sábado, 23 de junho de 2012

"Progresso cultural da sociedade burguesa se transformou em regressão cultural"


Por Ana Paula Salviatti no sítio da revista Carta Maior

Em entrevista à Carta Maior, Osvaldo Coggiola, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), analisa o crescimento de grupos de extrema-direita na Europa e as manifestações desses grupos em outras esferas da vida social, como está se vendo agora no caso da Eurocopa. Coggiola não vê risco de uma repetição do fascismo na Europa e diz que o fenômeno da xenofobia expressa decomposição social e falta de alternativas.
Ana Paula Salviatti
São Paulo - Em entrevista à Carta Maior, Osvaldo Coggiola constroi uma reflexão sobre o atual cenário europeu, indo da atividade dos grupos de extrema-direita à espetacularização do futebol. Coggiola é professor titular de História Contemporânea da Universidade de São Paulo, formado em Economia Política e História na Universidade de Paris VIII nos anos 70, recebeu a Medalha de Honra pela luta contra a ditadura militar na Argentina em 1988 oferecida pela Universidade Nacional de Córdoba.

Ao invés de jovens estereotipados de fácil identificação, cadeiras dos 'partidos' neonazistas alemães têm sido preenchidas por jovens com alto grau de instrução, alto poder aquisitivo e, em sua maioria, médicos. Diante deste quadro seria possível afirmar que o ideal de direita toma fôlego com esta crise econômica aguda? A crise da zona do euro pode alimentar convicções ultranacionalistas?

Sim. Porque também é um problema mais complexo, ao se falar de neonazismo. Ao dizer que estes grupos são neonazistas, ou são nazistas reciclados, não se está sendo fiel a verdade. Em primeiro lugar, porque praticamente em quase todos os países europeus, partidos nazistas, ou fascistas, são explicitamente proibidos. Está claro que são partidos de extrema-direita, sobre isso não há a menor dúvida.

Em segundo lugar, a base eleitoral que eles conquistaram tem mais a ver com uma espécie de demagogia populista. Ou seja, está claro que o mecanismo que eles representam se assemelha ao do nazismo - procurar diante da crise um bode expiatório, interno ou externo. Por exemplo, o caso mais notório que são os neonazistas da Aurora Dourada, ou o caso da Frente Nacional de Le Pen, estes partidos fizeram uma demagogia populista. O Aurora Dourada, por exemplo, pretende cercar a Grécia e impedir a entrada de estrangeiros para que não tirem o trabalho dos gregos. Este é um argumento de caráter demagógico.

No meu entendimento, não indica que estejamos às vésperas de um fascismo na Europa. Em primeiro lugar, este “fascismo” não vai ser a repetição do fascismo, porque a história não se repete. Segundo lugar, porque, por exemplo, na Grécia, o que o Aurora Dourada se propõe a fazer é defender a saída da Grécia da Zona do Euro, uma coisa que a esquerda não se anima a dizer. Portanto, nós temos uma esquerda que procura buscar uma composição dentro do sistema europeu.

Deste modo, nós temos este fenômeno de xenofobia que expressa uma decomposição social e uma falta de alternativas. Com a crise atual, não há alternativas e boa parte das pessoas que se sentem mais golpeadas pela crise procuram o bode expiatório que tem mais perto e aparecem partidos políticos que lhes oferecem bodes expiatórios na forma do estrangeiro, mas que não são antipolíticos, eles fazem política, eles propõe uma política que a esquerda não consegue propor, - que é o fim da União Europeia-, não para renunciar à unidade européia, mas sim para renunciar a uma Europa capitalista. Exatamente aquilo que a esquerda não quer propor. Embora a extrema esquerda, em alguns lugares, chegue perto desta formulação, mas não por completo.

Fato importante é que a base eleitoral da Frente Nacional, ou pelo menos uma parte significativa desta base, é o antigo eleitorado do Partido Comunista das zonas indústrias, ou seja, são os operários industriais europeus que estão votando em plena crise na extrema direita e que votavam antes com o Partido Comunista, então, portanto, não é o mesmo fenômeno nazista. Por exemplo, o nazismo nunca teve eleitores na classe operária, os que existiram foram todos muito marginais. O nazismo foi basicamente um movimento da pequena burguesia.

O futebol não é tratado como os outros esportes. Por ter um forte apelo popular foi transformado num espetáculo há muitos anos. Disputas continentais como a Eurocopa, em meio a este contexto de crise econômica, encenam constantes demonstrações de violência xenofóbica e racistas entre torcedores europeus, como as que se tem assistido desde o início da competição. Em que medida esta espetacularização inflama os sentimentos nacionais?

Bom, isto também é meio antigo, porque já acontecia há muito tempo. O primeiro que usou o futebol como meio de manipulação popular foi Mussolini na Copa de 34. Então, portanto, não é nenhum fenômeno novo, agora se generalizou, tem essa coisa dos torcedores croatas que faziam imitações de macaco enquanto Baloteli, jogador italiano que é negro, tocava na bola, o que não é nada de novo e agora se faz uma campanha contra o racismo e blá,blá,blá....

Possivelmente por que a torcida de futebol recruta indivíduos não entre a camada mais esclarecida da população, isso já se sabe. Quem despende o pouco que consegue poupar na vida para acompanhar e torcer por um time de futebol não é justamente a pessoa mais culta da sociedade, são pessoas que tem baixo nível de instrução, ou mesmo quando tem algum dinheiro e alguma instrução são pessoas burras. Então este fenômeno tem de ser combatido, sim tem de ser. Não acho que campanhas contra o racismo no futebol superem esse tipo de comportamento.

Sim o futebol contribui, é claro que contribui, inclusive para muitas outras coisas. Se as torcidas de futebol não se comportam de maneira xenófoba se comportam de maneira igualmente estúpida, digo isto por que eu era jogador de futebol na Argentina. E mesmo sem ter muita noção da coisa eu via o comportamento de torcida, o comportamento de bando, onde pessoas completamente cretinas e por outro lado completamente covardes se transformavam em valentões.

Dizer que isto é a crise do capitalismo não é verdade, mas é verdade que em tempos de crise isto tende a crescer, mas isto faz parte da sociedade, é uma coisa do progresso cultural da sociedade burguesa que ao contrário se transformou em uma regressão cultural. Então estes fenômenos aparecem cada vez mais. Quanto mais se desenvolve a internet, os telefones celulares, mais bárbaros você vê por aí... Mesmo porque até a barbárie consegue usar internet, qualquer porcaria dessas, portanto não é o progresso técnico que vai eliminar isto. É outro tipo de coisa que precisa ser reformulado por completo e as campanhas raciais são paliativos. São maneiras não de descarregar a consciência, mas são formas inclusive de manipular a opinião publica em torno disso.

No início dos jogos são reproduzidos os hinos dos países que entrarão em campo. Este momento profundamente simbólico acaba por trazer a bagagem histórica dos países para dentro da partida. Jogos como Rússia e Polônia não trazem este contexto, tanto para dentro como para fora de campo, como foi possível de se assistir esta semana durante os confrontos entre torcedores russos e poloneses?

Sim, foi muito violento, porque são países em que houve uma regressão social muito forte. Particularmente forte na Europa do leste onde há movimentos neonazistas de grande envergadura. Logicamente a rivalidade entre poloneses e russos é bem antiga, é melhor nem começar a falar.
Então, portanto, a briga entre os russos e poloneses não é a mesma coisa que a xenofobia contra negros e ciganos, são enfrentamentos de caráter nacional que se expressam de maneira deturpada.

Depois vem o discurso que não se deve misturar futebol com política… Este é um discurso completamente idiota, primeiro por que tudo se mistura com política, e segundo por que tudo se faz para que ele se misture, por exemplo, a execução dos hinos nacionais antes dos jogos. Onde se exalta o ânimo nacionalista do jogador, como disse Nelson Rodrigues: “A seleção é a pátria de chuteiras".

O problema então não seria o esporte em si mesmo, já que o futebol na verdade não é tratado como um simples esporte. O problema estaria na própria sociedade em que ele está inserido?

É assim, sempre foi assim e vai piorando com o tempo. O futebol se transforma num meio de vazão para as frustrações existentes na sociedade, as quais não encontram vazão dentro dela própria, então você cria um espaço artificial onde se tem vazão e este espaço é o futebol.

Então a Europa não está neste clima de fascistização?

Não. Há tendências, mas a fascistização está vindo dos Estados, dos governos e não dos grupelhos de direita. Os primeiros ministros de todos os países, inclusive da França socialista, se puseram de acordo que vão reintroduzir o passaporte interno na Europa, não vai ter mais esta livre circulação. Mas isto não foi feito pela extrema direita, isso foi feito pelos socialistas franceses. É por aí que vem o fascismo.

Uma democracia repressiva é o que tem mais chances de vingar neste momento, porque o fascista descarado precisaria de condições em que agora não existem.

É o que fez a esquerda com Chirac, que nas eleições de alguns anos atrás votou em Chirac que é de direita. Diante de Le Pen, que é da extrema direita, a esquerda votou em Chirac, que foi quem implementou todas as medidas racistas dentro da França. E por que votaram em Chirac? Porque o outro, Le Pen, era pior.

O problema da Europa é a esquerda, não é a xenofobia, não é nada, é essa esquerda. Uma esquerda que não consegue formular um programa para acabar de raiz com todas estas questões. Toda esta m... passa pela esquerda. Essa lei agora vai passar pelo parlamento Europeu e vai ser votada. A esquerda vai fazer as contas, se o voto dela não apitar nada, ou seja, se a direita consegue passar sem o voto da esquerda, a esquerda vai votar contra. Agora se esta votação depender do voto da esquerda, a esquerda vota a favor.

O problema é que questões ideológicas são secundárias, o problema é a luta de classes, como sempre. Toda esta questão de preconceito étnico eu não acredito, tudo isto é uma derivação do conflito de classes. Tudo é uma questão de preconceito de classe. No fundo está a idéia de luta de classes, porque a idéia de raças inferiores, ou qualquer coisa desse tipo que poderia ter algum sentido na Idade Média hoje não tem mais. É impossível a olho nu diferenciar, um cigano, um judeu, um alemão e um francês; são todos completamente iguais. A padronização cultural do mundo é praticamente absoluta, como em nenhuma outra época da história.

A pobre classe média na Espanha


Por Ana Muñoz Álvarez, no sítio da Adital:

Mais de 400.000 famílias vivem graças à pensão dos avós. 22% da população estão em risco de pobreza e, segundo a ONU, a pobreza infantil atinge 26% das crianças. Não estamos falando de um longínquo país asiático ou da pobreza na África. São cifras da Espanha, até agora a quarta economia da zona do Euro.


A crise alterou a agenda e o calendário de muitas famílias. Pessoas que até agora viviam bem, tinham trabalho, casa, seus filhos, sua hipoteca... e que, hoje, têm que buscar ajuda junto a organizações como a Cáritas ou a Cruz Vermelha, para poder dar de comer a seus filhos. Um milhão e setecentas mil famílias espanholas estão com 100% de seus membros em situação de desemprego, e seiscentas mil famílias não dispõem de nenhuma fonte de renda. As organizações da sociedade civil espanhola já vinham alertando sobre a situação que poderia atingir a Espanha. 

"A crise trouxe à tona as coisas que estavam aí, mas parece que não eram vistas: desigualdades, injustiças...”, explicam membros da Cáritas. Relatórios de antes de 2008, quando a crise estava no começo, falavam que a Espanha não estava reduzindo os índices de pobreza. E essa era época de bonança! Hoje, colhemos o que foi plantado. Se crescia, havia trabalho...; porém, eram empregos precários e de baixa qualificação.

A infância e a terceira idade são os grupos mais vulneráveis em qualquer crise; e também no caso espanhol isso se repete. Segundo a Unicef, mais de dois milhões de crianças vivem em famílias cujo salário não chega ao fim do mês; recortaram sua lista de compras; não podem arcar com os gastos da lista de material escola. Porém, o pior, segundo os especialistas, ainda está por vir; e explicam que a pobreza infantil ainda pode crescer mais. Há uns dois anos, o perfil de pobreza infantil era o de uma crianças de classe baixa, de famílias desestruturadas ou unifamiliares. Atualmente, isso mudou. São crianças de classe média, que viviam bem, tinham de tudo...; porém, seus pais perderam o trabalho e enfrentam uma realidade difícil.

Na Cáritas explicam que muitas crianças que sofrem fracasso escolar passam por isso como um reflexo do fracasso social e familiar em que vivem. No entanto, a partir das organizações ressalta-se que não se trata de um fracasso do indivíduo, mas de um fracasso coletivo, do conjunto da sociedade, que não soube criar as redes suficientes para que as famílias não caiam no vazio.

Para muitas famílias, as pensões dos avós são a única entrada que recebem. Os avós voltam a exercer o papel de pais de família; os pais, o de filhos mais velhos; e os netos passam a ser filhos caçulas. Para os avós, essa é a quarta crise grave que viveram em democracia. São pessoas que trabalharam durante toda a sua vida e, hoje, voltam a ser o suporte da família; pagam as hipotecas dos filhos; ajudam a pagar o carrinho de compras...

A Cruz Vermelha alerta que 23% das famílias não podem comer nenhum tipo de proteína na semana; nem frango e nem embutidos. Muitas famílias não podem ligar a calefação, nem usar água aquecida.

O rosto da pobreza mudou nos últimos anos. Hoje, finalmente, percebemos que qualquer um de nós pode estar sujeito a fazer fila para receber alimentos da "caridade”. O egoísmo, a avareza, o individualismo, um capitalismo levado ao extremo... nos trouxe uma sociedade onde as desigualdades crescem. Estamos colhendo o que vou plantado. Porém, ainda podemos mudar as coisas. Vamos nos unir para que a voz do povo seja escutada, porque queremos outra Europa, outra sociedade, outra maneira de fazer política e de viver. E hoje, mais do que nunca, porque é necessário.

Os jagunços de Daniel Dantas no Pará


Do sítio do MST:

Os sem terra que faziam um ato com mais de 1000 famílias em frente à sede da fazenda Cedro, em Marabá, no sudeste do Pará, foram atacados por capangas da propriedade do banqueiro Daniel Dantas, na manhã desta quinta-feira (21/6).

Foram feridos com gravidade pelo menos 16 trabalhadores rurais.


A área faz parte do complexo de 56 fazendas da Agroecuária Santa Bárbara, que concentra 600 mil hectares de terras no Sul do Pará.

Os sem terra faziam um protesto contra o desmatamento, o uso intensivo de agrotóxico e grilagem da terras públicas, no contexto das discussões promovidas com a realização da Rio+20, que acontece nesta semana no Brasil.

Depois do ataque dos pistoleiros, as famílias ocuparam a rodovia para denunciar a violência do latifúndio.

"Fomos recebido com muitos tiros por parte da escolta armada. Há muitos feridos, inclusive crianças de colo, que no foram levados para o hospital de Eldorado do Carajás, a 50 Km do local", denuncia Charles Trocatte, dirigente do MST.

Estudo do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) comprova que a fazenda Cedro é grilada e, pela Constituição, deve ser destinada para a Reforma Agrária.

A fazenda da Agropecuária Santa Bárbara foi ocupada por 240 famílias ligadas ao MST em 2009, para pressionar pela retomada dessa área.

A área é objeto de imbróglio jurídico que envolve o estado, a família Mutran e o grupo Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas.

A ocupação

O antigo castanhal foi transferido através da ferramenta jurídica do aforamento, para ser explorado de forma extrativa pela família Mutran, em particular o pecuarista Benedito.

Ao longo dos anos o castanhal deixou de existir e em seu lugar surgiu o pasto. No Pará o aforamento abrange um período de concessão de 1955 a 1966.

A família Mutran foi a principal oligarquia do sudeste do Pará. É conhecida pela forma truculenta com que costuma tratar os seus adversários e pela prática de mão de obra escrava em áreas que controlou.

Abaixo, leia nota oficial sobre o ataque dos pistoleiros:

Trabalhadores Sem Terra são feridos a bala no Pará

Na manhã desta quinta-feira (21/6), jagunços travestidos de seguranças da fazenda Cedro, de propriedade do banqueiro Daniel Dantas, atiraram contra um grupo de trabalhadores rurais Sem Terra ligados ao MST, no Sudeste do Pará, que realizavam um ato político de denuncia da grilagem de terra pública, de desmatamento ilegal, uso intensivo de venenos na área e violência cotidiana contra trabalhadores rurais.

Até o momento, há confirmação de que 16 trabalhadores foram feridos a bala, sendo que, alguns deles, estão em estado grave. Não há confirmação de mortes.
Cerca de 300 famílias já estão acampadas nessa fazenda desde o dia 1º de março de 2009. Ao todo, foram seis fazendas do grupo de Dantas ocupadas pelos movimentos sociais no período.

Mesmo a então juíza da Vara Agrária de Marabá tendo negado o pedido de liminar de despejo feito pelo grupo à época, o Tribunal de Justiça do Estado cassou a decisão da juíza de autorizou o despejos de todas as famílias.

Através de mediação da Ouvidoria Agrária Nacional, foi proposto um acordo judicial perante a Vara Agrária de Marabá, através do qual, os movimentos sociais, com apoio do Incra, desocupariam três fazendas (Espírito Santo, Castanhais, Porto Rico) e outras três (Cedro, Itacaiunas e Fortaleza) seriam desapropriadas para o assentamento das famílias.

O grupo Santa Bárbara, que administra as fazendas do banqueiro, concordou com a proposta. Em ato contínuo, os trabalhadores Sem Terra desocuparam as três fazendas, mas, o Grupo Santa Bárbara tem se negado a assinar o acordo.

A formação da Fazenda Cedro e de muitas outras fazendas adquiridas pelo Grupo Santa Bárbara no sul e sudeste do Pará (ao todo, adquiriram mais de 60 fazendas num total de mais de 500 mil hectares) vem de uma trama de ilegalidades históricas envolvendo grilagem, apropriação ilegal de terras públicas, fraude em Títulos de Aforamento, destruição de castanhais, trabalho escravo e prática de muitos outros crimes ambientais.

História, que até o momento, por falta de coragem política, nem o Incra nem o Iterpa se propuseram a enfrentar. Terras públicas cobertas de floresta de castanheiras se transformaram em pastagem para criação extensiva do gado.

Frente à situação exposta, o MST exige:

- A liberação imediata das três fazendas para o assentamento das famílias dos movimentos sociais;

- Uma audiência urgente no Incra de Marabá, com a presença da Sema, do Iterpa, da Casa Civil para encaminhamento do assentamento e apuração dos crimes ocorridos na área.

- Apuração imediata, por parte da polícia do Pará dos crimes, cometidos contra os trabalhadores.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST Pará.
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá

Dez fatos chocantes sobre os EUA


Por Antonio Santos, no sítio Diário Liberdade:

1- Os Estados Unidos têm a maior população prisional do mundo, compondo menos de 5% da humanidade e mais de 25% da humanidade presa. Em cada 100 americanos 1 está preso.


A subir em flecha desde os os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controlo social. À medida que o negócio das prisões privadas alastra como gangrena, uma nova categoria de milionários consolida o seu poder político. Os donos destes cárceres são também na prática donos de escravos, que trabalham nas fábricas no interior prisão por salários inferiores a 50 cêntimos por hora.

Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões camarárias, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar pastilha elástica. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres mas sobretudo os negros, que representando apenas 13% da população americana, compõem 40% da população prisional do país.


2- 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.

Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade económica de satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.

3- Entre 1890 e 2012 os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.

São mais os países do mundo em que os EUA intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de 8 milhões de mortes causadas pelos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento a decorrer mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo. O mesmo presidente, criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.

4- Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.

Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença de maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com 0 semanas.

5- 125 americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de acesso à saúde.

Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não têm), então, tem boas razões para recear mais a ambulância e os cuidados de saúde que lhe vão prestar, que esse inocente ataquezinho cardíaco. Com as viagens de ambulância a custarem em média 500€, a estadia num hospital público mais de 200€ por noite, e a maioria das operações cirúrgicas situadas nas dezenas de milhar, é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e como o nome indicam, terá a oportunidade de se endividar até às orelhas e também a oportunidade de ficar em casa, fazer figas e esperar não morrer desta.

6- Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo americano.

Esqueçam a história do Dia de Acção de Graças, com índios e colonos a partilhar placidamente o mesmo peru à volta da mesma mesa. A história dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições actuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmo imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. 

Em pleno século XX, os EUA puseram em marcha um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito num língua que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo a levar a cabo esterilizações forçadas ao abrigo de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e mais tarde contra negros e índios.

7- Todos os imigrantes são obrigados a jurar não ser comunistas para poder viver nos EUA.

Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do “Partido Comunista”, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada “terrorista”. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, ser-lhe-á automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.

8- O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 000 dólares.

O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas, que acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse período os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e ainda assim sobreviver. 

O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel-prazer, sem o consentimento ou sequer a informação do devedor. Num dia deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juro e no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes americanos ascendeu a 1.5 triliões de dólares, subindo uns assustadores 500%.

9- Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada 10 americanos, há 9 armas de fogo9.

Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação com o resto do mundo: No resto do planeta, há 1 arma para cada 10 pessoas. Nos Estados Unidos, 9 para cada 10. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, qualquer coisa como 275 milhões. E esta estatística tende a se extremar, já que os americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.

10- São mais os americanos que acreditam no Diabo que os que acreditam em Darwin.

A maioria dos americanos são cépticos; pelo menos no que toca à teoria da evolução, em que apenas 40% dos norte-americanos acredita. Já a existência de Satanás e do inferno, soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-candidato Rick Santorum, que acusou os acadêmicos americanos de serem controlados por Satã.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Kassab repele Aécio. Ordem do Serra?


Por Altamiro Borges, em se blog

A jornalista Vera Magalhães publicou hoje uma curiosa notinha na coluna Painel, da Folha:

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Não passará

O prefeito Gilberto Kassab reagiu a um movimento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para atrair, desde já, apoio de seções estaduais do PSD ao seu projeto presidencial em 2014. Nos últimos dias, Kassab recebeu recados do tucano por meio de dirigentes do partido.


Irritado, mandou os mesmos emissários dizerem ao mineiro que a sua sigla não aceita tentativas de "cooptação" e que terá posição unificada na disputa pelo Planalto. "Vamos discutir isso a partir de 2013. Quem não estiver disposto a aceitar vai enfrentar intervenções", respondeu Kassab, aliado histórico de José Serra, adversário interno de Aécio no PSDB.

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Não é segredo para ninguém que o ex-demo e atual presidente do PSD é muito ligado ao ex-prefeito de São Paulo, que o projetou na vida política. Num programa de tevê, Kassab chegou a brincar que “dormia de paletó” para atender o tucano notívago quando era o seu vice. Ele também nunca escondeu de ninguém que apoiaria José Serra numa nova tentativa de disputa para a sucessão presidencial.

A disputa fratricida no PSDB

Caso a notinha da colunista da Folha seja verdadeira, ela sinaliza que Kassab repele Aécio porque o eterno candidato tucano mantém suas pretensões para 2014 – e que a eleição da capital paulista serviria, mais uma vez, para alavancar a sua candidatura presidencial. Serra já rasgou um documento em que se comprometia a não abandonar a cidade antes do fim do seu mandato. Não custa nada mentir novamente!

Vera Magalhães chega a especular que Kassab até poderia apoiar a reeleição de Dilma caso Serra não saía candidato em 2014. Como prova desta hipótese, ela lembra que o atual prefeito “levou o PSD a apoiar” o partido da presidenta em várias cidades da região metropolitana de São Paulo. Será que o seu mentor, famoso pelo espírito vingativo, chegaria a este ponto para derrotar seu rival no PSDB? É difícil de acreditar!

Romário rechaça “safadeza” da Veja

Por Altamiro Borges, em seu blog

No facebook e no twitter, o deputado Romário (PSB-RJ) rebateu ontem reportagem publicada na Veja, intitulada “Rebeldia eleitoral”. Nela a revista especula, sem apresentar provas ou ouvir o citado, que o parlamentar daria apoio ao deputado Marcelo Freixo (Psol) na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro. O objetivo do artigo, como sempre, é o de estimular a cizânia e a intriga.

Irritado, o craque Romário bateu duro. Afirmou que a matéria é mentirosa e acusou a revista Veja de “mau-caratismo, safadeza, falta de honestidade e hombridade”. Vale a pena conferir sua mensagem no facebook:

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Mentiras da Revista Veja

Por Deputado Federal Romário, domingo, 10 de Junho de 2012 às 21:25 ·
Galera, venho aqui, através desse espaço que todos sabem que é um espaço democrático, dizer o seguinte : é mentira, mau-caratismo, safadeza e falta de honestidade e hombridade da revista Veja e, principalmente, a matéria que saiu hoje: Rebeldia eleitoral (pag. 51).

Primeiro que em nenhum momento entrei em nenhum tipo de briga ou discussão sobre a prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo, já sabia há bastante tempo, desde a eleição passada que o nosso partido já teria feito uma coligação pra majoritário, ou seja, prefeito com o PMDB do Rio de Janeiro. É mentira que fui impedido pelo presidente do PSB que, felizmente ou infelizmente, acabamos não tendo oportunidade de conversar sobre esse assunto  e em relação ao presidente do partido nacional, que é hoje o  governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, também não tivemos nunca uma conversa sobre isso apesar de que ele realmente não me atende há seis meses.

Em relação ao apoio ao PSOL, ou seja, candidato sério, honesto e íntegro,  Marcelo Freixo, ao qual tenho grande admiração e respeito, também nunca conversamos sobre nenhum tipo de apoio. Quero dizer que as minhas ações na política foram, são e serão sempre públicas, pra que as pessoas, principalmente aquelas que me colocaram como Deputado Federal, entendam quais são as minhas ações.

O mesmo vale para o Município de Duque de Caxias que, com todo respeito, nem sei quem será o candidato do PSOL. Em relação a Prefeitura de Caxias, quero dizer que, antes de mais nada, sou PSB e, dentro da legalidade eleitoral, acredito eu que talvez isso não seja nem possível porque lá estará disputando um candidato que é, por coincidência, candidato e presidente do meu partido.

Advogados denunciam Editora Abril



O Coletivo Advogados para a Democracia protocolou na última quarta-feira (06/06) uma representação ao Ministério Público contra a Editora Abril.

Há algumas semanas, recebemos a informação de que a empresa circulava por escolas estaduais de São Paulo distribuindo pacotes de figurinhas e bonecos em miniaturas pertencentes a um álbum produzido por ela em uma prática covarde e criminosa de induzir crianças e adolescentes ao consumismo infantil.

Como se isso não bastasse, funcionários devidamente vestidos com camisas com o logotipo da empresa adentraram às escolas sem que a direção dessas escolas consentissem.

Os produtos distribuídos gratuitamente não possuem nenhuma relação com o ambiente escolar tratando-se apenas de publicidade voltada a seres humanos em fase de formação.

Entendemos que a Editora, com esta prática socialmente condenável, age ilegalmente, pois fere a vulnerabilidade do consumidor, os valores sociais básicos e a própria sociedade como um todo reforçando valores meramente mercadológicos no processo de socialização de crianças e adolescentes, senão vejamos:

- As crianças e os adolescentes não têm maturidade suficiente para discernir que aqueles produtos recebidos não são parte do universo escolar. A Editora se utiliza da vulnerabilidade dos alunos;

- Ao invés das tradicionais propagandas da televisão (fiscalizadas pelo Ministério Público e outras entidades) a Editora se utiliza de subterfúgios para atingir um consumidor vulnerável e protegido pela Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, o Código Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária e tantas outras normas que dispõem a respeito;

- É impossível não reconhecer que o local para tal publicidade é inapropriado e está absolutamente desvinculado do contexto do ambiente escolar além de atrapalhar o andamento normal das atividades escolares desviando a atenção dos alunos para os produtos;

- Além disso, ficou explícita a relação de competitividade criada entre os educandos. Aqueles que receberam mais figurinhas e miniaturas se colocavam como superiores a outros que receberam uma quantidade menor. Ato contínuo, nos dias subsequentes, a mesma relação surgiu com os alunos que puderam comprar o álbum e mais figurinhas e miniaturas nas bancas de jornal com aqueles que, por não ter a mesma possibilidade financeira, não puderam fazer o mesmo. Trata-se de uma lógica perversa de socialização entre crianças e adolescentes em processo de formação;

- É necessário perceber a dor, humilhação, sofrimento e constrangimento daqueles cujos pais não têm condições financeiras de comprar o álbum e as demais figurinhas para completá-lo. Eles passam a ser alvo de gozações diárias surgindo a nefasta prática do bullying;

- Para além do universo escolar, é fundamental lembrar do possível conflito que pode existir no âmbito familiar quando um aluno chega em casa com tais produtos pedindo aos pais que comprem o álbum sendo que eles não possuem poder econômico para tanto.

É preciso reiterar que o Estatuto da Criança e do Adolescente adotou, em consonância com a Constituição Federal, o sistema da proteção integral, sempre ressaltando a condição de ser humano em formação e por isso merecedor de cuidados especiais e a Editora Abril com essa prática simplesmente ignora de forma vil todas as legislações que garantem os direitos fundamentais de cidadãos em desenvolvimento.

Ressalte-se que estes menores, alvos do agressivo marketing publicitário da citada empresa, gozam de tripla proteção: como crianças e adolescentes, como consumidores e como usuários dos serviços públicos. 
Diante de tais fatos fomos a campo atuando na defesa da criança e do adolescente contra a lógica voraz do mercado que não tem qualquer preocupação social, apenas empresarial.

Kátia Abreu ataca salário mínimo


Por Altamiro Borges, em seu blog

Pior do que um neoliberal, só mesmo um ruralista neoliberal. Se dependesse dos barões do agronegócio, o Brasil retornaria ao período da escravidão. Talvez isto explique porque a bancada ruralista resista tanto à aprovação da PEC contra o trabalho escravo. Em seu artigo na Folha de hoje (9), a senadora Kátia Abreu não vacila em pregar o fim dos aumentos “tão generosos” do salário mínimo.

Para a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que representa os interesses dos velhos latifundiários – hoje travestidos de modernos empresários do agronegócio –, a crise econômica está se agravando rapidamente e exige que o governo Dilma adote “medidas ousadas”. No seu receituário, o ônus da grave crise, lógico, deve ser despejado no lombo dos trabalhadores.

As velhas teses neoliberais

Para a vice-presidente do PSD, sigla fundada pelo ex-demo Gilberto Kassab para agregar as forças de centro-direita, a economia brasileira “vive um momento preocupante”. A queda no crescimento do PIB decorreria de um modelo econômico já esgotado, baseado na alta dos preços internacionais das commodities, no “ativismo creditício” e no estimulo ao consumo interno.

Diante deste diagnóstico, Kátia Abreu propõe basicamente o retorno às velhas teses ortodoxas, neoliberais, de retração do crédito e do consumo. “Os aumentos do salário mínimo não podem mais ser tão generosos sem elevar o risco de inflação. E aumentar o crédito já não funciona porque a renda da população está muito comprometida com o pagamento de dívidas acumuladas”.

Chibatada no lombo do trabalhador

Ela também propõe reduzir a carga tributária e “flexibilizar o mercado de trabalho, privilegiando o entendimento direto entre empresários e trabalhadores”. Para viabilizar esta agenda regressiva, a senadora do PSD – que “não é de esquerda, de direita ou de centro” - afirma que é preciso “apoiar a presidente nessa urgência de reformar o Brasil, colocando-se acima das disputas entre governo e oposição”.

Lógico que Kátia Abreu não propõe nenhuma “medida ousada” contra o capital financeiro – hoje solidamente associado aos barões do agronegócio. A ruralista também não defende o fim dos subsídios e das “generosas” anistias aos grandes produtores rurais. Para ela, só há um jeito de conter os efeitos da grave crise econômica mundial. Chibatada nas costas dos trabalhadores. 

sábado, 9 de junho de 2012

A Veja e o suicídio pela palavra


Por Lúcio Flávio Pinto, no Observatório da Imprensa:

Veja, uma das cinco revistas semanais de informações mais importantes do mundo, levou 2.272 edições, em 44 anos de circulação, para cometer o maior “nariz de cera” da sua história, do jornalismo brasileiro em muitos anos e talvez da imprensa mundial. Sua matéria de capa do último número, com data de 6/56/2012, abre com 98 linhas da mais medíocre “encheção de linguiça”, como se diz “no popular”.


Se tivessem mesmo que sair, esses quatro enormes parágrafos, numa matéria de apenas oito períodos, tirando boxes e penduricalhos outros para descansar a vista (e relaxar a cabeça), caberiam na Carta ao Leitor, espaço reservado à opinião do dono. Mas lá já estava o devido editorial da “casa”, repleto de adjetivações e subjetividades, conforme o estilo.

A tarefa do repórter Daniel Pereira não era competir em fúria acusatória com a voz do dono, mas dar-lhe – se fosse o caso – suporte informativo. Sua matéria devia conter fatos, que constituem a arma de combate do repórter, infalível diante de qualquer assunto sob sua investigação.

Ao invés disso, metade da sua falsa reportagem, com presunção de trazer novidades e gravidades suficientes para merecer a capa da edição, é um rosário de imprecações opiniáticas, no mais grosseiro e primário estilo, num desabamento de qualidade em relação à Carta ao Leitor.

História desrespeitada

Em tom professoral digno de um sábio de almanaque Capivarol, o editor da sucursal de Brasília, distinto e ilustre desconhecido (ainda, claro), faz gracejo insosso com o fracasso da estratégia de Lula de usar a “CPI do Cachoeira” como manobra diversionista para tirar o foco do julgamento dos integrantes da “quadrilha do mensalão”.

Tentando reparar o efeito inverso gerado pela iniciativa, Lula procurou o ministro Gilmar Mendes, do STF, para um acerto, “movimento tão indecoroso que, ao contrário do imaginado pela falconaria petista, se voltou contra o partido”, sentencia o jornalista.

Não sou petista. Nunca fui. Também não sou nem nunca serei filado a qualquer partido político, enquanto minha profissão me conceder um espaço para opinar e interpretar. É onde faço política: tentando armar o meu leitor para ter sua agenda atualizada aos grandes temas ao alcance da sua vontade.

Votei uma única vez em Lula para presidente da República, na primeira tentativa dele, contra Collor, em 1989. Ninguém encontrará um artigo de louvor a ele no meu Jornal Pessoal. Como não moro em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, mas em Belém do Pará, distante dois mil quilômetros da capital federal, não me atrevo a escrever reportagens a respeito dele.

Para isso, precisaria estar em contato com pessoas do centro do poder, testemunhar acontecimentos, criar fontes com acesso às informações diretas. Mas minhas análises, feitas à distância, não ultrapassam o limite da possibilidade de demonstrar com fatos o que digo. E só digo o que os fatos me autorizam.

Ao autorizar um repórter, encarregado de produzir uma reportagem, que requer tudo que está fora do meu alcance, justamente porque não disponho dos recursos ao alcance de Daniel Pereira, Veja mostra que não respeita a si, aos seus jornalistas e ao leitor. Desrespeita a própria história, que a fez ocupar um lugar tão destacado na imprensa mundial e ter-se estabilizado há muitos anos em 1,2 milhão de exemplares de tiragem.

Alma vendida

O respeito e a admiração que as pessoas têm hoje pelos jornalistas da TV Globo era o mesmo, com outra substância, do início dos anos 1970, quando Veja se consolidou como a mais importante novidade na imprensa brasileira. Antes de passar a trabalhar na revista, via-me diante de humilhação partilhada por repórteres das outras publicações, como as minhas. Depois de dar entrevista coletiva, o personagem da reunião se desculpava e atendia à parte o representante de Veja, que costumava assistir calado ao pingue-pongue de perguntas e respostas entre os colegas e o entrevistado.

Mas não ficávamos furiosos ou nos revoltávamos pelo privilégio dado ao concorrente. Veríamos, quando a revista circulasse, que o tratamento diferenciado tinha uma motivação fundamentada na qualidade do trabalho da revista. Por opção editorial, as matérias não eram assinadas. Mas tanto os profissionais que iam às ruas atrás das notícias eram bons como ótimos eram aqueles que reescreviam tudo na redação, estabelecendo uma homogeneidade de alto nível em todos os textos, do primeiro ao último.

Essa boa novidade levou ao exagero da padronização, logo corrigido pela liberação dos freios da centralização: cada jornalista pode desenvolver seu estilo e as matérias começaram a sair assinadas.

Muitas das matérias que forniram as páginas da revista eram do melhor jornalismo, vizinho dos textos de autores da melhor literatura. Tanto pelo domínio do vernáculo como pela consciência de que jornalismo é a vida pulsando todos os dias em sua materialização factual, sempre sujeita ao humano, demasiado humano (o que serviu de halo para o “novo jornalismo” americano).

Com a sucessão de textos do tipo que agride a essência do jornalismo já há bastante tempo, Veja está prestando um grave desserviço ao Brasil, a pretexto de brecar o avanço do “lulismo” tirânico e irresponsável. Está fazendo o país retroceder a um jornalismo praticado até seis décadas atrás, quando o Diário Carioca introduziu o lide no manual de redação jornalística. Sucederam-se a partir daí os aperfeiçoamentos que Veja consolidou.

A começar pelo curso de formação que deu aos seus futuros integrantes antes de começar a circular, uma revolução em matéria de recrutamento de quadros. E pelo elevado padrão de profissionalismo que estabeleceu, tornando-se uma meta para todos aqueles que queriam avançar no seu ofício e ter uma vida digna, decente e confortável – conquistas das quais só a última era frequente, à custa da venda da alma ao diabo; até Veja demonstrar que jornalista também pode ganhar bem sem se prostituir.

Efeito Jim Jones

É profundamente lamentável que essa mesma revista esteja agora, num paroxismo editorial difícil de explicar e mais difícil ainda de entender, renunciando a todas essas conquistas para se entregar a uma voragem de apoplexia palavrosa, se a tipologia cabe nessa forma surpreendente de patologia. Lula pode sobreviver a esse tipo de vírus. O jornalismo, não.

Querendo ser a coveira de um líder político esquivo e ambíguo, Veja está, na verdade, cometendo um haraquiri patético, capaz de arrastar consigo muito mais gente do que a que sucumbiu sob outro desses líderes em transe: Jim Jones.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Galvão Bueno está certo


Por Marco Antonio Araujo, no blog O Provocador:

Coerência é uma qualidade nem sempre admirável. No caso da Rede Globo, o esforço em reescrever a história do Brasil tem se mostrado uma prioridade. Por repetidas vezes, a emissora usou a tática de apagar passagens, eventos e personagens fundamentais da Nação. Não satisfeita, agora quer recontar a história da humanidade. Pois, se depender da Velha Senhora, as Olimpíadas de Londres não serão realizadas.


É uma maratona de omissões. E, segurando a tocha das trevas, à frente de um pelotão de profissionais constrangidos, impera Galvão Bueno. No jogo deste domingo (03), contra o México, não foi diferente.

É um teste de resistência e concentração. Como cobrir os preparativos do time defutebol olímpico sem dizer isso ao público? Simples: menosprezando a inteligência dos telespectadores. Pior: o time brasileiro em campo era justamente o olímpico, contra uma seleção aberta do México (ou seja, que está sendo preparada para Copa do Mundo).

Para quem escondeu da população as Diretas Já, os abusos da ditadura militar, os desmandos e malfeitos de Fernando Collor, a ascensão de Lula ao poder, chega a ser um estimulante desafio passar a borracha no maior evento esportivo do planeta.

Eles treinaram bastante no ano passado, riscando do mapa mundi os Jogos Pan-americanos. Se a Globo não deu, não aconteceu, acham esses presunçosos donos da verdade.

O desrespeito com nossos atletas não é maior do que o descaso com que sempre trataram a democracia e todo o povo brasileiro. Parece até que vivem disso, de varrer para debaixo do tapete dos palácios as grandes lutas e conquistas nacionais. E daí, se está todo mundo vendo? A Globo não liga pra você.

Mídia atacou CPI para poupar Perillo


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Quando Willian Bonner aparece na telinha lá pelas oito e meia da noite, durante o Jornal Nacional, fico prestando atenção em suas expressões faciais. Por mais que seja hábil em disfarçar o que pensa ao dar uma notícia, para mim ele é um livro aberto.


Contentamento e contrariedade, medo e arrogância, clareza ou dissimulação podem ser medidos se você sabe que aquela notícia que está sendo dada é verdadeira ou não ou se sabe qual é a posição de quem noticia este ou aquele assunto.

Analisando como se comportam as expressões de alguém conforme o que pensa sobre o que diz, você passa a conhecer a pessoa. Willian Bonner, para este blogueiro, é um livro aberto…

Exemplo: foi instrutivo ver o âncora do Jornal Nacional relatar a intervenção federal no Banco Cruzeiro do Sul sem citar que a instituição, ora acusada de fraude, pertence à família do ex-candidato a vice-presidente na chapa de José Serra em 2010, Índio da Costa.

Vi a expressão de Bonner quando mentiu – ou omitiu, o que dá no mesmo. Este é apenas um exemplo da técnica que uso para “conhecer” aqueles que precisam de vigilância. Com base nas expressões faciais em situações de mentira, omissão ou sinceridade, você aprende sobre a pessoa.

Nos últimos dias, as expressões desse e de outros âncoras de telejornais que diuturnamente tratam de tentar manipular o público, demonstram desalento. O que os desalenta é a CPI do Cachoeira, que já começa a chegar ao ponto em que a mídia e a oposição tanto temiam.

A mídia tentou impedir a abertura da CPI. Fez ameaças, previu que se voltaria contra o PT, esgrimiu com a tese absurda de que oposição não pode ser investigada por CPI porque esta é “instrumento da minoria”, o que, se fosse verdade, tornaria essa minoria inimputável.

Instalada a CPI, Globo, Folha, Veja, Estadão e assemelhados desandaram a decretar que terminaria “em pizza”, que haveria acordo entre tucanos e petistas porque os dois lados estariam igualmente envolvidos. E, supremo caradurismo, equiparou Agnelo Queiroz e Sergio Cabral a Marconi Perillo.

Colunistas do PIG como Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhêde, Merval Pereira e Ricardo Noblat chegaram a dizer que havia mais indícios contra Agnelo e Cabral do que contra Perillo, que, simultaneamente, diziam um inocente alvejado pelo “desejo de vingança” maligno de Lula.

O que se vê, agora, é muito diferente do que a media “previu”. Até o momento, a CPI não se voltou contra seus autores – que a mídia chegou a negar que eram os governistas, apesar da teoria da “vingança”. Pelo contrário, o que vai ficando claro é que o esquema Cachoeira era, essencialmente, demo-tucano.

Não foi preciso usar informações de fontes sobre a Operação Monte Carlo, apesar de existirem, para concluir que Carlos Cachoeira integrava a máquina denuncista da mídia contra Lula, PT e aliados. Para comprovar, basta analisar as informações que passava à revista Veja.

Durante os oito anos de Lula e o primeiro ano de Dilma, as denúncias de Cachoeira à Veja tiveram um só foco: o governo do PT e seus aliados. Ora, como é possível que estes integrassem o esquema do bicheiro se ele vivia fazendo denúncia contra governistas?

É tão simples, é tão lógico que chega a ser constrangedor ter que dizer isso. É um truísmo, uma platitude, de tão óbvio.

O que a lógica mostra, também, é que a mídia sabe muito menos sobre a Operação Monte Carlo do que insinua. Talvez menos do que blogueiros que vinham dizendo o que aconteceria, ou seja, que o desenrolar dos trabalhos faria com que recaíssem sobre a oposição.

Mas, também, sobre a mídia. Assim como havia informações de que as provas contra Perillo se amontoariam quando a CPI começasse a avançar, também se sabia o que em mais algum tempo ficará mais claro do que já está: Veja e Globo compactuaram com os crimes de Cachoeira em troca de informações que ele levantava contra o governismo.

E a cumplicidade cachoeiro-demo-tucano-midiática não para por aí. Em troca de informações contra o governo federal, contra o PT e seus aliados, alguns dos meios de comunicação acima citados publicavam matérias contra desafetos do esquema de Cachoeira.

Você leu neste e em outros blogs que Perillo iria entrar na roda, e entrou. Agora anote aí, leitor: os próximos serão Gilmar Mendes, Veja e Globo. E contra Agnelo e Cabral não verá nada de relevante simplesmente porque estão do outro lado.

Não se diz, aqui, que o governador de Brasília ou o do Rio de Janeiro são santos. Podem – eu disse, apenas, que podem – ser até dois gangsters, mas no esquema Cachoeira não surgirá nada contra eles. Simplesmente porque o bicheiro trabalhava para a oposição midiática.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Maconha medicinal ajuda a combater diabetes e artrite



Um tipo de maconha medicinal, que neutraliza a substância THC, foi desenvolvido por cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel. A planta não gera efeitos cognitivos e psicológicos como a maconha tradicional e está sendo testada em experiências in vitro e com ratos no laboratório da Universidade Hebraica.
De acordo com a professora Ruth Gallily, especialista em imunologia da universidade, a segunda substância mais importante da cannabis – o canabidiol (CBD) – tem propriedades “altamente benéficas e significativas” para doentes que sofrem de diabetes, artrite reumatóide e doença de Crohn.
Em entrevista à BBC Brasil, Gallily disse que após o tratamento com o CBD, o índice de mortalidade em consequência de diabetes nos animais foi reduzido em 60%, tanto em casos de diabetes tipo 1 como tipo 2.
“Para pacientes idosos que sofrem de artrite reumatoide, o uso da cannabis pode ter efeitos maravilhosos e melhorar muito a qualidade de vida”, disse Gallily. “Constatamos em nossas experiências que o CBD leva à diminuição significativa e muito rápida do inchaço em consequência da artrite.” A pesquisadora afirma que remédios à base de CBD seriam muito mais baratos que os medicamentos convencionais no tratamento dessas doenças.
De acordo com Zachi Klein, diretor de pesquisa da empresa Tikkun Olam, mais de 8.000 doentes em Israel já são tratados com cannabis, a qual recebem com receitas médicas autorizadas pelo Ministério da Saúde. De acordo com Klein, a empresa pretende desenvolver um tipo de maconha com proporções diferentes de THC e canabidiol, para poder ajudar a diversos tipos de pacientes.
“Há pacientes para os quais o THC é muito benéfico, pois ajuda a melhorar o estado de espírito e abrir o apetite”, afirmou. Ele diz ainda que, em casos de doentes de câncer, a cannabis em seu estado natural, com o THC, pode melhorar a qualidade de vida, já que a substância provoca a fome conhecida como “larica”, incentivando os pacientes a se alimentarem.
    

Verdades incômodas sobre o mensalão


Por Paulo Moreira Leite, em sua coluna Vamos combinar:

O leitor que tiver paciência de ler esta nota até o fim terá elementos melhores para julgar o debate envolvendo Lula e Gilmar Mendes.

Escrevi em nota anterior que o pano de fundo deste conflito envolve o ambiente político em torno do mensalão.

Uma das partes tem interesses em politizar o debate no ponto máximo. A outra tem esperança de convencer os ministros a apoiar-se em argumentos de natureza técnico, no exame das provas.


A leitura do relatório do delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha, disponível na internet, é rico em detalhes e bastante completo na abordagem.

Só para o leitor ter uma ideia da radicalização da situação. Tratado pela imprensa, o relatório já foi exibido como prova definitiva da existência do mensalão. Também foi apontado como prova do contrário.

Em suas conclusões, o relatório mostra que se o PT não pode estar feliz com as denúncias apuradas, a oposição não tem o direito de festejar por antecipação.

É por isso que o julgamento é aguardado com tensão. Todo mundo espera um proveito político mas ninguém sabe o que pode acontecer.

Ninguém quer prestar atenção ao relatório.

Zampronha juntou os fios dos empréstimos bancários e dos contratos de publicidade do Banco do Brasil e concluiu que houve sim desvio de dinheiro público para pagar os compromissos assumidos pelo PT. Os dados estão lá.

O PT pode alegar, corretamente, que o mensalão de Delúbio Soares é igual ao mensalão mineiro e até pode dizer que o esquema dos tucanos mineiros está melhor demonstrado. Tudo isso é verdade. Mas a culpa de Marcos Valério em Minas pode até ajudar a denúncia em seu devido lugar. Mostra que o esquema do PT tinha antecedentes.

Mas nada disso ajuda a demonstrar que ele era inocente quando se juntou ao PT.

Pelo relatório, petistas e não petistas que deixaram sua assinatura em algum documento oficial terão dificuldades muito grandes para demonstrar que são inocentes.

O problema, para a oposição, é que essas conclusões estão longe de demonstrar a culpa dos 38 réus. Pior ainda. Para quem transformou José Dirceu no cérebro e gênio do mal, a investigação da Polícia Federal é uma decepção.

Evitando mencionar hipóteses que estão na mente de muitas pessoas, mas não podem ser comprovadas com fatos, o relatório não apresenta uma linha contra Dirceu.

Embora Zampronha não dê entrevistas, é fácil concluir o que aconteceu.

A culpa de Dirceu não foi registrada pela equipe de policiais encarregada de apurar os fatos capazes de incriminá-lo. Não há provas contra ele.

Não há uma denúncia nem uma testemunha. O próprio Roberto Jefferson, que fez acusações políticas a Dirceu em 2005, não apontou um caso específico nem uma situação precisa. Aliás: quem voltar à entrevista de Jefferson a Renata Lo Prete, na Folha, irá encontrar palavras em que ele testemunha a reação de Dirceu de crítica ao próprio Delúbio. Jefferson contou a Lo Prete que, ao ser informado do que ocorria, Dirceu até deu socos na mesa. (Ele também disse que Lula chorou).

Puro teatro maquiavélico, você pode dizer. Coisa de tem treinados profissionais do crime. São todos farsantes, mentirosos…Esses políticos são todos iguais. Quem sabe?

Falando para os autos, Jefferson também não falou sobre o esquema de “compra de votos no Congresso” nem de “compra de consciências”. Jefferson repete nos vários depoimentos que deu à Polícia que jamais votou em projetos do governo em troca de dinheiro. Lembra que ele e sua bancada estavam de acordo com as propostas de Lula. Dá exemplos.

Fala que o problema é que os petistas combinaram e não entregaram recursos para a campanha de 2004.

Jefferson, neste aspecto, concorda com aquilo que Delúbio sempre disse. Era dinheiro de campanha.

Já estou ouvindo um grito do leitor do outro lado: “P…que p…!”

“Não é possível!”

“O PML enlouqueceu de vez!”

“Não percebe que a Polícia Federal faz o que o governo quer?”

Todos nós temos direito a uma opinião sobre o caso e seus protagonistas mas, acionada pela Procuradoria Geral da República, aquela que denunciou o governo pela montagem de uma “organização criminosa”, a Polícia Federal chegou a outro caminho.

Não demonstra o “mensalão”. Tampouco aponta para José Dirceu. Mas incrimina quem foi apanhado numa operação que implicava em desvio de recursos públicos. Não é pouca coisa, num país de altíssima impunidade. Mas não irá agradar quem acredita que estava tudo provado e demonstrado sobre a “quadrilha criminosa.”

Isso quer dizer que o Supremo irá seguir as recomendações da Polícia Federal? Nem de longe. Cada ministro tem o direito a suas convicções e próprias conclusões. O relatório da Polícia Federal pode inspirar alguns ministros, a maioria, a minoria, ou nenhum. Com certeza não será um julgamento unânime como a votação sobre cotas.

Não é inteiramente bom para nenhum lado. Nem totalmente ruim.

FHC foge da Ley de Medios


Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

Saiu no Estadão e no Globo, onde o PIG gorjeia como em nenhum outro lugar, artigo de Fernando Henrique Cardoso sobre “Política e meios de comunicação – não basta mudar o espaço na mídia, é preciso haver vozes de oposição”.


(Ou seja, o PiG precisa ouvi-lo mais ainda, já que o Cerra, o Guerra, o Franceschini, o Alckmin, o Agripino, Aécio Never, o Álvaro Dias – isso tudo junto não dá em nada).

O ansioso blogueiro deu-se ao trabalho de ler duas vezes o citado artigo.

Tem mais colesterol que o estilo do de múltiplos chapéus.

São tantos os chapéus, que a clareza se perde nos malabarismos.

Na segunda leitura, o ansioso blogueiro entendeu (ou acha que entendeu).

O Farol de Alexandria, aquele que iluminava a Antiguidade e acabou num terremoto, ou aquele que presidiu a Privataria, esse mesmo defendeu a liberdade de expressão dos blogs.

O que seus mais conspícuos filhotes – Padim Pade Cerra e Gilmar Dantas – não fariam com o mesmo entusiasmo.

( Até porque os três – Cerra, Gilmar e FHC – estão irremediavelmente ligados à Privataria e, nela, a Daniel Dantas, o “foi (sic) brilhante !”. Clique aqui para ver o vídeo em que ele fala do Daniel e do Gilmar.)

Disse o Farol, neste domingo, no PiG:

Nos dias que correm, sobretudo nos regimes democráticos, não há política sem comunicação; logo, é melhor tomar coragem para ler e ouvir tudo o que se diz, mesmo quando partindo de fontes suspeitas.

A precondição para que haja alternativas ao que aí está é manter a liberdade de expressão, mesmo que haja distorções. Isso não exclui uma luta constante contra estas, não para censurá-las, mas para confrontá-las com outras versões. Afastando por inaceitável qualquer tentativa de “controle social da mídia”, o acesso de opiniões divergentes aos meios de comunicação poderia criar um ambiente mais favorável à veracidade das informações.


Claro, amigo navegante, como é que ele poderia dar aquelas conferencias em francês, ao lado do Alain Toutinegra, e ser confundido com o Cerra e o Gilmar, que perseguem os blogs?

Aí, o ansioso blogueiro debruçou-se pacientemente sobre o texto gordurento para procurar a reafirmação do que ele antes tinha dito: quero uma Ley de Médios !

Sim, essa adesão do Farol à luta por uma Ley de Médios provocou entusiasmo e ceticismo entre os blogueiros sujos, que nutrem especial afeto pelo Farol e deus dois ilustres descendentes.

O Miro Borges, presidente do Barão de Itararé, estava no time cético: aí tem coisa.

FHC a favor de Ley de Médios ?

Hum …, e o Miro cofiava os bigodes.

O Miro estava certo.

O Farol recuou rapidinho.

Antes de ir por duas semanas ao Japão e à China, tratou de redimir-se.

Não há uma única menção à Ley de Médios, num texto em que se propôs a tratar de “politica e meios de comunicação”.

Os filhos do Roberto Marinho – eles não tem nome próprio – podem respirar aliviados.

Aquele que disse “Viva a Globo, viva o Brasil !”, nessa ordem, na inauguração de uma fábrica do Roberto Marinho, ele será, sempre, “um operário padrão”.
   

sábado, 2 de junho de 2012

Santayana: Gilmar não é o Supremo ! Supremo, aja !


Saiu no Conversa Afiada reprodução do JB Online texto de Mauro Santayana:

Gilmar não é o Supremo


Engana-se o Sr. Gilmar Mendes, quando denuncia uma articulação conspiratória contra o Supremo Tribunal Federal, nas suspeitas correntes de que ele, Gilmar,  se encontra envolvido nas penumbrosas relações do Senador Demóstenes Torres com o crime organizado em Goiás.

 

A articulação conspiratória contra o Supremo partiu de Fernando Henrique Cardoso, quando indicou o seu nome para o mais alto tribunal da República ao Senado Federal, e usou de todo o rolo compressor do Poder Executivo, a fim de obter a aprovação. Registre-se que houve 15 manifestações contrárias, a mais elevada rejeição em votações para o STF nos anais do Senado.


Com todo o respeito pelos títulos acadêmicos que o candidato ostentava – e não eram tão numerosos, nem tão importantes assim – o Sr. Gilmar Mendes não trazia, de sua experiência de vida, recomendações maiores. Servira ao Sr. Fernando Collor, na Secretaria da Presidência, e talvez não tenha tido tempo, ou interesse, de advertir o Presidente das previsíveis dificuldades que viriam do comportamento de auxiliares como P.C. Farias. Afastado do Planalto durante o mandato de Itamar, o Sr. Gilmar Mendes a ele retornou, como Advogado Geral da União de Fernando Henrique Cardoso. Com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira, Fernando Henrique o levou ao Supremo. No mesmo dia em que foi sabatinado, o jurista Dalmo Dallari advertiu que, se Gilmar chegasse ao Supremo, estariam “correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Pelo que estamos vendo, Dallari tinha toda a razão.


Gilmar, como advogado geral da União – e o fato é conhecido –, recomendara aos agentes do Poder Executivo não cumprirem determinadas ordens judiciais. Como alguém que não respeita as decisões da justiça pode integrar o mais alto tribunal do país?  Basta isso para concluir que Fernando Henrique, ao nomear o Sr. Gilmar Mendes, demonstrou o seu desprezo pelo STF. O Supremo, pela maioria de seus membros, deveria ter o poder de veto em casos semelhantes.


Esse comportamento de desrespeito – vale lembrar – ocorreu também quando o Sr. Francisco Rezek renunciou ao cargo de Ministro do Supremo, a fim de se tornar Ministro de Relações Exteriores, e voltou ao alto tribunal, re-indicado pelo próprio Collor. O episódio, tal como a posterior indicação de Gilmar, trouxe constrangimento à República. Ressalve-se que os conhecimentos jurídicos de Rezek, na opinião dos especialistas, são muito maiores do que os de Gilmar. Mas se Rezek não servia como chanceler, por que deveria voltar ao cargo de juiz a que renunciara?  São atos como esses, praticados pelo Poder Executivo, que atentam contra a soberania da Justiça, encarnada pelo alto tribunal.

 

A nação deve ignorar o esperneio do Sr. Gilmar Mendes. Ele busca a confusão, talvez com o propósito de desviar a atenção do país das revelações da CPI. O Congresso não se deve intimidar pela arrogância do Ministro, e levar a CPMI às últimas conseqüências; o STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como mensalão, como está previsto. Acima dos três personagens envolvidos na conversa estranha que só o Sr. Mendes confirma, lembremos o aviso latino, de que testis unus, testis nullus, está a Nação, em sua perenidade. Está o povo, em seus direitos. Está a República, em suas instituições.


O Sr. Gilmar Mendes não é o Supremo, ainda que dele faça parte. E se sua presença naquele tribunal for danosa à estabilidade republicana – sempre lembrando a forte advertência de Dallari – cabe ao Tribunal, em sua soberania,  agir na defesa clara da Constituição, tomando todas as medidas exigidas. Para lembrar um autor alemão, Carl Schmitt, que Gilmar deve conhecer bem, soberano é aquele que pratica o ato necessário.