista natural de Santa Bárbara-BA,residente em Salvador.
Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.
Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.
Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.
Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.
Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.
O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.
Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.
Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.
Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.
Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.
Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.
A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.
Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.
Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.
Isso é um desserviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.
É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.
Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.
A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.
E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.
E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.
E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.
A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.
Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.
Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?
Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…
Esse blog se destina a servir como um instrumento de comunicação para me fazer ouvir no mundo real através do mundo virtual. Aqui escreverei e reproduzirei artigos sobre todos os temas que me despertem o desejo e inquietem o espírito.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
EUA: Um império de bases militares
Por Hugh Gusterson, no sítio da Adital:
Antes de ler este artigo, responda a esta pergunta:
Quantas bases militares os Estados Unidos têm em outros países:
a) 100
b) 300
c) 700
d) 1000.
De acordo com a lista do próprio Pentágono, a resposta é ao redor de 865; porém, se forem incluídas as novas bases no Iraque e no Afeganistão, a cifra ascende a mais de 1.000. Essas mil bases constituem 95% de todas as bases militares que os demais países mantêm em território alheio. Em outras palavras, os Estados Unidos são para as bases militares o que Heinz é para o ketchup.
A velha maneira de fazer colonialismo, praticada pelos europeus consistia em encarregar-se de todo um país e administrá-lo. Porém, o procedimento era meticuloso. Os Estados Unidos foram pioneiros de um enfoque mais ágil de império mundial. O historiador Chalmers Johnson afirma: "A versão norte-americana da colônia é a base militar”; os Estados Unidos, agrega, têm um "império de bases militares”.
Essas bases não são baratas. Excluindo suas bases no Afeganistão e no Iraque, os Estados Unidos gastam ao redor de 102 bilhões de dólares ao ano na gestão de suas bases no exterior, segundo Miriam Pemberton, do Institute for Policy Studies. E em muitos casos, temos que perguntar-nos para que servem. Por exemplo, os Estados Unidos têm 227 bases na Alemanha. Talvez tiveram sentido durante a Guerra Fria, quando a Alemanha estava dividida em duas pelo Muro de Berlim e os responsáveis pela política estadunidense tentavam convencer aos soviéticos de que o povo estadunidense consideraria um ataque a Europa como um ataque aos Estados Unidos. No entanto, em uma nova era em que a Alemanha está reunificada e os Estados Unidos estão preocupados com outros focos de conflito na Ásia, na África e no Oriente Próximo, tem tanto sentido para o Pentágono manter suas 227 bases militares na Alemanha quanto teria para o serviço de correios manter uma frota de cavalos e carruagens.
Afogada na burocracia, a Casa Branca está desesperada por recortar gastos desnecessários do orçamento federal. O congressista por Massachusetts Barney Frank, democrata, sugeriu que o orçamento do Pentágono poderia reduzir-se em 25%. Se consideramos ou não politicamente realista o cálculo de Frank, as bases no exterior são, sem dúvida, um objetivo apetitoso para as tesouras do ‘recortador' de orçamentos. Em 2004, Donald Rumsfeld estimou que os Estados Unidos poderiam economizar 12 bilhões de dólares com o fechamento de umas 200 bases no exterior. O custo político seria quase nulo dado que as pessoas economicamente dependentes das bases são cidadãos estrangeiros e não podem votar nas eleições estadunidenses.
No entanto, as bases estrangeiras parecem invisíveis aos que pretendem recortar o orçamento do Pentágono, que alcança os 664 bilhões de dólares anuais. Tomemos o artigo do New York Times, The Pentagon Meets the real World. O editorialista do Times pedia à Casa Branca que tivesse a "coragem política” de recortar o orçamento de defesa. Sugestões? Suprimir os programas de aquisição do caça F-22 e do destrutor DDG-1000; e reduzir o Sistema de combate Futuro, do exército de terra, a fim de economizar 10 bilhões a cada ano. Todas são sugestões aceitáveis; porém, o que acontece com as bases no exterior?
Apesar de que os políticos e os especialistas midiáticos parecem ignorar essas bases e entendem o estacionamento de tropas dos Estados Unidos em todo o mundo como um fato natural, o império de bases militares estadunidenses atrai a atenção de acadêmicos e ativistas, como o demonstra uma conferência sobre as bases estrangeiras realizada na American University, no final de fevereiro. NYU Press acaba de publicar o livro de Catherine Lutz ‘Bases of empire', que reúne a acadêmicos que estudam as bases militares dos Estados Unidos e ativistas opostos a essas bases; Rutgers University Press publicou o livro de Kate MacCaffrey, ‘Military Power and Popular Protest', um estudo da base militar de Vieques (Porto Rico), que teve que fechar suas portas ante os protestos massivos da população local. E Princeton University Press está a ponto de publicar ‘Island of Shame', de David Vine, que conta a história de como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha acordaram em segredo deportar aos habitantes de Diego García para a Ilha Mauricio e Seychelles, para que sua ilha pudesse converter-se em uma base militar. Os estadunidenses fizeram um trabalho tão refinado que, inclusive, pulverizaram com gás os cachorros. Esses habitantes indígenas, Chagos, não puderam ter acesso aos tribunais dos Estados Unidos; porém, ganharam sua causa contra o governo critânico em três julgamentos, apesar de que no final a sentença foi anulada pelo mais alto tribunal do país, a Câmara de Lores. Agora estão interpondo recursos ante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
Os líderes americanos falam de suas bases estrangeiras como um elemento que permite consolidar as alianças com outros países, principalmente através dos acordos comerciais e com a ajuda que costumam acompanhar os arrendamentos das bases. No entanto, os soldados dos Estados Unidos vivem em uma espécie de ‘cocoon', simulacro dos Estados Unidos nas bases, vendo canais de TV estadunidenses; escutando rap e heavy metal estadunidense e comendo fast food de seu país, para que os jovens da comunidade local e as crianças de rua tenham pouco contato com outra forma de vida. Enquanto isso, do outro lado da cerca de arame farpado, os residentes e as empresas locais costumam ser economicamente dependentes dos soldados e ter interesse em sua permanência.
Essas bases podem converter-se em focos de conflito. As bases descarregam incessantemente lixo tóxico nos ecossistemas locais, como em Guam, onde as bases militares têm levado à criação de pelo menos 19 vertedouros tóxicos. Essa contaminação gera ressentimento e, às vezes, como em Vieques na década de 90, mobilizações sociais contra as bases. Os Estados Unidos utilizavam Vieques para suas práticas de bombardeio durante 180 dis ao ano, e quando os Estados Unidos se retiraram, em 2003, a paisagem estava coberta de munições, das quais algumas haviam detonado e outras, não; cartuchos de urânio empobrecido; metais pesados; petróleo; lubrificantes; solventes e ácidos. Segundo os ativistas locais, o índice de câncer em Vieques era 30% superior ao do restante do país, Porto Rico.
Também é inevitável que, de vez em quando, os soldados dos Estados Unidos –em geral, bêbados- cometam delitos. O ressentimento que esses crimes causam se exacerba pela frequente insistência do governo dos Estados Unidos de impedir que esses crimes sejam julgados por tribunais locais. Na Coreia, em 2002, dois soldados estadunidenses mataram a duas jovens adolescentes quando se dirigiam a uma festa de aniversário. Os ativistas coreanos asseguram que este foi um dos 52.000 delitos cometidos por soldados estadunidenses na Coreia entre 1967 e 2002. Os dois soldados foram repatriados imediatamente para os Estados Unidos para que pudessem escapar do tribunal coreano. Em 1998, um aviador dos Marines seccionou o cabo de uma telecabine de esqui na Itália, matando a 20 pessoas. Funcionários dos Estados Unidos deram ao piloto um ‘puxão de orelhas' enquanto se negavam a permitir que as autoridades italianas o julgassem. Esses e outros incidentes similares têm prejudicado as relações dos Estados Unidos com alguns aliados importantes.
Os ataques de 11 de setembro foram, sem dúvida, o exemplo mais espetacular do tipo de retrocesso que pode gerar o ressentimento local contra as bases dos Estados Unidos. Na década de 1990, a presença de bases militares estadunidenses nas proximidades dos lugares mais sagrados do Islã sunita, na Arábia Saudita, enfureceu a Osama Bin Laden e proporcionou a Al Qaeda uma potente ferramenta de recrutamento. Os Estados Unidos fecharam prudentemente suas principais bases na Arábia Saudita; porém, abriram novas bases no Iraque e no Afeganistão, que se estão convertendo em novas fontes de fricção nas relações entre os Estados Unidos e os povos do Oriente Próximo.
Esse império proporciona aos Estados Unidos uma capacidade de intervenção global; porém, a forma do mesmo, na medida em que seu peso principal está na Europa, é um vestígio inflado e anacrônico da Guerra Fria.
Muitas dessas bases são um luxo que os Estados Unidos já não podem ter, nessa época de déficit orçamentário recorde. Por outro lado, as bases estadunidenses em países estrangeiros têm dois gumes: projetam o poder estadunidense em todo o mundo; porém, também inflamam as relações exteriores dos Estados Unidos e geram ressentimento devido aos fenômenos de prostituição, dano ambiental, pequena delinquência e etnocentrismo cotidiano, que são seus corolários inevitáveis. Recentemente, esses ressentimentos obrigaram o fechamento de bases estadunidenses no Equador, em Porto Rico, no Quirquistão e, se o passado é o início do futuro, são de se esperar outros movimentos contra as bases estadunidenses no futuro.
Durante os próximos 50 anos, estou convencido de que seremos testemunhas do aparecimento de uma nova norma internacional segundo a qual a instalação de bases militares no estrangeiro será tão indefensável quanto tem sido a ocupação colonial durante os últimos 50 anos.
Nossa Declaração de Independência critica aos britânicos pelo aquartelamento de grandes tropas armadas entre nós e por suas tropas estarem protegidas, mediante julgamentos simbólicos, do castigo aos crimes que pudessem cometer contra habitantes desses Estados Unidos. Belas palavras! Os Estados Unidos deveriam começar a levá-las a sério.
Antes de ler este artigo, responda a esta pergunta:
Quantas bases militares os Estados Unidos têm em outros países:
a) 100
b) 300
c) 700
d) 1000.
De acordo com a lista do próprio Pentágono, a resposta é ao redor de 865; porém, se forem incluídas as novas bases no Iraque e no Afeganistão, a cifra ascende a mais de 1.000. Essas mil bases constituem 95% de todas as bases militares que os demais países mantêm em território alheio. Em outras palavras, os Estados Unidos são para as bases militares o que Heinz é para o ketchup.
A velha maneira de fazer colonialismo, praticada pelos europeus consistia em encarregar-se de todo um país e administrá-lo. Porém, o procedimento era meticuloso. Os Estados Unidos foram pioneiros de um enfoque mais ágil de império mundial. O historiador Chalmers Johnson afirma: "A versão norte-americana da colônia é a base militar”; os Estados Unidos, agrega, têm um "império de bases militares”.
Essas bases não são baratas. Excluindo suas bases no Afeganistão e no Iraque, os Estados Unidos gastam ao redor de 102 bilhões de dólares ao ano na gestão de suas bases no exterior, segundo Miriam Pemberton, do Institute for Policy Studies. E em muitos casos, temos que perguntar-nos para que servem. Por exemplo, os Estados Unidos têm 227 bases na Alemanha. Talvez tiveram sentido durante a Guerra Fria, quando a Alemanha estava dividida em duas pelo Muro de Berlim e os responsáveis pela política estadunidense tentavam convencer aos soviéticos de que o povo estadunidense consideraria um ataque a Europa como um ataque aos Estados Unidos. No entanto, em uma nova era em que a Alemanha está reunificada e os Estados Unidos estão preocupados com outros focos de conflito na Ásia, na África e no Oriente Próximo, tem tanto sentido para o Pentágono manter suas 227 bases militares na Alemanha quanto teria para o serviço de correios manter uma frota de cavalos e carruagens.
Afogada na burocracia, a Casa Branca está desesperada por recortar gastos desnecessários do orçamento federal. O congressista por Massachusetts Barney Frank, democrata, sugeriu que o orçamento do Pentágono poderia reduzir-se em 25%. Se consideramos ou não politicamente realista o cálculo de Frank, as bases no exterior são, sem dúvida, um objetivo apetitoso para as tesouras do ‘recortador' de orçamentos. Em 2004, Donald Rumsfeld estimou que os Estados Unidos poderiam economizar 12 bilhões de dólares com o fechamento de umas 200 bases no exterior. O custo político seria quase nulo dado que as pessoas economicamente dependentes das bases são cidadãos estrangeiros e não podem votar nas eleições estadunidenses.
No entanto, as bases estrangeiras parecem invisíveis aos que pretendem recortar o orçamento do Pentágono, que alcança os 664 bilhões de dólares anuais. Tomemos o artigo do New York Times, The Pentagon Meets the real World. O editorialista do Times pedia à Casa Branca que tivesse a "coragem política” de recortar o orçamento de defesa. Sugestões? Suprimir os programas de aquisição do caça F-22 e do destrutor DDG-1000; e reduzir o Sistema de combate Futuro, do exército de terra, a fim de economizar 10 bilhões a cada ano. Todas são sugestões aceitáveis; porém, o que acontece com as bases no exterior?
Apesar de que os políticos e os especialistas midiáticos parecem ignorar essas bases e entendem o estacionamento de tropas dos Estados Unidos em todo o mundo como um fato natural, o império de bases militares estadunidenses atrai a atenção de acadêmicos e ativistas, como o demonstra uma conferência sobre as bases estrangeiras realizada na American University, no final de fevereiro. NYU Press acaba de publicar o livro de Catherine Lutz ‘Bases of empire', que reúne a acadêmicos que estudam as bases militares dos Estados Unidos e ativistas opostos a essas bases; Rutgers University Press publicou o livro de Kate MacCaffrey, ‘Military Power and Popular Protest', um estudo da base militar de Vieques (Porto Rico), que teve que fechar suas portas ante os protestos massivos da população local. E Princeton University Press está a ponto de publicar ‘Island of Shame', de David Vine, que conta a história de como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha acordaram em segredo deportar aos habitantes de Diego García para a Ilha Mauricio e Seychelles, para que sua ilha pudesse converter-se em uma base militar. Os estadunidenses fizeram um trabalho tão refinado que, inclusive, pulverizaram com gás os cachorros. Esses habitantes indígenas, Chagos, não puderam ter acesso aos tribunais dos Estados Unidos; porém, ganharam sua causa contra o governo critânico em três julgamentos, apesar de que no final a sentença foi anulada pelo mais alto tribunal do país, a Câmara de Lores. Agora estão interpondo recursos ante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
Os líderes americanos falam de suas bases estrangeiras como um elemento que permite consolidar as alianças com outros países, principalmente através dos acordos comerciais e com a ajuda que costumam acompanhar os arrendamentos das bases. No entanto, os soldados dos Estados Unidos vivem em uma espécie de ‘cocoon', simulacro dos Estados Unidos nas bases, vendo canais de TV estadunidenses; escutando rap e heavy metal estadunidense e comendo fast food de seu país, para que os jovens da comunidade local e as crianças de rua tenham pouco contato com outra forma de vida. Enquanto isso, do outro lado da cerca de arame farpado, os residentes e as empresas locais costumam ser economicamente dependentes dos soldados e ter interesse em sua permanência.
Essas bases podem converter-se em focos de conflito. As bases descarregam incessantemente lixo tóxico nos ecossistemas locais, como em Guam, onde as bases militares têm levado à criação de pelo menos 19 vertedouros tóxicos. Essa contaminação gera ressentimento e, às vezes, como em Vieques na década de 90, mobilizações sociais contra as bases. Os Estados Unidos utilizavam Vieques para suas práticas de bombardeio durante 180 dis ao ano, e quando os Estados Unidos se retiraram, em 2003, a paisagem estava coberta de munições, das quais algumas haviam detonado e outras, não; cartuchos de urânio empobrecido; metais pesados; petróleo; lubrificantes; solventes e ácidos. Segundo os ativistas locais, o índice de câncer em Vieques era 30% superior ao do restante do país, Porto Rico.
Também é inevitável que, de vez em quando, os soldados dos Estados Unidos –em geral, bêbados- cometam delitos. O ressentimento que esses crimes causam se exacerba pela frequente insistência do governo dos Estados Unidos de impedir que esses crimes sejam julgados por tribunais locais. Na Coreia, em 2002, dois soldados estadunidenses mataram a duas jovens adolescentes quando se dirigiam a uma festa de aniversário. Os ativistas coreanos asseguram que este foi um dos 52.000 delitos cometidos por soldados estadunidenses na Coreia entre 1967 e 2002. Os dois soldados foram repatriados imediatamente para os Estados Unidos para que pudessem escapar do tribunal coreano. Em 1998, um aviador dos Marines seccionou o cabo de uma telecabine de esqui na Itália, matando a 20 pessoas. Funcionários dos Estados Unidos deram ao piloto um ‘puxão de orelhas' enquanto se negavam a permitir que as autoridades italianas o julgassem. Esses e outros incidentes similares têm prejudicado as relações dos Estados Unidos com alguns aliados importantes.
Os ataques de 11 de setembro foram, sem dúvida, o exemplo mais espetacular do tipo de retrocesso que pode gerar o ressentimento local contra as bases dos Estados Unidos. Na década de 1990, a presença de bases militares estadunidenses nas proximidades dos lugares mais sagrados do Islã sunita, na Arábia Saudita, enfureceu a Osama Bin Laden e proporcionou a Al Qaeda uma potente ferramenta de recrutamento. Os Estados Unidos fecharam prudentemente suas principais bases na Arábia Saudita; porém, abriram novas bases no Iraque e no Afeganistão, que se estão convertendo em novas fontes de fricção nas relações entre os Estados Unidos e os povos do Oriente Próximo.
Esse império proporciona aos Estados Unidos uma capacidade de intervenção global; porém, a forma do mesmo, na medida em que seu peso principal está na Europa, é um vestígio inflado e anacrônico da Guerra Fria.
Muitas dessas bases são um luxo que os Estados Unidos já não podem ter, nessa época de déficit orçamentário recorde. Por outro lado, as bases estadunidenses em países estrangeiros têm dois gumes: projetam o poder estadunidense em todo o mundo; porém, também inflamam as relações exteriores dos Estados Unidos e geram ressentimento devido aos fenômenos de prostituição, dano ambiental, pequena delinquência e etnocentrismo cotidiano, que são seus corolários inevitáveis. Recentemente, esses ressentimentos obrigaram o fechamento de bases estadunidenses no Equador, em Porto Rico, no Quirquistão e, se o passado é o início do futuro, são de se esperar outros movimentos contra as bases estadunidenses no futuro.
Durante os próximos 50 anos, estou convencido de que seremos testemunhas do aparecimento de uma nova norma internacional segundo a qual a instalação de bases militares no estrangeiro será tão indefensável quanto tem sido a ocupação colonial durante os últimos 50 anos.
Nossa Declaração de Independência critica aos britânicos pelo aquartelamento de grandes tropas armadas entre nós e por suas tropas estarem protegidas, mediante julgamentos simbólicos, do castigo aos crimes que pudessem cometer contra habitantes desses Estados Unidos. Belas palavras! Os Estados Unidos deveriam começar a levá-las a sério.
EUA ameaçam a Venezuela
Por Brizola Neto, no blog Tijolaço:
Os Estados Unidos assumiram um tom de aberta hostilidade hoje contra o governo venezuelano. Os americanos já haviam imposto sanções à petrolífera venezuelana, a PDVSA, por manter negócios comerciais com o Irã, no último dia 24.
Agora, subiram o tom:
Estados Unidos continuam vigiando a Venezuela e “nenhuma opção está fora de la mesa” quanto a sanções contra o governo de Hugo Chávez, disse Kevin Whitaker, do escritório para América Latina do Departamento de Estado em uma audiência hoje no Congresso americano.
Um dos deputados chegou a pedir que o governo declare embargo às compras do petróleo venezuelano.
O chefe da subcomissão para América Latina de la Câmara dos Deputados, diz a AFP, o republicano Connie Mack (Florida), insistiu para que Venezuela seja classificada como “Estado patrocinador del terrorismo”, título que Estados Unidos dão a Cuba, Irã , Sudão e Síria.
Mas o coordenador de antiterrorismo do Departamento de Estado, Daniel Benjamin recusou a ideia.Não mencionou, é claro, que os EUA “bebem” 1,2 milhão de barris de petróleo venezuelano todos os dias.
Sua explicação foi de que isso poderia ser usado políticamente por Chávez “como um ataque contra seu governo” e apelar ao “sentimento nacional”.
E não é um ataque ao seu governo?
Na mesma ocasião em que se puniu a PDVSA por fazer negócios com o Irã, outras sete empresas foram sancionadas.
PCCI (Jersey/Irã), Real Oyster Group (Emirados Árabes Unidos), Speedy Ship (Emirados Árabes Unidos), Tanker Pacific (Singapura), Ofer Brothers Group (Israel) y Associated Shipbroking (Mônaco), foram penalizadas pelo mesmo tipo de negócio com os iranianos que a PDVSA, mas ninguém foi chamado de “patrocinador do terrorismo” por isso.
Os Estados Unidos assumiram um tom de aberta hostilidade hoje contra o governo venezuelano. Os americanos já haviam imposto sanções à petrolífera venezuelana, a PDVSA, por manter negócios comerciais com o Irã, no último dia 24.
Agora, subiram o tom:
Estados Unidos continuam vigiando a Venezuela e “nenhuma opção está fora de la mesa” quanto a sanções contra o governo de Hugo Chávez, disse Kevin Whitaker, do escritório para América Latina do Departamento de Estado em uma audiência hoje no Congresso americano.
Um dos deputados chegou a pedir que o governo declare embargo às compras do petróleo venezuelano.
O chefe da subcomissão para América Latina de la Câmara dos Deputados, diz a AFP, o republicano Connie Mack (Florida), insistiu para que Venezuela seja classificada como “Estado patrocinador del terrorismo”, título que Estados Unidos dão a Cuba, Irã , Sudão e Síria.
Mas o coordenador de antiterrorismo do Departamento de Estado, Daniel Benjamin recusou a ideia.Não mencionou, é claro, que os EUA “bebem” 1,2 milhão de barris de petróleo venezuelano todos os dias.
Sua explicação foi de que isso poderia ser usado políticamente por Chávez “como um ataque contra seu governo” e apelar ao “sentimento nacional”.
E não é um ataque ao seu governo?
Na mesma ocasião em que se puniu a PDVSA por fazer negócios com o Irã, outras sete empresas foram sancionadas.
PCCI (Jersey/Irã), Real Oyster Group (Emirados Árabes Unidos), Speedy Ship (Emirados Árabes Unidos), Tanker Pacific (Singapura), Ofer Brothers Group (Israel) y Associated Shipbroking (Mônaco), foram penalizadas pelo mesmo tipo de negócio com os iranianos que a PDVSA, mas ninguém foi chamado de “patrocinador do terrorismo” por isso.
Filho de repórter da Globo não é de FHC
Por Altamiro Borges, em seu blog
Durante longos anos, a mídia demotucana simplesmente escondeu o caso extraconjugal do ex-presidente FHC com a repórter da TV Globo Miriam Dutra. A jornalista inclusive desapareceu das telinhas da poderosa emissora. Num furo de reportagem, a revista Caros Amigos foi a única que desnudou o episódio, tão constrangedor para os neoliberais metidos a moralistas. A bombástica revelação, porém, não teve qualquer repercussão na chamada grande imprensa.
Em 2009, o ex-presidente finalmente resolveu reconhecer o filho Tomás Dutra Schmidt, num cartório em Madri, segundo relatou numa notinha a jornalista Mônica Bergamo, da Folha. A mídia demotucana, sempre tão moralista nas críticas aos seus adversários políticos, novamente preferiu o silêncio. O caso não ganhou as manchetes dos jornalões nem foi motivo de escândalo nas emissoras de TV.
Agora, porém, surge um fato novo, inusitado. Segundo a mesma Mônica Bergamo, em sua coluna deste sábado (25), o filho da repórter da TV Globo que FHC escondeu durante tanto tempo e só reconheceu recentemente não é dele. Sem comentários. Vale ler a matéria da jornalista da Folha:
*****
Dois testes de DNA, feitos em São Paulo e em Nova York, revelaram que Tomás Dutra Schmidt, filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo, não é filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em 2009, FHC reconheceu Tomás como filho num cartório em Madri, na Espanha.
O jovem, que hoje tem 18 anos, pode usar o documento a qualquer momento para colocar o nome do ex-presidente em sua certidão, segundo interlocutores de FHC. A informação sobre os testes foi publicada na coluna Radar, da revista “Veja”.
Depois que o documento já estava pronto, os três filhos do tucano com Ruth Cardoso — Paulo Henrique, Beatriz e Luciana — pediram ao pai que fizesse um exame que comprovasse que Tomás era mesmo filho dele.
O ex-presidente concordou, imaginando com isso colocar fim a qualquer possibilidade de desentendimento entre os irmãos e Tomás.
O primeiro teste foi feito no fim do ano passado, em São Paulo. A saliva de FHC foi recolhida em São Paulo, e a de Tomás, em Washington, nos EUA, onde estuda, por meio do representante do escritório do advogado brasileiro Sergio Bermudes, que cuidou tanto do reconhecimento quanto dos testes feitos.
O primeiro exame deu negativo. FHC decidiu então se encontrar com Tomás em Nova York para um novo teste, que também deu negativo.
Fernando Henrique Cardoso estava disposto a manter a história restrita aos seus familiares. De acordo com interlocutores do ex-presidente, ele acha que o exame é uma mera negativa biológica, e não jurídica.
Ele está disposto a manter o reconhecimento de Tomás.
Seus herdeiros, no futuro, poderão questionar a paternidade com base nos testes de DNA.
O ex-presidente não falará nada sobre o assunto, pois entende que diz respeito apenas à sua vida privada.
Durante longos anos, a mídia demotucana simplesmente escondeu o caso extraconjugal do ex-presidente FHC com a repórter da TV Globo Miriam Dutra. A jornalista inclusive desapareceu das telinhas da poderosa emissora. Num furo de reportagem, a revista Caros Amigos foi a única que desnudou o episódio, tão constrangedor para os neoliberais metidos a moralistas. A bombástica revelação, porém, não teve qualquer repercussão na chamada grande imprensa.
Em 2009, o ex-presidente finalmente resolveu reconhecer o filho Tomás Dutra Schmidt, num cartório em Madri, segundo relatou numa notinha a jornalista Mônica Bergamo, da Folha. A mídia demotucana, sempre tão moralista nas críticas aos seus adversários políticos, novamente preferiu o silêncio. O caso não ganhou as manchetes dos jornalões nem foi motivo de escândalo nas emissoras de TV.
Agora, porém, surge um fato novo, inusitado. Segundo a mesma Mônica Bergamo, em sua coluna deste sábado (25), o filho da repórter da TV Globo que FHC escondeu durante tanto tempo e só reconheceu recentemente não é dele. Sem comentários. Vale ler a matéria da jornalista da Folha:
*****
Dois testes de DNA, feitos em São Paulo e em Nova York, revelaram que Tomás Dutra Schmidt, filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo, não é filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em 2009, FHC reconheceu Tomás como filho num cartório em Madri, na Espanha.
O jovem, que hoje tem 18 anos, pode usar o documento a qualquer momento para colocar o nome do ex-presidente em sua certidão, segundo interlocutores de FHC. A informação sobre os testes foi publicada na coluna Radar, da revista “Veja”.
Depois que o documento já estava pronto, os três filhos do tucano com Ruth Cardoso — Paulo Henrique, Beatriz e Luciana — pediram ao pai que fizesse um exame que comprovasse que Tomás era mesmo filho dele.
O ex-presidente concordou, imaginando com isso colocar fim a qualquer possibilidade de desentendimento entre os irmãos e Tomás.
O primeiro teste foi feito no fim do ano passado, em São Paulo. A saliva de FHC foi recolhida em São Paulo, e a de Tomás, em Washington, nos EUA, onde estuda, por meio do representante do escritório do advogado brasileiro Sergio Bermudes, que cuidou tanto do reconhecimento quanto dos testes feitos.
O primeiro exame deu negativo. FHC decidiu então se encontrar com Tomás em Nova York para um novo teste, que também deu negativo.
Fernando Henrique Cardoso estava disposto a manter a história restrita aos seus familiares. De acordo com interlocutores do ex-presidente, ele acha que o exame é uma mera negativa biológica, e não jurídica.
Ele está disposto a manter o reconhecimento de Tomás.
Seus herdeiros, no futuro, poderão questionar a paternidade com base nos testes de DNA.
O ex-presidente não falará nada sobre o assunto, pois entende que diz respeito apenas à sua vida privada.
Índio da Costa para vice de Aécio
Por Altamiro Borges, em seu blog
Na noite de quarta-feira (22), véspera do feriadão, Índio da Costa, o ex-demo que foi candidato à vice do tucano José Serra e que hoje é um dos líderes do PSD de Kassab, teve sua carteira de motorista apreendida numa blitz do Detran do Rio de Janeiro. Ele se recusou a fazer o teste de bafômetro. Em seu twitter, ele confessou que havia tomado uma taça de vinho. Será que foi só isso?
Na campanha presidencial do ano passado, o ex-deputado ficou conhecido por seus ataques histéricos contra o governo Lula e a candidata Dilma Rousseff. Chegou a acusar do PT de ser ligado ao narcotráfico e fez discursos preconceituosos sobre temas sérios, como o aborto e a religião. Agora, o falso moralista é retido numa blitz policial. Todo moralista costuma ser um imoral enrustido!
Índio da Costa terá de pagar multa de R$ 957,70 e responderá a processo administrativo no Detran/RJ. A carteira de habilitação ficará retida por cinco dias. A apreensão ocorreu no mesmo bairro nobre do Leblon, próximo ao local onde o ex-governador e atual senador mineiro Aécio Neves também se recusou a fazer o teste do bafômetro. Como presidente do PSD do Rio de Janeiro, o ex-vice de Serra pode até pleitear ser vice do tucano Aécio Neves em 2014. Afinal, eles têm muita coisa em comum!
Na noite de quarta-feira (22), véspera do feriadão, Índio da Costa, o ex-demo que foi candidato à vice do tucano José Serra e que hoje é um dos líderes do PSD de Kassab, teve sua carteira de motorista apreendida numa blitz do Detran do Rio de Janeiro. Ele se recusou a fazer o teste de bafômetro. Em seu twitter, ele confessou que havia tomado uma taça de vinho. Será que foi só isso?
Na campanha presidencial do ano passado, o ex-deputado ficou conhecido por seus ataques histéricos contra o governo Lula e a candidata Dilma Rousseff. Chegou a acusar do PT de ser ligado ao narcotráfico e fez discursos preconceituosos sobre temas sérios, como o aborto e a religião. Agora, o falso moralista é retido numa blitz policial. Todo moralista costuma ser um imoral enrustido!
Índio da Costa terá de pagar multa de R$ 957,70 e responderá a processo administrativo no Detran/RJ. A carteira de habilitação ficará retida por cinco dias. A apreensão ocorreu no mesmo bairro nobre do Leblon, próximo ao local onde o ex-governador e atual senador mineiro Aécio Neves também se recusou a fazer o teste do bafômetro. Como presidente do PSD do Rio de Janeiro, o ex-vice de Serra pode até pleitear ser vice do tucano Aécio Neves em 2014. Afinal, eles têm muita coisa em comum!
Bispo de Guarulhos vomita machismo
Por Altamiro Borges, em seu blog
Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos (SP) que ficou famoso nas eleições do ano passado por financiar, ilegalmente, panfletos apócrifos contra a candidata Dilma Rousseff, não tem cura mesmo. Ele precisa urgentemente ser exorcizado! Em entrevista ao jornal Valor, o “apóstolo” do ódio e do preconceito voltou a vomitar contra o direito da mulher ao aborto mesmo em caso de estupro:
“Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil”, comenta. O bispo ajeita os cabelos e o crucifixo. “Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre… Há os casos em que não é bem violência… [A mulher diz] “Não queria, não queria, mas aconteceu…”, diz. “Então sabe o que eu fazia?” Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. “Eu falava: bota aqui”, pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. “Entendeu, né? Tem casos assim, do “ah, não queria, não queria, mas acabei deixando”.
Processo urgente
Repugnante! No ano passado, milhões de panfletos acusando Dilma Rousseff de ser “abortista” e de “matar criancinhas” foram apreendidos numa gráfica no Cambuci, no centro da capital paulista. O dono da empresa confessou que o pedido havia sido feito por agentes do bispo de Guarulhos. Apesar do crime eleitoral, nada foi feito contra Dom Bergonzini. Em sermões e entrevistas, ele continuou sua pregação odiosa e mentirosa em favor do candidato tucano José Serra.
Agora, ele volta ao ataque, desprezando a própria legislação brasileira que garante o direito ao aborto em caso de estupro. As suas declarações até que mereceriam um processo, desta vez das entidades feministas que defendem os direitos das mulheres. Não dá para ficar passivo diante da campanha de ódio deste bispo. Como já foi dito, ele precisa urgentemente ser exorcizado!
Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos (SP) que ficou famoso nas eleições do ano passado por financiar, ilegalmente, panfletos apócrifos contra a candidata Dilma Rousseff, não tem cura mesmo. Ele precisa urgentemente ser exorcizado! Em entrevista ao jornal Valor, o “apóstolo” do ódio e do preconceito voltou a vomitar contra o direito da mulher ao aborto mesmo em caso de estupro:
“Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil”, comenta. O bispo ajeita os cabelos e o crucifixo. “Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre… Há os casos em que não é bem violência… [A mulher diz] “Não queria, não queria, mas aconteceu…”, diz. “Então sabe o que eu fazia?” Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. “Eu falava: bota aqui”, pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. “Entendeu, né? Tem casos assim, do “ah, não queria, não queria, mas acabei deixando”.
Processo urgente
Repugnante! No ano passado, milhões de panfletos acusando Dilma Rousseff de ser “abortista” e de “matar criancinhas” foram apreendidos numa gráfica no Cambuci, no centro da capital paulista. O dono da empresa confessou que o pedido havia sido feito por agentes do bispo de Guarulhos. Apesar do crime eleitoral, nada foi feito contra Dom Bergonzini. Em sermões e entrevistas, ele continuou sua pregação odiosa e mentirosa em favor do candidato tucano José Serra.
Agora, ele volta ao ataque, desprezando a própria legislação brasileira que garante o direito ao aborto em caso de estupro. As suas declarações até que mereceriam um processo, desta vez das entidades feministas que defendem os direitos das mulheres. Não dá para ficar passivo diante da campanha de ódio deste bispo. Como já foi dito, ele precisa urgentemente ser exorcizado!
Holanda pode classificar maconha concentrada como droga pesada
Fonte: Terra.com.br
A Holanda, famosa por sua política liberal em relação às drogas, anunciou nesta sexta-feira que pode classificar algumas formas de maconha altamente concentrada como droga pesada, comparável à cocaína ou heroína, em função do risco de criação de dependência.
Com muitas "coffeeshops" vendendo maconha abertamente a fregueses, além do cultivo doméstico de plantas de maconha ser tolerado no país, a Holanda atrai atenção na discussão global sobre as políticas em relação às drogas leves.
Nos últimos três anos o país vem restringindo e desencorajando o consumo e venda de drogas leves, por razões de saúde e criminalidade, e agora quer limitar o turismo de drogas, especialmente nas cidades situadas perto das fronteiras.
O governo propôs a criação de "passes de maconha" especiais para impedir visitantes de usarem as coffeeshops e restringir o acesso de moradores no país a elas. Alguns analistas prevêem que a medida pode provocar uma queda no número de turistas e nos gastos deles no país.
Agora uma comissão holandesa concluiu que o haxixe e a maconha vendidos na Holanda têm teor de THC, a substância psicoativa principal, de cerca de 18% e informou à ministra da Saúde que uma concentração de THC superior a 15% coloca a droga em nível semelhante à heroína ou cocaína.
"Eu me preocupo há anos com a concentração de THC, especialmente quando é tão alta. Vamos analisar essa questão seriamente", disse à emissora pública NOS a ministra da Saúde, Edith Schippers.
"As consequências, em termos de geração de dependência, são muito mais fortes e graves. Está claro que este é um fator preocupante."
A Holanda, famosa por sua política liberal em relação às drogas, anunciou nesta sexta-feira que pode classificar algumas formas de maconha altamente concentrada como droga pesada, comparável à cocaína ou heroína, em função do risco de criação de dependência.
Com muitas "coffeeshops" vendendo maconha abertamente a fregueses, além do cultivo doméstico de plantas de maconha ser tolerado no país, a Holanda atrai atenção na discussão global sobre as políticas em relação às drogas leves.
Nos últimos três anos o país vem restringindo e desencorajando o consumo e venda de drogas leves, por razões de saúde e criminalidade, e agora quer limitar o turismo de drogas, especialmente nas cidades situadas perto das fronteiras.
O governo propôs a criação de "passes de maconha" especiais para impedir visitantes de usarem as coffeeshops e restringir o acesso de moradores no país a elas. Alguns analistas prevêem que a medida pode provocar uma queda no número de turistas e nos gastos deles no país.
Agora uma comissão holandesa concluiu que o haxixe e a maconha vendidos na Holanda têm teor de THC, a substância psicoativa principal, de cerca de 18% e informou à ministra da Saúde que uma concentração de THC superior a 15% coloca a droga em nível semelhante à heroína ou cocaína.
"Eu me preocupo há anos com a concentração de THC, especialmente quando é tão alta. Vamos analisar essa questão seriamente", disse à emissora pública NOS a ministra da Saúde, Edith Schippers.
"As consequências, em termos de geração de dependência, são muito mais fortes e graves. Está claro que este é um fator preocupante."
sábado, 25 de junho de 2011
Cuidado com brigas na internet
Por Eduardo Magalhães, no Blog da Cidadania
A princípio, pensei em deixar de lado o assunto de que trata este post, mas, como após dois ataques impressionantes que recebi por conta do que faço neste blog acabo de receber um terceiro e perturbador ataque, dei-me conta de que tenho o dever de avisar o meu público do que acabei de vislumbrar, os riscos concretos de brigar na internet.
Aí está coisa que vemos todos os dias, sobretudo os que discutem política na rede, sejam como comentaristas, sejam como blogueiros, tuiteiros ou coisa que o valha. Todavia, a maioria pensa que essas desinteligências virtuais ficam no éter digital, mas fatos recentes me mostraram que não é assim e que, portanto, há que ter cuidado.
Na quarta-feira, publiquei post dando conta do estado de saúde de minha filha Victoria, da qual tantos amigos da internet sempre perguntam quando nos reunimos fisicamente – no encontro nacional de blogueiros, que aconteceu no último fim de semana, fui perguntado bem umas cem vezes. Esse post gerou um dos ataques mais espantosos que já vi.
O post supracitado trazia uma bela foto da minha menina, uma criança inocente de doze anos que luta pela vida e que tem sofrido com internações longas e recorrentes em hospital, cirurgias e os mais dolorosos procedimentos. Que tipo de ser humano usaria essa criança para atingir alguém de quem discorda politicamente?
Reproduzo, abaixo, comentário àquele post que cheguei a publicar porque escapou do “filtro” durante liberação apressada e pouco atenta que fiz de uma leva de comentários.
—–
Post – Notícias de Vitória
Data – 23 de junho de 2011
Apelido do comentarista – Silvio
E-mail do comentarista – linitufernel73@hotmail.com (falso)
IP da máquina do comentarista – 189.38.208.135
Texto:
“Puta menina feia. Parece o demonio. Tem cara de debilóide mental. Acho que é por essa razão que você apoia esse governo de ladrões do PT e essa corja que nos assalta há 8 anos. Bando de merdas corruptos e sem escrupulos. Você só gosta de coisa ruim, feia e podre. Ela é sua filha ou de Satanás?”
—–
Até aí, “nada demais”. Em 2009, quando a minha filha ficou internada por três meses na UTI e comentei o assunto neste blog tomado pelo desespero diante do risco de vida que a criança corria, alguém (a mesma pessoa?) postou comentário desejando a “morte dessa petistinha”. Contudo, outros fatos sugerem que tanto ódio pode não se restringir ao virtual.
No último fim de semana, durante o II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em Brasília, ocorreu um fato surpreendente que pode ser a segunda perna de um tripé de ataques que este post ilustrará. O nome da pessoa que praticou o que relatarei será omitido porque este texto não é uma retaliação, mas um serviço de utilidade pública.
Durante os vários posts que publiquei neste blog sobre a agonia política do ex-ministro Antonio Palocci, um comentarista se destacou de outros pela quantidade de mensagens contestadoras que publicou, que chegaram às dezenas. Acabei vetando esse comentarista porque começou a fazer ataques pessoais que eu começava a responder.
Na sexta-feira, 17 de junho, cheguei atrasado ao Encontro de Blogueiros em Brasília. O vôo atrasara e o avião que me trazia de São Paulo ficou parado na pista por quase duas horas esperando autorização para decolar devido ao excesso de tráfego aéreo. Quando adentrei o complexo da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio, Lula já tinha falado.
Fiquei por alguns minutos à porta do local do evento e logo apareceu alguém para me avisar de que havia um cartaz com um protesto contra mim afixado no salão principal do complexo da CNTC. Os cartazes me detratando que aquele leitor que divergiu de mim no caso Palocci levou para o evento foram exibidos durante os seus três dias.
Um dos cartazes, no qual prestei mais atenção, tinha mais ou menos um metro por um metro e meio, era colorido e trazia uma montagem em que eu falava ao megafone para um rebanho de bois (se não me engano). Havia uma legenda que parecia provir do megafone em que pedia que acreditassem em mim e outra, como se fossem meus pensamentos, desdenhando dos que acreditavam.
A supersecretária Daniele, do Barão de Itararé, que organizou o Encontro, disse-me que os outros cartazes que não foram permitidos para exibição eram muito piores do que aquele que adivinhava meus pensamentos. E me afiançou que quem os fez queria “acabar” comigo.
Logo após Lula deixar o complexo da CNTC, na sexta-feira, os cartazes foram retirados. Protestei. Disse à organização do evento e a muitas outras pessoas que vieram comentar comigo o ineditismo e a bizarrice daqueles cartazes que deveriam deixar que o protesto fosse feito.
Quem fez o protesto foram dois rapazes. Um deles, o que divergira de mim aqui neste blog, e o outro, seria seu irmão “gêmeo” – quem me disse que eram gêmeos foram outras pessoas no evento. Eram dois rapazes corpulentos e com cara de zangados.
Ignorei os cartazes, que voltaram a ser afixados. Depois, acabei até brincando com eles. Deixei-me fotografar ao lado de um deles, até. Antes, porém, ocorreu um momento de tensão.
No sábado, esses rapazes que fizeram os cartazes me cercaram em alguma parte do complexo da CNTC. Aquele que divergiu de mim aqui no blog chegou se apresentando e já foi me insultando com palavrões e por alguns momentos cheguei a achar que a dupla iria me agredir. E me “recomendaram” que tivesse “cuidado” com aquilo que escrevo.
Obviamente que este blogueiro não se deixa assustar facilmente. Já recebi ameaças antes e sei que fazem parte do “pacote” que envolve meu ativismo político. Disse aos rapazes que não tinha medo deles e os deixei falando sozinhos.
Voltaram a se aproximar mais algumas vezes e, como perceberam que estava até me divertindo com o que fizeram e que a grande maioria dos presentes não dera a menor bola, desistiram de me assediar.
Um desses rapazes, aquele que divergiu de mim aqui no blog, ainda acabou se envolvendo num bate-boca com o Altamiro Borges, pois interrompeu aos berros a palestra do ex-ministro José Dirceu quando a mesa decidiu que não haveria perguntas dos presentes.
No sábado, último dia em que o agressor foi ao Encontro, ao fim da tarde acabou me entregando uma das camisetas do evento que levou lá para vender, provavelmente para cobrir os custos dos cartazes que fez contra mim, que eram vários apesar de só terem sido exibidos dois. Parecia querer enterrar a briga…
Detalhe: ninguém retirou os cartazes no último dia do Encontro (domingo), quando os autores deles não foram.
Essa história dá bem a dimensão do que brigas na internet podem gerar. Imaginem que aqueles rapazes se deslocaram até o Encontro com o objetivo de “acabar” comigo pelo que penso, por minhas opiniões. Gastaram dinheiro, dedicaram-se a parar pessoas no evento para me detratarem e, de início, estavam furiosos.
O que será que aconteceria se os encontrasse em uma rua deserta?
Mas, até esse ponto, ainda não vira o que acabei vendo ontem (quinta-feira, 23 de junho). No fim da tarde, este blog recebeu o seguinte comentário:
—-
Post – Presidenta se fortalece com lei de mídia
Data – 23 de junho de 2011
Apelido do comentarista – VAITOMARNOCU
E-mail do comentarista – vaitomarnocu@vaitomarnocu.bom.br (falso)
IP da máquina do comentarista – 295.113.79.459
Texto:
“fica esperto otario”
—–
Ligando esses fatos, percebe-se que não é exagero supor que algum demente que se irrita com divergências na internet é bem capaz de praticar violências de vários tipos movido pelo ódio àquilo com que não concorda ou até por uma troca de farpas. São pessoas obsessivas e no limiar da insanidade que podem perder a cabeça por uma questão virtual.
Não aceitarei jamais que me calem com ameaças reais ou virtuais. Não aceito mais isso no Brasil. Não me calo. Todavia, essas discussões com comentaristas ou no Twitter ou em qualquer outra rede social não levam a parte alguma. Tornam pessoais divergências de cunho político e podem gerar até uma desgraça, sem falar em processos etc.
Sugiro aos navegantes que evitem os bate-bocas neste ou em outros fóruns na internet. Há muitos psicopatas na rede e não dá para confiar no bom e velho dito popular de que cão que ladra, não morde. Alguns ladram e mordem. Cada vez mais me convenço disso.
A princípio, pensei em deixar de lado o assunto de que trata este post, mas, como após dois ataques impressionantes que recebi por conta do que faço neste blog acabo de receber um terceiro e perturbador ataque, dei-me conta de que tenho o dever de avisar o meu público do que acabei de vislumbrar, os riscos concretos de brigar na internet.
Aí está coisa que vemos todos os dias, sobretudo os que discutem política na rede, sejam como comentaristas, sejam como blogueiros, tuiteiros ou coisa que o valha. Todavia, a maioria pensa que essas desinteligências virtuais ficam no éter digital, mas fatos recentes me mostraram que não é assim e que, portanto, há que ter cuidado.
Na quarta-feira, publiquei post dando conta do estado de saúde de minha filha Victoria, da qual tantos amigos da internet sempre perguntam quando nos reunimos fisicamente – no encontro nacional de blogueiros, que aconteceu no último fim de semana, fui perguntado bem umas cem vezes. Esse post gerou um dos ataques mais espantosos que já vi.
O post supracitado trazia uma bela foto da minha menina, uma criança inocente de doze anos que luta pela vida e que tem sofrido com internações longas e recorrentes em hospital, cirurgias e os mais dolorosos procedimentos. Que tipo de ser humano usaria essa criança para atingir alguém de quem discorda politicamente?
Reproduzo, abaixo, comentário àquele post que cheguei a publicar porque escapou do “filtro” durante liberação apressada e pouco atenta que fiz de uma leva de comentários.
—–
Post – Notícias de Vitória
Data – 23 de junho de 2011
Apelido do comentarista – Silvio
E-mail do comentarista – linitufernel73@hotmail.com (falso)
IP da máquina do comentarista – 189.38.208.135
Texto:
“Puta menina feia. Parece o demonio. Tem cara de debilóide mental. Acho que é por essa razão que você apoia esse governo de ladrões do PT e essa corja que nos assalta há 8 anos. Bando de merdas corruptos e sem escrupulos. Você só gosta de coisa ruim, feia e podre. Ela é sua filha ou de Satanás?”
—–
Até aí, “nada demais”. Em 2009, quando a minha filha ficou internada por três meses na UTI e comentei o assunto neste blog tomado pelo desespero diante do risco de vida que a criança corria, alguém (a mesma pessoa?) postou comentário desejando a “morte dessa petistinha”. Contudo, outros fatos sugerem que tanto ódio pode não se restringir ao virtual.
No último fim de semana, durante o II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, em Brasília, ocorreu um fato surpreendente que pode ser a segunda perna de um tripé de ataques que este post ilustrará. O nome da pessoa que praticou o que relatarei será omitido porque este texto não é uma retaliação, mas um serviço de utilidade pública.
Durante os vários posts que publiquei neste blog sobre a agonia política do ex-ministro Antonio Palocci, um comentarista se destacou de outros pela quantidade de mensagens contestadoras que publicou, que chegaram às dezenas. Acabei vetando esse comentarista porque começou a fazer ataques pessoais que eu começava a responder.
Na sexta-feira, 17 de junho, cheguei atrasado ao Encontro de Blogueiros em Brasília. O vôo atrasara e o avião que me trazia de São Paulo ficou parado na pista por quase duas horas esperando autorização para decolar devido ao excesso de tráfego aéreo. Quando adentrei o complexo da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio, Lula já tinha falado.
Fiquei por alguns minutos à porta do local do evento e logo apareceu alguém para me avisar de que havia um cartaz com um protesto contra mim afixado no salão principal do complexo da CNTC. Os cartazes me detratando que aquele leitor que divergiu de mim no caso Palocci levou para o evento foram exibidos durante os seus três dias.
Um dos cartazes, no qual prestei mais atenção, tinha mais ou menos um metro por um metro e meio, era colorido e trazia uma montagem em que eu falava ao megafone para um rebanho de bois (se não me engano). Havia uma legenda que parecia provir do megafone em que pedia que acreditassem em mim e outra, como se fossem meus pensamentos, desdenhando dos que acreditavam.
A supersecretária Daniele, do Barão de Itararé, que organizou o Encontro, disse-me que os outros cartazes que não foram permitidos para exibição eram muito piores do que aquele que adivinhava meus pensamentos. E me afiançou que quem os fez queria “acabar” comigo.
Logo após Lula deixar o complexo da CNTC, na sexta-feira, os cartazes foram retirados. Protestei. Disse à organização do evento e a muitas outras pessoas que vieram comentar comigo o ineditismo e a bizarrice daqueles cartazes que deveriam deixar que o protesto fosse feito.
Quem fez o protesto foram dois rapazes. Um deles, o que divergira de mim aqui neste blog, e o outro, seria seu irmão “gêmeo” – quem me disse que eram gêmeos foram outras pessoas no evento. Eram dois rapazes corpulentos e com cara de zangados.
Ignorei os cartazes, que voltaram a ser afixados. Depois, acabei até brincando com eles. Deixei-me fotografar ao lado de um deles, até. Antes, porém, ocorreu um momento de tensão.
No sábado, esses rapazes que fizeram os cartazes me cercaram em alguma parte do complexo da CNTC. Aquele que divergiu de mim aqui no blog chegou se apresentando e já foi me insultando com palavrões e por alguns momentos cheguei a achar que a dupla iria me agredir. E me “recomendaram” que tivesse “cuidado” com aquilo que escrevo.
Obviamente que este blogueiro não se deixa assustar facilmente. Já recebi ameaças antes e sei que fazem parte do “pacote” que envolve meu ativismo político. Disse aos rapazes que não tinha medo deles e os deixei falando sozinhos.
Voltaram a se aproximar mais algumas vezes e, como perceberam que estava até me divertindo com o que fizeram e que a grande maioria dos presentes não dera a menor bola, desistiram de me assediar.
Um desses rapazes, aquele que divergiu de mim aqui no blog, ainda acabou se envolvendo num bate-boca com o Altamiro Borges, pois interrompeu aos berros a palestra do ex-ministro José Dirceu quando a mesa decidiu que não haveria perguntas dos presentes.
No sábado, último dia em que o agressor foi ao Encontro, ao fim da tarde acabou me entregando uma das camisetas do evento que levou lá para vender, provavelmente para cobrir os custos dos cartazes que fez contra mim, que eram vários apesar de só terem sido exibidos dois. Parecia querer enterrar a briga…
Detalhe: ninguém retirou os cartazes no último dia do Encontro (domingo), quando os autores deles não foram.
Essa história dá bem a dimensão do que brigas na internet podem gerar. Imaginem que aqueles rapazes se deslocaram até o Encontro com o objetivo de “acabar” comigo pelo que penso, por minhas opiniões. Gastaram dinheiro, dedicaram-se a parar pessoas no evento para me detratarem e, de início, estavam furiosos.
O que será que aconteceria se os encontrasse em uma rua deserta?
Mas, até esse ponto, ainda não vira o que acabei vendo ontem (quinta-feira, 23 de junho). No fim da tarde, este blog recebeu o seguinte comentário:
—-
Post – Presidenta se fortalece com lei de mídia
Data – 23 de junho de 2011
Apelido do comentarista – VAITOMARNOCU
E-mail do comentarista – vaitomarnocu@vaitomarnocu.bom.br (falso)
IP da máquina do comentarista – 295.113.79.459
Texto:
“fica esperto otario”
—–
Ligando esses fatos, percebe-se que não é exagero supor que algum demente que se irrita com divergências na internet é bem capaz de praticar violências de vários tipos movido pelo ódio àquilo com que não concorda ou até por uma troca de farpas. São pessoas obsessivas e no limiar da insanidade que podem perder a cabeça por uma questão virtual.
Não aceitarei jamais que me calem com ameaças reais ou virtuais. Não aceito mais isso no Brasil. Não me calo. Todavia, essas discussões com comentaristas ou no Twitter ou em qualquer outra rede social não levam a parte alguma. Tornam pessoais divergências de cunho político e podem gerar até uma desgraça, sem falar em processos etc.
Sugiro aos navegantes que evitem os bate-bocas neste ou em outros fóruns na internet. Há muitos psicopatas na rede e não dá para confiar no bom e velho dito popular de que cão que ladra, não morde. Alguns ladram e mordem. Cada vez mais me convenço disso.
Estudo diz que Lula superou FHC e reconhece herança maldita
Por Eduardo Magalhães, no Blog da Cidadania
Colunistas da grande imprensa andaram compondo odes ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (18 de junho de 1931) por conta da comemoração dos seus bem vividos oitenta anos. Alguns textos foram constrangedoramente bajuladores. Esses mesmos colunistas, porém, tratam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com desdém e ironia.
É hora de colocar os pingos nos is. Os colunistas da imprensa ubilicalmente ligada ao projeto de poder do PSDB – ou de seus caciques de cocares mais empenados – podem fazer as suas escolhas políticas, mas precisam parar de mentir ao negarem que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e que este legou àquele uma herança maldita.
Para comprovar o que digo, valer-me-ei de fonte desses colunistas. No caso, a fonte é de uso do colunista de O Globo – e mais novo “imortal” da Academia Brasileira de Letras – Merval Pereira, que assina hoje (22/6), naquele jornal, artigo em que dá conta de Estudo institulado “Redução da desigualdade da renda no governo Lula — Análise comparativa”, do professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Como faz, ininterruptamente, há anos, o colunista de O Globo se vale de parte daquele estudo para induzir o leitor a acreditar em premissas de um dos dois estudos de que trata este artigo que mostrariam que não houve nenhuma grande distribuição de renda durante o governo Lula e que a que ocorreu teria feito parte de um processo mundial em que o governo anterior “surfou”.
Eis o que interessa do artigo “Desigualdade persiste”, de Merval Pereira:
“(…) O Brasil experimenta melhora apenas marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade, entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, já que sai da 4ª posição no ranking mundial dos países mais desiguais para a 5ª posição.
No conjunto dos países que mostram melhores resultados quanto à redução da desigualdade, o Brasil ocupa a 3ª posição, atrás da Venezuela (projeto de orientação socialista) e do Peru (projeto liberal), o que demonstra que os programas sociais não encontraram barreiras ideológicas à sua execução (…)”
Merval, como de costume, conta parte da história. Para julgar por si mesmo, o leitor que se sentir preparado para julgar um texto acadêmico complexo, poderá lê-lo clicando aqui (http://www.ie.ufrj.br/hpp/intranet/pdfs/reinaldo_goncalves_crescimento_1890_2009.pdf).
O texto, porém, incorre em um erro básico: ignora os resultados sociais obtidos pelo governo Lula, apesar de reconhecer que a comparação dos resultados tem que obedecer às condições objetivas de cada governo.
Mas, de fato, a conclusão do estudo usado por Merval Pereira é a de que tanto o governo FHC quanto o governo Lula foram fracos em termos de crescimento econômico, o que fez com que a redução da concentração de renda tenha tido desempenho insuficiente nos governos dos dois ex-presidentes, ainda que com larga vantagem para Lula.
O uso desse estudo por um dos que mais se derramaram em declarações de amor pelo ex-presidente tucano por si só derruba qualquer contestação a outro estudo do mesmo acadêmico da UFRJ que produz algumas conclusões que esses colunistas negam reiteradamente, como as de que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e de que este legou àquele uma legítima herança maldita.
O estudo “Análise Comparativa do governo Lula – resultados e metodologia”, de autoria do mesmo professor Reinaldo Gonçalves e divulgado em 28 de abril de 2010, não alivia para governo nenhum. Mas, quando chega na comparação entre os governos FHC e Lula, tem que reconhecer que, apesar dos resultados insuficientes dos dois, o de Lula foi melhor. E que poderia ter sido melhor se não fosse a herança que recebeu.
Eis a comparação pura e simples dos dois governos no ranking dos que melhores resultados obtiveram:
“(…) O governo FHC ocupa a 28ª posição e o governo Lula a 23ª posição em um conjunto de 29 governos. Vale notar que o governo FHC é o segundo pior da história republicana (só perde para o governo Collor). No conjunto de 6 indicadores o governo Lula tem melhor desempenho que o governo FHC em 5 indicadores (…)”
“(…) Em defesa do governo Lula pode-se argumentar que parte expressiva do seufraco desempenho decorre da “herança negativa” do governo FHC derivada, principalmente, do desequilíbrio das finanças públicas (…)”
A íntegra do estudo que este blog contrapõe ao estudo usado por Merval Pereira pode ser lida aqui. http://www.ie.ufrj.br/hpp/intranet/pdfs/analise_comparativa_do_governo_lula_resultados_e_metodologia_28_abril.pdf
Como já disse, nenhum dos dois estudos pega leve com governo nenhum. Aliás, ambos são injustamente duros com o governo Lula porque desconhecem um fator crucial, os resultados tanto da distribuição de renda quanto da redução da pobreza ou do crescimento exponencial da influência do Brasil no cenário internacional são solenemente ignorados.
Contrapondo-se os dois estudos com os dados do IBGE, vê-se que, apesar de a redução da desigualdade ter sido apenas mediana em relação ao mundo, dentro da realidade brasileira foi a maior ocorrida nos últimos cinqüenta anos, conforme pode ser constatado no artigo IBGE explica por que a elite odeia Lula, publicado neste blog no mês passado. Jamais houve distribuição de renda igual no período que vai de 1960 a 2010.
Além disso, há que se levar em conta a conjuntura mundial durante a era Lula. FHC recebeu um país com a economia arrumada, ainda que ele tenha sido o responsável por essa arrumação ao fim do governo Itamar Franco, enquanto que Lula recebeu um país altamente fragilizado, sabotado incessantemente pela grande mídia e pela oposição e que enfrentou a maior crise econômica mundial dos últimos oitenta anos.
De qualquer forma, se a coalizão político-midiática que Merval Pereira integra quer usar os dados do professor Reinaldo Gonçalves, certamente tem que endossar as conclusões dele de que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e de que este legou uma herança maldita àquele… Certo?
Colunistas da grande imprensa andaram compondo odes ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (18 de junho de 1931) por conta da comemoração dos seus bem vividos oitenta anos. Alguns textos foram constrangedoramente bajuladores. Esses mesmos colunistas, porém, tratam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com desdém e ironia.
É hora de colocar os pingos nos is. Os colunistas da imprensa ubilicalmente ligada ao projeto de poder do PSDB – ou de seus caciques de cocares mais empenados – podem fazer as suas escolhas políticas, mas precisam parar de mentir ao negarem que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e que este legou àquele uma herança maldita.
Para comprovar o que digo, valer-me-ei de fonte desses colunistas. No caso, a fonte é de uso do colunista de O Globo – e mais novo “imortal” da Academia Brasileira de Letras – Merval Pereira, que assina hoje (22/6), naquele jornal, artigo em que dá conta de Estudo institulado “Redução da desigualdade da renda no governo Lula — Análise comparativa”, do professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Como faz, ininterruptamente, há anos, o colunista de O Globo se vale de parte daquele estudo para induzir o leitor a acreditar em premissas de um dos dois estudos de que trata este artigo que mostrariam que não houve nenhuma grande distribuição de renda durante o governo Lula e que a que ocorreu teria feito parte de um processo mundial em que o governo anterior “surfou”.
Eis o que interessa do artigo “Desigualdade persiste”, de Merval Pereira:
“(…) O Brasil experimenta melhora apenas marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade, entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI, já que sai da 4ª posição no ranking mundial dos países mais desiguais para a 5ª posição.
No conjunto dos países que mostram melhores resultados quanto à redução da desigualdade, o Brasil ocupa a 3ª posição, atrás da Venezuela (projeto de orientação socialista) e do Peru (projeto liberal), o que demonstra que os programas sociais não encontraram barreiras ideológicas à sua execução (…)”
Merval, como de costume, conta parte da história. Para julgar por si mesmo, o leitor que se sentir preparado para julgar um texto acadêmico complexo, poderá lê-lo clicando aqui (http://www.ie.ufrj.br/hpp/intranet/pdfs/reinaldo_goncalves_crescimento_1890_2009.pdf).
O texto, porém, incorre em um erro básico: ignora os resultados sociais obtidos pelo governo Lula, apesar de reconhecer que a comparação dos resultados tem que obedecer às condições objetivas de cada governo.
Mas, de fato, a conclusão do estudo usado por Merval Pereira é a de que tanto o governo FHC quanto o governo Lula foram fracos em termos de crescimento econômico, o que fez com que a redução da concentração de renda tenha tido desempenho insuficiente nos governos dos dois ex-presidentes, ainda que com larga vantagem para Lula.
O uso desse estudo por um dos que mais se derramaram em declarações de amor pelo ex-presidente tucano por si só derruba qualquer contestação a outro estudo do mesmo acadêmico da UFRJ que produz algumas conclusões que esses colunistas negam reiteradamente, como as de que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e de que este legou àquele uma legítima herança maldita.
O estudo “Análise Comparativa do governo Lula – resultados e metodologia”, de autoria do mesmo professor Reinaldo Gonçalves e divulgado em 28 de abril de 2010, não alivia para governo nenhum. Mas, quando chega na comparação entre os governos FHC e Lula, tem que reconhecer que, apesar dos resultados insuficientes dos dois, o de Lula foi melhor. E que poderia ter sido melhor se não fosse a herança que recebeu.
Eis a comparação pura e simples dos dois governos no ranking dos que melhores resultados obtiveram:
“(…) O governo FHC ocupa a 28ª posição e o governo Lula a 23ª posição em um conjunto de 29 governos. Vale notar que o governo FHC é o segundo pior da história republicana (só perde para o governo Collor). No conjunto de 6 indicadores o governo Lula tem melhor desempenho que o governo FHC em 5 indicadores (…)”
“(…) Em defesa do governo Lula pode-se argumentar que parte expressiva do seufraco desempenho decorre da “herança negativa” do governo FHC derivada, principalmente, do desequilíbrio das finanças públicas (…)”
A íntegra do estudo que este blog contrapõe ao estudo usado por Merval Pereira pode ser lida aqui. http://www.ie.ufrj.br/hpp/intranet/pdfs/analise_comparativa_do_governo_lula_resultados_e_metodologia_28_abril.pdf
Como já disse, nenhum dos dois estudos pega leve com governo nenhum. Aliás, ambos são injustamente duros com o governo Lula porque desconhecem um fator crucial, os resultados tanto da distribuição de renda quanto da redução da pobreza ou do crescimento exponencial da influência do Brasil no cenário internacional são solenemente ignorados.
Contrapondo-se os dois estudos com os dados do IBGE, vê-se que, apesar de a redução da desigualdade ter sido apenas mediana em relação ao mundo, dentro da realidade brasileira foi a maior ocorrida nos últimos cinqüenta anos, conforme pode ser constatado no artigo IBGE explica por que a elite odeia Lula, publicado neste blog no mês passado. Jamais houve distribuição de renda igual no período que vai de 1960 a 2010.
Além disso, há que se levar em conta a conjuntura mundial durante a era Lula. FHC recebeu um país com a economia arrumada, ainda que ele tenha sido o responsável por essa arrumação ao fim do governo Itamar Franco, enquanto que Lula recebeu um país altamente fragilizado, sabotado incessantemente pela grande mídia e pela oposição e que enfrentou a maior crise econômica mundial dos últimos oitenta anos.
De qualquer forma, se a coalizão político-midiática que Merval Pereira integra quer usar os dados do professor Reinaldo Gonçalves, certamente tem que endossar as conclusões dele de que o governo Lula foi melhor do que o de FHC e de que este legou uma herança maldita àquele… Certo?
Fumar um baseado é igual a seviciar uma criança?
Por Eduardo Magalhães, no Blog da Cidadania
Penso que estou ficando velho. Deve ser por isso que a burrice e a má fé me cansam tanto, de um tempo para cá. Antigamente, tinha mais paciência. Mas esse tempo passou. Não me resta tempo suficiente neste mundo para gastar com burrice, que gasta o tempo limitado que também tem quem a adotou como lema de vida.
Aqueles mesmos que diziam que discriminar pessoas pela cor da pele era “liberdade de expressão”, agora acham que defender o debate sobre a proibição de uma droga leve não seria esse tipo de liberdade, pois seria igual a atacar sexualmente uma criança através da pedofilia.
Como é possível que alguém compare o uso de uma erva que deixa a pessoa relaxada e contemplativa – com a devida perda de neurônios de quem usou – com seviciar sexualmente um ser inocente e indefeso? Que tipo de pessoa subestima tanto a inteligência alheia?
Alguém que diz uma sandice dessas só pode acreditar que todo o resto da humanidade é feita de descerebrados. Mas o que mete medo mesmo é que essa pessoa possa, eventualmente, acreditar no que diz.
Só para fechar o triângulo do absurdo, não vamos nos esquecer de que os reinaldetes que estão espalhando pela internet comparações entre fumar um baseado e seviciar uma criança são os mesmos que acham que é liberdade de expressão Jair Bolsonaro humilhar uma cidadã como Preta Gil na TV pela cor de sua pele.
Apesar de que fumar maconha e discriminar racialmente são crimes tipificados no código penal, liberdade de expressão e apologia ao crime são distribuídas de forma desigual em cada caso. Quem não quer discutir a proibição da droga, quer discutir o direito de insultar e barrar pessoas pela cor da pele.
Estou cada dia mais cansado dessa desonestidade intelectual que grassa no debate público. É preciso elevar urgentemente o nível desse debate. Pessoas que usam argumentos tão sem pé nem cabeça gastam um tempo imenso discutindo comparações descabidas e distorcendo tudo. Emburrecem o debate.
E o que mais impressiona é que não se trata de nenhuma questão vital para ninguém. Esses estafetas do atraso e do preconceito parecem só querer se divertir em fazer a sociedade perder tempo discutindo suas picuinhas que afetam os milhões de cidadãos brasileiros que desejariam estar discutindo o que interessa.
Penso que estou ficando velho. Deve ser por isso que a burrice e a má fé me cansam tanto, de um tempo para cá. Antigamente, tinha mais paciência. Mas esse tempo passou. Não me resta tempo suficiente neste mundo para gastar com burrice, que gasta o tempo limitado que também tem quem a adotou como lema de vida.
Aqueles mesmos que diziam que discriminar pessoas pela cor da pele era “liberdade de expressão”, agora acham que defender o debate sobre a proibição de uma droga leve não seria esse tipo de liberdade, pois seria igual a atacar sexualmente uma criança através da pedofilia.
Como é possível que alguém compare o uso de uma erva que deixa a pessoa relaxada e contemplativa – com a devida perda de neurônios de quem usou – com seviciar sexualmente um ser inocente e indefeso? Que tipo de pessoa subestima tanto a inteligência alheia?
Alguém que diz uma sandice dessas só pode acreditar que todo o resto da humanidade é feita de descerebrados. Mas o que mete medo mesmo é que essa pessoa possa, eventualmente, acreditar no que diz.
Só para fechar o triângulo do absurdo, não vamos nos esquecer de que os reinaldetes que estão espalhando pela internet comparações entre fumar um baseado e seviciar uma criança são os mesmos que acham que é liberdade de expressão Jair Bolsonaro humilhar uma cidadã como Preta Gil na TV pela cor de sua pele.
Apesar de que fumar maconha e discriminar racialmente são crimes tipificados no código penal, liberdade de expressão e apologia ao crime são distribuídas de forma desigual em cada caso. Quem não quer discutir a proibição da droga, quer discutir o direito de insultar e barrar pessoas pela cor da pele.
Estou cada dia mais cansado dessa desonestidade intelectual que grassa no debate público. É preciso elevar urgentemente o nível desse debate. Pessoas que usam argumentos tão sem pé nem cabeça gastam um tempo imenso discutindo comparações descabidas e distorcendo tudo. Emburrecem o debate.
E o que mais impressiona é que não se trata de nenhuma questão vital para ninguém. Esses estafetas do atraso e do preconceito parecem só querer se divertir em fazer a sociedade perder tempo discutindo suas picuinhas que afetam os milhões de cidadãos brasileiros que desejariam estar discutindo o que interessa.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Ali Kamel e a dança das cadeiras na Globo
Por Marco Aurélio Mello, no blog DoLaDoDeLá:
Alertado por Paulo Henrique Amorim fui checar a informação de quem é o primeiro e o segundo na hierarquia da TV Globo: No início do mês de julho de 2009, Ali Kamel foi promovido ao cargo de diretor da Central Globo de Jornalismo (CGJ), que era ocupado antes por Carlos Henrique Schroder.
Na ocasião, Schroeder passou para a Direção Geral de Jornalismo e Esporte (DGJE), ou seja, caiu para cima. Neste caso, sustento o primeiro e segundo lugares com o argumento de que nem sempre quem tem poder de fato o tem de direito. Mas numa coisa o PHA tem razão: no papel o Ali é segundo.
Chama atenção a dança das cadeiras na TV Globo por várias razões. Primeiro, quem fez o anúncio foi Carlos Henrique Schroder, o número dois, e não Ali Kamel, o número um. Corre pelos corredores da emissora a notícia de que Ali atualmente não apita mais tanto quanto antes. Contribuiram para sua derrocada o tipo de jornalismo que ele empreendeu, desde que assumiu, centralizando as decisões e condicionando a cobertura à sua vontade (ou seria à vontade expressa do patrão?). Outro episódio definitivo para a queda teria sido o "bolinhagate", a tentativa de comprovar que o então candidato à presidência José Serra tinha sofrido um traumatismo craniano, depois de atingido por uma bolinha de papel.
Até o perito Ricardo Molina foi convocado às pressas para dar legitimidade ao caso, que atingiu em cheio a credibilidade da emissora. Sabe-se que naquela noite o Jornal Nacional foi vaiado pelos próprios jornalistas e que, em Brasília, a exemplo do que aconteceu em São Paulo em 2006, a diretora de jornalismo Silvia Faria teria dito o mesmo que Mariano Boni em São Paulo, anos antes: "quem não estiver satisfeito procure a Record".
Quem frequenta a emissora conta que, agora, raramente Ali desce do quarto andar onde se refugiou para escrever seus artigos, comprar suas polêmicas e processar seus "detratores". Agora há dois subalternos que fazem o serviço para ele no Jornal Nacional: Renato Ribeiro (ex-editor chefe do Jornal Nacional) e Luis Claudio Latgé (ex-diretor de jornalismo de São Paulo). Ali só é consultado quando o assunto é muito cabeludo.
O sinal já havia sido dado no começo do ano, quando o diretor superintendente Octávio Florisbal anunciou em alto e bom som que o jornalismo da emissora ía mudar. Recente pesquisa mostra preocupação com os índices de audiência do jornalismo, sobretudo no periodo matutino onde, não raro, a emissora amarga o segundo lugar durante toda a manhã.
Não por acaso a dança das cadeiras começou por Renato Machado, que será uma espécie de embaixador em Londres. Para quem gosta de vinho e música clássica, como ele, é um prêmio e tanto para quem se dedicou 15 anos ao Bom Dia Brasil, acordando às 4 horas da manhã. Renato estará a um passo de Paris, Geneve, Roma e Frankfurt. É tudo o que ele sempre pediu a Dionísio.
Para o seu lugar assume Chico Pinheiro. O veterano jornalista e apresentador vai tentar popularizar o jornal. Está sendo reabilitado depois de amargar uma geladeira no SPTV. É sinal também de que a emissora está disposta a atrair os extratos mais à esquerda do espectro político de seu público. Chico - como antítese de Renato - é a MPB e a caipirinha no poder.
Outra veterana da apresentação, Mariana Godoy, segue agora para o Jornal das 10 da Globo News, reflexo do incômodo causado pela chegada de Heródoto Barbeiro à Record News. Para o seu lugar vai César Tralli, que realiza um sonho antigo, que é ocupar uma bancada de telejornal. Na reportagem ele se consagrou, mas pagou um preço muito alto: os colegas detestam seu estilo e seus modos, considerados por muitos bastante pragmáticos, se é que podemos dizer assim.
Se a volta de Schroder pode aplacar os ânimos? Só o tempo dirá. Minha aposta é que sim. Ele tem o apoio da família Marinho e uma capacidade de sobrevivência invejável. Ele pode ser reabilitado e quem sabe a emissora faça as pazes com a notícia. Talento dos colegas e recursos técnicos não faltam. Mas como na Globo tudo demora um pouco, as mudanças só virão quando entrar setembro. Portanto, o inverno tem tudo para ser quente.
Alertado por Paulo Henrique Amorim fui checar a informação de quem é o primeiro e o segundo na hierarquia da TV Globo: No início do mês de julho de 2009, Ali Kamel foi promovido ao cargo de diretor da Central Globo de Jornalismo (CGJ), que era ocupado antes por Carlos Henrique Schroder.
Na ocasião, Schroeder passou para a Direção Geral de Jornalismo e Esporte (DGJE), ou seja, caiu para cima. Neste caso, sustento o primeiro e segundo lugares com o argumento de que nem sempre quem tem poder de fato o tem de direito. Mas numa coisa o PHA tem razão: no papel o Ali é segundo.
Chama atenção a dança das cadeiras na TV Globo por várias razões. Primeiro, quem fez o anúncio foi Carlos Henrique Schroder, o número dois, e não Ali Kamel, o número um. Corre pelos corredores da emissora a notícia de que Ali atualmente não apita mais tanto quanto antes. Contribuiram para sua derrocada o tipo de jornalismo que ele empreendeu, desde que assumiu, centralizando as decisões e condicionando a cobertura à sua vontade (ou seria à vontade expressa do patrão?). Outro episódio definitivo para a queda teria sido o "bolinhagate", a tentativa de comprovar que o então candidato à presidência José Serra tinha sofrido um traumatismo craniano, depois de atingido por uma bolinha de papel.
Até o perito Ricardo Molina foi convocado às pressas para dar legitimidade ao caso, que atingiu em cheio a credibilidade da emissora. Sabe-se que naquela noite o Jornal Nacional foi vaiado pelos próprios jornalistas e que, em Brasília, a exemplo do que aconteceu em São Paulo em 2006, a diretora de jornalismo Silvia Faria teria dito o mesmo que Mariano Boni em São Paulo, anos antes: "quem não estiver satisfeito procure a Record".
Quem frequenta a emissora conta que, agora, raramente Ali desce do quarto andar onde se refugiou para escrever seus artigos, comprar suas polêmicas e processar seus "detratores". Agora há dois subalternos que fazem o serviço para ele no Jornal Nacional: Renato Ribeiro (ex-editor chefe do Jornal Nacional) e Luis Claudio Latgé (ex-diretor de jornalismo de São Paulo). Ali só é consultado quando o assunto é muito cabeludo.
O sinal já havia sido dado no começo do ano, quando o diretor superintendente Octávio Florisbal anunciou em alto e bom som que o jornalismo da emissora ía mudar. Recente pesquisa mostra preocupação com os índices de audiência do jornalismo, sobretudo no periodo matutino onde, não raro, a emissora amarga o segundo lugar durante toda a manhã.
Não por acaso a dança das cadeiras começou por Renato Machado, que será uma espécie de embaixador em Londres. Para quem gosta de vinho e música clássica, como ele, é um prêmio e tanto para quem se dedicou 15 anos ao Bom Dia Brasil, acordando às 4 horas da manhã. Renato estará a um passo de Paris, Geneve, Roma e Frankfurt. É tudo o que ele sempre pediu a Dionísio.
Para o seu lugar assume Chico Pinheiro. O veterano jornalista e apresentador vai tentar popularizar o jornal. Está sendo reabilitado depois de amargar uma geladeira no SPTV. É sinal também de que a emissora está disposta a atrair os extratos mais à esquerda do espectro político de seu público. Chico - como antítese de Renato - é a MPB e a caipirinha no poder.
Outra veterana da apresentação, Mariana Godoy, segue agora para o Jornal das 10 da Globo News, reflexo do incômodo causado pela chegada de Heródoto Barbeiro à Record News. Para o seu lugar vai César Tralli, que realiza um sonho antigo, que é ocupar uma bancada de telejornal. Na reportagem ele se consagrou, mas pagou um preço muito alto: os colegas detestam seu estilo e seus modos, considerados por muitos bastante pragmáticos, se é que podemos dizer assim.
Se a volta de Schroder pode aplacar os ânimos? Só o tempo dirá. Minha aposta é que sim. Ele tem o apoio da família Marinho e uma capacidade de sobrevivência invejável. Ele pode ser reabilitado e quem sabe a emissora faça as pazes com a notícia. Talento dos colegas e recursos técnicos não faltam. Mas como na Globo tudo demora um pouco, as mudanças só virão quando entrar setembro. Portanto, o inverno tem tudo para ser quente.
A queda de Aécio e a imprensa em Minas
Por Luana Diana dos Santos, no blog Viomundo:
No último domingo acordei ao som das gargalhadas do meu irmão. Ao perguntá-lo o motivo de tanta alegria às 7 da manhã, fui informada que Aécio Neves havia caído do cavalo. A princípio, pensei que fosse piada. Após uma olhada rápida no twitter, descobri que não havia nenhuma figura de linguagem na queda do senador tucano. O acidente lhe custou cinco costelas e a clavícula direita quebradas.
Na padaria não havia outro assunto. Enquanto tomava meu cafezinho acompanhado por um pão com manteiga, observava um grupo de senhores de meia idade organizarem um ‘bolão’ dos motivos do tombo do ex-governador. Sei que é pecado rir da desgraça alheia, mas foi difícil me conter diante das apostas: “O cavalo deve ter sido presente do Serra”…; ”A eguinha ‘pocoPó’ se rebelou contra a tucanada”…risos….
Saciada a minha fome, dei uma folheada no Estado de Minas, o maior jornal das Gerais. Buscava uma foto, alguma notícia em relação ao quadro de saúde de Aécio. Não encontrei absolutamente nada. É aí que a queda do tucano perde a graça.
A falta de notícias quanto ao que realmente aconteceu com o neto de Tancredo na tarde de sábado é apenas mais um capítulo do clima de cerceamento que vive a imprensa mineira. No episódio que ficou conhecido como #Aéciodevassa ocorreu a mesma coisa. Nem uma mísera linha sobre o assunto no jornal. Por aqui, qualquer fato que desagrade Aecim ou o Governo, hoje liderado pelo também tucano, Antonio Anastasia, fica de fora dos veículos impressos e televisivos. Quando divulgados, são feitos de maneira deturpada e tendenciosa.
Desde o dia 8 de junho, quando nós professores da Rede Estadual de Ensino entramos em greve reivindicando a implementação do piso salarial nacional (recebemos um piso de R$ 550,00!), tenho comprado o Estado de Minas diariamente a fim de acompanhar as notícias sobre o movimento. Até o momento foram divulgadas não mais que meia dúzia de parágrafos sobre a paralisação dos profissionais da educação, e mesmo assim com o intuito de desmoralizar ainda mais a nossa classe. Infelizmente, a pouca visibilidade dada pelo periódico à nossa luta é motivo de comemoração pelo Sindicato dos Professores. No ano passado, foram necessários exatos 60 dias para que uma nota saísse no jornal.
A censura exercida pelos tucanos sobre a imprensa mineira causaria inveja até na turma do DOPS. Na quarta-feira passada, 15, cerca de 700 professores se reuniram em frente à Cidade Administrativa, fechando a Linha Verde, via de acesso ao Aeroporto de Confins. Na voz do Diretor de Segurança da sede do Governo, veio o recado de Anastasia: “Liberem a Linha Verde e o Governador deixará a imprensa noticiar a manifestação de vocês!”. No dia seguinte haviam 3 linhas (3!) sobre a ato no Estado de Minas e uma matéria de 30 segundos no noticiário local.
As restrições à liberdade de expressão em Minas é tão pesada que virou documentário. Alunos do curso de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais realizaram um vídeo onde profissionais de rádio e televisão denunciam as dificuldades encontradas para a veiculação de matérias contrárias aos interesses de Aécio e cia. Alguns jornalistas que ousaram romper com a tirania psdbista foram demitidos. Á época da realização da pesquisa, Aécio Neves era o governador do Estado. Dias depois do documentário ganhar a internet, começou a circular uma nova produção – “Olha só como se constrói uma mentira e a distorção do fatos. Jornalistas negam censura”. Essa era a chamada do vídeo. Aecim é realmente muito danado!
Conversando com uma grande amiga que trabalhou durante 25 anos no Estado de Minas, soube que 50% dos recursos do jornal são provenientes de contratos publicitários com o Governo Estadual, num momento em que a tiragem e o número de assinantes decresce vertiginosamente. O Deputado Carlin Moura, do PCdoB, já havia feito a mesma denúncia no ano passado. Encaminhada ao Ministério Público Estadual, se juntou aos milhares de processos que encontram-se engavetados.
Dedilhando este texto lembrei-me de Lima Barreto, um dos meus escritores preferidos. Barreto costumava dizer que no Brasil muitos jornais não passavam de meros diários oficiais à serviço dos interesses do governo. Em Minas, o pensamento barretiano permanece atualíssimo.
Como boa mineira, não perco a fé. Não há motivos para perdermos as esperanças de que em breve teremos uma imprensa livre e democrática, que atenda de fato aos interesses dos cidadãos. A liberdade é o lema da nossa bandeira. O sucesso do II Encontro de Blogueiros Progressistas sinaliza que novos tempos estão por vir.
No último domingo acordei ao som das gargalhadas do meu irmão. Ao perguntá-lo o motivo de tanta alegria às 7 da manhã, fui informada que Aécio Neves havia caído do cavalo. A princípio, pensei que fosse piada. Após uma olhada rápida no twitter, descobri que não havia nenhuma figura de linguagem na queda do senador tucano. O acidente lhe custou cinco costelas e a clavícula direita quebradas.
Na padaria não havia outro assunto. Enquanto tomava meu cafezinho acompanhado por um pão com manteiga, observava um grupo de senhores de meia idade organizarem um ‘bolão’ dos motivos do tombo do ex-governador. Sei que é pecado rir da desgraça alheia, mas foi difícil me conter diante das apostas: “O cavalo deve ter sido presente do Serra”…; ”A eguinha ‘pocoPó’ se rebelou contra a tucanada”…risos….
Saciada a minha fome, dei uma folheada no Estado de Minas, o maior jornal das Gerais. Buscava uma foto, alguma notícia em relação ao quadro de saúde de Aécio. Não encontrei absolutamente nada. É aí que a queda do tucano perde a graça.
A falta de notícias quanto ao que realmente aconteceu com o neto de Tancredo na tarde de sábado é apenas mais um capítulo do clima de cerceamento que vive a imprensa mineira. No episódio que ficou conhecido como #Aéciodevassa ocorreu a mesma coisa. Nem uma mísera linha sobre o assunto no jornal. Por aqui, qualquer fato que desagrade Aecim ou o Governo, hoje liderado pelo também tucano, Antonio Anastasia, fica de fora dos veículos impressos e televisivos. Quando divulgados, são feitos de maneira deturpada e tendenciosa.
Desde o dia 8 de junho, quando nós professores da Rede Estadual de Ensino entramos em greve reivindicando a implementação do piso salarial nacional (recebemos um piso de R$ 550,00!), tenho comprado o Estado de Minas diariamente a fim de acompanhar as notícias sobre o movimento. Até o momento foram divulgadas não mais que meia dúzia de parágrafos sobre a paralisação dos profissionais da educação, e mesmo assim com o intuito de desmoralizar ainda mais a nossa classe. Infelizmente, a pouca visibilidade dada pelo periódico à nossa luta é motivo de comemoração pelo Sindicato dos Professores. No ano passado, foram necessários exatos 60 dias para que uma nota saísse no jornal.
A censura exercida pelos tucanos sobre a imprensa mineira causaria inveja até na turma do DOPS. Na quarta-feira passada, 15, cerca de 700 professores se reuniram em frente à Cidade Administrativa, fechando a Linha Verde, via de acesso ao Aeroporto de Confins. Na voz do Diretor de Segurança da sede do Governo, veio o recado de Anastasia: “Liberem a Linha Verde e o Governador deixará a imprensa noticiar a manifestação de vocês!”. No dia seguinte haviam 3 linhas (3!) sobre a ato no Estado de Minas e uma matéria de 30 segundos no noticiário local.
As restrições à liberdade de expressão em Minas é tão pesada que virou documentário. Alunos do curso de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais realizaram um vídeo onde profissionais de rádio e televisão denunciam as dificuldades encontradas para a veiculação de matérias contrárias aos interesses de Aécio e cia. Alguns jornalistas que ousaram romper com a tirania psdbista foram demitidos. Á época da realização da pesquisa, Aécio Neves era o governador do Estado. Dias depois do documentário ganhar a internet, começou a circular uma nova produção – “Olha só como se constrói uma mentira e a distorção do fatos. Jornalistas negam censura”. Essa era a chamada do vídeo. Aecim é realmente muito danado!
Conversando com uma grande amiga que trabalhou durante 25 anos no Estado de Minas, soube que 50% dos recursos do jornal são provenientes de contratos publicitários com o Governo Estadual, num momento em que a tiragem e o número de assinantes decresce vertiginosamente. O Deputado Carlin Moura, do PCdoB, já havia feito a mesma denúncia no ano passado. Encaminhada ao Ministério Público Estadual, se juntou aos milhares de processos que encontram-se engavetados.
Dedilhando este texto lembrei-me de Lima Barreto, um dos meus escritores preferidos. Barreto costumava dizer que no Brasil muitos jornais não passavam de meros diários oficiais à serviço dos interesses do governo. Em Minas, o pensamento barretiano permanece atualíssimo.
Como boa mineira, não perco a fé. Não há motivos para perdermos as esperanças de que em breve teremos uma imprensa livre e democrática, que atenda de fato aos interesses dos cidadãos. A liberdade é o lema da nossa bandeira. O sucesso do II Encontro de Blogueiros Progressistas sinaliza que novos tempos estão por vir.
Santos campeão; Santander é rebaixado
Da Rede Brasil Atual:
São Paulo – Os torcedores que assistiram à final da Copa Libertadores na quarta-feira (21) à noite no Pacaembu foram avisados sobre os problemas trabalhistas acumulados pelo Banco Santander, principal patrocinador do torneio.
Faixas e panfletos foram levados ao local pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo e pela Associação dos Funcionários do Grupo Santander (Afubesp). Segundo os manifestantes, a intenção é mostrar que o Santander comete uma grave distorção ao tentar associar sua imagem à dos próceres sul-americanos, que “morreram para conquistar a independência das Américas”.
Paulo Salvador, presidente da Afubesp, destaca a ironia contida no fato de uma corporação europeia financiar um torneio que remete ao combate à violência colonial. “Um deles é a Copa Libertadores da América, ironicamente bancada hoje por uma instituição que nasceu e mantém sua sede em um dos principais países colonizadores do continente, a Espanha.”
Rita Berlofa, secretária de Finanças do Sindicato dos Bancários, lembra que o banco sofre várias ações por assédio moral para o cumprimento de metas absurdas, não paga os benefícios devidos aos aposentados do antigo Banespa e ostenta práticas antissindicais, vetando a organização dos funcionários. “Os trabalhadores querem que o Santander assine um acordo global que respeite direitos fundamentais dos trabalhadores, como à organização, à sindicalização e ao diálogo social, independentemente do país em que atuam”, ressaltou antes da partida na qual o Santos venceu o Peñarol por 2 a 1.
São Paulo – Os torcedores que assistiram à final da Copa Libertadores na quarta-feira (21) à noite no Pacaembu foram avisados sobre os problemas trabalhistas acumulados pelo Banco Santander, principal patrocinador do torneio.
Faixas e panfletos foram levados ao local pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo e pela Associação dos Funcionários do Grupo Santander (Afubesp). Segundo os manifestantes, a intenção é mostrar que o Santander comete uma grave distorção ao tentar associar sua imagem à dos próceres sul-americanos, que “morreram para conquistar a independência das Américas”.
Paulo Salvador, presidente da Afubesp, destaca a ironia contida no fato de uma corporação europeia financiar um torneio que remete ao combate à violência colonial. “Um deles é a Copa Libertadores da América, ironicamente bancada hoje por uma instituição que nasceu e mantém sua sede em um dos principais países colonizadores do continente, a Espanha.”
Rita Berlofa, secretária de Finanças do Sindicato dos Bancários, lembra que o banco sofre várias ações por assédio moral para o cumprimento de metas absurdas, não paga os benefícios devidos aos aposentados do antigo Banespa e ostenta práticas antissindicais, vetando a organização dos funcionários. “Os trabalhadores querem que o Santander assine um acordo global que respeite direitos fundamentais dos trabalhadores, como à organização, à sindicalização e ao diálogo social, independentemente do país em que atuam”, ressaltou antes da partida na qual o Santos venceu o Peñarol por 2 a 1.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
STF libera “marcha da maconha”
Redação portal do Supremo Tribunal Federal
Em decisão unânime (8 votos), o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a realização dos eventos chamados “marcha da maconha”, que reúnem manifestantes favoráveis à descriminalização da droga. Para os ministros, os direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento garantem a realização dessas marchas. Muitos ressaltaram que a liberdade de expressão e de manifestação somente pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais e iminentes.
Pela decisão, tomada no julgamento de ação (ADPF 187) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o artigo 287 do Código Penal deve ser interpretado conforme a Constituição de forma a não impedir manifestações públicas em defesa da legalização de drogas. O dispositivo tipifica como crime fazer apologia de "fato criminoso" ou de "autor do crime".
O voto do decano da Corte, ministro Celso de Mello, foi seguido integralmente pelos colegas. Segundo ele, a “marcha da maconha” é um movimento social espontâneo que reivindica, por meio da livre manifestação do pensamento, “a possibilidade da discussão democrática do modelo proibicionista (do consumo de drogas) e dos efeitos que (esse modelo) produziu em termos de incremento da violência”.
Além disso, o ministro considerou que o evento possui caráter nitidamente cultural, já que nele são realizadas atividades musicais, teatrais e performáticas, e cria espaço para o debate do tema por meio de palestras, seminários e exibições de documentários relacionados às políticas públicas ligadas às drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas.
Celso de Mello explicou que a mera proposta de descriminalização de determinado ilícito penal não se confunde com o ato de incitação à prática do delito nem com o de apologia de fato criminoso. “O debate sobre abolição penal de determinadas condutas puníveis pode ser realizado de forma racional, com respeito entre interlocutores, ainda que a ideia, para a maioria, possa ser eventualmente considerada estranha, extravagante, inaceitável ou perigosa”, ponderou.
Mesmo acompanhando o relator, o ministro Luiz Fux achou necessário estabelecer parâmetros para a realização das manifestações. Fux ressaltou que elas devem ser pacíficas, sem uso de armas e incitação à violência. Também devem ser previamente noticiadas às autoridades públicas, inclusive com informações como data, horário, local e objetivo do evento.
Ele acrescentou ser “imperioso que não haja incitação, incentivo ou estímulo ao consumo de entorpecentes” durante a marcha e deixou expresso que não pode haver consumo de entorpecentes no evento.
Por fim, ressaltou que crianças e adolescentes não podem ser engajados nessas marchas. “Se a Constituição cuidou de prever a proteção dos menores dependentes químicos, é corolário dessa previsão que se vislumbre um propósito constitucional de evitar tanto quanto possível o contato das crianças e dos adolescentes com a droga e com o risco eventual de uma dependência”, afirmou.
Nesse ponto, o ministro Celso de Mello observou que o dispositivo legal que estabelece o dever dos pais em relação a seus filhos menores é uma regra que se impõe por si mesma, por sua própria autoridade. Ele acrescentou que demais restrições impostas a eventos como a “marcha da maconha” estão determinados na própria Constituição.
A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha acompanhou o voto do relator citando a seguinte afirmação de um jurista americano: “Se, em nome da segurança, abrirmos mão da liberdade, amanhã não teremos nem liberdade nem segurança”. Ela manifestou simpatia por manifestações de rua e lembrou que, há 30 anos, sua geração era impedida de se expressar pela mudança de governo na Praça Afonso Arinos, contígua à Faculdade de Direito, em Belo Horizonte (MG), onde a ministra se formou.
Segundo Cármen Lúcia, é necessário assegurar o direito de manifestação sobre a criminalização ou não do uso da maconha, pois manifestações como essas podem conduzir a modificações de leis.
Liberdade de reunião
O ministro Ricardo Lewandowski fez questão de chamar atenção para o ponto do voto do ministro Celso de Mello que tratou do regime jurídico da liberdade de reunião. Para Lewandowski, esse trecho do voto é uma notável contribuição do decano da Corte para a doutrina das liberdades públicas. Após fazer uma análise sobre o que seria droga, tanto hoje quanto no futuro, o ministro disse entender não ser lícito coibir qualquer discussão sobre drogas, desde que respeitados os ditames constitucionais.
Já o ministro Ayres Britto afirmou que “a liberdade de expressão é a maior expressão da liberdade, que é tonificada quando exercitada gregariamente, conjuntamente, porque a dignidade da pessoa humana não se exaure no gozo de direitos rigorosamente individuais, mas de direitos que são direitos coletivamente experimentados”.
A ministra Ellen Gracie, por sua vez, lembrou aos colegas que integra comissão internacional que estuda a descriminalização das drogas. “Sinto-me inclusive aliviada de que minha liberdade de pensamento e de expressão de pensamento esteja garantida”, disse.
Para o ministro Marco Aurélio, as decisões do Poder Judiciário coibindo a realização de atos públicos favoráveis à legalização das drogas simplesmente porque o uso da maconha é ilegal são incompatíveis com a garantia constitucional da liberdade de expressão. “Mesmo quando a adesão coletiva se revela improvável, a simples possibilidade de proclamar publicamente certas ideias corresponde ao ideal de realização pessoal e de demarcação do campo da individualidade”, disse.
Último a votar, o presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, salientou que a liberdade de expressão é uma emanação direta do valor supremo da dignidade da pessoa humana e um fator de formação e aprimoramento da democracia.
“Desse ponto de vista, (a liberdade de expressão) é um fator relevante da construção e do resguardo da democracia, cujo pressuposto indispensável é o pluralismo ideológico”, disse. Ele acrescentou que liberdade de expressão “só pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais iminentes”.
Por fim, o ministro advertiu que “o Estado tem que, em respeito à Constituição Federal e ao direito infraconstitucional, tomar, como em todas as reuniões, as cautelas necessárias para prevenir os eventuais abusos”. Mas ressaltou: “Isso não significa que liberdade em si não mereça a proteção constitucional e o reconhecimento desta Corte”.
Em decisão unânime (8 votos), o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a realização dos eventos chamados “marcha da maconha”, que reúnem manifestantes favoráveis à descriminalização da droga. Para os ministros, os direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento garantem a realização dessas marchas. Muitos ressaltaram que a liberdade de expressão e de manifestação somente pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais e iminentes.
Pela decisão, tomada no julgamento de ação (ADPF 187) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o artigo 287 do Código Penal deve ser interpretado conforme a Constituição de forma a não impedir manifestações públicas em defesa da legalização de drogas. O dispositivo tipifica como crime fazer apologia de "fato criminoso" ou de "autor do crime".
O voto do decano da Corte, ministro Celso de Mello, foi seguido integralmente pelos colegas. Segundo ele, a “marcha da maconha” é um movimento social espontâneo que reivindica, por meio da livre manifestação do pensamento, “a possibilidade da discussão democrática do modelo proibicionista (do consumo de drogas) e dos efeitos que (esse modelo) produziu em termos de incremento da violência”.
Além disso, o ministro considerou que o evento possui caráter nitidamente cultural, já que nele são realizadas atividades musicais, teatrais e performáticas, e cria espaço para o debate do tema por meio de palestras, seminários e exibições de documentários relacionados às políticas públicas ligadas às drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas.
Celso de Mello explicou que a mera proposta de descriminalização de determinado ilícito penal não se confunde com o ato de incitação à prática do delito nem com o de apologia de fato criminoso. “O debate sobre abolição penal de determinadas condutas puníveis pode ser realizado de forma racional, com respeito entre interlocutores, ainda que a ideia, para a maioria, possa ser eventualmente considerada estranha, extravagante, inaceitável ou perigosa”, ponderou.
Mesmo acompanhando o relator, o ministro Luiz Fux achou necessário estabelecer parâmetros para a realização das manifestações. Fux ressaltou que elas devem ser pacíficas, sem uso de armas e incitação à violência. Também devem ser previamente noticiadas às autoridades públicas, inclusive com informações como data, horário, local e objetivo do evento.
Ele acrescentou ser “imperioso que não haja incitação, incentivo ou estímulo ao consumo de entorpecentes” durante a marcha e deixou expresso que não pode haver consumo de entorpecentes no evento.
Por fim, ressaltou que crianças e adolescentes não podem ser engajados nessas marchas. “Se a Constituição cuidou de prever a proteção dos menores dependentes químicos, é corolário dessa previsão que se vislumbre um propósito constitucional de evitar tanto quanto possível o contato das crianças e dos adolescentes com a droga e com o risco eventual de uma dependência”, afirmou.
Nesse ponto, o ministro Celso de Mello observou que o dispositivo legal que estabelece o dever dos pais em relação a seus filhos menores é uma regra que se impõe por si mesma, por sua própria autoridade. Ele acrescentou que demais restrições impostas a eventos como a “marcha da maconha” estão determinados na própria Constituição.
A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha acompanhou o voto do relator citando a seguinte afirmação de um jurista americano: “Se, em nome da segurança, abrirmos mão da liberdade, amanhã não teremos nem liberdade nem segurança”. Ela manifestou simpatia por manifestações de rua e lembrou que, há 30 anos, sua geração era impedida de se expressar pela mudança de governo na Praça Afonso Arinos, contígua à Faculdade de Direito, em Belo Horizonte (MG), onde a ministra se formou.
Segundo Cármen Lúcia, é necessário assegurar o direito de manifestação sobre a criminalização ou não do uso da maconha, pois manifestações como essas podem conduzir a modificações de leis.
Liberdade de reunião
O ministro Ricardo Lewandowski fez questão de chamar atenção para o ponto do voto do ministro Celso de Mello que tratou do regime jurídico da liberdade de reunião. Para Lewandowski, esse trecho do voto é uma notável contribuição do decano da Corte para a doutrina das liberdades públicas. Após fazer uma análise sobre o que seria droga, tanto hoje quanto no futuro, o ministro disse entender não ser lícito coibir qualquer discussão sobre drogas, desde que respeitados os ditames constitucionais.
Já o ministro Ayres Britto afirmou que “a liberdade de expressão é a maior expressão da liberdade, que é tonificada quando exercitada gregariamente, conjuntamente, porque a dignidade da pessoa humana não se exaure no gozo de direitos rigorosamente individuais, mas de direitos que são direitos coletivamente experimentados”.
A ministra Ellen Gracie, por sua vez, lembrou aos colegas que integra comissão internacional que estuda a descriminalização das drogas. “Sinto-me inclusive aliviada de que minha liberdade de pensamento e de expressão de pensamento esteja garantida”, disse.
Para o ministro Marco Aurélio, as decisões do Poder Judiciário coibindo a realização de atos públicos favoráveis à legalização das drogas simplesmente porque o uso da maconha é ilegal são incompatíveis com a garantia constitucional da liberdade de expressão. “Mesmo quando a adesão coletiva se revela improvável, a simples possibilidade de proclamar publicamente certas ideias corresponde ao ideal de realização pessoal e de demarcação do campo da individualidade”, disse.
Último a votar, o presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, salientou que a liberdade de expressão é uma emanação direta do valor supremo da dignidade da pessoa humana e um fator de formação e aprimoramento da democracia.
“Desse ponto de vista, (a liberdade de expressão) é um fator relevante da construção e do resguardo da democracia, cujo pressuposto indispensável é o pluralismo ideológico”, disse. Ele acrescentou que liberdade de expressão “só pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais iminentes”.
Por fim, o ministro advertiu que “o Estado tem que, em respeito à Constituição Federal e ao direito infraconstitucional, tomar, como em todas as reuniões, as cautelas necessárias para prevenir os eventuais abusos”. Mas ressaltou: “Isso não significa que liberdade em si não mereça a proteção constitucional e o reconhecimento desta Corte”.
terça-feira, 14 de junho de 2011
A caravana JN já definiu como governar o Brasil
Por Sérgio Domingues, no blog Mídia Vigiada:
O Jornal Nacional colocou um avião no ar. É o "JN no Ar", que vai percorrer o País durante as eleições. A Globo tenta novamente ditar o que os eleitores devem pensar. Enquanto o avião não aterrissa definitivamente, leia o texto abaixo, sobre a “Caravana JN”, escrito em 2006.
Depois de mais de 16 mil quilômetros de viagem, Pedro Bial e sua caravana chegam a Brasília dizendo o que é melhor para o Brasil. Em sua condição de comitê central do partido da grande mídia, a Globo quer um país mais neoliberal e mais conservador.
Iniciada em 31 de julho, a série “Desejos do Brasil” fez Pedro Bial visitar cidades longe dos grandes centros. Começou por São Miguel das Missões (RS). O repórter explica que foi lá que “há mais de três séculos, promoveu-se uma das mais ousadas experiências socialistas da história”. Ele refere-se às missões jesuítas, e diz que tal como “o comunismo”, elas “tinham caráter totalitário”.
Mas, a jornada do ônibus global não vai fazer considerações ideológicas explícitas. Não voltará mais a falar de socialismo e comunismo. A emissora sabe que esse debate não está em pauta. Não será ela que vai trazer os temas de volta. Tem uma certeza confirmada pelas mais fortes candidaturas das eleições em disputa. A de que não existe nada além do pensamento único neoliberal. É mentira ou aventura tudo o que não reafirma “verdades” como “rigor fiscal”, “superávit primário”, “respeito aos contratos”, “pagamento em dia da dívida pública”, “déficit da previdência”, “custo Brasil”, “encargos trabalhistas exagerados” etc.
O fato é que quando foi anunciada a empreitada no jornal “O Globo” de 25/07, Bial disse que seriam “reportagens sobre a nação e não sobre campanha política”. Mas, a viagem começou avisando que termina “até o fim de setembro, às vésperas da eleição”. E que seu objetivo é mostrar “os anseios, os desejos dos cidadãos”. Então, de um lado ficaria a “campanha política” e de outro os “anseios do povo”? A separação entre esses dois termos não é perigoso? Atender aos últimos sem passar pela primeira não seria desestimular a participação política da população? Vejamos.
Em primeiro lugar, a empreitada jornalística da Globo chama a atenção pelo fato de apresentar Bial (e, às vezes, Bonner e Fátima Bernardes) ao vivo, à frente de pequenas multidões em algumas cidades por que passam. São verdadeiros comícios servindo de pano de fundo para os jornalistas. O detalhe é que não se trata de comício de partido político. Pelo menos, não de um partido convencional.
Trata-se de do comitê central do pequeno e poderoso partido da grande mídia. As pessoas se deliciam ao ver os astros do jornalismo nacional visitando sua pequena cidade. Se esquecem de que participar da política não se resume a votar. Acabam preferindo delegar sua participação ao jornalismo da Globo, com seus profissionais muito competentes no manejo da palavra falada. Bial à frente. E do que falam? De um programa conservador para o País. De neoliberalismo e manter a ordem dominante a qualquer custo.
Pra começar, por que o roteiro do ônibus da Globo não passa por capitais? Por que visita apenas cidades menores? Um palpite é que isso permite abordar os problemas brasileiros de maneira controlada. Cidades menores apresentam contradições menos radicais. São calmas e tranqüilas, se comparadas às nossas caóticas metrópoles.
Contra impostos altos, menos direitos trabalhistas
A impressão é a de que a série quer mostrar que o Brasil tem jeito, mas longe das grandes cidades. Portanto, longe dos grandes problemas. Alguns comentaram que a série vai olhar para o “Brasil profundo”. Então, o Brasil das metrópoles seria raso, mesmo com suas contradições tão gritantes? Parece um jeito de tirar os problemas de seus lugares e apresentá-los soltos. Longe dos responsáveis sociais por eles, sejam empresários e governantes, sejam os donos da grande mídia e sua defesa incondicional do neoliberalismo.
Por exemplo,em 2 de agosto, Bial encerra a reportagem dizendo: “Nova Pádua, tudo o que o Brasil quer ser quando crescer”. Ele se refere a uma cidade gaúcha com ótimos índices de escolaridade. A frase segue-se a observações sobre os benefícios do controle de natalidade. Conservadores adoram falar em controle de natalidade. Geralmente, quer dizer que a solução é “não deixar os pobres se multiplicarem tanto!”. De qualquer maneira, é uma receita que não serve para as grandes cidades. O Brasil das grandes cidades já cresceu e Nova Pádua não pode ser modelo. A não ser para formas conservadoras de governar.
Ao mesmo tempo, nas pequenas localidades, as pessoas pedem as mesmas coisas que fazem falta nas cidades grandes: segurança, paz, emprego, renda. Reclamam direitos, só que, em geral, não organizam passeatas e manifestações. A contestação assume formas mais conservadoras.
Em 14/08, a caravana está em Ouro Preto. Bial não perde a oportunidade para fazer um curto discurso bem neoliberal:
“E é importante lembrar que foram as riquezas produzidas pelo ouro mais a tributação sem limites do poder português que detonaram nosso primeiro grito por liberdade: a Inconfidência Mineira. Esta é a herança mais importante dessa história: o sonho da liberdade”.
Tributação sem limites? Só pode estar falando da eterna reclamação neoliberal dos impostos altos. Eterna desculpa também para que empresários cortem empregos e achatem salários. Fala em poder português quando deveria falar em dívida pública, FMI, Banco Central etc. E já serve de gancho para a matéria do dia seguinte, na cidade fluminense de Três Rios.
O lugar sofre com a falta de empregos, mas um morador explica a razão: “Tinha que ser revisto esse encargo trabalhista, eu acho muito alto”. O problema fiscal brasileiro não são os impostos que os pobres pagam embutidos em mercadorias de primeira necessidade. Nem a gigantesca sonegação legal ou ilegal dos empresários. Mas, os encargos trabalhistas!
A edição do dia 16/08 é dedicada a Macaé, ainda no Rio. É que a economia local teria crescido “600% nos últimos 10 anos”. Segundo a reportagem, “a cidade cresceu tão rápido que se esfacelou em duas”. Uma parte rica, ao sul. E uma grande favela, ao norte, “onde mora quase metade da população”. Descobrir porque uma parte da cidade é rica e a outra é pobre seria um bom tema. Será que o bem-estar de uns não poderia explicar as condições ruins dos outros? Será que Macaé não repete o padrão de desigualdade do País? Não, diz o entrevistado Lucrécio. Para ele, “não tiveram muito planejamento na questão das invasões, que virou um favelão”. Só isso. A caravana agradece a explicação superficial e adequada ao padrão globo de distorção. E segue.
Em 24/08, o tom do programa fica mais pesado. A caravana chega a Arapiraca, interior de Alagoas. Testemunham um assalto. Aí, é prato cheio para Bial:
“Acabou a desigualdade. Criminalidade e violência não são mais problemas exclusivos das metrópoles. Em cidades grandes, médias e pequenas, ricos, remediados, pobres, todo mundo gradeado, trancado atrás dos muros altos e no alto dos muros, corrente elétrica”.
O discurso do medo e do caos, como a direita gosta
Que maravilha! A criminalidade atinge a todos de maneira igual. Isso é que é distorção. Como se os ricos não contassem com mais polícia em seus bairros, seguranças particulares e até esquadrões da morte que executam criminosos que não foram avisados para ficar longe de certas áreas habitadas por doutores e autoridades. Mas, não é o bastante.
Bial ensina: “A primeira razão de ser do Estado é deter o monopólio da violência para impor a ordem. O estado brasileiro perdeu esse monopólio. Perdemos.”
Como a reforçar essa idéia, fala Francisco Barreto, sargento da Polícia Militar: “Se a gente prende, amanhã está solto. É um país sem lei, sem governante, e sem nada. Um país entregue ao caos”.
O discurso do medo é o mais utilizado pela direita conservadora. Ela quer que o Estado recupere o monopólio da violência. Como se ele tivesse perdido tal poder. Como se não se apresentasse devidamente armado e eficiente nas comunidades pobres para matar, prender e ferir sem limites. Sem mandados e ordens judiciais. Talvez, esteja embutido aí o raciocínio de que só isso não baste. É preciso também apertar o cerco aos “baderneiros” dos movimentos sociais.
Em 25/08, é a vez da pernambucana Petrolândia ser agraciada com a visita global. Diz a reportagem que Petrolândia “tem estrutura de cidade pequena e criminalidade de cidade grande”. E um morador de 77 anos, Gilberto, tem saudades de “toda a pureza do sertão antigo”. E para 1º de outubro, “ele vota por um desejo: ‘Mais empreendimento no interior para evitar a imigração, para evitar que os sertanejos tentem se deslocar para outros locais já tão assoberbados, tão problemáticos quanto o sertão’”. Que seriam empreendimentos no interior? Um novo nome para reforma agrária, termo evidentemente ausente do vocabulário da Caravana? Ou é o agronegócio?
A reposta viria em 21/09, quando a reportagem fala sobre “a revolução do agronegócio, que pela primeira vez em 500 anos iniciou de fato a interiorização do desenvolvimento no Brasil”. O ônibus da Globo havia chegado em Mato Grosso, estado campeão de desmatamento no Brasil e lugar com o maior número de queimadas no Planeta (Folha de S. Paulo – 22/05/2006). Realmente, isso é que é desenvolvimento.
Sem abrir as urnas, a Globo já sabe o que os brasileiros querem
Ao mesmo tempo, a caravana “dos desejos” se auto-afirma, credencia-se a si mesmo, como porta-voz do povo. Matéria que foi ao ar em 26/08, por exemplo, mostra a calamitosa situação da BR-316, no Maranhão. Bial está revoltado com as crateras do lugar. “São cinco horas de viagem para avançar pouco mais de 60 quilômetros”, diz ele. Revoltante, mesmo. Mas, logo se acalma. É que os caminhoneiros e outros motoristas que passam pelo ônibus do JN gritam: “Mostra. Mostra essa vergonha na Globo”. Em outros momentos, a cena se repete.
Mas, uma reportagem é exemplar. Mostra bem as pretensões da empreitada global. É dia 13/09. A caravana chegou, de barco, a um vilarejo na região amazônica. Encontra a família Monteiro Nunes. Segundo a reportagem, “não falta peixe e tem carne, de vez em quando. Juntos, criam 50 cabeças de gado”. E tem mais: “Geladeira nova, TV com parabólica. O Jornal Nacional é sagrado”.
Diante da justa reclamação dos entrevistados sobre a ausência de escola, hospital, transporte público, Bial pergunta triunfante: “Qual foi a última vez que alguém parou o barco assim que nem a gente parou, pra saber das suas necessidades?” E recebe a resposta esperada: “Aqui, nunca tinha parado, não”.
Taí o papel da Caravana. Em tempos de justa descrença na política institucional, nada melhor do que ter alguém para falar pelo povo. De preferência, alguém que, enquanto tagarela em rede nacional, mantém o povo quieto. E o poder, sossegado.
Finalmente, a viagem termina. É dia 30/09. Foram mais de 16 mil quilômetros. A caravana chega a Brasília. Cheia de lições de moral para ensinar aos “políticos”. É como todo pensamento conservador, transforma “os políticos” numa coisa só. Uns vagabundos, que ganham bem e nada fazem. Que tal fechar o Congresso, dispensar eleições e colocar gente que trabalha e sabe o que é melhor para o Brasil no poder? Um ditador inteligente, talvez.
O porta-voz do partido global não diz nada disso diretamente, claro. Mas, quase. A frase com que Bial encerra o programa tem endereço certo: “Trabalhem e nos deixem trabalhar”, diz para os políticos. E às vésperas das eleições, sem que nenhum eleitor tenha se manifestado e nenhum voto, apurado, Bial ainda diz que este é o “recado das urnas”! Sem mais comentários.
O Jornal Nacional colocou um avião no ar. É o "JN no Ar", que vai percorrer o País durante as eleições. A Globo tenta novamente ditar o que os eleitores devem pensar. Enquanto o avião não aterrissa definitivamente, leia o texto abaixo, sobre a “Caravana JN”, escrito em 2006.
Depois de mais de 16 mil quilômetros de viagem, Pedro Bial e sua caravana chegam a Brasília dizendo o que é melhor para o Brasil. Em sua condição de comitê central do partido da grande mídia, a Globo quer um país mais neoliberal e mais conservador.
Iniciada em 31 de julho, a série “Desejos do Brasil” fez Pedro Bial visitar cidades longe dos grandes centros. Começou por São Miguel das Missões (RS). O repórter explica que foi lá que “há mais de três séculos, promoveu-se uma das mais ousadas experiências socialistas da história”. Ele refere-se às missões jesuítas, e diz que tal como “o comunismo”, elas “tinham caráter totalitário”.
Mas, a jornada do ônibus global não vai fazer considerações ideológicas explícitas. Não voltará mais a falar de socialismo e comunismo. A emissora sabe que esse debate não está em pauta. Não será ela que vai trazer os temas de volta. Tem uma certeza confirmada pelas mais fortes candidaturas das eleições em disputa. A de que não existe nada além do pensamento único neoliberal. É mentira ou aventura tudo o que não reafirma “verdades” como “rigor fiscal”, “superávit primário”, “respeito aos contratos”, “pagamento em dia da dívida pública”, “déficit da previdência”, “custo Brasil”, “encargos trabalhistas exagerados” etc.
O fato é que quando foi anunciada a empreitada no jornal “O Globo” de 25/07, Bial disse que seriam “reportagens sobre a nação e não sobre campanha política”. Mas, a viagem começou avisando que termina “até o fim de setembro, às vésperas da eleição”. E que seu objetivo é mostrar “os anseios, os desejos dos cidadãos”. Então, de um lado ficaria a “campanha política” e de outro os “anseios do povo”? A separação entre esses dois termos não é perigoso? Atender aos últimos sem passar pela primeira não seria desestimular a participação política da população? Vejamos.
Em primeiro lugar, a empreitada jornalística da Globo chama a atenção pelo fato de apresentar Bial (e, às vezes, Bonner e Fátima Bernardes) ao vivo, à frente de pequenas multidões em algumas cidades por que passam. São verdadeiros comícios servindo de pano de fundo para os jornalistas. O detalhe é que não se trata de comício de partido político. Pelo menos, não de um partido convencional.
Trata-se de do comitê central do pequeno e poderoso partido da grande mídia. As pessoas se deliciam ao ver os astros do jornalismo nacional visitando sua pequena cidade. Se esquecem de que participar da política não se resume a votar. Acabam preferindo delegar sua participação ao jornalismo da Globo, com seus profissionais muito competentes no manejo da palavra falada. Bial à frente. E do que falam? De um programa conservador para o País. De neoliberalismo e manter a ordem dominante a qualquer custo.
Pra começar, por que o roteiro do ônibus da Globo não passa por capitais? Por que visita apenas cidades menores? Um palpite é que isso permite abordar os problemas brasileiros de maneira controlada. Cidades menores apresentam contradições menos radicais. São calmas e tranqüilas, se comparadas às nossas caóticas metrópoles.
Contra impostos altos, menos direitos trabalhistas
A impressão é a de que a série quer mostrar que o Brasil tem jeito, mas longe das grandes cidades. Portanto, longe dos grandes problemas. Alguns comentaram que a série vai olhar para o “Brasil profundo”. Então, o Brasil das metrópoles seria raso, mesmo com suas contradições tão gritantes? Parece um jeito de tirar os problemas de seus lugares e apresentá-los soltos. Longe dos responsáveis sociais por eles, sejam empresários e governantes, sejam os donos da grande mídia e sua defesa incondicional do neoliberalismo.
Por exemplo,em 2 de agosto, Bial encerra a reportagem dizendo: “Nova Pádua, tudo o que o Brasil quer ser quando crescer”. Ele se refere a uma cidade gaúcha com ótimos índices de escolaridade. A frase segue-se a observações sobre os benefícios do controle de natalidade. Conservadores adoram falar em controle de natalidade. Geralmente, quer dizer que a solução é “não deixar os pobres se multiplicarem tanto!”. De qualquer maneira, é uma receita que não serve para as grandes cidades. O Brasil das grandes cidades já cresceu e Nova Pádua não pode ser modelo. A não ser para formas conservadoras de governar.
Ao mesmo tempo, nas pequenas localidades, as pessoas pedem as mesmas coisas que fazem falta nas cidades grandes: segurança, paz, emprego, renda. Reclamam direitos, só que, em geral, não organizam passeatas e manifestações. A contestação assume formas mais conservadoras.
Em 14/08, a caravana está em Ouro Preto. Bial não perde a oportunidade para fazer um curto discurso bem neoliberal:
“E é importante lembrar que foram as riquezas produzidas pelo ouro mais a tributação sem limites do poder português que detonaram nosso primeiro grito por liberdade: a Inconfidência Mineira. Esta é a herança mais importante dessa história: o sonho da liberdade”.
Tributação sem limites? Só pode estar falando da eterna reclamação neoliberal dos impostos altos. Eterna desculpa também para que empresários cortem empregos e achatem salários. Fala em poder português quando deveria falar em dívida pública, FMI, Banco Central etc. E já serve de gancho para a matéria do dia seguinte, na cidade fluminense de Três Rios.
O lugar sofre com a falta de empregos, mas um morador explica a razão: “Tinha que ser revisto esse encargo trabalhista, eu acho muito alto”. O problema fiscal brasileiro não são os impostos que os pobres pagam embutidos em mercadorias de primeira necessidade. Nem a gigantesca sonegação legal ou ilegal dos empresários. Mas, os encargos trabalhistas!
A edição do dia 16/08 é dedicada a Macaé, ainda no Rio. É que a economia local teria crescido “600% nos últimos 10 anos”. Segundo a reportagem, “a cidade cresceu tão rápido que se esfacelou em duas”. Uma parte rica, ao sul. E uma grande favela, ao norte, “onde mora quase metade da população”. Descobrir porque uma parte da cidade é rica e a outra é pobre seria um bom tema. Será que o bem-estar de uns não poderia explicar as condições ruins dos outros? Será que Macaé não repete o padrão de desigualdade do País? Não, diz o entrevistado Lucrécio. Para ele, “não tiveram muito planejamento na questão das invasões, que virou um favelão”. Só isso. A caravana agradece a explicação superficial e adequada ao padrão globo de distorção. E segue.
Em 24/08, o tom do programa fica mais pesado. A caravana chega a Arapiraca, interior de Alagoas. Testemunham um assalto. Aí, é prato cheio para Bial:
“Acabou a desigualdade. Criminalidade e violência não são mais problemas exclusivos das metrópoles. Em cidades grandes, médias e pequenas, ricos, remediados, pobres, todo mundo gradeado, trancado atrás dos muros altos e no alto dos muros, corrente elétrica”.
O discurso do medo e do caos, como a direita gosta
Que maravilha! A criminalidade atinge a todos de maneira igual. Isso é que é distorção. Como se os ricos não contassem com mais polícia em seus bairros, seguranças particulares e até esquadrões da morte que executam criminosos que não foram avisados para ficar longe de certas áreas habitadas por doutores e autoridades. Mas, não é o bastante.
Bial ensina: “A primeira razão de ser do Estado é deter o monopólio da violência para impor a ordem. O estado brasileiro perdeu esse monopólio. Perdemos.”
Como a reforçar essa idéia, fala Francisco Barreto, sargento da Polícia Militar: “Se a gente prende, amanhã está solto. É um país sem lei, sem governante, e sem nada. Um país entregue ao caos”.
O discurso do medo é o mais utilizado pela direita conservadora. Ela quer que o Estado recupere o monopólio da violência. Como se ele tivesse perdido tal poder. Como se não se apresentasse devidamente armado e eficiente nas comunidades pobres para matar, prender e ferir sem limites. Sem mandados e ordens judiciais. Talvez, esteja embutido aí o raciocínio de que só isso não baste. É preciso também apertar o cerco aos “baderneiros” dos movimentos sociais.
Em 25/08, é a vez da pernambucana Petrolândia ser agraciada com a visita global. Diz a reportagem que Petrolândia “tem estrutura de cidade pequena e criminalidade de cidade grande”. E um morador de 77 anos, Gilberto, tem saudades de “toda a pureza do sertão antigo”. E para 1º de outubro, “ele vota por um desejo: ‘Mais empreendimento no interior para evitar a imigração, para evitar que os sertanejos tentem se deslocar para outros locais já tão assoberbados, tão problemáticos quanto o sertão’”. Que seriam empreendimentos no interior? Um novo nome para reforma agrária, termo evidentemente ausente do vocabulário da Caravana? Ou é o agronegócio?
A reposta viria em 21/09, quando a reportagem fala sobre “a revolução do agronegócio, que pela primeira vez em 500 anos iniciou de fato a interiorização do desenvolvimento no Brasil”. O ônibus da Globo havia chegado em Mato Grosso, estado campeão de desmatamento no Brasil e lugar com o maior número de queimadas no Planeta (Folha de S. Paulo – 22/05/2006). Realmente, isso é que é desenvolvimento.
Sem abrir as urnas, a Globo já sabe o que os brasileiros querem
Ao mesmo tempo, a caravana “dos desejos” se auto-afirma, credencia-se a si mesmo, como porta-voz do povo. Matéria que foi ao ar em 26/08, por exemplo, mostra a calamitosa situação da BR-316, no Maranhão. Bial está revoltado com as crateras do lugar. “São cinco horas de viagem para avançar pouco mais de 60 quilômetros”, diz ele. Revoltante, mesmo. Mas, logo se acalma. É que os caminhoneiros e outros motoristas que passam pelo ônibus do JN gritam: “Mostra. Mostra essa vergonha na Globo”. Em outros momentos, a cena se repete.
Mas, uma reportagem é exemplar. Mostra bem as pretensões da empreitada global. É dia 13/09. A caravana chegou, de barco, a um vilarejo na região amazônica. Encontra a família Monteiro Nunes. Segundo a reportagem, “não falta peixe e tem carne, de vez em quando. Juntos, criam 50 cabeças de gado”. E tem mais: “Geladeira nova, TV com parabólica. O Jornal Nacional é sagrado”.
Diante da justa reclamação dos entrevistados sobre a ausência de escola, hospital, transporte público, Bial pergunta triunfante: “Qual foi a última vez que alguém parou o barco assim que nem a gente parou, pra saber das suas necessidades?” E recebe a resposta esperada: “Aqui, nunca tinha parado, não”.
Taí o papel da Caravana. Em tempos de justa descrença na política institucional, nada melhor do que ter alguém para falar pelo povo. De preferência, alguém que, enquanto tagarela em rede nacional, mantém o povo quieto. E o poder, sossegado.
Finalmente, a viagem termina. É dia 30/09. Foram mais de 16 mil quilômetros. A caravana chega a Brasília. Cheia de lições de moral para ensinar aos “políticos”. É como todo pensamento conservador, transforma “os políticos” numa coisa só. Uns vagabundos, que ganham bem e nada fazem. Que tal fechar o Congresso, dispensar eleições e colocar gente que trabalha e sabe o que é melhor para o Brasil no poder? Um ditador inteligente, talvez.
O porta-voz do partido global não diz nada disso diretamente, claro. Mas, quase. A frase com que Bial encerra o programa tem endereço certo: “Trabalhem e nos deixem trabalhar”, diz para os políticos. E às vésperas das eleições, sem que nenhum eleitor tenha se manifestado e nenhum voto, apurado, Bial ainda diz que este é o “recado das urnas”! Sem mais comentários.
As armas das tropas da elite não são só as de fogo
Por Sérgio Domingues, no blog Mídia Vigiada, Setembro de 2007
Os realizadores de “Tropa de elite” negam, mas fizeram um filme conservador. E o mais grave é que a produção chegou a um público mais amplo do que o normal. Queiram ou não, acabaram fortalecendo as tropas da elite com algo mais eficiente do que balas de chumbo: os valores conservadores.
O filme de José Padilha tem tudo para entrar para a história por dois motivos principais. O primeiro deles é que antes de ser lançado, “Tropa de elite” já estava na boca do povo. E não é exagerado utilizar a expressão “antes de ser lançado” já que uma cópia do filme foi desviada do estúdio de gravação muito antes de ir para as salas de cinema. Daí, para cair “na boca do povo” foi um pulo. Camelôs em quase todas as capitais do país gritavam seu nome nas esquinas. Assim, o filme foi parar literalmente “nas mãos do povo”. As cópias piratas oferecidas pelos vendedores ambulantes são mais baratas do que o aluguel em locadoras. Chegaram a milhões de famílias que têm aparelho de DVD e jamais iriam ver o filme nos cinemas. O diretor, os produtores e demais envolvidos no projeto ficaram revoltados com razão. Mas, a tecnologia que facilita a vida deles em muitos aspectos, também torna uma brincadeira de criança espalhar cópias não autorizadas em grande escala. Além da tecnologia, a desigualdade social é outro elemento que joga contra. A “indústria da pirataria” dificilmente deixará de funcionar enquanto direitos autorais forem confundidos com a propriedade intelectual das grandes empresas de cinema e TV. Mas, certamente, ela prospera muito mais em sociedades desiguais em que a grande maioria não tem dinheiro para assistir a um filme no cinema ou pagar uma assinatura de TV.
E este é bem o caso brasileiro. São milhões de aparelhos de DVD, vendidos a preços baixos, em muitas parcelas. E apenas 2 mil salas de cinema, com ingressos caros e concentradas nas regiões sudeste e sul do país. Para azar dos realizadores de “Tropa de Elite” tudo é muito contraditório. A tecnologia digital facilitou a vida dos piratas. Fez o filme um sucesso de público. Fala-se em 400 mil discos piratas vendidos. Uma bilheteria que não está ao alcance dos produtores do filme. Mas para a sorte da elite, essas facilidades tecnológicas estão sendo usadas para espalhar valores conservadores. Ou alguém já viu filmes de Eisenstein, Ken Loach, Solanas ou documentários populares e sindicais em barracas de rua? Claro que não. Os campeões de venda são os filmes típicos de Hollywood, com seus valores conformistas e conservadores e suas lições de moral. Seu culto ao individualismo, aos preconceitos e à violência como solução dos problemas sociais. Para a sorte da elite, o filme de Padilha não está longe disso, embora seus realizadores neguem isso. E apesar do excelente trabalho que o diretor fez em seu “Ônibus 174”.
Um debate que está pegando fogo é sobre o caráter fascista do filme ou não. Alguns jornalistas e muitos militantes sociais levantaram argumentos demonstrando o conservadorismo da produção. Padilha tem negado isso em debates e entrevistas. Wagner Moura escreveu um bom artigo no jornal “O Globo” contra essa leitura. Os argumentos de ambos fazem algum sentido. É uma denúncia da corrupção na PM, dizem eles. É a exibição crua da violência com que atua o Bope (Batalhão de Operações Especiais) nas comunidades pobres, afirmam. É a necessidade de colocar tudo isso em debate, alegam. Tudo bem. Mas, muito do que afirmam não fica claro no filme. São coisas que só podem ser deduzidas com muita boa vontade e de um certo ângulo. Ou que só poderiam ser esclarecidas levando-se em conta várias opiniões contrárias e favoráveis. Não é o que acontece com as milhões de pessoas que irão aos cinemas e as dezenas de milhões que já estão vendo o filme em suas casas. Pouquíssimas delas poderão participar de um debate em que seja denunciada a atuação racista e de perseguição aos pobres por parte do Bope.
A verdade é que o formato e momentos decisivos do filme dificultam a leitura que seus produtores pretendem. Do ponto de vista, do ritmo, narração, atuação dos atores, roteiro, “Tropa de Elite” arrasa. Mas, tudo indica que foi exatamente por isso que não foi indicado para concorrer como melhor filme estrangeiro ao Oscar. Dizem os especialistas que a produção é americanizada demais para justificar sua presença como filme estrangeiro.
Então, de pouco valem os argumentos de Padilha e Moura diante da vida própria que o filme ganhou. Vida própria ao chegar a milhões de lares. E vida própria ao permitir que a violência do Bope fosse vista como necessidade inegável diante da violência urbana. E é esta a leitura que se pode deduzir de várias manifestações que podem ser ouvidas nas ruas e nas poucas salas de cinema em que foi exibido. São formas de ver o filme profundamente influenciadas pelos valores conservadores reafirmados todos os dias nos jornais, revistas, programas de TV, novelas, filmes, etc.
Um argumento de Padilha é que se trata de um filme de ficção e não de um documentário. Pode ser. O problema é que na mídia atual, notícias têm recebido cada vez mais tratamento ficcional. São animações digitais, reconstituições cinematográficas, entrevistas regadas a lágrimas, jornalistas de TV que interpretam notícias fazendo caras e bocas. Por outro lado, são décadas de produções de grandes estúdios reafirmando oposições como índios selvagens e brancos civilizados, bandidos negros e mocinhos brancos, negras feias e submissas e loiras burras e gostosas, machões sadios e homossexuais degenerados. No caso do filme de Padilha, a oposição ficou entre a polícia corrupta e a polícia heróica na luta contra o crime. O problema é que a polícia heróica é também criminosa ao agir como um esquadrão da morte oficial.
O fato é que valores estão em jogo. De um lado, os conservadores, que sustentam a desigualdade social, a criminalização da pobreza, racismo, machismo, exploração do trabalho, destruição ambiental. De outro, os que procuram combater tudo isso ao defender a justiça social, a igualdade, as liberdades, a diversidade humana, o fim da exploração e a defesa da vida no planeta. E desse ponto de vista, “Tropa de Elite” reforça os primeiros, mesmo não sendo fascista.
É só tomarmos o exemplo de recente reportagem da revista “Veja” sobre Che Guevara. Trata-se de um ataque a um dos poucos símbolos da esquerda mundial e da resistência popular em geral. A publicação levanta aspectos negativos e falhas políticas de Guevara que realmente existiram. Mas, a revista sabe muito bem o que quer ao atacá-lo. Quer desmoralizar tudo, todas e todos que ousam desafiar a ordem dominante. Não há nem muito espaço para a polêmica. Este é o papel da “Veja”. Defender como um pitbull feroz os interesses dos ricos e poderosos.
A obra de Padilha está longe de desempenhar esse papel. Mas, com certeza será bem recebida pelos que compartilham a visão de “Veja”. Com o agravante de que o filme está chegando a um público muito mais amplo do que se esperava. Nessa situação, o que parece ser apenas o dedo no gatilho de um 38 pode disparar poderosos mísseis. “Tropa de Elite” fez isso em dois sentidos. O primeiro, ao tornar heróica a atuação do Bope e, o segundo, ao permitir que tal visão se espalhasse pela sociedade. Seus realizadores dizem que não era sua intenção. Mas, de boas intenções e cadáveres as favelas estão cheias.
Os realizadores de “Tropa de elite” negam, mas fizeram um filme conservador. E o mais grave é que a produção chegou a um público mais amplo do que o normal. Queiram ou não, acabaram fortalecendo as tropas da elite com algo mais eficiente do que balas de chumbo: os valores conservadores.
O filme de José Padilha tem tudo para entrar para a história por dois motivos principais. O primeiro deles é que antes de ser lançado, “Tropa de elite” já estava na boca do povo. E não é exagerado utilizar a expressão “antes de ser lançado” já que uma cópia do filme foi desviada do estúdio de gravação muito antes de ir para as salas de cinema. Daí, para cair “na boca do povo” foi um pulo. Camelôs em quase todas as capitais do país gritavam seu nome nas esquinas. Assim, o filme foi parar literalmente “nas mãos do povo”. As cópias piratas oferecidas pelos vendedores ambulantes são mais baratas do que o aluguel em locadoras. Chegaram a milhões de famílias que têm aparelho de DVD e jamais iriam ver o filme nos cinemas. O diretor, os produtores e demais envolvidos no projeto ficaram revoltados com razão. Mas, a tecnologia que facilita a vida deles em muitos aspectos, também torna uma brincadeira de criança espalhar cópias não autorizadas em grande escala. Além da tecnologia, a desigualdade social é outro elemento que joga contra. A “indústria da pirataria” dificilmente deixará de funcionar enquanto direitos autorais forem confundidos com a propriedade intelectual das grandes empresas de cinema e TV. Mas, certamente, ela prospera muito mais em sociedades desiguais em que a grande maioria não tem dinheiro para assistir a um filme no cinema ou pagar uma assinatura de TV.
E este é bem o caso brasileiro. São milhões de aparelhos de DVD, vendidos a preços baixos, em muitas parcelas. E apenas 2 mil salas de cinema, com ingressos caros e concentradas nas regiões sudeste e sul do país. Para azar dos realizadores de “Tropa de Elite” tudo é muito contraditório. A tecnologia digital facilitou a vida dos piratas. Fez o filme um sucesso de público. Fala-se em 400 mil discos piratas vendidos. Uma bilheteria que não está ao alcance dos produtores do filme. Mas para a sorte da elite, essas facilidades tecnológicas estão sendo usadas para espalhar valores conservadores. Ou alguém já viu filmes de Eisenstein, Ken Loach, Solanas ou documentários populares e sindicais em barracas de rua? Claro que não. Os campeões de venda são os filmes típicos de Hollywood, com seus valores conformistas e conservadores e suas lições de moral. Seu culto ao individualismo, aos preconceitos e à violência como solução dos problemas sociais. Para a sorte da elite, o filme de Padilha não está longe disso, embora seus realizadores neguem isso. E apesar do excelente trabalho que o diretor fez em seu “Ônibus 174”.
Um debate que está pegando fogo é sobre o caráter fascista do filme ou não. Alguns jornalistas e muitos militantes sociais levantaram argumentos demonstrando o conservadorismo da produção. Padilha tem negado isso em debates e entrevistas. Wagner Moura escreveu um bom artigo no jornal “O Globo” contra essa leitura. Os argumentos de ambos fazem algum sentido. É uma denúncia da corrupção na PM, dizem eles. É a exibição crua da violência com que atua o Bope (Batalhão de Operações Especiais) nas comunidades pobres, afirmam. É a necessidade de colocar tudo isso em debate, alegam. Tudo bem. Mas, muito do que afirmam não fica claro no filme. São coisas que só podem ser deduzidas com muita boa vontade e de um certo ângulo. Ou que só poderiam ser esclarecidas levando-se em conta várias opiniões contrárias e favoráveis. Não é o que acontece com as milhões de pessoas que irão aos cinemas e as dezenas de milhões que já estão vendo o filme em suas casas. Pouquíssimas delas poderão participar de um debate em que seja denunciada a atuação racista e de perseguição aos pobres por parte do Bope.
A verdade é que o formato e momentos decisivos do filme dificultam a leitura que seus produtores pretendem. Do ponto de vista, do ritmo, narração, atuação dos atores, roteiro, “Tropa de Elite” arrasa. Mas, tudo indica que foi exatamente por isso que não foi indicado para concorrer como melhor filme estrangeiro ao Oscar. Dizem os especialistas que a produção é americanizada demais para justificar sua presença como filme estrangeiro.
Então, de pouco valem os argumentos de Padilha e Moura diante da vida própria que o filme ganhou. Vida própria ao chegar a milhões de lares. E vida própria ao permitir que a violência do Bope fosse vista como necessidade inegável diante da violência urbana. E é esta a leitura que se pode deduzir de várias manifestações que podem ser ouvidas nas ruas e nas poucas salas de cinema em que foi exibido. São formas de ver o filme profundamente influenciadas pelos valores conservadores reafirmados todos os dias nos jornais, revistas, programas de TV, novelas, filmes, etc.
Um argumento de Padilha é que se trata de um filme de ficção e não de um documentário. Pode ser. O problema é que na mídia atual, notícias têm recebido cada vez mais tratamento ficcional. São animações digitais, reconstituições cinematográficas, entrevistas regadas a lágrimas, jornalistas de TV que interpretam notícias fazendo caras e bocas. Por outro lado, são décadas de produções de grandes estúdios reafirmando oposições como índios selvagens e brancos civilizados, bandidos negros e mocinhos brancos, negras feias e submissas e loiras burras e gostosas, machões sadios e homossexuais degenerados. No caso do filme de Padilha, a oposição ficou entre a polícia corrupta e a polícia heróica na luta contra o crime. O problema é que a polícia heróica é também criminosa ao agir como um esquadrão da morte oficial.
O fato é que valores estão em jogo. De um lado, os conservadores, que sustentam a desigualdade social, a criminalização da pobreza, racismo, machismo, exploração do trabalho, destruição ambiental. De outro, os que procuram combater tudo isso ao defender a justiça social, a igualdade, as liberdades, a diversidade humana, o fim da exploração e a defesa da vida no planeta. E desse ponto de vista, “Tropa de Elite” reforça os primeiros, mesmo não sendo fascista.
É só tomarmos o exemplo de recente reportagem da revista “Veja” sobre Che Guevara. Trata-se de um ataque a um dos poucos símbolos da esquerda mundial e da resistência popular em geral. A publicação levanta aspectos negativos e falhas políticas de Guevara que realmente existiram. Mas, a revista sabe muito bem o que quer ao atacá-lo. Quer desmoralizar tudo, todas e todos que ousam desafiar a ordem dominante. Não há nem muito espaço para a polêmica. Este é o papel da “Veja”. Defender como um pitbull feroz os interesses dos ricos e poderosos.
A obra de Padilha está longe de desempenhar esse papel. Mas, com certeza será bem recebida pelos que compartilham a visão de “Veja”. Com o agravante de que o filme está chegando a um público muito mais amplo do que se esperava. Nessa situação, o que parece ser apenas o dedo no gatilho de um 38 pode disparar poderosos mísseis. “Tropa de Elite” fez isso em dois sentidos. O primeiro, ao tornar heróica a atuação do Bope e, o segundo, ao permitir que tal visão se espalhasse pela sociedade. Seus realizadores dizem que não era sua intenção. Mas, de boas intenções e cadáveres as favelas estão cheias.
Tropa 2: ainda conservador
Por Sérgio Domingues, no blog Mídia Vigiada:
O novo filme de José Padilha continua conservador. Agora, os políticos corruptos são os grandes vilões, mas aqueles que os corrompem ficam na sombra. As milícias da grande mídia agradecem.
As duas produções de Tropa de Elite são filmes de ação que pretendem fazer denúncia. Mas, não vão à raiz dos problemas que retratam de forma tão explícita. Ao fazer isso, acabam por justificar a forma como a sociedade brasileira está organizada. Com sua injustiça social, violência estatal contra os mais pobres, democracia de fachada e monopólios da grande mídia.
Em Tropa de Elite 2, os vilões são mais numerosos. A corrupção policial e os traficantes de drogas continuam presentes. Mas, a ação das milícias ganhou grande destaque. No filme anterior, boa parte da culpa da violência urbana cabia aos que compram drogas. Estranhamente, dessa vez, a mesma culpa não foi atribuída aos consumidores de TV paga. Um dos serviços vendidos ilegalmente por milicianos.
Tropa 2 chega a uma conclusão que já deveria ser óbvia em sua primeira edição. O único serviço público realmente presente e em funcionamento nas favelas é a polícia. Era questão de tempo para que policiais substituíssem o tráfico e se transformassem em tropa de ocupação com vontade própria. Mercenários dispostos a negociar o acesso às áreas ocupadas com os poderes constituídos. Entre estes, é claro, o poder estatal representado pelos políticos de plantão.
A cena em que Nascimento surra um secretário de estado vem arrancando aplausos nos cinemas. Simboliza a justa revolta popular contra os políticos em geral. O problema é que políticos profissionais não vivem apenas de seus altos salários. Nem se elegeram usando suas economias pessoais. Foram bancados por empresários. Em troca, a grande maioria deles trabalha como facilitadores de negócios para seus financiadores. E muitas vezes, o fazem dentro da lei.
Políticos envolvidos com criminosos comuns são poucos, mas fazem barulho suficiente para esconder ainda mais a já silenciosa ação de seus colegas. Membros das bancadas a serviço de ruralistas, proprietários de meios de comunicação, banqueiros, empreiteiros, mercenários religiosos e empresários de vários setores monopolizados da economia.
O personagem Fraga é uma justa homenagem ao deputado Marcelo Freixo (PSOL). Mas, na vida real, Freixo não apenas é um indivíduo corajoso e com princípios. É uma liderança apoiada em um trabalho de base desenvolvido nas comunidades pobres. Lugares massacrados pela ação conjunta do tráfico, da milícia e da polícia, incluindo o Bope. Ainda assim, Fraga não é o mocinho. Continua a ser Nascimento, com seus métodos violentos.
Mas, o filme de Padilha é conservador principalmente porque mostra a mídia empresarial como defensora da moralidade pública. No filme, a casa da milícia começou a cair porque uma jornalista foi assassinada. Na vida real algo muito parecido aconteceu. Uma equipe do jornal “O Dia” foi seqüestrada e submetida à tortura por milicianos. Até então, as autoridades e a própria imprensa fechavam o olhos para a ação violenta e covarde das milícias. Eram consideradas “formas comunitárias de auto-defesa”.
Na verdade, a responsabilidade da grande imprensa é enorme na montagem do cenário que possibilitou o surgimento das milícias. Cenário que não se limita ao Rio de Janeiro no início do século 21. Inclui um país inteiro vivendo séculos de injustiça social, racismo, truculência policial, criminalização da pobreza, autoritarismo, informação distorcida, preconceitos e corrupção.
Com Tropa de Elite, esquecemos de tudo isso. Vamos ao cinema e nos sentimos vingados pelos murros de Nascimento. Contemplados por denúncias encenadas em ritmo de filme americano. No lugar do debate organizado pela população em associações, partidos, sindicatos, sobram conversas de boteco sobre uma produção da Globo Filmes. No máximo, colóquios de classe média em mega-livrarias.
O final do filme promete uma continuação que chegaria mais fundo em suas denúncias. Difícil acreditar que a mira de Nascimento volte-se para o grande capital. Muitos de seus representantes financiam a vitoriosa produção. Querendo ou não seus realizadores, Tropa 2 trabalha para milícia midiática que justifica um dos sistemas de dominação mais violentos do mundo. E um dos mais inteligentes, também.
O novo filme de José Padilha continua conservador. Agora, os políticos corruptos são os grandes vilões, mas aqueles que os corrompem ficam na sombra. As milícias da grande mídia agradecem.
As duas produções de Tropa de Elite são filmes de ação que pretendem fazer denúncia. Mas, não vão à raiz dos problemas que retratam de forma tão explícita. Ao fazer isso, acabam por justificar a forma como a sociedade brasileira está organizada. Com sua injustiça social, violência estatal contra os mais pobres, democracia de fachada e monopólios da grande mídia.
Em Tropa de Elite 2, os vilões são mais numerosos. A corrupção policial e os traficantes de drogas continuam presentes. Mas, a ação das milícias ganhou grande destaque. No filme anterior, boa parte da culpa da violência urbana cabia aos que compram drogas. Estranhamente, dessa vez, a mesma culpa não foi atribuída aos consumidores de TV paga. Um dos serviços vendidos ilegalmente por milicianos.
Tropa 2 chega a uma conclusão que já deveria ser óbvia em sua primeira edição. O único serviço público realmente presente e em funcionamento nas favelas é a polícia. Era questão de tempo para que policiais substituíssem o tráfico e se transformassem em tropa de ocupação com vontade própria. Mercenários dispostos a negociar o acesso às áreas ocupadas com os poderes constituídos. Entre estes, é claro, o poder estatal representado pelos políticos de plantão.
A cena em que Nascimento surra um secretário de estado vem arrancando aplausos nos cinemas. Simboliza a justa revolta popular contra os políticos em geral. O problema é que políticos profissionais não vivem apenas de seus altos salários. Nem se elegeram usando suas economias pessoais. Foram bancados por empresários. Em troca, a grande maioria deles trabalha como facilitadores de negócios para seus financiadores. E muitas vezes, o fazem dentro da lei.
Políticos envolvidos com criminosos comuns são poucos, mas fazem barulho suficiente para esconder ainda mais a já silenciosa ação de seus colegas. Membros das bancadas a serviço de ruralistas, proprietários de meios de comunicação, banqueiros, empreiteiros, mercenários religiosos e empresários de vários setores monopolizados da economia.
O personagem Fraga é uma justa homenagem ao deputado Marcelo Freixo (PSOL). Mas, na vida real, Freixo não apenas é um indivíduo corajoso e com princípios. É uma liderança apoiada em um trabalho de base desenvolvido nas comunidades pobres. Lugares massacrados pela ação conjunta do tráfico, da milícia e da polícia, incluindo o Bope. Ainda assim, Fraga não é o mocinho. Continua a ser Nascimento, com seus métodos violentos.
Mas, o filme de Padilha é conservador principalmente porque mostra a mídia empresarial como defensora da moralidade pública. No filme, a casa da milícia começou a cair porque uma jornalista foi assassinada. Na vida real algo muito parecido aconteceu. Uma equipe do jornal “O Dia” foi seqüestrada e submetida à tortura por milicianos. Até então, as autoridades e a própria imprensa fechavam o olhos para a ação violenta e covarde das milícias. Eram consideradas “formas comunitárias de auto-defesa”.
Na verdade, a responsabilidade da grande imprensa é enorme na montagem do cenário que possibilitou o surgimento das milícias. Cenário que não se limita ao Rio de Janeiro no início do século 21. Inclui um país inteiro vivendo séculos de injustiça social, racismo, truculência policial, criminalização da pobreza, autoritarismo, informação distorcida, preconceitos e corrupção.
Com Tropa de Elite, esquecemos de tudo isso. Vamos ao cinema e nos sentimos vingados pelos murros de Nascimento. Contemplados por denúncias encenadas em ritmo de filme americano. No lugar do debate organizado pela população em associações, partidos, sindicatos, sobram conversas de boteco sobre uma produção da Globo Filmes. No máximo, colóquios de classe média em mega-livrarias.
O final do filme promete uma continuação que chegaria mais fundo em suas denúncias. Difícil acreditar que a mira de Nascimento volte-se para o grande capital. Muitos de seus representantes financiam a vitoriosa produção. Querendo ou não seus realizadores, Tropa 2 trabalha para milícia midiática que justifica um dos sistemas de dominação mais violentos do mundo. E um dos mais inteligentes, também.
Folha: de rabo preso com a ditadura de plantão
Por Sérgio Domingues, no blog Mídia Vigiada:
A Folha de S. Paulo acaba de completar 90 anos. Aproveitou para confessar seu apoio ao regime militar. Na verdade, comemora a vitória do Projeto Folha, em que trocou seu apoio à ditadura política pela fé na ditadura econômica.
A Folha de S. Paulo completou 90 anos no sábado, dia 19 de fevereiro. Nascido em 1921, o jornal só ganhou o nome atual em 1931. Até então, era Folha da Noite. De 1986 a 2010 foi a publicação jornalística de maior circulação do País. Perdeu o primeiro lugar para o tablóide mineiro Super Notícia. Mas, sem dúvida segue sendo um dos mais influentes no País.
Relembrando sua história, o jornal fez uma confissão rara em sua edição do dia 20/02. Assumiu claramente seu apoio ao golpe militar de 1964. Disse que sua redação foi entregue jornalistas “entusiasmados com a linha dura militar” como parte de uma reação da empresa “à atuação clandestina” de militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) nas dependências do próprio jornal. Uma desculpa mais que esfarrapada.
Quanto ao uso de suas caminhonetes de entrega de jornal por agentes da repressão, a Folha atribui o relato a denúncias de presos políticos e não as confirma. Mesmo assim, surpreende a admissão do papel do jornal no apoio à ditadura. Ou não?
Na verdade, esse repentino ataque de franqueza nada tem de contraditório. A Folha fez um movimento inteligente no início dos anos 1980. Pressentindo a crise do regime militar, trocou seu apoio à ditadura dos generais pela militância pela ditadura do mercado. Essa guinada recebeu o nome de Projeto Folha. O próprio histórico publicado no jornal ajuda a esclarecer:
A Folha foi o jornal que mais se associou às Diretas. Seu engajamento é anterior ao das principais lideranças de oposição que, em fins de 1983, ainda não formavam uma frente compacta, deixando prevalecer os interesses partidários. Nessa altura, quando o movimento mal conseguia encher uma praça, o jornal criticou o sectarismo dos políticos e o silêncio da imprensa.
Ou seja, sentindo as dificuldades do governo dos generais para se manter no poder, a Folha cobrava da classe dominante unidade em torno de outro projeto. O movimento das Diretas teria sido o “o apogeu do consenso suprapartidário das oposições”. Mas, uma vez derrotada a emenda que propunha eleições diretas para presidente, “cada partido tratou de traçar sua própria estratégia”.
“Respondendo a essa fragmentação, continua o texto da Folha, a direção do jornal elegeu o pluralismo e o apartidarismo (...) como os principais pilares do Projeto Folha”. Segundo o final feliz do histórico do jornalão paulista, “o Projeto Folha transformou-se numa influente escola de jornalismo”. Teria se tornado um veiculo apartidário e comprometido com a sociedade civil. Ou conforme campanha publicitária dos anos 1980, um jornal “de rabo preso com o leitor”.
José Arbex foi um dos jornalistas que acompanhou esse projeto muito de perto. Fazia parte da redação da Folha na época de sua implantação. Em seu livro “Shownarlismo” (Casa Amarela-2001), Arbex diz que o Projeto Folha significou a adoção do discurso para o mercado. Nada mais do que o tratamento da notícia como mercadoria.
A pose da Folha como porta-voz da democracia, escondia uma política interna autoritária. Um rígido controle industrial e ideológico da produção de informação materializado em seu famoso Manual de Redação. Arbex diz que o jornal escolheu “a estratégia de transformar a democracia em marketing”.
Na verdade, trata-se da adoção da “democracia de mercado”, em que o que importa é o funcionamento das leis capitalistas. Se a Folha sobreviveu à censura dos generais, por que não veria com tranqüilidade a implantação de um sistema baseado em eleições e outras liberdades? Afinal, a condição de monopólio da mídia empresarial já lhe garantia poder suficiente para funcionar como um bloqueio econômico à verdadeira liberdade de informação. Foi isso o que a Folha enxergou antes de sua concorrência.
O Projeto Folha implicava uma opção clara. Era pelo fim do apoio da empresa à ditadura política dos militares. Mas também pelo engajamento na defesa do livre funcionamento da ditadura das leis do mercado. Uma postura que ajudava também a reforçar o lado conservador da “transição democrática”. Aquele que tentou e conseguiu manter o essencial dos aparelhos de repressão reforçados pela ditadura militar. Algo que resultou, por exemplo, no tratamento ilegal e violento dispensado pelas polícias e forças de segurança a pobres e negros. Assim como na criminalização dos movimentos sociais.
Essa promessa de fé no império da acumulação do capital ajuda a explicar algumas recaídas que lembram a relação submissa do jornal em relação ao regime militar. Uma delas foi o episódio da “ditabranda”, palavra inventada pela Folha em editorial de fevereiro de 2009. O neologismo procurava dar à ditadura de 64 um caráter moderado.
Esta espécie de ato falho talvez revele disposição em aceitar a volta do uso de medidas ditatoriais. Basta que se mostrem necessárias para garantir a enorme concentração de poder e lucros das grandes corporações.
Mas, a razão mais concreta da recente “confissão” da Folha parece ser mais simples. Por ocasião de seus 90 anos, o jornal colocou à disposição do público seu conteúdo integral desde 1921. São quase 2 milhões de páginas totalmente indexadas. Uma medida que certamente deixa mais óbvias muitas das relações podres da Folha com o poder.
Aí, a melhor política passa a ser confessar logo aquilo que vai ficar claro demais para ser negado. Mais uma amostra da linha flexível do jornal quando se trata de manter o essencial de seu projeto. Além disso, aproveita o momento em que os principais atores políticos do País se recusam a acertar contas com os carrascos da ditadura.
O aniversário da Folha mereceu um discurso da presidenta da República em evento comemorativo. Dilma não nega nem renega sua atuação na resistência à ditadura. Mas, manteve em seu governo Nelson Jobim, figura submissa à cúpula conservadora das Forças Armadas. A última proeza de Jobim foi propor a cassação da anistia concedida a militares que se rebelaram contra o golpe de 64.
Acrescente-se a isso a presença de Dilma nas comemorações do jornalão paulista. Péssimo sinal. O evento festejava mais uma vitória da mídia empresarial. Saudava sua capacidade de disfarçar seus interesses particulares e antipopulares com a máscara da liberdade de imprensa. Comemorava a maestria da Folha em esconder seu rabo preso às ditaduras de plantão. As políticas e as econômicas.
A Folha de S. Paulo acaba de completar 90 anos. Aproveitou para confessar seu apoio ao regime militar. Na verdade, comemora a vitória do Projeto Folha, em que trocou seu apoio à ditadura política pela fé na ditadura econômica.
A Folha de S. Paulo completou 90 anos no sábado, dia 19 de fevereiro. Nascido em 1921, o jornal só ganhou o nome atual em 1931. Até então, era Folha da Noite. De 1986 a 2010 foi a publicação jornalística de maior circulação do País. Perdeu o primeiro lugar para o tablóide mineiro Super Notícia. Mas, sem dúvida segue sendo um dos mais influentes no País.
Relembrando sua história, o jornal fez uma confissão rara em sua edição do dia 20/02. Assumiu claramente seu apoio ao golpe militar de 1964. Disse que sua redação foi entregue jornalistas “entusiasmados com a linha dura militar” como parte de uma reação da empresa “à atuação clandestina” de militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) nas dependências do próprio jornal. Uma desculpa mais que esfarrapada.
Quanto ao uso de suas caminhonetes de entrega de jornal por agentes da repressão, a Folha atribui o relato a denúncias de presos políticos e não as confirma. Mesmo assim, surpreende a admissão do papel do jornal no apoio à ditadura. Ou não?
Na verdade, esse repentino ataque de franqueza nada tem de contraditório. A Folha fez um movimento inteligente no início dos anos 1980. Pressentindo a crise do regime militar, trocou seu apoio à ditadura dos generais pela militância pela ditadura do mercado. Essa guinada recebeu o nome de Projeto Folha. O próprio histórico publicado no jornal ajuda a esclarecer:
A Folha foi o jornal que mais se associou às Diretas. Seu engajamento é anterior ao das principais lideranças de oposição que, em fins de 1983, ainda não formavam uma frente compacta, deixando prevalecer os interesses partidários. Nessa altura, quando o movimento mal conseguia encher uma praça, o jornal criticou o sectarismo dos políticos e o silêncio da imprensa.
Ou seja, sentindo as dificuldades do governo dos generais para se manter no poder, a Folha cobrava da classe dominante unidade em torno de outro projeto. O movimento das Diretas teria sido o “o apogeu do consenso suprapartidário das oposições”. Mas, uma vez derrotada a emenda que propunha eleições diretas para presidente, “cada partido tratou de traçar sua própria estratégia”.
“Respondendo a essa fragmentação, continua o texto da Folha, a direção do jornal elegeu o pluralismo e o apartidarismo (...) como os principais pilares do Projeto Folha”. Segundo o final feliz do histórico do jornalão paulista, “o Projeto Folha transformou-se numa influente escola de jornalismo”. Teria se tornado um veiculo apartidário e comprometido com a sociedade civil. Ou conforme campanha publicitária dos anos 1980, um jornal “de rabo preso com o leitor”.
José Arbex foi um dos jornalistas que acompanhou esse projeto muito de perto. Fazia parte da redação da Folha na época de sua implantação. Em seu livro “Shownarlismo” (Casa Amarela-2001), Arbex diz que o Projeto Folha significou a adoção do discurso para o mercado. Nada mais do que o tratamento da notícia como mercadoria.
A pose da Folha como porta-voz da democracia, escondia uma política interna autoritária. Um rígido controle industrial e ideológico da produção de informação materializado em seu famoso Manual de Redação. Arbex diz que o jornal escolheu “a estratégia de transformar a democracia em marketing”.
Na verdade, trata-se da adoção da “democracia de mercado”, em que o que importa é o funcionamento das leis capitalistas. Se a Folha sobreviveu à censura dos generais, por que não veria com tranqüilidade a implantação de um sistema baseado em eleições e outras liberdades? Afinal, a condição de monopólio da mídia empresarial já lhe garantia poder suficiente para funcionar como um bloqueio econômico à verdadeira liberdade de informação. Foi isso o que a Folha enxergou antes de sua concorrência.
O Projeto Folha implicava uma opção clara. Era pelo fim do apoio da empresa à ditadura política dos militares. Mas também pelo engajamento na defesa do livre funcionamento da ditadura das leis do mercado. Uma postura que ajudava também a reforçar o lado conservador da “transição democrática”. Aquele que tentou e conseguiu manter o essencial dos aparelhos de repressão reforçados pela ditadura militar. Algo que resultou, por exemplo, no tratamento ilegal e violento dispensado pelas polícias e forças de segurança a pobres e negros. Assim como na criminalização dos movimentos sociais.
Essa promessa de fé no império da acumulação do capital ajuda a explicar algumas recaídas que lembram a relação submissa do jornal em relação ao regime militar. Uma delas foi o episódio da “ditabranda”, palavra inventada pela Folha em editorial de fevereiro de 2009. O neologismo procurava dar à ditadura de 64 um caráter moderado.
Esta espécie de ato falho talvez revele disposição em aceitar a volta do uso de medidas ditatoriais. Basta que se mostrem necessárias para garantir a enorme concentração de poder e lucros das grandes corporações.
Mas, a razão mais concreta da recente “confissão” da Folha parece ser mais simples. Por ocasião de seus 90 anos, o jornal colocou à disposição do público seu conteúdo integral desde 1921. São quase 2 milhões de páginas totalmente indexadas. Uma medida que certamente deixa mais óbvias muitas das relações podres da Folha com o poder.
Aí, a melhor política passa a ser confessar logo aquilo que vai ficar claro demais para ser negado. Mais uma amostra da linha flexível do jornal quando se trata de manter o essencial de seu projeto. Além disso, aproveita o momento em que os principais atores políticos do País se recusam a acertar contas com os carrascos da ditadura.
O aniversário da Folha mereceu um discurso da presidenta da República em evento comemorativo. Dilma não nega nem renega sua atuação na resistência à ditadura. Mas, manteve em seu governo Nelson Jobim, figura submissa à cúpula conservadora das Forças Armadas. A última proeza de Jobim foi propor a cassação da anistia concedida a militares que se rebelaram contra o golpe de 64.
Acrescente-se a isso a presença de Dilma nas comemorações do jornalão paulista. Péssimo sinal. O evento festejava mais uma vitória da mídia empresarial. Saudava sua capacidade de disfarçar seus interesses particulares e antipopulares com a máscara da liberdade de imprensa. Comemorava a maestria da Folha em esconder seu rabo preso às ditaduras de plantão. As políticas e as econômicas.
Videogames e a indústria da diversão
Por Sérgio Domingues, no blog Mídia Vigiada:
A indústria de games vem tornando-se mais poderosa que a do cinema. Os jogos violentos são sua principal atração. Mas é perigoso fazer uma ligação direta entre o aumento de sua influência e o crescimento da violência social. É preciso combater a indústria da diversão sem desrespeitar a inteligência de seu público.
Em julho de 2008, “Harry Potter” quebrou o recorde histórico de bilheteria para filmes na semana de estréia. Arrecadou US$ 394 milhões. Desde então, nenhuma produção superou a marca, incluindo Avatar, de James Cameron.
Mas, em maio do mesmo ano, o jogo GTA IV vendeu US$ 500 milhões em uma semana. Deixou o filme da franquia Potter para trás em mais de US$ 100 milhões. E em dezembro de 2010, “Call of Duty” havia alcançado US$ 1 bilhão em vendas, cerca de um mês após seu lançamento.
Não à toa, o próprio cinema vem tentando surfar nesta onda. São cada vez mais comuns filmes baseados em personagens e situações criados para os videogames. Por outro lado, filmes de sucesso podem tornar-se bem sucedidas adaptações para games.
“Call of Duty” simula situações de combate. Sua primeira versão tinha como cenário batalhas travadas durante a Segunda Guerra Mundial. Mas sua versão “Modern Warfare 2” é ambientado nos tempos atuais e em grande cidades. Algumas ações se passam no Rio de Janeiro, com direito a invasão de favelas e tiros em moradores como um mal necessário.
GTA é a sigla para “Grand Theft Auto”. É o nome que a polícia americana usa para identificar furtos de automóveis de valor elevado. O jogo explora situações de extrema violência, roubos, homicídios e prostituição.
Mais recentemente, foi lançado o game Bully. O cenário é uma escola. O jogador é um aluno. Sua missão é sobreviver às panelinhas de alunos, enfrentar o autoritarismo de professores, lidar com brincadeiras maldosas, conquistar garotas e também aprontar com os outros para ganhar pontos.
A indústria dos videogames é coisa muito séria. Está cada vez mais poderosa. No ano passado lucrou US$ 24 bilhões. Números como este e o perfil dos jogos mais vendidos são preocupantes. Mostram o crescimento da influência de um tipo de mídia que ainda recebe pouca atenção.
E quando recebem, costumam despertar reações pouco sutis. Por exemplo, quando os jogos eletrônicos são acusados de tornar os jovens mais violentos. Não há estudos aprofundados sobre tal relação. Nem em relação à TV e ao cinema, que são bem mais antigos, há provas definitivas de que suas atrações tornem seu público mais violento.
Se esta relação de causa e efeito fosse tão direta, conviveríamos com centenas de maníacos assassinos em nossos bairros, famílias, locais de trabalho e de estudo. É só olhar em volta para descobrir muitos adeptos dos jogos, filmes e programas violentos. A maioria deles, envolvida em pacatas atividades e rotinas de vida.
O Japão, por exemplo, tem um dos maiores mercados do mundo para produtos que têm a violência extrema como tema. No entanto, apresenta índices de crimes violentos muito baixos. A violência que atinge os jovens daquele país parece ser de outra natureza. Um fenômeno que se manifesta em um grande número de suicídios.
Não se trata de dizer que os videogames, filmes e séries de TV violentos são inofensivos. Mas, é preciso tomar cuidado com relações que enxerguem no público um amontoado de teleguiados. Ou de seres facilmente programáveis por empresas todo-poderosas.
Críticas como essas foram muito comuns, por exemplo, na época em que as histórias em quadrinhos começaram a se tornar popular. As restrições a esse tipo de produção começou com Mussolini, mas foi adotada também nos Estados Unidos no Pós-Guerra.
O grande problema da condenação pura e simples de produtos como quadrinhos e videogames é ignorar seu apelo lúdico. Uma dimensão legítima e necessária da condição humana.
A indústria do videogame, como a do cinema e dos quadrinhos, somente faz sucesso duradouro quando atende a este apelo sem subestimar a inteligência de seu público-alvo. E é este erro que não podemos cometer ao fazer a crítica desse tipo de indústria. Acusá-la de manipular pura e simplesmente as pessoas pode ser entendido por estas como um menosprezo a sua capacidade crítica.
E isso só piora quando as críticas partem de quem não tem a menor familiaridade com o rico universo que abrange jogos, quadrinhos, seriados e cinema. Os encarregados de criar os elementos desse cosmo são artistas bem pagos, inteligentes, bem informados e muito criativos.
Ao mesmo tempo, a indústria sabe aproveitar as sugestões e idéias que surgem de ambientes virtuais que reúnem fãs e adeptos quase profissionais. Tal ambiente vem dando aos games cada vez mais complexidade, força dramática e qualidade artística.
O fato é que o sucesso dos jogos violentos deve-se muito mais ao ambiente social em que são criados. Seria cômodo dizer que são os games violentos que alimentam a violência. E seria fácil combater tais efeitos. Bastaria proibir sua circulação, como se tenta fazer com armas e drogas.
A ação dos games é mais sutil. Trata-se de reforçar uma lógica social de extrema competição individualista e discriminatória. Mas precisa fazer isso em meio a uma disputa de mercado. Por isso, as estratégias podem variar conforme o momento, o lugar do mercado e a faixa de público que se quer atingir. Daí, os inúmeros tipos de jogos e sua evolução ao longo do tempo.
Nada disso dispensa a necessidade de denunciar a lógica da indústria de games e das diversões em geral. Mas, é preciso fazê-lo unindo razão e sensibilidade de modo a respeitar a inteligência alheia. De preferência, contando com aliados que atuem nesse campo, que já vai se transformando em uma nova e poderosa “arte”.
Do contrário, seria como virar as costas ao cinema, ignorando produções que defenderam a necessidade de lutar por transformações sociais. Correríamos o risco de nos tornar não uma esquerda crítica, mas rabugenta e atrasada. Melhor dizendo, “sem noção!”
A indústria de games vem tornando-se mais poderosa que a do cinema. Os jogos violentos são sua principal atração. Mas é perigoso fazer uma ligação direta entre o aumento de sua influência e o crescimento da violência social. É preciso combater a indústria da diversão sem desrespeitar a inteligência de seu público.
Em julho de 2008, “Harry Potter” quebrou o recorde histórico de bilheteria para filmes na semana de estréia. Arrecadou US$ 394 milhões. Desde então, nenhuma produção superou a marca, incluindo Avatar, de James Cameron.
Mas, em maio do mesmo ano, o jogo GTA IV vendeu US$ 500 milhões em uma semana. Deixou o filme da franquia Potter para trás em mais de US$ 100 milhões. E em dezembro de 2010, “Call of Duty” havia alcançado US$ 1 bilhão em vendas, cerca de um mês após seu lançamento.
Não à toa, o próprio cinema vem tentando surfar nesta onda. São cada vez mais comuns filmes baseados em personagens e situações criados para os videogames. Por outro lado, filmes de sucesso podem tornar-se bem sucedidas adaptações para games.
“Call of Duty” simula situações de combate. Sua primeira versão tinha como cenário batalhas travadas durante a Segunda Guerra Mundial. Mas sua versão “Modern Warfare 2” é ambientado nos tempos atuais e em grande cidades. Algumas ações se passam no Rio de Janeiro, com direito a invasão de favelas e tiros em moradores como um mal necessário.
GTA é a sigla para “Grand Theft Auto”. É o nome que a polícia americana usa para identificar furtos de automóveis de valor elevado. O jogo explora situações de extrema violência, roubos, homicídios e prostituição.
Mais recentemente, foi lançado o game Bully. O cenário é uma escola. O jogador é um aluno. Sua missão é sobreviver às panelinhas de alunos, enfrentar o autoritarismo de professores, lidar com brincadeiras maldosas, conquistar garotas e também aprontar com os outros para ganhar pontos.
A indústria dos videogames é coisa muito séria. Está cada vez mais poderosa. No ano passado lucrou US$ 24 bilhões. Números como este e o perfil dos jogos mais vendidos são preocupantes. Mostram o crescimento da influência de um tipo de mídia que ainda recebe pouca atenção.
E quando recebem, costumam despertar reações pouco sutis. Por exemplo, quando os jogos eletrônicos são acusados de tornar os jovens mais violentos. Não há estudos aprofundados sobre tal relação. Nem em relação à TV e ao cinema, que são bem mais antigos, há provas definitivas de que suas atrações tornem seu público mais violento.
Se esta relação de causa e efeito fosse tão direta, conviveríamos com centenas de maníacos assassinos em nossos bairros, famílias, locais de trabalho e de estudo. É só olhar em volta para descobrir muitos adeptos dos jogos, filmes e programas violentos. A maioria deles, envolvida em pacatas atividades e rotinas de vida.
O Japão, por exemplo, tem um dos maiores mercados do mundo para produtos que têm a violência extrema como tema. No entanto, apresenta índices de crimes violentos muito baixos. A violência que atinge os jovens daquele país parece ser de outra natureza. Um fenômeno que se manifesta em um grande número de suicídios.
Não se trata de dizer que os videogames, filmes e séries de TV violentos são inofensivos. Mas, é preciso tomar cuidado com relações que enxerguem no público um amontoado de teleguiados. Ou de seres facilmente programáveis por empresas todo-poderosas.
Críticas como essas foram muito comuns, por exemplo, na época em que as histórias em quadrinhos começaram a se tornar popular. As restrições a esse tipo de produção começou com Mussolini, mas foi adotada também nos Estados Unidos no Pós-Guerra.
O grande problema da condenação pura e simples de produtos como quadrinhos e videogames é ignorar seu apelo lúdico. Uma dimensão legítima e necessária da condição humana.
A indústria do videogame, como a do cinema e dos quadrinhos, somente faz sucesso duradouro quando atende a este apelo sem subestimar a inteligência de seu público-alvo. E é este erro que não podemos cometer ao fazer a crítica desse tipo de indústria. Acusá-la de manipular pura e simplesmente as pessoas pode ser entendido por estas como um menosprezo a sua capacidade crítica.
E isso só piora quando as críticas partem de quem não tem a menor familiaridade com o rico universo que abrange jogos, quadrinhos, seriados e cinema. Os encarregados de criar os elementos desse cosmo são artistas bem pagos, inteligentes, bem informados e muito criativos.
Ao mesmo tempo, a indústria sabe aproveitar as sugestões e idéias que surgem de ambientes virtuais que reúnem fãs e adeptos quase profissionais. Tal ambiente vem dando aos games cada vez mais complexidade, força dramática e qualidade artística.
O fato é que o sucesso dos jogos violentos deve-se muito mais ao ambiente social em que são criados. Seria cômodo dizer que são os games violentos que alimentam a violência. E seria fácil combater tais efeitos. Bastaria proibir sua circulação, como se tenta fazer com armas e drogas.
A ação dos games é mais sutil. Trata-se de reforçar uma lógica social de extrema competição individualista e discriminatória. Mas precisa fazer isso em meio a uma disputa de mercado. Por isso, as estratégias podem variar conforme o momento, o lugar do mercado e a faixa de público que se quer atingir. Daí, os inúmeros tipos de jogos e sua evolução ao longo do tempo.
Nada disso dispensa a necessidade de denunciar a lógica da indústria de games e das diversões em geral. Mas, é preciso fazê-lo unindo razão e sensibilidade de modo a respeitar a inteligência alheia. De preferência, contando com aliados que atuem nesse campo, que já vai se transformando em uma nova e poderosa “arte”.
Do contrário, seria como virar as costas ao cinema, ignorando produções que defenderam a necessidade de lutar por transformações sociais. Correríamos o risco de nos tornar não uma esquerda crítica, mas rabugenta e atrasada. Melhor dizendo, “sem noção!”
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