Por
Altamiro Borges, em seu blog

A
representante maior do latifúndio no país acusa Dom Tomás Balduino de ter
escrito um “texto rancoroso e eivado de fúria acusatória e caluniosa”. Diz
ainda que “a fé que professo não parece ser a mesma que a dele. As palavras que
me dirigiu não foram de um cristão. Minha fé não é a do ódio revolucionário,
que incita o conflito e trata como pecadores os que dele divergem
ideologicamente”. Kátia Abreu também faz citações bíblicas e se referência no
seu ídolo, o papa Bento 16. Ela até parece temer ser excomungada!
Mas o que
incomodou tanto a presidenta da CNA? Reproduzo abaixo o artigo de Dom Tomás
Balduino, um dos mais renomados nomes da Igreja Católica e expoente da Teologia
da Libertação.
*****
Apreensão
no campo
Eis o
quadro: o pequeno agricultor Juarez Vieira foi despejado de sua terra, em 2002,
no município tocantinense de Campos Lindos, por 15 policiais em manutenção de
posse acionada por Kátia Abreu. Juarez desfilou, sob a mira dos militares, com
sua mulher e seus dez filhos, em direção à periferia de alguma cidade.
O caso
acima não é isolado. O governador Siqueira Campos decretou de "utilidade
pública", em 1996, uma área de 105 mil hectares em Campos Lindos. Logo em
1999, uns fazendeiros foram aí contemplados com áreas de 1,2 mil hectares, por
R$ 8 o hectare. A lista dos felizardos fora preparada pela Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, presidida por Kátia Abreu
(PSD-TO), então deputada federal pelo ex-PFL.
O irmão
dela Luiz Alfredo Abreu conseguiu uma área do mesmo tamanho. Emiliano Botelho,
presidente da Companhia de Promoção Agrícola, ficou com 1,7 mil hectares.
Juarez não foi o único injustiçado. Do outro lado da cerca, ficaram várias
famílias expulsas das terras por elas ocupadas e trabalhadas havia 40 anos. Uma
descarada grilagem!
Campos
Lindos, antes realmente lindos, viraram uma triste monocultura de soja, com
total destruição do cerrado para o enriquecimento de uma pequena minoria. No
Mapa da Pobreza e Desigualdade divulgado em 2007, o município apareceu como o
mais pobre do país. Segundo o IBGE, 84% da população viviam na pobreza, dos
quais 62,4% em estado de indigência.
Outro
irmão da senadora Kátia Abreu, André Luiz Abreu, teve sua empresa envolvida na
exploração de trabalho escravo. A Superintendência Regional de Trabalho e
Emprego do Tocantins libertou, em áreas de eucaliptais e carvoarias de
propriedade dele, 56 pessoas vivendo em condições degradantes, no trabalho
exaustivo e na servidão por dívida.
Com os
povos indígenas do Brasil, Kátia Abreu, senadora pelo Estado do Tocantins e
presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), tem tido
uma raivosa e nefasta atuação.
Com
efeito, ela vem agindo junto ao governo federal para garantir que as
condicionantes impostas pelo Supremo no julgamento da demarcação da área
indígena Raposa Serra do Sol sejam estendidas, de qualquer forma, aos demais
procedimentos demarcatórios.
Com a
bancada ruralista, ela pressionou a Advocacia-Geral da União (AGU),
especialmente o ministro Luís Inácio Adams. Prova disso foi a audiência na AGU,
em novembro de 2011, na qual entregou, ao lado do senador Waldemir Moka
(PMDB-MS), documento propondo a criação de norma sobre a demarcação de terras
indígenas em todo o país.
O
ministro Luís Adams se deixou levar e assinou a desastrosa portaria nº 303, de
16/7/12. Kátia Abreu, ao tomar conhecimento desse ato, desabafou exultante:
"Com a nova portaria, o ministro Luís Adams mostrou sensibilidade e elevou
o campo brasileiro a um novo patamar de segurança jurídica".
Até mesmo
com relação à terra de posse imemorial do povo xavante de Marãiwatsèdè, ao
norte do Mato Grosso, que ganhou em todas as instâncias do Judiciário o
reconhecimento de que são terras indígenas, Kátia Abreu assinou nota, como
presidente da CNA, xingando os índios de "invasores".
Concluindo,
as lideranças camponesas e indígenas estão muito apreensivas com o estranho
poder econômico, político, classista, concentracionista e cruel detido por essa
mulher que, segundo dizem, está para ser ministra de Dilma Rousseff. E se
perguntam: "Não é isso o Poder do Mal?" No Evangelho, Jesus ensinou
aos discípulos a enfrentar o Poder do Mal, recomendando-lhes: "Esta
espécie de Poder só se enfrenta pela oração e pelo jejum" (Cf. Mt 17,21).
* Paulo
Balduino de Sousa Décio, o Dom Tomás Balduino, 90, mestre em teologia, é bispo
emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da
Terra.
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