terça-feira, 27 de março de 2012

Loucos e Santos (Oscar Wilde)

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Loucos e Santos (Oscar Wilde)

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

segunda-feira, 26 de março de 2012

Serra racha PSDB ao meio


Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

Saiu na Folha, que entende de Cerra como ninguém, a ponto de não registrar em cartório a promessa do Cerra de cumprir o mandato de prefeito até o fim.

Cerra ganhou as prévias no pescoço: teve 52% dos votos.

Rachou o partido ao meio.



Como sempre.

Como dizia o ACM, o Cerra não soma: divide.

O Farol de Alexandria saudou a vitória do pupilo como um “meio caminho andado”.

Frase que contém sabedoria que este ansioso blogueiro não consegue alcançar.

Depois da triunfal vitória – afinal, como dizia a Catanhêde, ele é o mais consistente -, o Padim Pade Cerra fez lapidar discurso em que anunciou a união das forças tucanas em São Paulo.

Sim, claro!

O Zé Anibal e o Tripoli não farão outra coisa a partir desta segunda-feira: vão se dedicar de corpo e alma à eleição do Cerra.

Cerra anunciou uma “dobradinha” com o Alckmin.

Me engana que eu gosto!

Na eleição do Kassab – herdeiro do Cerra, como o Cerra é do Farol de Alexandria -, o Cerra traiu o partido e mandou o Alckmin às favas.

O Alckmin não foi para o segundo turno e o Cerra ajudou a eleger o Kassab.

A partir desta segunda-feira, livre do Cerra, o Alckmin se dedicará à eleição do Cerra com entusiasmo só comparável ao do Zé Aníbal.

Cerra vai para a campanha com seu mais poderoso aliado: a impunidade que o PiG lhe confere.

Mas, terá que enfrentar o documento que assinou no papel timbrado da Folha, em que jurou de pés juntos que ia cumprir o mandato de prefeito.

Cerra se debaterá com o vídeo em que disse “se não cumprir o mandato de prefeito até o fim, jamais votem em mim, de novo”.

E, acima de tudo, terá que enfrentar o Amaury Ribeiro Junior, autor de livro – A Privataria Tucana – em que aparece como personagem principal da maior roubalheira de uma privatização na América Latina.

Livro que, até hoje, o PiG de São Paulo não percebeu que foi lançado.

E tem 150 mil exemplares vendidos e, breve, sairá numa edição popular, distribuída nas estações de metrô.

Será que o Cerra tem uma boa pinacoteca?

O De Sanctis gostaria de saber.

Por que ele não abre as portas da casa e mostra?

Todos os políticos de São Paulo deveriam fazer isso.

Conseguirá Cerra fazer uma campanha limpa?

Ou vai apelar para a calhordice, como fez com a Dilma, segundo a caracterização do Ciro Gomes?

Metade do PSDB não queria o Cerra.

Imagine fora do PSDB, amigo navegante!

*****

Em tempo do amigo navegante Sérgio:

Sérgio Santos


A primeira derrota de Zé Cerra.


Ao contrário do que muitos pensam, o pré-candidato tucano, Zé Cerra, perdeu as prévias do PSDB. Ganhou a esmagadora maioria silenciosa tucana que, envergonhadamente, não foi votar. Dos 20 mil aptos, somente 6 mil foram às urnas, dos quais pouco mais de 3 mil votaram em Cerra! Além disso, entre os votantes, Cerra teve 48% dos votos contrários.


Zé Anibal, que teve 31% dos votos, não declarou apoio explícito a Zé Cerra. E o Alckmin… bem, todos sabem o que ele pensa do Cerra. Que candidato pode sentir-se vitorioso numa prévia que rachou o partido e a maioria dos filiados não se manifestou?

A entrevista de Dilma na Veja


Por Altamiro Borges, em seu blog

Numa entrevista de dez páginas para a revista Veja desta semana, a presidenta Dilma Rousseff mostrou firmeza nas respostas. Ao mesmo tempo, ela tentou agradar os leitores desta revista direitista, insistindo na linha do “namorico com a mídia”. O esforço maior foi para demonstrar que as recentes derrotas no Congresso Nacional e a crescente rebelião na base aliada não abalaram o seu governo.


“Não há crise nenhuma. Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando se perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O parlamento não pode ser visto assim. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo”, garantiu a presidenta.

“Não vou transigir”

Dilma também insistiu na defesa da ética, o tema preferido da mídia falsamente moralista. "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá. Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo... Nenhuma pessoa que é chamada para o governo pode achar que haverá algum tipo de complacência. Nós temos de ser o mais avesso possível aos malfeitos. Não vou transigir”, afirmou.

A entrevista, realizada no Palácio do Planalto, durou duas horas e foi feita logo após a reunião da presidenta com 28 dos maiores empresários do país. “Dilma não estava nem um pouco tensa quando recebeu a equipe da Veja (Eurípedes Alcântara, diretor de redação, e os redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Junior e Thaís Oyama) na tarde de quinta-feira passada (22)”.

Linha branda na economia

E parece que ela agradou a equipe da revista. Num dos trechos, Dilma relata que defendeu a redução da carga tributária junto aos ricos empresários. “Ficamos todos de acordo que os impostos têm de cair, os investimentos privados e estatais têm de aumentar e o que precisar ser feito para elevar a produtividade da economia brasileira e sua competitividade externa será feito”.

Noutro trecho, também do agrado da Veja, a presidenta rejeitou qualquer medida mais dura de proteção à economia nacional. “Temos de agir nos defendendo, o que é algo bastante diferente de protecionismo... O protecionismo é uma maneira permanente de ver o mundo exterior como hostil, o que leva ao fechamento da economia. Isso nós não faremos”.

Os efeitos da entrevista exclusiva

A Veja se jactou da entrevista, que comprovaria a pluralidade e o prestígio da revista da famiglia Civita. Já Ricardo Noblat, ligado à famiglia Marinho, também tirou a sua casquinha: “Os blogueiros do PIG (Partido da Imprensa Governista) devem atravessar o fim de semana incomodados porque a presidente Dilma Rousseff concedeu entrevista exclusiva de duas horas à Veja – logo a quem? Ao veículo de comunicação mais acusado por eles de liderar o golpe mediático contra o PT, Lula e Dilma”.

Só o tempo dirá se os marqueteiros e os pragmáticos que cercam Dilma acertaram ao topar uma entrevista exclusiva como uma das publicações mais direitistas do país. Já os blogueiros ironizados por Noblat, que não esconde mais o seu lado, continuarão a criticar os erros, os recuos e as vacilações do atual governo e também as manobras do Partido da Imprensa Golpista, o autêntico PIG.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Fiasco da Folha na TV Cultura


Por Altamiro Borges, no seu blog

Apesar de toda a propaganda ufanista, a segunda edição do TV Folha, no último domingo (18), continuou registrando “traço” na sua audiência. Segundo a pesquisa do Ibope, mesmo com a presença do jogador Ronaldo e uma reportagem sobre pornografia, o programa marcou apenas 0,4 ponto – pior do que na sua estreia, quando também amargou a sexta colocação entre as tevês abertas.
No mesmo horário, o TV Folha perdeu feio para a combalida RedeTV!, que registrou 1,6 ponto no Ibope. A TV Globo liderou com 18,5 pontos contra 15,2 da Record, 8,8 do SBT e 2,2 da Band. Os leitores da Folha, porém, não souberam do fiasco. O jornal tem omitido os dados do Ibope sobre o programa e só divulga os resultados da pesquisa Datafolha, que pertence à mesma empresa.

A troca de gentilezas entre os tucanos

Como cutucou o blog de Luis Nassif, “os índices alcançados pelo TV Folha, anunciada como a esperança aos domingos da televisão aberta brasileira, devem estar causando constrangimento ao Grupo Folha, que controla o jornal Folha”. Em editoriais e colunas, a famiglia Frias sempre ironizou os índices de audiência da TV Brasil – transmitida pela televisão por assinatura. E agora, como fica?

Até o momento, o Grupo Folha não explicou direito como se deu a negociata com a TV Cultura para a concessão deste espaço no horário nobre. Segundo o jornal, em troca dos 30 minutos na tevê aberta, a Folha cede anúncios para a emissora pública. “A TV Cultura tem como ganhos um programa jornalístico de qualidade a custo zero, além de espaço de divulgação na Folha”, afirma a sua assessoria de imprensa.

TV Folha "já nasceu petulante"

Mas a gentileza entre os tucanos, que controlam a emissora, e o jornal tucano não convenceu ninguém. Até a ombudsman do diário, Suzana Singer, estranhou a falta de transparência no curioso acordo. Entre outras ponderações, ela pontuou a ausência de concorrência para definir os ocupantes do espaço e os riscos da terceirização de uma concessão pública.

Suzana também ironizou o “impulso de autopromoção” da Folha. “Sem nenhuma modéstia, a campanha publicitária do TV Folha decretou: o telespectador finalmente terá algo para ver nas noites de domingo... Para mostrar respeito pela inteligência do leitor, como prometeu na campanha publicitária, [o jornal] precisará ser duro com sua nova criação, que já nasceu petulante, desdenhando a concorrência”.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Globo e Folha têm medo da verdade


Por Altamiro Borges, em seu blog

Em editoriais ontem (19), que até parecem combinados, O Globo e Folha criticaram os setores de sociedade que pretendem, com a instalação da Comissão da Verdade, apurar os crimes da ditadura militar. Na avaliação dos dois jornais, que deram apoio ao golpe de 1964 e às barbáries do regime, não cabe analisar o passado – seja discutindo a Lei da Anistia ou a chacina no Araguaia.

O diário da família Marinho é mais descarado. No editorial “Sem vencidos e vencedores”, até suavizava os crimes da ditadura. “Os militares trataram de manter, mesmo que só formalmente, ritos da democracia representativa... Prendia-se por motivos políticos, cassavam-se vereadores, deputados, senadores, ministros do Supremo, mas procurava-se manter um lustro de ‘democracia’”.

Jornal compara algozes com vítimas
Essa singularidade, segundo o jornal, resultou no “perdão recíproco, dos agentes envolvidos na repressão e participantes da luta armada. Uma fieira de crimes foi cometida por ambos os lados naquela guerra suja e, muitas vezes, subterrânea”. O Globo, na maior caradura, compara os torturadores com os torturados e os golpistas com os democratas que resistiram à ditadura.

Com base nesta leitura histórica, o jornal conclui que “não se sustenta a campanha que volta a ganhar força, com a proximidade da indicação dos nomes da Comissão da Verdade, para a punição de militares, policiais, agentes de segurança em geral que atuaram nos porões da repressão... Do ponto de vista da Lei de Anistia, a verdade é que não houve vencidos nem vencedores”.

Frias decreta o fim da polêmica

Já Folha, que sempre posa de eclética para enganar os mais ingênuos, foi mais marota no editorial intitulado “Respeito à Anistia”. Ela não suaviza nas críticas à ditadura, evitando usar novamente o termo “ditabranda”. Mas, na prática, defende a mesma tese do jornal carioca e tenta se amparar na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento de 2010, sobre a lei da anistia.

“O Supremo encerrou de vez, para o bem da sociedade, toda polêmica sobre o alcance da anistia”. Portanto, decreta a Folha, não cabe à Comissão da Verdade reabrir este debate. O jornal também critica o Ministério Público Federal que pediu a reabertura do caso sobre o coronel da reserva Sebastião Curió, o carrasco acusado de vários assassinatos na Guerrilha do Araguaia.

O temor da Comissão da Verdade

Para o jornal, o pedido da Justiça Federal “tensiona o ambiente já dificultoso para instalação da Comissão da Verdade. O escopo da comissão é dar acesso a documentos do período de 1946 a 1988 para clarear o registro histórico. Não se deve sacrificar esse objetivo maior, ainda que a pretexto de repudiar crimes contra direitos humanos que a Lei da Anistia tornou página virada”.

Os editoriais dos jornais O Globo e Folha, além de patéticos, revelam o temor das famiglias Marinho e Frias com a reabertura dos debates sobre os crimes cometidos pela ditadura militar. Afinal, ambas as empresas jornalísticas apoiaram os golpistas. A Folha até cedeu seus veículos para o transporte de presos políticos para a tortura. Já Roberto Marinho costumava frequentar o Dops.

Rabo preso com a ditadura

No facebook, o dirigente petista Renato Simões foi rápido na resposta. “A Folha lança manifesto em legítima defesa de ré confessa de colaboração com os crimes da ditadura. O editorial é um libelo em causa própria, da Folha e de todos os meios de comunicação e outras empresas privadas que financiaram e defenderam a tortura e as violações de direitos humanos durante a ditadura”.

“Cláusula pétrea da impunidade, a ilegítima lei de anistia autoconcedida pelos militares no começo do declínio de seu regime é invocada pela Folha e pelos cúmplices dos Curiós da vida, frequentadores dos porões dos Doi-Codis e outros centros de repressão e tortura sempre que a verdade começa a vir à tona. Mais uma prova do rabo preso da Folha com o regime militar, e mais uma prova da urgência e necessidade históricas da instalação da Comissão da Verdade”.

terça-feira, 20 de março de 2012

E se fosse a CartaCapital na TV Brasil?


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Na mesma semana em que a Folha de São Paulo repercutiu em suas páginas, em tom de denúncia, um contrato de publicidade por prazo determinado celebrado entre um banco controlado pelo governo federal e um dos blogs políticos mais conhecidos do Brasil, o jornal foi premiado pelo governo de São Paulo com um programa no horário mais nobre da TV brasileira, o das noites de domingo, e bem na emissora pública paulista, a TV Cultura.
Entre as poucas reações que se viu a negócio da natureza do que foi firmado entre a emissora pública paulista e uma empresa de comunicação privada que há anos vem sendo acusada de tomar partido do PSDB paulista e do governo de São Paulo ao praticamente não cobrir a gestão do Estado nos últimos quase vinte anos, sobressaiu a do jornalista e proprietário da revista CartaCapital, Mino Carta, em artigo do qual reproduzo trechos.

*****

– (…) Sou informado a respeito do nascimento de uma TV Folha. Triunfa nas páginas 2 e 3 da Folha de S.Paulo a certidão do evento, a prometer uma nova opção para as noites de domingo na tevê (…)

– (…) A tevê pública paulista acaba de oferecer espaço não somente à Folha, mas também a Estadão, Valor e Veja. (…) Só o jornal da família Frias aproveitou a oportunidade (…)

– (…) Tucanagens similares já foram cometidas em diversas oportunidades nos últimos anos, uma delas em 2010, o ano eleitoral que viu José Serra candidato à Presidência da República. Ainda governador, antes da desincompatibilização, Serra fechou ricos contratos de assinatura dos jornalões (…) Do volumoso pacote não constava obviamente CartaCapital, assim como somos excluídos do recente convite da Cultura (…)

– (…) Volta e meia, CartaCapital é apontada como revista chapa-branca, simplesmente porque apoiou a candidatura de Lula e Dilma Rousseff à Presidência da República. (…) Há quem se abale até a contar os anúncios governistas nas páginas de Carta Capital, e esqueça de computar aqueles saídos nas demais publicações (…)

– (…) Fomos boicotados durante os dois mandatos de Fernando Henrique e nem sempre contamos com o trato isonômico dos adversários que tomaram seu lugar. (…) E nem por isso arrefecemos no alerta perene do espírito crítico. (…) Quanto ao Partido dos Trabalhadores, jamais fugimos da constatação de que no poder portou-se como os demais. (…)

– (…) No mais, desta vez dirijo minha pergunta aos leitores em lugar dos meus botões: qual é a mídia chapa-branca?


*****

Então surgem os questionamentos que não estão sendo feitos, ainda que o jornal, como diz Mino Carta, tenha se “abalado” a dar explicações que não lhe foram pedidas até agora por aqueles que deveriam zelar pela preservação do interesse público sobre ativos estatais como é a emissora pública de São Paulo, que, por ser “fundacional” (como bem observa um leitor), está sob fiscalização do Ministério Público Estadual de São Paulo.

Apesar da falta de ímpeto do MPE-SP, a ombudsman do Jornal Folha de São Paulo, neste domingo, oferece explicações. E em tom crítico. Reproduzo, abaixo, coluna de Suzana Singer de 18 de março de 2012

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Folha ‘descobre’ vida inteligente na TV

18/03/12

Suzana Singer

Jornal precisa segurar o impulso de autopromoção e ser transparente ao tratar do seu programa na Cultura

Sem nenhuma modéstia, a campanha publicitária do “TV Folha”, que invadiu até as sagradas páginas de opinião do jornal, decretou: o telespectador finalmente terá algo para ver nas noites de domingo.

Ainda é cedo para dizer se a promessa foi cumprida ou se cabe procurar o Procon. Uma estreia é pouco até para avaliar um restaurante.

Mas o que já ficou claro é que o “TV Folha” tenta se diferenciar dos outros telejornais: não tem âncora alinhavando as reportagens, os colunistas aparecem “descontraídos”, a edição busca uma linguagem de documentário e o tom é de crítica -sobrou até para o Chico Buarque.

O primeiro programa começou com um assunto velho, a ação policial na cracolândia, que aconteceu há dois meses, mas serviu de recado aos que acreditam que a Folha, ao usar um espaço da TV Cultura, engatou um namoro com o governo do Estado. A tese da reportagem era que a operação, ineficaz no combate ao problema dos viciados em drogas, visava às eleições.

Louvável, a independência editorial não é suficiente para encerrar a discussão sobre a validade dessa parceria, em que uma empresa privada explora espaço de uma emissora pública.

O jornal não explicou direito as bases desse acordo. Trata-se de uma permuta: em troca dos 30 minutos na televisão, a Folha cede páginas de anúncios para a Cultura. As despesas do “TV Folha” são do jornal, mas são compensadas pela receita publicitária. “A TV Cultura tem como ganhos um programa jornalístico de qualidade a custo zero, além de espaço de divulgação na Folha”, diz a assessoria de imprensa da emissora.

Não houve concorrência, mas a Folha não foi a única convidada. “Não cabe licitação, porque todos os grandes jornais de São Paulo foram chamados em condições de igualdade”, diz a Cultura. Segundo a emissora, o programa do “Estado de S. Paulo” deve estrear no segundo semestre, o “Valor” ainda não apresentou uma proposta e a revista “Veja” desistiu.

A Secretaria de Redação diz que considera válida a terceirização de espaço em emissora pública, desde que seja um recurso para “melhorar e diversificar a programação”.

A audiência da estreia mostrou que “melhorar” a televisão não é fácil. Mesmo com tanta propaganda, o programa obteve 1 ponto no Ibope, um aumento de 0,3 em relação ao da semana anterior (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo).

O modesto crescimento e a “boa receptividade do público” foram alardeados numa série de pseudorreportagens autopromocionais, que chamavam de “pesquisas Datafolha” sondagens feitas com um número pífio de participantes. Só um texto crítico foi publicado, sob a vinheta “não gostei”, na “Ilustrada”.

“Está exagerado, querem nos convencer de que o programa foi um sucesso. Mas isso tem que ser feito com conteúdo, não com essa espécie de merchandising”, reclamou o leitor Robinson Alves, 28, curador.

O jornal, que noticia com destaque cada perda de audiência da Rede Globo, será submetido agora a um teste de transparência. Para mostrar respeito pela inteligência do leitor, como prometeu na campanha publicitária do “TV Folha”, precisará ser duro com a sua nova criação, que já nasceu petulante, desdenhando a concorrência.


*****

Assisti ao programa e ao fim do post ofereço ao leitor a sua íntegra em vídeo (em três partes). Minha opinião: foi bem feito, isento, como deveria ser. Estaria tudo bem, caso fosse prática da própria Folha e da grande imprensa em geral tratar com olhos de ver, e sem ilações maldosas, uma parceria entre o poder público e o jornalismo privado? Nesse caso, penso que não.

Busque-se na Folha o que diz sobre a TV Brasil, as suposições acusatórias que esse jornal e os outros veículos contemplados pela extrema generosidade do governo paulista sempre fizeram em relação à emissora pública do governo federal – inclusive quanto à audiência, como diz a ombudsman ao lembrar a audiência pífia que teve o primeiro TV Folha – e, por fim, verifique-se se a TV Brasil, alguma vez, foi menos crítica com o governo federal ou se foi mais crítica do que deveria com os governos controlados pela oposição. Garanto que não se encontrará uma só diferença.

Pelo contrário: a TV Brasil é criticada com freqüência, por setores da militância petista, por não ser usada no jogo político em prol do governo federal.

É por isso que sempre digo que acho corretíssimo que emissoras públicas não sirvam, de maneira alguma, de instrumentos políticos, pois hoje quem controla um desses veículos é o partido que você apóia, mas, amanhã, pode ser controlada por aquele ao qual você se opõe, sendo, portanto, a medida ideal aquela em que uma emissora pública, nesse âmbito, seja usada para fazer apenas jornalismo. E não qualquer jornalismo, mas um jornalismo exemplar.

Prova disso foi a disposição da TV Brasil, recentemente, de pedir desculpas públicas por matéria sobre a invasão do bairro Pinheirinho que repercutira informações veiculadas primeiro pelo UOL, do Grupo Folha, de que havia denúncias de mortos naquela operação policial, informação que ainda não foi confirmada.

Detalhe: a TV Brasil fez isso mesmo após o presidente da EBC, Nelson Breve, ter sido alvo da fúria de um blogueiro da Veja ligado ao PSDB, que partiu para cima dele acusando-o de atuar em prol do governo a que serve.

É óbvio, portanto, que a Folha não faria diferente logo no programa de estréia. Tal seria se o primeiro uso do presentaço que ganhou do governo de São Paulo fosse para agraciá-lo ou até para não lhe fazer alguma crítica. A isenção do primeiro TV Folha foi uma espécie de “vacina” contra questionamentos que sobreviriam.

E assim foi por uma razão muito simples, da qual o texto da ombudsman dá pistas: a concessão do horário nobilíssimo para a Folha foi um péssimo negócio para a TV Cultura. Segundo Suzana Singer, o presentão decorreu de “Uma permuta: em troca dos 30 minutos na televisão, a Folha cede páginas de anúncios para a Cultura”.

Que negócio da China, hein! Dá a entender que o jornalão, que tem (bem) menos de 300 mil assinantes (incluídos, aí, aqueles que recebem o jornal em casa sem pedir e de graça), fará publicidade para um tipo de meio de comunicação que certamente tem muito mais de 300 mil domicílios de audiência.

Ou alguém acha que uma TV como a Cultura, que tem décadas de visibilidade, precisa que um jornal diga que ela existe? Existirá um só paulista que não conhece a TV Cultura? Quanto custa tanto tempo de publicidade no horário mais nobre da TV Brasileira e quanto custarão os anúncios “gratuitos” da emissora no jornal?

Aliás, a programação da emissora já consta de cada edição da Folha, que é muito bem paga por isso pelo governo de São Paulo, que também lhe compra milhares e milhares de exemplares do jornal impresso.

Esse horário extenso que a TV Cultura concedeu a jornais e a uma revista que dificilmente fazem críticas ao governo que controla essa emissora pública enquanto se dedicam a fuzilar os adversários desse mesmo governo custa muito mais do que anúncios em papel-jornal, mas quem deveria notar isso não deu um pio.

Se a contratação pela TV Brasil de um jornalista renomado – e ex-membro do conselho editorial da Folha – como Luis Nassif foi alvo de fuzilaria da Folha, apesar de os valores envolvidos na contratação serem muito mais explicáveis do que a doação do mais nobre horário da televisão brasileira ao jornal, que diria esse jornal se a emissora do governo federal fizesse semelhante acordo com a Carta Capital e, ainda, sem a mesma licitação que ele criticou por não ter existido na contratação daquele jornalista?

Barão solicita espaço na TV Cultura


Do sítio do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé:

A entidade encaminhou nesta segunda-feira, 19 de março, ofício ao presidente-diretor da Fundação Padre Anchieta solicitando audiência para discutir a abertura de editais com o objetivo de selecionar programas para a emissora. O Centro de Estudos Barão de Itararé já manifestou interesse em participar do processo seletivo.
O ofício reitera que “é missão inalienável da TV pública garantir a diversidade e a pluralidade informativa e cultural, abordando temas de interesse social e local, garantindo a projeção da comunidade em que está inserida para dar visibilidade a questões que, na maioria das vezes, não têm espaço nos veículos comerciais”.

É neste sentido que se insere o pedido do Barão de Itararé: garantir espaços na programação da TV Cultura “para a produção independente proveniente das experiência de grupos sociais”.

Transparência e participação social

No ofício encaminhado pelo Barão de Itararé, a entidade solicita que a Fundação Padre Anchieta adote critérios transparentes para abrir espaços na sua programação à produção independente. “As entidades/movimentos/produtoras interessadas – entres as quais o Barão de Itararé já se apresenta –, que manifestarem interesse, poderiam pleitear um espaço na programação da emissora, a ser concedido a partir de métodos e critérios transparentes. O Barão e estas entidades seriam inscritas por edital público e a seleção dos programas apresentados seria feita através de pitching”.

A iniciativa foi debatida durante reunião realizada em São Paulo com outras organizações, blogueiros e jornalistas e faz parte de uma série de medidas de uma campanha em defesa do caráter público da TV Cultura.

Privataria da Cultura

A solicitação feita pelo Barão de Itararé vai no sentido oposto das recentes negociações entre a Fundação Padre Anchieta e empresas de comunicação paulistas, entre as quais a Folha de S.Paulo – que já estreiou programa na emissora – a, Estadão, Valor Econômico e Veja que foram feitas sem transparência e afrontando o caráter público da TV Cultura.

“A cessão de espaços na grade da programação da TV Cultura para empresas de comunicação privadas como a Folha é um desrespeito ao caráter público da emissora que é um patrimônio do povo paulista. E, infelizmente, esta é apenas mais uma das várias medidas que os governos tucanos vêem adotado para desmontar a TV, dilapidar seu patrimônio e descaracterizar sua missão. O que eles vinham fazendo de forma disfarçada agora está sendo feito escancaradamente: a privatização da TV Cultura”, afirma Renata Mielli, secretária geral do Centro de Estudos Barão de Itararé.

Por isso, várias organizações de luta pela democratização da comunicação, blogueiros, jornalistas, intelectuais e movimentos sociais paulistas estão lançando a campanha contra a Privataria da Cultura.

A campanha está organizando um ato político em defesa da Cultura e lançando um manifesto no qual denuncia as principais investidas tucanas contra a emissora e enumera algumas reivindicações.

A reunião que organizou a campanha contou com a presença do Centro de Estudos Barão de Itararé, da Altercom, Intervozes, dos jornalistas Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha, Rodrigo Vianna, Gilberto Maringoni, do professor Laurindo Lalo Leal Filho, do diretor da Carta Maior, Joaquim Palhares e do diretor da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco.

No manifesto as entidades denunciam:

- mais de mil demissões;

- extinção de programas (Zoom, Grandes Momentos do Esporte, Vitrine, Entrelinhas, Cultura Retrô, Login) e tentativa de extinção do Manos e minas;

- aniquilação das equipes da Rádio Cultura e estrangulamento da equipe de jornalismo;

- enfraquecimento da produção própria de conteúdo, inclusive dos infantis;

- entrega, sem critérios públicos, de horários na programação para meios de comunicação privados;

- cancelamento de contratos de prestação de serviços (TV Justiça, Assembleia e outros);

- doação da pinacoteca e biblioteca;

- extinção da cenografia, venda de equipamentos e venda da frota de veículos.

A TV e as rádios Cultura estão passando por um processo de desmonte e privatização, com a degradação de seu caráter público. Não podemos deixar esse patrimônio do povo de São Paulo ser dilapidado, vítima de sucateamento promovido por sucessivas gestões sem compromisso com o interesse público, seriamente agravado na gestão Sayad.

Em nome da afirmação de seu caráter público, as entidades se manifestam:

- contra o desmonte geral da rádio e TV Cultura e pela retomada dos programas;

- em defesa do pluralismo e da diversidade na programação;

- por uma política transparente e democrática para abertura à programação independente, com realização de pitchings e editais;

- pela democratização do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.

sábado, 17 de março de 2012

José Serra pensa que o nome do Brasil é Estados Unidos. Que vergonha

Direito de resposta não é censura


Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

"É censura, é censura", saíram gritando todos ao mesmo tempo os blogueiros amestrados do Instituto Millenium (entidade criada pelos velhos donos da mídia para defender seus interesses em nome da liberdade de expressão), assim que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou na tarde de quarta-feira o projeto que regulamenta o direito de resposta na imprensa.

Querem deliberadamente confundir a opinião pública para defender seus privilégios e a impunidade dos crimes que cometem contra a "honra, intimidade, reputação, conceito, nome, marca ou imagem", como está previsto no texto do projeto aprovado no Senado, que agora deve seguir para a Câmara.

Censura é proibir previamente algum veículo de publicar determinada notícia. O projeto não proíbe ninguém de coisa alguma. Ao contrário, estabelece regras para a publicação do outro lado da notícia, após a sua divulgação.

Direito de resposta é uma conquista democrática para que as pessoas ou entidades que se sintam ofendidas por determinado veículo de imprensa possam recorrer à Justiça e haja prazos determinados para a reparação dos danos causados pela publicação.

Desde a revogação da Lei de Imprensa pelo Supremo Tribunal Federal, em 2009, uma providência defendida por todos os democratas, a verdade é que não foram definidas outras regras para a aplicação do direito de resposta previsto na Constituição Federal.

A comunicação social virou uma terra de ninguém, em que conceder ou não o direito de resposta depende da boa vontade dos editores, e a Justiça, quando acionada, sem prazos a respeitar, demora uma eternidade para decidir, muitas vezes quando o ofendido já não está mais entre nós.

Agora, o projeto aprovado no Senado concede 60 dias após a publicação da matéria para apresentarmos o pedido de direito de resposta; o veículo de imprensa tem sete dias para responder e, se não aceitá-lo, a Justiça será acionada, tendo 30 dias para decidir sobre a ação.

Desta forma, a sociedade democrática conquistou o direito de se defender dos abusos do poder ilimitado da imprensa. Esta regra já existe há séculos e é respeitada nos países civilizados, sem qualquer ameaça à liberdade de expressão.

Como jornalista, que começou a trabalhar em 1964, o ano do golpe, sempre lutei pela liberdade de imprensa, desde os tempos em que este direito não existia no país, e os mesmos veículos que hoje falam em nome dela no Instituto Millenium apoiavam o regime militar que instituiu a censura prévia no Brasil.

O que não posso defender é a impunidade de assassinos de reputações, veículos e jornalistas que se aproveitam destes tempos de plena liberdade para desrespeitar diariamente os princípios básicos da profissão e a honra alheia.

domingo, 11 de março de 2012

Até senador da República tem escravos no Brasil. Cadê a PEC do trabalho escravo?


Por Leonardo Sakamoto, no site consciencia.net

Por 7 votos a 3, o Supremo Tribunal Federal decidiu, nesta quinta (23), que o senador João Ribeiro (PR-TO) deve ser réu em um processo que o acusa de ter utilizado trabalho análogo ao de escravo na fazenda Ouro Verde, em Piçarra (PA), em fevereiro de 2004. Reeleito para ser um dos representantes do Estado do Tocantins com 375 mil votos, ele é provável candidato à cadeira de governador do Estado nas eleições de 2014 e vem dialogando, inclusive, com movimentos sociais.

A ação que retirou os 35 trabalhadores envolveu o Ministério do Trabalha e Emprego (MTE), o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal. Estavam em alojamentos precários feitos com folhas de palmeiras e sem acesso a sanitários. De acordo com o MTE, como a fazenda é distante da zona urbana, os trabalhadores eram obrigados a comprar alimentação na cantina do “gato” (contratador de mão-de-obra) da fazenda, com preços bem acima da média, ficando presos a uma dívida fraudulenta. Também eram cobrados pela utilização de equipamentos de proteção individuais (EPIs), cuja distribuição deve ser garantida sem custos pelo empregador.

De acordo com Humberto Célio Pereira, auditor fiscal do trabalho e coordenador da ação que retirou as pessoas da fazenda do senador, a situação de moradia e saneamento eram degradantes. “Eles eram obrigados a comprar na própria fazenda equipamentos de trabalho e proteção, como botina, chapéu e luva [que pela lei devem ser fornecidos sem custo pelo empregador], além de terem seus documentos retidos, caracterizando condições análogas a de escravidão”. Os empregados (entre eles, um jovem com menos de 18 anos de idade) preparavam a área para a atividade pecuária.

Venho acompanhando o caso a partir da operação de libertação em 2004. Desde então, o senador já figurou na “lista suja” do trabalho escravo – cadastro de empregadores flagrados ao utilizar esse tipo de mão-de-obra, gerenciado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Com isso, teve bloqueado acesso a recursos de instituições públicas de financiamento e sofreu boicote de empresas signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo.

Além disso, foi condenado na Justiça do Trabalho – decisão que foi confirmada pelo Tribunal Regional do Trabalho e, depois, em dezembro de 2010, pela 4a Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em primeira instância, a indenização que devia pagar foi fixada em R$ 760 mil, depois reduzida a R$ 76 mil na segunda instância.

Na época da decisão do TST, a assessoria parlamentar do senador divulgou nota afirmando que o Tribunal havia confirmado a “inocência de João Ribeiro” no caso, o que não condiz com a realidade. O acórdão da decisão do TST reiterou a caracterização do trabalho escravo análogo à escravidão e confirmou o envolvimento do político, condenado inclusive a pagar indenização por danos morais.

O que ocorreu, segundo matéria divulgada pela Repórter Brasil, é que o colegiado da 4ª Turma do TST decidiu, por unanimidade, não reconhecer o recurso do Ministério Público do Trabalho contra a decisão anterior do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região por um simples motivo: para os ministros, as reivindicações dos procuradores do trabalho – basicamente a confirmação da ocorrência do trabalho análogo à escravidão e a responsabilização do senador – já estavam presentes na decisão proferida pelo órgão regional.

“Com isso, agiganta-se a inocuidade do registro ali lavrado de que a Turma, por sua maioria, considerara inexistente o trabalho escravo, visto que efetivamente o considerara existente, não na modalidade do trabalho forçado e sim na modalidade do trabalho degradante, a partir da qual foram excluídas da sanção jurídica certas obrigações impostas ao recorrido”, diz o acórdão. O recurso do MPT queria contestar alguns pontos da decisão tomada pelo TRT-8 no Pará em 2006, principalmente a redução da indenização a 10% dos seu valor estipulado em primeiro instância.

Além do processo trabalhista, João Ribeiro foi denunciado, em junho de 2004, pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de redução de pessoas à condição análoga à escravidão, negação de direitos trabalhistas e aliciamento ilegal. Juntas, as penas podem somar até 13 anos de prisão. Por causa do foro privilegiado do parlamentar, a decisão sobre torná-lo ou não réu foi do STF. Segundo Fonteles, a repugnante e arcaica forma de escravidão por dívidas foi o meio empregado pelos denunciados para impedir os trabalhadores de se desligarem do serviço”.

Também denunciado no caso, Osvaldo Brito Filho se apresentou como gerente da fazenda e foi apontado pelos depoimentos como “gato” (contratador de mão-de-obra). Para a fiscalizacão, admitiu atuar como assessor parlamentar do senador. Há registros da contratação dele como funcionário da Câmara dos Deputados de 1995 a 2002, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo na época. Durante a operação, auditores fiscais fizeram questão de registrá-lo em carteira como administrador da fazenda Ouro Verde.

Ao se referir, em discurso na tribuna do Senado, em 2004, a um outro caso de proprietário autuado por trabalho escravo no Tocantins, Ribeiro afirmou: “Senhores fiscais do trabalho, complacência para com aqueles homens rudes do campo que ainda não se adaptaram aos novos tempos”.

Ribeiro disse também “Que as autoridades responsáveis pelo cumprimento das leis que elaboramos e defendemos intransigentemente no Senado da República, sobre o ótimo relacionamento entre capital e trabalho, se questionem sobre a postura que seus agentes têm adotado na apuração de supostas denúncias sobre a prática de trabalho escravo, para que não se repitam atos desesperados que, por fim, tirem a vida de homens trabalhadores”. Por fim, pediu “Que se multe, que se execute o que estiver errado, mas não da forma agressiva como estão fazendo, humilhando sorrateiramente os que trabalham. O setor que deu certo neste país”.

No requerimento enviado à Procuradoria Geral da República, o senador alegou que as condições de higiene precárias encontradas nos alojamentos de sua fazenda não eram diferentes da realidade do município. Ele contestou também minuciosamente cada aspecto da denúncia usando os depoimentos dos próprios trabalhadores. Sustentou que nenhum fala sobre armas na fazenda que poderiam ser usadas para coagir os trabalhadores. Disse que eles não eram obrigados a pernoitar e poderiam ir e voltar à pé da cidade. Apontou que os depoimentos indicam uma jornada de trabalho normal, consideradas as horas extras legalmente permitidas. Garantiu que a comida fornecida gratuitamente não era ruim e os trabalhadores não eram obrigados a comprar na venda, tanto que as despesas pendentes eram menores que o salário diário dos trabalhadores.

O requerimento sugeriu ainda que há uma indústria da denúncia de trabalho escravo beneficiando trabalhadores com indenizações e seguro-desemprego. Acusou o grupo de fiscalização de “certa dose de má-fé ou de ausência de conhecimento” ao não descontar das pendências de pagamento os valores dos adiantamentos feitos na contratação. “As declarações dos trabalhadores qualificados com escravos pelo Ministério do Trabalho, quando contrárias ao empregador, devem ser analisadas com moderação e cautela redobrada, porque uma sutil mudança em suas declarações (espontânea ou provocada por alguém) poderá colocá-los numa situação financeira extremamente vantajosa, ainda que isso represente a incriminação do empregador”, afirmou.

Em janeiro deste ano, o senador se reuniu com representantes de movimentos sociais no Tocantins, encontro intermediado por membros do PT. O objetivo era discutir o desenvolvimento no Estado. De acordo com o portal Conexão Tocantins, estavam representados o MST, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entre outros. Na reunião, ele teria se defendido das acusações de trabalho escravo em sua fazenda.

Na avaliação de um membro de uma importante organização social, crítico à reunião, o encontro foi ruim para os movimentos e bom para a imagem de João Ribeiro.

Segundo ele, parte dos movimentos ligados à terra acreditam que João Ribeiro pode ser o próximo governador do Tocantins e, por isso, é preciso diálogo. Até porque há uma potencial candidatura forte que é a da senadora pelo PSD e atual presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Kátia Abreu. Além disso, a justificativa corrente foi de que a reunião teria servido apenas afirmar que a sociedade não aceitaria certas movimetações para retirar técnicos de cargos no Estado para a colocação de indicados de políticos.

Agora terão que analisar se o diálogo ainda é o mesmo com um réu por trabalho escravo no Supremo Tribunal Federal.

Em tempo: Votaram pela rejeição da denúncia os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e José Dias Toffoli – o mesmo Toffoli que, quando Advogado Geral da União, era o responsável por defender as fiscalizações de trabalho análogo ao de escravo do Ministério do Trabalho e Emprego, tendo feito um bom trabalho nesse sentido. Como bem lembrou um amigo, nessas horas vale a pena lembrar de Cícero (em latim mesmo, para não ofender ninguém): O tempora, o mores.

Com informações da Repórter Brasil e da Agência Carta Maior

Alemanha, o passado e o presente

Por Rui Paz, no sítio português O Diário:


Há mais de vinte anos que o grande capital alemão anda a rever a História, a criminalizar as vítimas da opressão nazi e as forças que mais lhe resistiram, como a URSS, os comunistas e o movimento operário. Durante 45 anos, a Alemanha Federal esteve sob controlo dos seus aliados militares. Os laços, que sempre ligaram o capital monopolista ao regime hitleriano, derrotado em 1945, estão bem visíveis não só nas dinastias de industriais e banqueiros que transitaram do nazismo para a República Federal mas também no elevado número de altos dirigentes do Estado que fizeram carreira em ambos os regimes. Recordar algumas dessas figuras mais significativas é importante para se compreender a nova vaga de ataques aos direitos do trabalhadores e de desrespeito pela soberania dos povos desencadeada por Berlim desde a chamada «unificação».

O primeiro presidente da República da Alemanha, Theodor Heuss, foi um dos deputados que a 23 de Março de 1933 votou no Reichstag a lei que deu a Hitler plenos poderes (Ermächtigunsgesetz). O seu sucessor será Heinrich Lübke, construtor de campos de concentração e de centros de trabalho escravo no III Reich. Após um curto interregno, seguir-se-ão Walter Schell e Karl Carstens, ambos antigos membros do partido de Hitler, o NSDAP. Kurt Georg Kiesinger, membro do partido nazi desde Fevereiro de 1933 será chanceler da Alemanha entre 1966 e 1969.

A subida de Hans Globke ao cargo de secretário de Estado da chancelaria de 1953 a 1963 veio demonstrar não haver limites para a recuperação de nazis pelo regime de Adenauer. Globke foi o comentador oficial das leis racistas de Nuremberga, cuja finalidade era a defesa da pureza do sangue e da superioridade da raça ariana. Enquanto nazis ocupavam cada vez mais importantes funções políticas, o governo de Bona ilegalizava em 1956 o Partido Comunista Alemão (KPD) e desencadeava uma nova vaga de perseguições contra os comunistas.

Um Estado como a Alemanha Federal, fundado sob a protecção militar da NATO por «democratas» que serviram um regime de terror, reflectirá forçosamente na sua doutrina e comportamento princípios avessos à igualdade de direitos e ao respeito pela soberania dos povos.

Se lançarmos um olhar muito breve sobre a Alemanha de hoje o que verificamos? Tribunais que proíbem greves, como aconteceu nestes dias com os controladores aéreos no aeroporto de Frankfurt. Serviços secretos que espionam ideologicamente milhares de cidadãos e registam em ficheiros as suas convicções políticas. Anticomunismo de Estado visando criminalizar as forças que procuram alternativas para o capitalismo e novos caminhos para uma sociedade mais justa e mais democrática. Promiscuidade entre os serviços secretos e organizações terroristas de extrema-direita, permitindo, durante mais de dez anos, o assassínio impune de estrangeiros e a prática de atentados racistas. Dois presidentes da República demitidos, no espaço de ano e meio, o primeiro por ter confirmado que as tropas alemãs no Afeganistão defendem os interesses económicos da Alemanha e o segundo, possuidor de uma infinidade de «amigos» empresários prestadores de tais favores que o Ministério Público se viu obrigado a intervir. Mas a surpresa não será menor face à decisão do «partido único europeu da Alemanha», constituído pela CDU, SPD, Liberais e Verdes, de escolher como candidato conjunto a presidente da República um pastor protestante, visceralmente anticomunista.

É nos momentos de crise do sistema capitalista que a verdadeira natureza reaccionária, obscurantista e de classe dos estados imperialistas se revela.

Os dopados do Big Brother de Israel


Do sítio Opera Mundi:


A versão israelense do "Big Brother" será alvo de debate na próxima semana no Parlamento (Knesset) e investigada por uma comissão especializada da Autoridade de Rádio e Televisão, após um jornal ter revelado que alguns de seus participantes foram medicados com remédios psiquiátricos.

O escândalo, publicado pelo jornal Yedioth Ahronoth, surgiu há poucos dias pelas denúncias de participantes de edições anteriores. "Brincaram com nosso cérebro", disse um deles sobre os tratamentos que receberam em segredo quando entravam no confessionário. Ali, ao reclamarem que não aguentavam mais e que queriam sair do programa, o Big Brother os encaminhava a um psiquiatra que "receitava remédios psiquiátricos", afirmou o jornal.

"O que vocês viram ali era uma pessoa drogada, induzida e presa", declarou sobre si mesmo Sa'ar Sheinfein, participante da segunda temporada que tomou remédios para casos extremos.

Sheinfein indicou que "as pessoas que assistem ao Big Brother acreditam que estão vendo a realidade e com suas mensagens SMS votam em candidatos robotizados".

Outros candidatos confirmaram ao Yedioth Ahronoth que foram obrigados a assinar um contrato pelo qual se comprometeram a tomar os remédios receitados pelo psiquiatra, um conhecido médico de famosos e que no ano passado esteve envolvido em outro escândalo.

A Autoridade de Rádio e Televisão israelense abriu expediente de investigação contra os produtores por supostas irregularidades e violação do código de ética, apesar de estes desmentirem as acusações.

O escândalo chegará na próxima semana ao Parlamento em um debate especial sobre este e outros programas similares, uma febre entre jovens e adultos israelenses que veem neles uma forma fácil de se tornarem famosos. A Knesset analisará ainda se esse tipo de programa, que possui orçamentos milionários, representa uma fraude contra o telespectador.

Há anos, os produtores do "Survival" local tiveram de reconhecer publicamente, por causa de uma fotografia nas páginas dos jornais, que o programa não era gravado em nenhuma ilha deserta, mas em uma enseada próxima a um conhecido centro turístico da América Central.

sábado, 10 de março de 2012

Cidade na Espanha vai cultivar maconha para saldar dívida


Por Redação, do sítio Odiario.com

O prefeito Bernart Pellisa, da cidade de Rasquera, Espanha, conseguiu a aprovação na Câmara Municipal, na última semana, de uma medida que pode ser considerada polêmica. Para conseguir acabar com uma crise e saldar uma dívida de 1.336 milhão de euros (cerca de R$ 2,9 milhões) do município, vai alugar terrenos para o cultivo de maconha. Assista a matéria aqui.

Localizada na Catalunha, Rasquera tem vocação agrícola e aproximadamente 900 habitantes. E Pellisa vê nessa iniciativa uma ajuda importante para a crise que passa o município, podendo gerar até 50 postos de trabalho diretos ou indiretos, evitando o êxodo dos mais jovens para outras regiões da Espanha.

A proposta da lei foi apresentada pela Associação Barcelonesa Canábica de Autoconsumo (ABCDA), entidade com fins lúdico-terapêuticos formada por cinco mil sócios. Com isso, o grupo pagará 36 mil euros (cerca de R$ 82 mil) pela assinatura de um convênio com o município, e mais 550 mil euros (R$ 1,2 milhão) anuais pelo arrendamento do terreno.

E com esta iniciativa, a associação acredita que Rasquera vai atrair um grande número de interessados no plantio. A ABCDA ficaria encarregada apenas pelo cultivo. Já o consumo seria permitido apenas aos seus sócios que teriam que ir até Rasquera.

Na Espanha, a legislação autoriza o cultivo de maconha desde que seja para uso pessoal ou compartilhado. O tráfico é proibido e pode render pena de até seis anos.

Para Bernart Pellisa, o plantio no município enfraquecerá o mercado negro e ajudará a fortalecer a segurança. "A única coisa que quero fazer é supervisionar essa operação para que beneficie a comunidade e os municípios vizinhos", salientou.

Apesar da iniciativa para livrar o município de dívidas, há quem veja com receio a iniciativa, defendendo apenas o uso para fins terapêuticos por indústrias farmacêuticas. O plantio está previsto para começar em julho nas montanhas da Catalunha.

Em defesa do papel regulador da Ancine


Do Observatório do Direito à Comunicação:

Entidades da sociedade civil com atuação geral e no campo da comunicação apresentaram propostas comuns nas consultas públicas da Ancine (Agência Nacional do Cinema) que regulamentam a Lei nº 12.485/11. A CUT (Central Única dos Trabalhadores), o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e o Coletivo Intervozes registraram contribuições que enfatizam a importância do papel regulador do audiovisual da Agência.

Ao apresentar as propostas, também apoiadas pela Fitert (Federação Interestadual de Trabalhadores em Rádio e Televisão) e pela Arpub (Associação das Rádios Públicas do Brasil), as organizações mostraram-se ainda preocupadas com a 'Declaração dos direitos dos cineastas', publicada por um pequeno grupo de produtores, que busca explicitamente capturar a Ancine para seus interesses particulares. A declaração foi publicada às vésperas do fechamento do processo de consulta pública.

A Lei nº 12.485 e o papel regulador da Ancine têm sido alvo de ataques, também, por parte do setor privado. A ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura) e a operadora SKY são os principais porta-vozes desse segmento. Esta última, inclusive, veiculou recentemente campanha enganosa entre seus assinantes para se contrapor à lei. Para Renata Mielli, diretora do Barão de Itararé, o que há de comum entre as manifestações de empresários e cineastas é uma visão ultraliberal de defesa de um mercado que atua sem regras e sem regulação. “Para ambos o ‘negócio do audiovisual’ lhes pertence e não está vinculado a qualquer interesse público”, afirma Renata.

Contribuições

Os dois pontos principais das contribuições apresentadas pelas organizações da sociedade civil tratam dos temas de coligação e controle e da possibilidade de dispensa do cumprimento de cotas, que afeta diretamente os produtores e programadores independentes.

A importância do tema de coligação e controle se dá porque ele incide na classificação das programadoras brasileiras independentes, para quem estão reservados 1/3 das cotas de canais. Nos textos em consulta, a Agência atenua a definição de controle e retira do texto original as possibilidades de sanções sobre as empresas. João Brant, membro da Coordenação Executiva do Intervozes, ressalta que no texto em revisão, o poder estatutário ou contratual de veto em qualquer matéria ou deliberação era um elemento que fazia parte da própria definição de controle. “Com a versão nova proposta pela Ancine, o poder de veto deixa de ser inclusive um indício de preponderância nas deliberações sociais, o que pode gerar situações em que uma programadora exerce um controle ‘de fato’ sobre uma empacotadora, com poder de veto nas matérias sobre empacotamento (como entrada de novos competidores ou formação do lineup), e ainda assim ser considerada programadora brasileira independente”, alerta Brant.

A proposta apresentada pelas entidades modifica esses textos, tomando como referência a definição da resolução 247 da Comissão de Valores Mobiliários, que é mais forte que a definição básica da Lei das Sociedades Anônimas, usada como referência pela Ancine. Elas propõem ainda que 'poder de veto em qualquer questão relacionada à programação ou ao empacotamento' seja incluído entre os indícios de preponderância nas deliberações sociais. A contribuição apresentada recoloca no texto da Instrução Normativa 91 os mecanismos que dão à Ancine as condições de exercer plenamente seu poder regulatório e fiscalizatório. Segundo Guilherme Varella, advogado do Idec, “a regulação do audiovisual é fundamental para equilibrar os interesses dos atores envolvidos, evitar assimetrias e reconhecer a importância estratégica do segmento”.

Dispensa das cotas

O outro tema central das contribuições é a possibilidade da dispensa de cotas, prevista pela Lei nº 12.485 “em caso de comprovada impossibilidade de cumprimento integral”. Para Renata Mielli, o texto posto em consulta tinha problemas por não detalhar bem esses critérios - deixando a cargo de regulamentação posterior - e abrir a possibilidade de essa dispensa se dar não apenas em casos de impossibilidade técnica ou econômica, mas também de inadequação do perfil da programação. “Ao sugerir que um canal possa ser dispensado das cotas por motivos como esses, a agência desestimula a criatividade dos programadores na busca de programação brasileira e independente que combine com seu perfil de canal, e abre um enorme flanco para que o previsto na lei como exceção seja considerado possibilidade corrente”, aponta a diretora do Barão de Itararé.

A Secretária Nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, ressalta que “mesmo que não conflitantes com a lei, essas possibilidades enfraquecem seu espírito original de garantia de conteúdo nacional e independente no horário nobre em todos os canais de espaço qualificado”. Na consulta, as organizações propuseram a retirada do critério “perfil de programação” como um dos que permite a dispensa de cotas, e incluem outros critérios que buscam restringir as possibilidades de dispensa. Além dessas duas grandes questões, as organizações contribuíram em relação às regras sobre reprise e ao tempo de publicidade.

Representante dos cineastas?

A afirmação do poder regulador da Ancine feita pelas organizações na consulta pública deixa evidente o conflito com o manifesto apresentado pelos cineastas Luiz Carlos Barreto, Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães. O manifesto, que parafraseia a Declaração de Direitos de Virgínia, escrita no ano de independência dos Estados Unidos, afirma que “todo o poder da Ancine emana dos cineastas, aqui englobando todos os que representam e exercem os diversos segmentos da produção audiovisual, e, em seu nome, deve ser exercido”.

Para Renata Mielli, essa afirmação é completamente absurda e desconsidera todo o caráter público das agências, que devem responder ao interesse público, e não a interesses particulares de qualquer segmento. Renata lembra que a lei que cria a agência a define como um órgão de “fomento, regulação e fiscalização da indústria cinematográfica e videofonográfica”, e a define como “dotada de autonomia administrativa e financeira”.

Esses poderes são questionados pelo manifesto, que afirma que a agência não deveria misturar as atribuições de normatização, fomento e fiscalização. Guilherme Varella, do Idec, lembra que entre as atribuições das agências estão justamente as de “construir normas e critérios para qualidade dos serviços e fiscalizar infrações, falhas e abusos, contribuindo de forma essencial para a proteção dos produtores, mas também dos telespectadores, que consomem esses serviços culturais e devem ter seus direitos garantidos”.

O manifesto também é criticado pelo representante do Intervozes. “É surreal que em pleno século XXI surjam peças como essas, que reforçam assumidamente uma visão clientelista de Estado e propõem de forma aberta a captura de uma agência reguladora por um setor”. O manifesto afirma textualmente que a Ancine é “representante dos cineastas” e propõe que os debates sobre as decisões sejam realizados antes de as propostas serem colocadas em consulta pública. Para Brant, contudo, os cineastas que têm essa visão são minoria. “A maioria dos produtores tem trabalhado de maneira séria, contribuído com as consultas e dialogado com a Ancine sem buscar qualquer tipo de privilégio”.

Justiça aciona Google e Facebook


Do sítio Vermelho:

No Brasil, Ministério da Justiça pede explicação a Google sobre mudanças na política de privacidade; na Alemanha, sistema de busca de amigos no Facebook é considerado ilegal.

Nesta quinta-feira (8), a filial brasileira do Google recebeu uma notificação do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça para informar detalhes sobre as mudanças na política de privacidade do site. A empresa tem dez dias para prestar esclarecimentos.

Segundo o DPDC, o pedido de esclarecimento foi feito com base na legislação de defesa do consumidor e no direito constitucional à privacidade. O Google deverá informar como se deu o processo de revisão da política de privacidade e de que forma a sociedade e os consumidores puderam se manifestar sobre as mudanças.

Também foi questionado se há alternativa para aqueles que desejam utilizar os diversos produtos, sem que haja uma interconexão de seus dados pessoais entre os diferentes produtos, como o gmail, o Google+, o YouTube, entre outros.

O departamento também pediu informações sobre como se dará a autorização do consumidor para a combinação de suas informações pessoais com os produtos, serviços e conteúdos acessados. O DPDC questionou ainda se o conteúdo privado dos emails poderá ser acessado pelo Google para fins de publicidade customizada.

Caso a empresa não cumpra a notificação, pode ser alvo de instauração de processo administrativo. A Agência Brasil procurou o Google, mas a empresa não se manifestou.

Facebook: alemães julgam localizador de amigos ilegal

Uma corte berlinense declarou que o Facebook deve informar melhor aos usuários o que faz com as informações contidas na conta de e-mails deles. Para grupos alemães de proteção de dados, a decisão é uma grande vitória.

Um tribunal em Berlim decidiu que a ferramenta Friend Finder (localizador de amigos, em português), que permite aos usuários do Facebook convidar novos amigos usando a agenda de endereços de e-mails, é ilegal na Alemanha.

Ao utilizar a ferramenta, o usuário informa seu endereço de e-mail e senha para o Facebook, que acessa a conta de e-mail e copia todos os contatos da agenda para seu banco de dados.

Para o tribunal, o Facebook não deixa claro para seus usuários que, ao usarem a ferramenta, eles estão repassando para a rede social todas as informações da sua agenda de endereços. Todos os endereços de e-mails ficam registrados no banco de dados, até mesmo os de pessoas que não estão no Facebook. Também não estaria claro para os usuários que essas pessoas são convidadas a se registrar no Facebook.

O tribunal também considerou, em sua decisão desta terça-feira, que partes das condições de uso do site do Facebook dão à rede social direitos excessivos sobre o material postado pelo usuário, como fotos ou músicas próprias. O tribunal considera que fotos e músicas continuam sendo propriedade do usuário e só podem ser utilizadas com o consentimento deste.

Especialistas alemães em assuntos legais aplaudiram a decisão, que pode ser o começo de uma ação judicial contra o Facebook na Alemanha. “A decisão foi acertada”, disse Thomas Hoeren, professor de leis de informática e mídia da Universidade de Münster. “As condições de uso do Facebook sempre violaram a lei alemã. Esse foi o primeiro tribunal a declarar isso claramente. Outros virão com certeza”, completou.

“O veredicto é um marco. O Facebook e outros sites têm que respeitar a proteção de dados na Europa”, comemorou Gerd Billen, chefe executivo da VZBV num comunicado no site da associação.

O Facebook ainda não se pronunciou sobre a decisão. “Vamos observar com cuidado os detalhes da decisão do tribunal, assim que eles estiverem disponíveis. Só assim poderemos saber como proceder”, declarou um porta-voz do site à DW por e-mail.

Ecad quer cobrar por vídeos no seu blog


Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a palavra:

Era só o que me faltava.... uso esta expressão para não utilizar outra, mais chula que começa com P. O Ecad agora começou a cobrar direito autoral de vídeos musicais publicados nos blogs???????!!!!!!!!!

Que o Ecad é um Escritório Central de Amor ao Dinheiro isso todo mundo já sabe. Eu que já fui casada com um músico sei muito bem o que isso significa.

Mas esta ação extrapolou todos os limites. O argumento do órgão que justifica a iniciativa é que é preciso pagar o direito autoral pela reprodução pública de obra musical.

De acordo com o Ecad, “não existe nenhum trabalho de cobrança de direito autoral focado em blogs e sites, porém, todo usuário que executa música publicamente em site/blog ao ser captado pelo setor responsável do Ecad, pode receber um contato”, justifica a assessoria do escritório. “O blog foi captado em um trabalho rotineiro e recebeu o contato. Como dito anteriormente, caso haja execução pública musical, há obrigatoriedade do pagamento da retribuição autoral”.

A cobrança é mais de meio salário mínimo... R$ 352,00 para cada “retransmissão musical”. E alguém acha que o Chico vai receber um mísero centavo deste dinheiro porque o seu vídeo foi veiculado no blog pessoal de alguém??? Não estamos nem falando de sites ou portais de notícias, estamos falando de um blog!!!!

Estou perplexa!!!!

Para piorar o Ecad já recebe o direito autoral pela “retransmissão musical” depois de firmar acordo com o Google. Ou seja, a cobrança é dupla para a mesma “retransmissão”.

O Ecad está tentando engrossar o caldo da SOPA, isso sim!