sábado, 30 de abril de 2011

A direita e a sua fábrica de mentira

Reproduzo artigo de Atilio Borón, publicado no sítio Correio da Cidadania:

A cúpula da extrema-direita mundial em Buenos Aires revela diversas coisas. Mais visivelmente, o crescente desespero do imperialismo em "reorganizar as suas tropas" e tentar recuperar o controle total do continente.

A heróica resistência de Cuba (onde o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba acaba de ratificar a continuação do projeto socialista, devidamente atualizado); a força política radical dos processos em curso na Venezuela, Bolívia e Equador; e, finalmente, a persistência de uma orientação latino-americanista e integracionista no Brasil, Argentina e Uruguai geram ansiedade nos administradores imperiais.

O resultado do primeiro turno das eleições no Peru e a probabilidade de uma vitória de Ollanta Humala é outra dor de cabeça para o ocupante da Casa Branca. Daí a hiperatividade dos publicistas imperiais, com Mario Vargas Llosa como aclamada figura de proa, acompanhado por figuras pouco apresentáveis tais como Jose Maria Aznar, derrotado numa eleição por mentir descaradamente aos espanhóis sobre os atentados de Atocha, e Arnold Schwarzenegger, o arquiteto da destruição progressiva do mais importante sistema de universidades públicas nos Estados Unidos, a Universidade da Califórnia, que combinou amplos critérios de inclusão social com altos níveis de excelência acadêmica.

A chegada à Argentina deste contingente, organizado e financiado por poderosos "think tanks" da direita radical, como a Mount Pelerin Society, o Instituto Cato, a Heritage Foundation e o National Endowment for Democracy, com laços estreitos com os serviços de inteligência dos Estados Unidos e um desonroso ativismo a serviço das mais criminosas ditaduras latino-americanas, demonstra a internacionalização agressiva da direita, sob a direção geral de Washington, e a importância que atribuem à "reconquista" deste continente.

Mas o evento também revela algo que nem mesmo o uso virtuoso da linguagem de Vargas Llosa, ou os artifícios retóricos de outro visitante, Fernando Savater, pode esconder: o neoliberalismo é uma receita que só serve para enriquecer os ricos e empobrecer os pobres. Estão aí a comprová-lo os casos, já não da América Latina, mas da Europa rica e dos próprios Estados Unidos, exemplos claros da débâcle a que levam às políticas neoliberais. Num movimento sem precedentes, a agência de cotação de risco Standard & Poors acaba de modificar a nota dos títulos da dívida dos EUA de "estável" para "negativa".

O neoliberalismo transformou a superpotência imperialista numa nação de mendigos que irá sobreviver enquanto os chineses, japoneses e sul-coreanos estiverem dispostos a continuar a emprestar-lhes dinheiro. A dívida pública dos EUA chegou a 47000 dólares per capita, e a nível mundial já supera 14 trilhões de dólares, um montante igual ao seu PIB, enquanto há apenas 30 anos oscilava em torno de 1 trilhão de dólares. Um sucesso das políticas neoliberais, é claro!

Por sua vez, a crise na Europa, que começou na Grécia, já se alastrou com seu "efeito dominó" a Portugal e Irlanda; Itália e Espanha estão no fio da navalha, enquanto a França, Inglaterra e Alemanha vêem a sua situação deteriorar-se dia após dia. Mas os ideólogos e propagandistas do neoliberalismo persistem no seu sermão, pois nas águas turbulentas da crise o capital financeiro fortalece-se à custa dos milhões que são declarados em bancarrota. Três milhões de mutuários de hipotecas em falta nos Estados Unidos não impediram que o salário anual dos principais CEOs de Wall Street voltasse aos níveis multimilionários. Numa palavra, os nossos ilustres visitantes não são nada mais do que um bando de vigaristas e publicitários, que na sua ideologia barata ignoram os dados que emergem da experiência, da realidade.

Uma vez que os participantes do conclave de Buenos Aires insistem tanto nos benefícios do neoliberalismo para a nossa região (e nas virtudes do modelo chileno, tão exaltadas por um dos seus porta-vozes, também participante na reunião, Sebastian Edwards), é oportuno dar uma olhadela no que pensam os latino-americanos a respeito das políticas neoliberais.

A consultora Latinobarómetro publica uma pesquisa anual das opiniões e atitudes políticas e sociais da população em 18 países da região. Os seus dados são ainda mais relevantes porque é uma empresa com um forte viés conservador e insuspeita de ser crítica do neoliberalismo. Em edições anteriores do relatório anual esqueceu-se de mencionar que em 2002 tinha havido um golpe de Estado na Venezuela. Agora, na página 26 do seu relatório para o ano de 2010, diz-se que nesse ano no Equador "houve um incidente confuso com as forças policiais, que foi qualificado por alguns como ‘golpe’". Deixamos os leitores tirarem as conclusões por si mesmos.

Bem, nesse documento perguntou-se aos entrevistados se eles acreditam que as privatizações foram benéficas para o seu país. Seria bom que Don Mario e seus amigos dessem uma espreitadela nestes dados, porque na América Latina, no seu conjunto, apenas 36% responderam afirmativamente. E se se observam os dados para o Peru, apenas 31 % deram a mesma resposta, 34% no Chile e 30% na Argentina. Quando interrogados sobre a sua satisfação com os serviços públicos privatizados (outro dos cavalos de batalha do neoliberalismo), apenas 30% dos latino-americanos responderam que sim, 27% no Chile e no Peru, e 30 % na Argentina.

Questionados sobre a situação econômica dos seus países, 27% dos entrevistados no Chile - ou seja, cerca de um em cada quatro - dizem que é boa ou muito boa, contra 17% na Argentina (igual à média latino-americana) e escassos 10% no Peru de Alan García e seu (agora) admirador Mario Vargas Llosa. Quando a pesquisa perguntou "quão justa é a distribuição da riqueza", o país com a maior proporção de pessoas que dizem que é "justa ou muito justa" é a muito criticada - pelos organizadores desta maratona publicitária – Venezuela bolivariana, com 38%, em comparação com 14% no Peru e 12% na Argentina e no Chile, país que os nossos visitantes sugerem imitar pelas suas conquistas econômicas e sociais, embora 88% da população entrevistada diga que a atual distribuição de riqueza é injusta. De fato, um detalhe insignificante para os ideólogos de direita.

Poderíamos continuar a fornecer fatos e números que revelam a profunda insatisfação com os resultados das políticas neoliberais na América Latina. Claro que isso não vai mudar nem um pouco a posição dos nossos visitantes. Assim como os teólogos medievais insistiram em que a Terra era plana, enquanto contemplavam as esferas do Sol e da Lua, estes anunciantes modernos estão fazendo seu trabalho, sem se intimidarem com os dados da experiência empírica. A sua missão é propagar estas "mentiras que parecem verdade", para usar uma frase incisiva do escritor e notável publicista do império, que com a sua florida e precisa prosa teve a delicada tarefa de dar credibilidade a um golpe que os nossos povos pagam com a sua dor e, muitas vezes, com suas vidas.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Umberto Martins: a patrulha ideológica da TV Globo contra o MST e as lutas sociais

Artigo publicado no Centro de Estudos de Mídia alternativa Barão de itararé, em 21 de abril de 2011

A Globo não se cansa de tentar criminalizar as lutas sociais. Um dos seus alvos prioritários é o Movimento dos Sem Terra (MST). Esta linha reacionária foi reiterada no Jornal Nacional de sexta-feira, 14, que “denuncia” com afetada indignação o comportamento do governo estadual baiano diante de uma manifestação dos sem-terra pela reforma agrária.

“O governo da Bahia está pagando comida e banheiros químicos para um grupo de sem terra que invadiu repartições públicas estaduais”, diz a reportagem. “As despesas são cobertas com dinheiro público. São 3 mil pessoas ligadas ao MST. Só com açougue, a Secretaria Estadual de Agricultura, até agora, já gastou cerca de R$ 30 mil. São 300 quilos no almoço, mais 300 quilos no jantar, tem sido a média diária do consumo de carne”.

Rostos globais indignados
A emissora, que tratou de repercutir o tema no jornal e na internet, aborda o gesto do governo do ex-sindicalista Jacques Wagner como uma política inaceitável, absurda, insinuando ainda que a ajuda é irregular. A indignação fica estampada nos rostos, movimentos e tom dos comentários dos jornalistas.

Inquirido pelo Jornal Nacional, o secretário da Comunicação Social, Robinson Almeida, que falou pelo governo do estado, explicou que não há ilegalidade no pagamento das despesas dos manifestantes. “É uma questão de saúde pública e segurança alimentar. Crianças, idosos, jovens, adultos, velhos que precisavam desse apoio do governo”, afirmou. O argumento não convenceu a Organizações Globo.

Caso de polícia
Refletindo a ideologia e os interesses da nova e velha direita, o veículo da família Marinho, que prosperou sob o regime militar e hoje lidera o oligopólio da comunicação televisiva no Brasil, ainda pensa que luta social é caso de polícia e pressiona para que seja tratada como tal. Estará com saudades dos tempos da “ditabranda”, que apoiou até o último minuto?

No ódio que a Globo destila ao MST e aos trabalhadores, transparece as digitais de classe e o rancor característico das forças obscurantistas. Quando critica a conduta do governo baiano, a emissora sugere, de forma velada, que o movimento seja tratado a pau e bala, como nos anos em que os generais comandavam a política.

Crime?
Os trabalhadores, segundo o Jornal Nacional, “estão acampados em Salvador desde o início da semana. Invadiram estacionamentos e jardins do centro administrativo do governo da Bahia. São 3 mil pessoas ligadas ao MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Chegaram de 19 regiões do estado e dizem que só vão sair da área quando forem recebidos pelo secretário da Agricultura.”

“Nós estamos pedindo o assentamento das famílias acampadas, assistência técnica, condições de escola nos assentamentos, melhoramento de estradas”, disse o coordenador do MST, Marcio Matos. Há algum crime nisto? Depende do ponto de vista. Quem se guia pela Rede Globo e é destituído de senso crítico (e não são poucos), certamente dirá que sim.

Quem desenvolveu uma consciência social mais avançada e sensibilidade diante do drama de humildes sem-terra verá que se trata de uma luta justa e legítima pela reforma agrária. O governo de Jacques Wagner, o MST e os trabalhadores sem-terra merecem toda a solidariedade das forças e personalidades progressistas diante da investida reacionária e tendenciosa desta mídia venal.

O Maconhal Caseiro

Reproduzo artigo do jornalista Marco Aurélio Mello, postado no blog DoLaDoDeLá

Imagine um guarda-roupas modelo antigo, de madeira de bálsamo, todo revestido por dentro com papel alumínio. A iluminação interna é forte, com lâmpadas que ficam permanentemente acesas (etapa de claro, para quem estudou botânica na escola). Na base do guarda-roupas, uma floreira com terra bem adubada e um vaporizador ligado permanentemente, para jogar bastante umidade lá dentro, enquanto as portas estiverem fechadas. Pronto, assim se faz um maconhal caseiro. Basta jogar sementes transgênicas no solo e, se tudo der certo, em 120 dias a Cannabis Sativa já estará em plena produção. Longe do morro, de testemunhas e de riscos! A colheita é feita retirando-se os topos, depois que a planta começa a perder as folhas grandes e amareladas. Tudo pode sem embalado e levado ao freezer. Para secar bastam 30 segundos no forno de microondas. Algumas pessoas fumam em cigarros, outras em cachimbos e, mais recentemente os jovens passaram a adotar os narguliés. São jarros com água e aromatizantes, ou álcool, que resfria, filtra e retira da fumaça as particulas sólidas. Além disso, disfarça o cheiro forte, o que é uma boa saída para quem mora em apartamentos baixos e quer evitar que o vizinho de cima sinta o odor forte da erva. E lembre-se: maconha é como um bom vinho tinto: melhora com o passar do tempo, porque vai perdendo o gosto de clorofila. Mas vale lembrar também que plantar, vender e fumar é crime, pelo menos por enquanto. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está aí na luta pela legalização, o que na modesta opinião do DoLaDoDeLá seria ótimo! Você tira poder do crime organizado, traz a indústria para a formalidade e usa os impostos para campanhas de conscientização.

Paulo Bernardo descarta agência reguladora

Reproduzo matéria de André Barrocal, publicada no sítio Carta Maior:

O Ministério das Comunicações exibe hoje um caráter estratégico que não possuía na gestão Lula, que preferiu comprar brigas em áreas diferentes e incluía a pasta em negociações com partidos aliados em troca de apoio político. O ministro atual, Paulo Bernardo, é escolha direta da presidenta Dilma Rousseff, que optou por usar outras pastas para segurar aliados. Ele tem respaldo dela para tocar com prioridade três pautas tidas como fundamentais pelo governo: massificação da banda larga, inclusão digital e marco regulatório da radiodifusão.

Os planos do ministro foram apresentados nesta quinta-feira (28/04) à Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular. O grupo, que reúne congressistas e representantes da sociedade civil, saudou a mudança de atitude do ministério. E apóia uma agenda construída dentro do Palácio do Planalto ainda no tempo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No caso do marco regulatório da radiodifusão, ponto mais polêmico da pauta de Bernardo e cujo objetivo é atualizar uma legislação que em 2012 completará 50 anos, o ministro disse que o governo ainda estuda o assunto e não fixou um prazo para concluir o trabalho. O ponto de partida continua sendo proposta deixada pelo ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins. O texto foi entregue a Bernardo no dia 8 de janeiro, pelo chefe de gabinete de Franklin, Sylvio Coelho.

Na reunião com a Frente, o ministro avisou que mexerá num aspecto central do projeto herdado, pois não seria possível criar, hoje, uma agência para regular conteúdo da radiodifusão e analisar a concentração empresarial no setor. Ele acha melhor que a regulação do conteúdo fique na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que seria reestruturada e mudaria de nome para Agência Nacional de Comunicações. E que casos de concentração passem pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que já existe para avaliar questões concorrenciais.

“Estamos com dificuldade para encontrar um modo de separar a regulação em duas agências. Mas a palavra final será da presidenta Dilma”, afirmou Bernardo. “A presidenta não vai deixar vir ao Congresso um projeto desses sem examinar a redação.”

Clima político

Além da dificuldade técnica apontada - mas não detalhada - pelo ministro, o governo acredita que, do ponto de vista político, também seria melhor buscar outro caminho. A ideia de uma agência para cuidar de conteúdo assusta adversários de um novo marco regulatório da radiodifusão, convictos de que o debate esconde suposta intenção do governo de controlar ou censurar rádios e televisões. Boa parte do Congresso, que terá de votar o projeto, tem interesse direto (parlamentares donos de emissoras) ou indireto (pressão de grupos empresariais) no tema.

“Há uma reação conservadora à proposta, uma atitude antidemocrática de quem não quer nem debater”, disse o deputado Fernando Ferro (PT-PE), integrante da Frente. “Queremos que os dois lados se encontrem para conversar”, completou.

A composição da Frente é exemplo da falta de diálogo. São 194 parlamentares e 100 representantes da sociedade civil. Mas, segundo a coordenadora-geral da Frente, deputada Luíza Erundina (PSB-SP), nenhuma entidade representativa das grandes empresas aderiu, embora tenham sido convidadas. “Esse é um ministério das Comunicações diferente, percebemos uma disposição de dialogar que não havia no outro governo”, disse Erundina. “Mas o debate da democratização da mídia só vai andar com pressão da sociedade. E eu sinto que estamos na hora certa para avançar.”

“Esse é um momento histórico. A reforma do marco regulatório não foi feita com Lula, mas pode ser com Dilma”, concordou Gésio Passos, representante do coletivo Intervozes, entidade que faz parte da coordenação da Frente. Até mesmo um deputado-empresário da Frente expressou, na reunião, opinião que sugere que o clima está mesmo mais favorável para modernizar o Código Brasileiro de Teleomunicações.

“Temos de acabar com a polarização dos grandes conglomerados que concentram a comunicação. Sou um grande defensor das radios e Tvs comunitárias.” disse Nelson Marquezelli (PTB-SP). “E temos de educar os empresários brasileiros, e eu sou um empresário, de que este é um país de todos, não apenas de alguns.”

Luis Fernando Verissimo: sobre Lula, FHC e a classe média

Publicado em 28 de abril de 2011 às 15:45 na Direito à comunicação, Notícias

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.

— É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior — tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.

— A nova classe média nos descaracterizou?

— Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada…

— Buuu para o Lula, então?

— Buuu para o Lula!

— E buuu para o Fernando Henrique?

— Buuu para o… Como, “buuu para o Fernando Henrique”?!

— Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?

— Sim. Não. Quer dizer…

— Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.

— Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.

— Por quê?

— Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.

— Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?

— Acho, mas…

Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

Globo completa 46 anos com o pior Ibope

Reproduzo matéria publicada no portal R7:

Nesta terça-feira (26), quando completou 46 anos de existência, a Globo recebeu de presente uma notícia nada agradável. Dados apontaram que a emissora teve somente 16,2 pontos de média de audiência do início do ano até agora, entre 7h e 0h na Grande São Paulo. Esse resultado está 0,3 ponto abaixo da média registrada ao longo de todo o ano de 2010 e é o mais baixo registrado pela emissora do Jardim Botânico, desde sua fundação.

As quedas de audiência da Globo vêm se acentuando desde 2006. Naquele ano, a emissora registrava média de 21,4 pontos, ou seja, 5,2 pontos a mais do que tem apresentando atualmente. Esse número representa também o terceiro recuo consecutivo em três anos e indica uma queda de cerca de 26% em relação ao maior ibope obtido pela Globo nos últimos dez anos: 21,7 pontos em 2004.

Como não houve uma mudança grande no número de televisores ligados nesse mesmo período, esses dados mostram que a Globo perdeu telespectador, seja para outras emissoras abertas, canais fechados ou DVDs.

As manhãs globais, por exemplo, vêm apresentando sérios problemas. Na última quarta-feira (20), o programa Fala Brasil (Record) ampliou ainda mais a vantagem em relação ao Mais Você (Globo). Naquela data, os dados mostravam que a atração da Record atingiu 7,2 pontos de audiência e share (participação de televisores ligados) de 27,4%. Já o Mais Você não passou de 6,4 pontos no Ibope, com share de 24,3%.

O programa ancorado por Ana Maria Braga vem perdendo audiência sucessivamente, o que tem colocado o diretor Boninho em situação ainda mais desconfortável. Ele, que já vinha se enfraquecendo na emissora carioca, perdeu espaço e prestígio neste ano com a estreia do Bem Estar, em fevereiro. O programa de qualidade de vida tirou 40 minutos da TV Globinho e não é subordinado ao diretor, que comandava toda a manhã da Globo.

Boninho também teve dificuldades com o BBB, programa que, quando lançado, foi responsável pela mudança de seu status. A edição deste ano teve o desempenho mais fraco desde a estreia do reality show, em 2002.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Jornal Nacional e a "agenda do terror"

Reproduzo artigo de Antônio Mello, publicado em seu blog:

O Jornal Nacional desta segunda (25/4) não deu uma palavra sobre as reportagens de Chico Otavio e Alessandra Duarte publicadas em edições do jornalão das Organizações Globo.

Talvez porque sejam boas, bem feitas e com denúncias que não interessam ao doutrinador da Opus Dei (sei que ele só fez o curso, mas falo de ideologia e não de religiosidade).

Os repórteres de O Globo (os da TV Globo ficaram vendo Xuxa) tiveram acesso à agenda que estava no bolso do sargento Guilherme Pereira do Rosário, o agente que deixou que explodisse em seu colo a bomba que era para causar um pandemônio no show do Dia do Trabalhador de 1981, que vai completar 30 anos no próximo domingo, que ficou conhecido como a Bomba do Riocentro.

Na agenda, nomes e telefones de agentes da repressão, gente insatisfeita com a entrega do poder aos civis.

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Na segunda metade dos anos 70, o governo Geisel determinou a desmobilização da máquina de torturar e matar nos porões do regime, que mudou de direção, indo da brutalidade para ações de inteligência, com a reestruturação dos DOIs. Descontentes com as mudanças, sargentos como Rosário, sobretudo os paraquedistas arregimentados anos antes pela repressão, transformaram-se em braços operacionais de grupos terroristas de extrema direita. Rosário e sua turma foram buscar na ação clandestina, fora da cadeia de comando, o poder gradativamente perdido.

Da comunidade de informações, a caderneta de telefones de Guilherme do Rosário trazia, por exemplo, o nome de Wilson Pinna, agente da Polícia Federal aposentado. Entre 1979 e 1985, Pinna trabalhava no Dops, na coleta e análise de informações. Era um dos que, por exemplo, iam a assembleias, protestos, comícios e outras reuniões para ver quem dizia o quê. Pinna chegou a, por exemplo, coordenar a análise de informações do movimento operário da época.

(...)

Aposentado da PF em 2003, Wilson Pinna foi exonerado, em 2009, de cargo comissionado que ocupava na assessoria de inteligência da Agência Nacional de Petróleo (ANP), após ter sido acusado pela Polícia Federal como o autor do falso dossiê contra o então diretor do órgão, Victor de Souza Martins, irmão do então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Pinna foi denunciado na 2ª Vara Federal Criminal do Rio pelos crimes de interceptação telefônica ilegal e quebra de sigilo fiscal.

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No trecho que destaquei em negrito está a explicação do motivo de Kamel não levar ao ar uma reportagem sobre o assunto. O JN comprou como verídica a armação contra o irmão de Franklin Martins (o alvo de Kamel e da Globo). Kamel sabia que a operação era ilegal, que vinha dos subterrâneos, mas colocou no ar mesmo assim.

Por que afirmo isso? Confira essa postagem aqui do blog de 29 de setembro de 2009:

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Jornal Nacional faz reporcagens baseadas em relatório ilegal

Réu confesso, o JN em sua edição de ontem confirmou que todas as reportagens que vem fazendo a respeito de um suposto “escândalo dos royalties na Agência Nacional do Petróleo (ANP)” são reporcagens pois estão baseadas num relatório ilegal (veja imagem acima):

Repórter Délis Ortiz: “A reportagem foi ao ar no dia 9 de abril. Com base em informações de fontes que garantem que o relatório foi elaborado por agentes da Polícia Federal que trabalham na assessoria de inteligência da ANP. Hoje, as mesmas fontes voltaram a confirmar as informações e reafirmaram que o relatório foi feito de forma ilegal”.

Repare que o verbo usado é reafirmar, o que, evidentemente, significa que a ilegalidade do relatório já havia sido assumida anteriormente. Pelo menos para eles. Mas, se o relatório é ilegal e apócrifo, por que colocar a reporcagem no ar? Apenas testando hipóteses para ver se conseguem atingir o ministro da Comunicação do governo Lula, Franklin Martins, que é irmão do suposto (como se usa a palavra suposto hoje em dia nessas reporcagens) acusado?

Tão grave quanto isso é a edição maliciosa da reporcagem, que confunde a cabeça do telespectador. O texto diz “relatório foi elaborado por agentes da Polícia Federal que trabalham na assessoria de inteligência da ANP”, mas as imagens que o ilustram são da sede e do símbolo oficiais da Polícia Federal. Ao final do trecho reproduzido, o que ilustra a palavra “ilegal” é a placa do prédio da ANP .

Tudo isso para quê, se a reporcagem é um saco vazio que não para em pé, como demonstrou Victor Martins, que é o suposto acusado no relatório ilegal:

“Vi também, na imprensa, para ser mais exato no Jornal Nacional, que algumas das informações teriam vazado do setor de inteligência da própria ANP. O setor de inteligência é ligado ao diretor-geral, Haroldo Lima, que prontamente esclareceu que não houve nenhuma determinação nesse sentido. O responsável pelo setor também me disse que não fez nenhum trabalho nisso e me apresentou um documento de autoria do superintendente da Policia Federal do Rio de Janeiro em que ele negava que tivesse dado aquela declaração atribuindo a inteligência e dizia que estava em curso pra apurar autenticidade e veracidade daquela documentação.”

Ou seja, a Polícia Federal passou a operar para ver há veracidade no que estava contido num relatório apócrifo realizado de forma ilegal...

Cuidado, Globo, porque a PF pode acabar chegando aí. Duvidam? Daniel Dantas também duvidava.

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Não precisou nem da Polícia Federal. Repórteres de O Globo desmentem o Jornal Nacional. E fazem reportagem. Não a reporcagem que Kamel costuma servir no JN.

RJ lança campanha da banda larga

Reproduzo matéria publicada no sítio do Instituto Telecom:

Com o objetivo de pressionar o governo nas decisões do Plano Nacional de Banda Larga e na promoção da inclusão digital do país, entidades da sociedade civil lançaram ontem, 25/04, a campanha Banda Larga é um Direito Seu!

O movimento foi lançado simultaneamente em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. E teve como principal motivo a preocupação com a relevância das metas e políticas presentes no Plano Nacional de Banda Larga e dos rumos tomados pelo governo que deixou de lado escolhas importantes como a prestação do serviço de banda larga em regime público. Dentro das reivindicações do movimento estão a exigência de uma participação efetiva da sociedade civil nas decisões do PNBL em espaços como o Fórum Brasil Conectado e a criação do Fórum Participativo de Acompanhamento do Plano Nacional de Banda Larga.

Na abertura do evento, no Rio de Janeiro, Márcio Patusco, do Clube de Engenharia, falou da importância de se refletir o significado da banda larga para o país e que o momento é de pressionar o poder público. “O governo está relutante em colocar a banda larga como serviço público. Então só nos resta insistir. Já que a implementação da banda larga será suporte para todos os serviços de telecomunicações durante muito tempo”, afirmou Patusco.

Marcello Miranda, do Instituto Telecom, criticou a meta do governo de massificar, ao invés de universalizar a internet e de utilizar equivocadamente a competição defendida pela Lei Geral de Telecomunicações como base para o Plano Nacional de Banda Larga. “O mínimo de avanço em telecom foi produto dos contratos de concessão do Plano Geral de Metas de Universalização da telefonia fixa. Não da competição. E eu temo que o PNBL tenha partido do mesmo legado: a competição”.

Diante da dificuldade de negociação com o governo de alterar o regime de prestação do serviço de banda larga de privado para público, Miranda, que também é membro do Conselho Consultivo da Anatel pelo Instituto, lembrou que uma das possibilidades do conselho é opinar com relação à prestação do regime de banda larga. E propôs que as entidades da campanha se articulassem mais com o próprio Conselho Consultivo. “É importante que as entidades da campanha encaminhem para o conselho uma proposta definindo a prestação da banda larga em regime público. Porque este é o momento para isso.”

Durante o evento ficou claro a necessidade de se ter agendas para promover o debate da banda larga e a realização de uma vigília permanente para que as políticas de banda larga sejam pautadas no interesse público. Dentre as ações previstas pela campanha no Rio estão a realização de dois painéis para os próximos meses um para discutir o PNBL e outro sobre políticas de telecomunicações. As datas ainda serão confirmadas.

O Instituto Telecom acredita que assim como a realização da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) foi decisiva para todas as ações e debates importantes que estão ocorrendo sobre banda larga e Marco Regulatório da Comunicação. Iniciativas por parte da sociedade civil como a campanha Banda Larga é um Direito Seu! são essenciais para mobilizar o governo a tomar decisões que de fato atendam o interesse público.

A própria assinatura da presidente Dilma Rousseff, na semana passada, para a criação da Secretaria de Inclusão Digital e de uma nova coordenação-geral para a radiodifusão comunitária, assim como as mudanças e o fortalecimento que estão ocorrendo na atuação do Ministério das Comunicações, são resultados da luta da sociedade civil em ser representada nas decisões do governo.

Mídia lamenta “esfarelamento” da direita

Reproduzo artigo de Altamiro Borges, postado em seu blog

A mídia demotucana está apavorada com o esfarelamento dos partidos da direita nativa. Editorialistas e “calunistas” tentam entender o que se passa. Como autêntico partido da oposição, conforme confessou no ano passado Judith Brito, executiva da Folha e presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), a mídia teme ficar ainda mais isolada.

O Globo quer cassar o PSD

Em seu editorial de hoje, O Globo parte para o desespero. Ele critica os “oposicionistas inseguros que debandam em busca do remanso no bloco situacionista”. O alvo da sua ira é o PSD, “legenda de conveniência do prefeito Gilberto Kassab”. Acuado, o jornalão da famiglia Marinho prega abertamente a cassação dos mandatos dos “adesistas”.

“Não se nota qualquer forte justificativa para a Justiça permitir que a fidelidade partidária seja atropelada nesse surto de adesismo”, esbraveja O Globo. O seu temor é com a ampliação da base de apoio do governo Dilma, que “contraria a vontade do eleitor”, alega o jornal, o mesmo que apoiou o golpe militar e tantas outras tramóias. Haja cinismo!

Folha chora “revoada da oposição”

No mesmo rumo, editorial da Folha lastima a “revoada na oposição”. Para a famiglia Frias, “a saída de seis vereadores do PSDB paulistano evidencia conflito Alckmin-Kassab e amplia o desgaste entre oponentes do governo federal”. O jornal até trata a briga como “paroquial e provinciana”, mas reconhece que a oposição vive uma situação “desesperante”.

“O racha no partido e a exposição agora aberta da rivalidade entre Alckmin e Kassab dificultam eventual candidatura de José Serra em 2012. Citado como único nome capaz de ainda unir prefeito e governador na sucessão municipal, Serra encontrará no quintal de sua própria casa um terreno mais minado do que imaginava”, aponta o jornal serrista.

Desespero dos serviçais de FHC

Os sinais de desespero da mídia são risíveis. A cada nova desgraça – demos e tucanos ingressam no PSD, Alckmin e Serra se bicam com violência, Aécio é detido em blitz policial –, a mídia demotucana se contorce. Alguns colunistas inclusive já decretaram o “desmanche da oposição”, a sua falência múltipla e completa.

Rubens Barbosa, ex-embaixador de FHC em Washington, colunista do Estadão e estrela da TV Globo, é um dos mais deprimidos. Em artigo publicado hoje no Estadão, ele choraminga: “As três últimas derrotas do PSDB em eleições presidenciais deixaram a oposição sem discurso e sem bandeiras – como a modernização do país e as privatizações –, cujos resultados positivos foram renegados três vezes, pelo próprio partido, durante as campanhas eleitorais”.

A mídia é a verdadeira oposição

Ele até reforça a tese de Judith Brito. “De maneira competente, o governo do PT ocupou todos os espaços políticos. A oposição, reduzida aos pronunciamentos parlamentares, teve pouca relevância e influência no processo político, pela dificuldade de ser ouvida pela sociedade. O papel da oposição, em larga medida, foi representado pela mídia”.

Mais resignado, Fernando de Barros e Silva, colunista da Folha, até zomba da crise demotucana. “Roupa suja se lava em casa. Sim, mas a oposição já não tem roupa, está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise em praça pública. Perdeu, literalmente, a vergonha de mostrar seus vexames. A nudez é tanto do DEM quanto do PSDB”.

Para ele, o “esfarelamento da oposição” é inevitável e o clima de guerra entre os demotucanos deve piorar ainda mais. Como prova, ele cita a reação furiosa do demo-ruralista Ronaldo Caiado, que disparou no seu twitter: “Que os coveiros fracassados sigam o caminho adesista e de traição”. A mídia chora, mas não deixa de ser divertida a briga da direita!

Agonia da oposição e o silêncio de Serra

Reproduzo artigo de Ricardo Kotscho, publicado no blog Balaio do Kotscho:

Tema dominante nas colunas políticas das últimas semanas, a agonia em praça pública dos partidos de oposição não mereceu ainda qualquer manifestação do seu maior líder até o final do ano passado, o ex-candidato presidencial José Serra, que sumiu do cenário político.

Na medida em que PSDB e DEM vão desmilinguindo a cada dia, e engordando o PSD de Gilberto Kassab, mais estranho fica o silêncio do ex-governador paulista, que abriu duas frentes de combate nos bastidores e sumiu.

No plano federal, os serristas disputam o comando do partido com o senador mineiro Aécio Neves, que se apresenta como candidato natural dos tucanos nas eleições de 2014. Em São Paulo, o confronto se dá entre a turma de José Serra e a turma de Geraldo Alckmin, com os dois lados sofrendo baixas. Na semana passada, perderam metade da bancada de vereadores paulistanos.

Nesta segunda-feira, foi a vez do serrista Walter Feldman, secretário da prefeitura paulistana e um dos fundadores do partido, pedir para sair do PSDB.

Desde o dia 18 de março, quando foi anunciada oficialmente a criação do PSD de Kassab, uma cria de Serra recrutada no malufismo para ser seu vice e depois prefeito de São Paulo, a oposição passa por um desmanche federal.

O que quer Serra, afinal? Qual o seu papel na criação do PSD, que pode ser tudo, menos um partido de oposição? O que ele acha da fusão do PSDB com o DEM, já chamado de o abraço dos afogados? O que fazer com o PPS do seu aliado Roberto Freire, que foi à Justiça para salvar alguns (poucos) parlamentares em suas fileiras?

Ninguém sabe. A situação chegou a tal ponto que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a sair dos seus cuidados para tentar salvar alguns aliados do seu lado.

Primeiro, FHC lançou um manifesto, “O papel da oposição”, que deveria servir de bússola para os náufragos, mas no fim só aumentou a confusão, causando divergências entre os líderes tucanos, que não entenderam direito a opção dele pela nova classe média, deixando o “povão” para o PT.

Agora, o ex-presidente está sendo chamado para servir de bombeiro até em Santa Catarina, onde o governador Raimundo Colombo, o único do aliado DEM, também está ameaçando sair do partido, abrindo a porteira para a família Bornhausen.

O estado de saúde da oposição brasileira é tão grave que deve estar preocupando até mesmo o governo federal e os que verdadeiramente defendem a democracia no país. Não é bom para ninguém que sucumbam as lideranças dos partidos de oposição, deixando o campo livre para setores radicalizados da mídia, do empresariado e das igrejas.

Nestas horas, ainda mais com a delicada situação econômica do momento, costumam aparecer malucos salvadores da pátria, o que é sempre um perigo. Para se ter uma ideia, a bancada da oposição caiu para apenas 96 parlamentares na Câmara Federal, num total de 514 deputados, o menor número em 15 anos.

De outro lado, a base do governo cresceu tanto que a ministra Ideli Salvatti, da Pesca, se permite até fazer piada: “Com uma base assim, é melhor passar protetor…”.

Aguarda-se alguma palavra de José Serra, ainda que seja pelo twitter.

Outro serrista abandona o PSDB

Reproduzo artigo de Altamiro Borges, postado em seu blog

Fundador do PSDB e fiel aliado de José Serra, o secretário municipal de Esportes e Lazer de São Paulo, Walter Feldman, anunciou ontem (25) a sua saída da legenda tucana. Alegou que não há mais clima no partido, hoje controlado pelo governador Geraldo Alckmin. “Eu preciso de uma legenda na qual me sinta abraçado ideologicamente. Estou muito machucado”, choramingou.

“Fomos chamados de traidores”

Na disputa para a prefeitura da capital paulista, em 2008, o tucano Feldman seguiu as ordens de Serra e apoiou o demo Kassab, traindo o candidato oficial do seu partido. Eleito governador em 2010, Alckmin agora dá o troco e se livra dos serristas. A saída de Feldman e de seis vereadores tucanos é reflexo desta guerra interna, agravada com a derrota da direita na eleição presidencial.

“Nós que defendemos a aliança fechada pelo ex-governador José Serra com o Gilberto Kassab em 2008 fomos chamados de traidores. Sinalizamos muitas vezes a vontade de superar esse episódio. Trabalhamos pela campanha do Geraldo em 2010. Ele e seu grupo não conseguiram superar”, explica Feldman, que ainda nega o seu ingresso no PSD, recém-fundado por Kassab.

O inferno astral dos demotucanos

A baixa confirma a grave crise que atinge a oposição demotucana. Patrimonialista e fisiológica, ela sente o baque da derrota em mais uma eleição presidencial. O DEM perdeu 11 deputados federais, uma senadora e dá adeus ao governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo. Há que garanta que não sobrevive até a eleição do próximo ano, que os demos rumam para o inferno.

A situação do PSDB também é dramática. As bicadas entre Serra e Alckmin são sangrentas e abalam a sua prolongada hegemonia em São Paulo. Já o paparicado “novo líder da oposição”, Aécio Neves, é retido numa blitz policial – o boletim de ocorrência fala em “bêbado ou drogado” – e finalmente tem sua vida devassada. Descobre-se que é sócio de uma rádio, que possui uma frota de carros de luxo e que passeia num jatinho de um conhecido corrupto – processado por tráfico de diamantes.

Quadro partidário gelatinoso

O governo Dilma Rousseff comemora a desintegração da oposição demotucana. A base governista no Congresso Nacional nunca foi tão robusta – com o crescimento de setores centristas e certa dispersão do seu núcleo mais à esquerda. Mas essa "maioria política", que poderia ser aproveitada para a votação de projetos de mudanças, esbarra na falta de ousadia do atual governo. Ele festeja a crise da direita, mas não tira proveito para avançar nas mudanças no país.

Quem colhe os primeiros frutos do débâcle da oposição demotucano é o prefeito de São Paulo, que abandonou os demos e criou o PSD – “um partido independente, que não é de direita, nem esquerda ou de centro”. Com forte senso de oportunidade – para não dizer de oportunismo –, vários quadros da direita migram para o novo partido, desesperados com a sua sobrevivência eleitoral. O quadro partidário brasileiro fica ainda mais gelatinoso!

"Minas Sem Censura" detona Aécio

Reproduzo entrevista concedida à jornalista Conceição Lemes, publicada no blog Viomundo:

O senador Aécio Neves (PSDB) faz aniversário em 10 de março. Dizem os astrólogos que os 30 dias anteriores à data correspondem ao nosso inferno astral. O do ex-governador mineiro parece estar fora de época. Começou na madrugada do dia 17 de abril, quando foi parado por uma blitz no Leblon, Rio de Janeiro, e se recusou a fazer o teste do bafômetro. E tudo indica não deve terminar tão cedo.

Pelo menos é a leitura pessoal da entrevista que fiz com Bloco Minas Sem Censura (MSC), criado em 2011, mas gestado desde 2003. Ele é resultado da união das bancadas do PT, PMDB, PCdoB e PRB na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O MCS tem 23 deputados num total de 77. O Bloco tem um site, que só divulga o que pode comprovar. Nos últimos dias, até furos jornalísticos deu. E novidades estão a caminho. Confira a entrevista.

Para quem acompanha Minas Gerais apenas pela “grande imprensa”, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é tudo de bom. O genro que muita mãe sonha ter: bonitão, charmoso, fala mansa, bem-sucedido, boa família. E o político que muitos imaginam na presidência da República devido à versão de que ele fez uma gestão primorosa como governador do estado de 2003 a 2010. O teste do bafômetro carimbou essa imagem pública? Até que ponto o episódio abre brecha para que se conheça de verdade o que foram os oito anos de Aécio como governador de Minas?

O episódio recente, no Leblon, Rio de Janeiro, deixou o eleitor dele e admiradores perplexos e decepcionados. Pela possibilidade de estar embriagado no trânsito, pela recusa ao teste do bafômetro, pelo tratamento privilegiado quando autuado e, principalmente, pelas revelações posteriores sobre o Land Rover e outros carros de luxo. Revelações que abrem suspeitas sobre ocultação de patrimônio, o que seria crime fiscal.

As tentativas da assessoria e de seus amigos de dissimular os fatos só pioraram a percepção do ocorrido. Ele foi pego às 3h58 da madrugada de domingo em circunstâncias bem óbvias. Tentaram fazê-lo de vítima, como se as críticas fossem invasão de privacidade. Ora, um ex-presidente da Câmara de Deputados, ex-governador de Minas e senador da República se envolve em duas ocorrências policiais definidas como gravíssimas, dirigindo um carro de uma empresa de rádio mineira, que foi transferida para sua propriedade no apagar das luzes de 2010, e ainda reivindica tratamento privativo? O cidadão comum, mesmo aquele que o admira, ficou decepcionado. Afinal, a rua não é sala VIP de aeroporto.

O que vem a ser o Bloco Minas Sem Censura?

É a união das bancadas parlamentares estaduais, de quatro partidos, prevista regimentalmente na Assembléia Legislativa (ALMG). Ou seja, é um bloco institucional. O Minas Sem Censura (MSC) é composto pelo PT, PMDB, PCdoB e PRB. Seus líderes e vice-líderes oficiais são: Rogério Correia (PT), Antônio Júlio (PMDB), Gilberto Abramo (PRB), Paulo Lamac (PT), Ivair Nogueira (PMDB) e Ulisses Gomes (PT). O MSC tem 23 deputados estaduais (num total de 77), sendo 11 do PT, 8 do PMDB, 2 do PCdoB e 2 do PRB.

Como, quando e por que surgiu?

Na verdade, o Bloco é resultado de oito anos de resistência política, do acúmulo programático das disputas pelo governo do estado em 2002, 2006 e 2010 e do entendimento de que Minas carece de um projeto de desenvolvimento, com distribuição de renda. Esses 23 deputados são bem distribuídos no estado, a maioria é experiente. A constituição do Bloco incentivou os diretórios dos partidos e suas bancadas federais a se unirem também. Tal movimento é inédito em Minas.

O “sem censura” é uma resposta política ao silêncio que Aécio impôs à mídia mineira?

Não só à mídia. Mas ao silêncio de várias outras instâncias, como o Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público Estadual, o Tribunal de Justiça, a própria Assembleia Legislativa, os meios acadêmicos… Ainda que nessas instituições existam pessoas dispostas a resistir, suas lideranças e dirigentes sempre se afinaram com o projeto pessoal de poder de Aécio. Em conseqüência, ficou parecendo para o Brasil que Minas é uma ilha de prosperidade. O que é falso. O caso mais gritante é o da nossa Assembleia Legislativa, que se tornou homologatória das ordens do governo, sem autonomia.

No caso específico da mídia mineira, a distribuição de verbas de publicidade tem servido à compra da adesão ao governo. No caso da nacional, a despeito de gastos do governo com publicidade, a adesão é mais ideológica. O perfil neoliberal e privatista de Aécio é bem visto por essa mídia nacional.

Aqui em São Paulo o ex-governador José Serra (PSDB) “pedia a cabeça” de jornalistas que ousavam perguntar algo que não estivesse no script acertado com a sua assessoria. O que aconteceu em Minas com os jornalistas “desobedientes”?

Vários documentários, denúncias do Sindicato dos Jornalistas, relatos formais e informais de repórteres e empresários de comunicação demonstraram o tacão disciplinador de Aécio. Muitos “desobedientes” foram demitidos, outros transferidos. Isso fez com que a autocensura se tornasse prática comum nas redações. Aqui, algumas empresas jornalísticas aderiram – ideologicamente! — ao projeto de poder pessoal dele.

Agora, ele não usou apenas o tacão disciplinador como forma de impor adesões. Ele conseguiu principalmente a adesão da elite empresarial do estado para o projeto de recolocar Minas com peso no cenário nacional, sob o argumento de que isso seria conseguido com sua eleição à presidência da República.

Aécio Neves é produto de circunstâncias bem identificáveis. Herdou um governo caótico, o de Itamar Franco, que por sua vez foi vítima da herança de dois governos tucanos: a do governador Eduardo Azeredo (1995-98), que legou a Itamar um estado “quebrado”; e a do FHC (1999-2002), que prejudicou Minas o quanto pode enquanto esteve na presidência da República.

Aí, o então governador “nadou de braçadas”. Aécio surge nesse contexto e monta, para si, uma poderosa máquina de produção e posicionamento de imagem. Tudo isso orientado para seu projeto pessoal de poder.

No site de vocês é dito que se vive em Minas “um atípico estado de exceção”. É dito ainda que Aécio adotou práticas que constrangem também juízes, procuradores, promotores, conselheiros, movimentos sociais, intelectuais, acadêmicos e pesquisadores etc. Que práticas são essas?

Isso inclusive inspirou o nosso nome. Não é um estado de exceção típico, como ocorreu na Alemanha nazista, com a suspensão formal de direitos universais. Mas um estado de fato de exceção, onde o poder econômico do governo compra a adesão ou impõe o terror da distribuição discriminatória de recursos.

As más práticas já denunciadas: dificuldades de tramitação de pedidos de suplementação orçamentária para instâncias que deveriam ser mais autônomas, alocação discricionária de recursos para prefeitos, profusão de consultorias contratando mão de obra nas universidades (para suas pesquisas e relatórios pouco produtivos), interferência na eleição das direções de várias instituições. Um exemplo bem elucidativo: enquanto Lula acatava a indicação do “primeiro” da lista tríplice para a titularidade da Procuradoria Geral da República, Aécio nunca optou por esse caminho em relação ao Ministério Público Estadual.

Se o Bloco tivesse de selecionar três fatos ou obras do governo Aécio, vendidos como exemplos de probidade e gestão competente mas que não correspondem à verdade, o que destacaria?

Vamos lá.

1) “Déficit zero” – Se verdade, significaria o equilíbrio entre receitas e despesas. Só que o professor Fabrício Oliveira comprovou que foi um simples exercício de “contabilidade criativa”. Nada mais é que do que a manipulação de rubricas variadas, de forma a produzir resultados artificiais de equilíbrio fiscal, que não são verificáveis no caixa do governo. Além, claro, de arrocho salarial e restrição de recursos para saúde e educação, a ponto de não cumprir os “mínimos constitucionais” exigidos para essas áreas.

2) “Choque de gestão” – Além do falso “déficit zero”, o choque se completa com a intrusão de ferramentas gerenciais privadas nos processos de gestão públicos, como se estas fossem curar todos os males da máquina administrativa. Aí, vem os técnicos e criam “ilhas de excelência”, ou seja, algumas políticas públicas restritas, apenas para que sirvam de propaganda de êxitos que são, na prática, questionáveis e muito parciais.

Ao final, o estoque da dívida real do estado cresceu de 33 bilhões, em 2003, para 59 bilhões de reais em 2011. Mantêm-se as fortes desigualdades regionais que caracterizam Minas e cresce a desindustrialização no estado. O próprio Itamar, hoje aliado de Aécio, se refere ao choque de gestão como “uma conversa fiada”. O artigo crítico do professor Fabrício Oliveira (Choque de Gestão: verdades e mitos) pode ser encontrado em http://migre.me/4kShA.

3) Centro Administrativo – Desnecessário e na contramão da tendência mundial contemporânea de descentralização. Mais de R$ 1,5 bilhão foi gasto para produzir uma obra destinada a criar uma imagem “Kubitschek” de empreendedor, desenvolvimentista e de jovialidade para o pretenso candidato à presidência da República. Arquitetos e engenheiros estimam que em aproximadamente 15 anos idêntica quantia será gasta em manutenção, adaptação e correção do projeto estrutural. Aliás, a pressa da inauguração expôs falhas e deficiências da obra, que já estão sendo investigadas.

Nos últimos dias, vieram a público o teste do bafômetro, a estranha frota de carros de luxo da rádio, a história do jatinho… Que medidas pretendem adotar em relação a esses fatos?

Exercendo nossas atribuições constitucionais estamos investigando esses e outros fatos. Serão acionadas outras instâncias que têm atribuição de apurar os mesmos fatos. O “jato familiar” tem custos. Quem banca?

Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Há, por exemplo, o aluguel para o grupo Fasano, de um megaedifício do Instituto de Previdência dos Servidores Estaduais de Minas Gerais (IPSEMG), na região mais valorizada da cidade, por R$ 15 mil mensais. Só que o próprio processo de licitação registra pesquisa que aponta para um valor de mercado de até R$ 200 mil reais por mês. Tem o problema das contas públicas, que não batem nos “mínimos constitucionais” para a saúde e a educação. Tem crime eleitoral na eleição de 2010. Tem a negligência na cobrança de royalties de mineração…

Antes, a máquina de propaganda de Aécio divulgava a realização de programas e a alocação de recursos federais, como se fossem estaduais. Hoje somos o contraponto a essa manipulação.

Bloco também tem um blog?

Não temos blog. Temos um site. Há um blog fake que leva nosso nome. Foi criado para confundir. Ou seja, alguém registrou o “domínio” para evitar que usássemos o nome Minas Sem Censura em um blog.

Conseguimos registrar o www.minassemcensura.com.br para o site, Facebook e Flicker; para o Twitter, @MGsemcensura. Esses são os veículos eletrônicos oficiais. Juntando o mailing do Bloco, dos deputados, diretórios dos partidos, militantes e ativistas, estamos atingindo mais de 900 mil endereços eletrônicos validados (sem Spam) em todo o Brasil. Teremos ainda impressos e outros materiais de divulgação de nosso trabalho. Todo esse esforço visa a divulgar a identidade do Bloco Minas Sem Censura: somos pró-Dilma, pró-desenvolvimento de Minas, com distribuição de renda e, óbvio, de oposição ao projeto neoliberal tucano para as Alterosas.

Também nos últimos dias, o site do Bloco trouxe em primeira mão alguns fatos em relação a Aécio, certo? O que destacariam?

Sim, é verdade. O fato mais importante até agora é a história detalhada da Rádio Arco-Íris e seus automóveis de luxo. Trata-se de uma bem fundamentada informação que abre a suspeita da prática de ocultação de patrimônio, o que seria crime fiscal. Outras evidências estão a caminho. Aliás, um deputado estadual tucano, João Leite, em nota oficial reconhece que há dinheiro público alocado na tal Rádio. Ou seja, configura-se uma irregularidade insanável.

Expusemos, em primeira mão, as imagens “printadas” das ocorrências policiais referentes à carteira apreendida, à multa por recusa ao teste (com a devida presunção da embriaguês ou drogadição), às multas por excesso de velocidade. Denunciamos a censura ao site do Detran MG (na sexta, dia 22), da seção em que vinham as citadas ocorrências. Revertemos mais essa operação abafa.

Denunciamos também o caso IPSEMG/Fasano, a manipulação da prova de avaliação de um programa específico do governo de Minas, que trazia um ataque direto a Lula numa das questões da prova (que resultou na anulação do teste). Denunciarmos a retirada do ar da respectiva página eletrônica. Enfim, há muitos outros temas gerais e específicos que divulgamos em primeira mão.

Temos fontes sérias, uma assessoria coletiva do Bloco que pesquisa e checa informações, as assessorias dos próprios deputados. Evidentemente, preservamos as fontes, até porque são pessoas que, depois de oito anos de opressão, se sentem mais livres para colaborar com o bloco de oposição.

O site do Bloco tem recebido crédito pelos “furos” jornalísticos?

Às vezes não, às vezes relativamente (risos).

Qual a política do site do Bloco?

Antes de mais nada, o MSC é propositivo. O que nos une é a identidade com a política de desenvolvimento, distribuição de renda. Queremos isso para Minas. O estado carece da mais básica política industrial, por iniciativa própria. O que temos aqui foi herdado de governos anteriores ou é reflexo do governo Lula. O minério de ferro de nosso subsolo está se formando há três bilhões de anos. Logo, não foi o “choque de gestão” que o colocou lá.

O MSC também recebeu delegação do povo mineiro para ser oposição, que é fiscalizatória e programática. Por isso denunciamos a censura aqui instalada.

Fazemos isso de maneira republicana e ética. Só divulgamos e debatemos fatos que podemos comprovar. Rejeitamos a invasão da esfera íntima de quem quer seja. Assim como rejeitamos também o uso do direito à “privacidade”, como meio de encobrir malfeitos públicos. O que fulanos e beltranos fazem ou deixam de fazer na esfera íntima não nos interessa, a menos que repercuta em direitos de terceiros, no patrimônio público, no desacato às leis e às instituições do estado.

Aécio está abusando do pleito de direito à privacidade para turvar outros assuntos. Ele não está preocupado com sua fama de “boa vida”, como a ele se referiu o tucano paulista Alberto Goldman, mas com os desdobramentos dos fatos seguintes ao episódio da ocorrência policial no Leblon: carros de luxo, uso de jato particular e algumas relações empresariais problemáticas.

O atual líder do Bloco, Rogério Correia, é do PT, partido que na política mineira tem alianças formais e informais com os tucanos. Exemplo disso é a eleição para a prefeitura de Belo Horizonte, em 2008, cujo acordo para formação da chapa teria sido sacramentado entre o ex-prefeito Fernando Pimentel (PT-MG), atualmente ministro de Desenvolvimento, e Aécio. Como fica esse relacionamento agora?

A aliança de 2008 é controversa e dividiu o PT e a base de Lula. Agora, foi feita uma reunião do Bloco com deputados federais, direções partidárias e lideranças municipais dos quatro partidos. Algo inédito para a oposição mineira. Chegou-se a um acordo de se esforçar para que a aliança com o perfil do MSC seja reproduzida onde for possível em 2012. No caso de BH, a orientação é construir uma tática comum. A política de alianças fica para ser discutida no momento adequado. O PMDB deve apresentar candidato, o PCdoB também, o PT ainda vai discutir o tema. Mas há um grande consenso: nada de aliança formal, informal ou disfarçada com o PSDB. A idéia é acumular forças em 2012 para 2014.

No site de vocês há a seguinte frase de Guimarães Rosa: Minas, são muitas. Porém, poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais. O que o Bloco pretender fazer para que muitos conheçam as mil faces das Gerais, inclusive aquelas que muitos gostariam de deixar embaixo do tapete?

É exatamente isso. Por meio de uma grandiosa máquina de posicionamento de imagem e medidas intimidatórias, numa conjuntura favorável, Aécio criou o mito de que ele seria a única face de Minas.

Nunca foi assim antes. Candidatos a prefeito que ele apoiou perderam várias eleições municipais em 2004 e 2008, na maioria das cidades importantes do estado. Mesmo em BH, 2008, junto com Fernando Pimentel, quase que seu candidato, Marcio Lacerda, perdeu a eleição para o PMDB. Gastaram mais do que se gastou em São Paulo, capital, para evitar a derrota em BH.

Aécio também manteve uma relação ambígua com o governo Lula durante anos. Exemplo: ele nunca quis testar seu real prestígio e liderança, apoiando com sinceridade Serra em 2002, Alckmin em 2006 e Serra novamente em 2010. Ele nunca teve coragem de medir força diretamente com o PT e Lula.

Hoje, ele é um, entre 81 senadores. E no Senado, quem chegou lá, não foi pelo brilho dos olhos. E ainda teve o azar de perder um aliado fiel, o Elizeu Rezende, que faleceu. É visto com desconfiança pelo grão-tucanato. O PSDB e os aliados estão em crise, definhando. O governador Anastasia vai ter de escolher: governa um estado com finanças precárias ou permanece à disposição do artificial posicionamento de imagem do “pobre menino rico”. Quem se sentia intimidado, começa a superar essa condição. Além disso, ele se vê às voltas com indícios de ocultação de patrimônio. Reciclar o projeto “Aécio 2010″ para 2014 não será fácil.

O MSC, por seu turno, segue em suas missões. O movimento social está mais revigorado. Os prefeitos e prefeitas de Minas já têm canal de interlocução direta com o governo Dilma. Ou seja, o jatinho de Aécio não viaja em céu de brigadeiro.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Dilma e os direitos humanos em Guantánamo

Reproduzo artigo de Altamiro Borges, postado em seu blog

O Wikileaks divulgou na noite de domingo (24) uma série de documentos secretos do Pentágono que confirmam que o governo dos EUA usou a prisão de Guantánamo ilegalmente para obter informações dos detidos. Diante a revelação bombástica, Barack Obama, o falsário que prometeu fechar Guantánamo, saiu na defesa dos abusos cometidos e criticou o Wikileaks.

“Motoristas, agricultores e cozinheiros”

“As milhares de páginas dos mais de 700 documentos do Pentágono divulgados revelam que ao menos 150 dos presos em Guantánamo eram afegãos e paquistaneses inocentes, incluindo motoristas, agricultores e cozinheiros, que foram detidos durante operações de inteligência em zonas de guerra. Muitos destes permaneceram presos durante anos devido a confusões de identidade ou simplesmente por terem estado no lugar errado na hora errada”, relata a Folha online.

Segundo os documentos vazados, os EUA criaram na prisão de Guantánamo “um sistema policial e penal sem garantias no qual só importavam duas questões: quanta informação se obteria dos presos, embora fossem inocentes, e eles se podiam ser perigosos no futuro”. Um terço dos 600 detidos sob a presidência do terrorista George W. Bush, vários dos quais foram transferidos para países aliados, foram catálogados como “de alto risco”, antes de serem postos em liberdade ou entregues a outros governos.

Uso político dos direitos humanos

A nova revelação do Wikileaks deveria servir de alerta ao Itamaraty, agora sob a direção do embaixador Antonio Patriota. No mês passado, o governo Dilma Rousseff condenou a violação dos direitos humanos no Irã – o que foi saudado pelo governo dos EUA e pela mídia colonizada. Os editoriais dos jornalões elogiaram a “mudança na política externa brasileira, distante do governo Lula”.

Na ocasião, o ex-ministro Celso Amorim, satanizado pela mídia, criticou a hipocrisia das potências capitalistas no uso oportunista da questão dos direitos humanos. Disse que concordava com as críticas ao Irã, desde que o governo também condenasse a violação dos direitos humanos dos presos em Guantánamo e dos imigrantes na Europa.

Será que Antonio Patriota emitirá agora uma nota dura contra os abusos cometidos pelos EUA? Será que a ONU condenará o império? Será que a mídia colonizada divulgará amplamente os documentos vazados pelo Wikileaks?

"A banda larga é um direito seu"

Reproduzo documento que será lançado hoje em vários estados:

Banda Larga é direito de todas e todos, independentemente de sua localização ou condição sócio-econômica. O acesso à internet é essencial porque permite o mergulho na rede que integra diferentes modalidades de serviços e conteúdos, funcionando como um espaço de convergência de distintas perspectivas sociais, culturais, políticas e econômicas.

Elemento central na sociedade da informação, a inclusão digital, entendida de forma ampla, é condição para a concretização de direitos fundamentais como a comunicação e a cultura e se coloca como passo necessário à efetiva inclusão social, já que ela é essencial para o desenvolvimento econômico do país. A internet incrementa a produtividade e gera riquezas, sendo fator de distribuição de renda e de redução de desigualdades regionais.

Nós, organizações da sociedade civil e ativistas envolvidos no debate da democratização da comunicação e da produção colaborativa da cultura, reconhecemos a relevância das metas e políticas presentes no Plano Nacional de Banda Larga, sendo imprescindível, contudo, avançar.

Mais, é necessário que se faça uma vigília permanente para que as políticas de banda larga estejam pautadas no interesse público, o que já sofre reveses. Os rumos recentes tomados pelo governo reforçam o abandono da ideia de serviço público como concretizador de direitos e privilegia soluções sob uma lógica de mercado.

Com base no acúmulo conquistado nas Conferências Nacionais de Comunicação e Cultura, no Fórum de Cultura Digital e nas articulações relativas à constituição do Marco Civil da Internet e à reforma da Lei de Direitos Autorais, apresentamos as seguintes propostas guia e suas ações:

1. EFETIVA PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NO PROCESSO DE INCLUSÃO DIGITAL

Rever a participação da sociedade civil no Fórum Brasil Conectado, ampliando a sua representação e democratizando seu processo de escolha;

Convocar, em conjunto com entidades da sociedade civil, um Fórum Participativo de Acompanhamento do Plano Nacional de Banda Larga, criando canais legítimos e públicos de consulta mútua que permitam a efetiva participação da sociedade nos processos decisórios do Plano;

Criar mecanismos públicos de consulta que contemplem a convergência de
mídias e redes sociais buscando de todas as formas a tradução do debate para toda população.

2. PRESTAÇÃO DA BANDA LARGA SOB REGIME PÚBLICO

Reconhecer o caráter essencial da banda larga, definindo-o como serviço público, sujeito a metas de universalização, controle de tarifas garantindo seu baixo valor, obrigações de continuidade voltadas à sua prestação ininterrupta e garantia da prevalência do interesse público na utilização da infraestrutura necessária ao serviço;

Integrar ações das esferas Federal, Estadual e Municipal para universalização da Internet da banda larga, possibilitando o acesso de qualquer pessoa ou instituição ao serviço e otimização do uso da infraestrutura, inclusive por meio da reserva de espaço eletromagnético livre de licenças para aplicações comunitárias;

3. GESTÃO PÚBLICA DAS REDES PARA GARANTIR A IGUALDADE ENTRE PROVEDORES E O INGRESSO SUSTENTÁVEL DE NOVOS AGENTES

Implementar mecanismos de controle público da gestão das redes, garantindo o acesso não discriminatório e competitivo à infraestrutura;

Utilizar a Rede Nacional na geração de maior competição a partir da entrada de pequenos e médios provedores, bem como efetivar políticas de incentivo e financiamento possibilitando a sustentabilidade dos mesmos;

Democratizar as licenças para prestação do serviço de banda larga fixa
(Serviço de Comunicação Multimídia) no âmbito do PNBL, permitindo que qualquer organização, inclusive as sem fins lucrativos, possa recebê-las;

Efetivar a prestação do serviço ao usuário final pela Telebrás;

Incentivar o uso de tecnologias diversificadas para distribuição da última milha (wi fi, wi max, eletricidade, redes mesh, incorporando novas tecnologias que surjam ao longo do tempo);

Regular a utilização do espectro livre, espaços inutilizados do espectro para evitar interferências na transmissão analógica de televisão, permitindo a sua utilização por cidadãos e comunidades;

Fortalecer instrumentos de regulação e fiscalização com independência em relação ao mercado, participação social e atuação rápida e eficaz, não só com relação à competição, mas também quanto à qualidade do serviço. Estes instrumentos devem atuar sobre todo o sistema, incluindo a Telebrás, grandes e pequenos provedores privados;

4. AMPLIAÇÃO DA DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DA BANDA LARGA

Delimitar as condições de prestação adequada do serviço por meio de critérios objetivos que visem à efetiva proteção do consumidor e a utilização das redes em toda a sua potencialidade;

Assegurar o atendimento adequado ao consumidor e a não abusividade na
publicidade e nos contratos, com especial atenção ao cumprimento do dever de informação;

Garantir a paridade de banda para download e upload, imprescindível para o uso multimídia alternativo, fiscalizando o cumprimento das taxas de transmissão contratadas e disponibilizando meios tecnológicos para verificação deste cumprimento pelo próprio usuário;

Definir a proteção à privacidade e à liberdade de expressão e de acesso a conteúdos como parâmetros de qualidade do serviço, em consonância às previsões do Marco Civil da Internet e à discussão do anteprojeto de lei de proteção de dados;

Assegurar a neutralidade da rede, propiciando o acesso igualitário a serviços, aplicativos e informações a todas e todos ao impedir interferências discriminatórias das operadoras na velocidade de navegação;

Implantar no PNBL velocidades de download e upload compatíveis com os
conteúdos e aplicações disponíveis na rede, que realmente possibilitem o cidadão ser um agente do processo de produção da cultura digital.

5. APOIO À CULTURA DIGITAL

Estimular a Cultura Digital, Software Livre, Transparência e Princípios da construção colaborativa de conteúdos (ex: wiki);

Promover o uso da rede para produção, compartilhamento e distribuição de conteúdos, por meio de políticas públicas para produção de conteúdos culturais, científicos e educacionais, bem como o apoio a licenciamentos livres e à reforma da Lei de Direito Autoral;

Definir políticas concretas de fomento e desenvolvimento da indústria de inovação cutural e aplicações web baseadas em conteúdos culturais;

Estimular entidades e iniciativas voltadas à Alfabetização Digital, incluindo escolas de todos os níveis, Lan Houses e Programas de Inclusão dos governos e sociedade civil, possibilitando a apropriação e qualificação do uso da rede;

Criar espaços de acesso público e comunitário gratuito inclusive através de redes abertas (WI FI);

Incentivar a integração de acessos comunitários de ações do governo telecentros, pontos de Cultura, acessos abertos por redes sem fio municipais) com a sociedade civil, englobando um conjunto de iniciativas públicas do Terceiro Setor na área de Cultura Digital e iniciativa privada.

Ignacio Ramonet e a explosão do jornalismo

Reproduzo matéria publicada no sítio Outras Palavras:

Surgiu novo sinal de que a comunicação compartilhada tem futuro e enorme potência transformador. O jornalista francês Ignacio Ramonet – um dos estudiosos mais profundos, refinados e críticos da mídia convencional – acaba de lançar "A Explosão do Jornalismo" (disponível por enquanto, apenas em francês). A grande novidade na obra é a esperança militante que o autor deposita na blogosfera, nas redes sociais e num novo jornalismo que se associe a elas.

Ao longo dos últimos quinze anos, Ramonet foi, talvez, o analista mais destacado da mercantilização e pasteurização da imprensa. Diretor (entre 1990 e 2008) da edição francesa do Le Monde Diplomatique, ele abriu as páginas do jornal a textos agudos sobre a involução por que passaram os jornais, o rádio e a TV, no período. Apontou, sempre com muita riqueza de dados. a associação crescente entre imprensa e grande empresa. Associou este processo ao papel domesticador que a mídia passou a desempenhar no período – totalmente oposto à conceito de “contra-poder”, reivindicado pelos defensores de uma democracia de alta intensidade. Cunhou, num editorial escrito em janeiro de 1995, o termo “pensamento único”, para denunciar o apagamento da diversidade. Lembrou que, nas novas condições, a imprensa passava a desempenhar, para as sociedades capitalistas, papel similar ao que o “partido único” exercera nos países alinhados à extinta União Soviética.

Tal combate deu-lhe relevância e prestígio: político, teórico e acadêmico. Mas nos últimos anos – precisamente quando amplos setores sociais reagiram ao pensamento único apropriando-se da internet e criando um novo jornalismo horizontal e cidadão – Ramonet parecia descrente. Seus textos continuaram apontando, ácidos, a degenerescência da imprensa-empresa. Mas ele mostrava-se pouco sensível à grande novidade. Numa entrevista concedida em São Paulo em 2008, durante o I Encontro do Jornalista Escritor, enxergou uma internet prestes a ser colonizada pelas grandes corporações da indústria da comunicação.

"A Explosão do Jornalismo" reverte este ceticismo. E Ramonet redefine sua posição aportando densidade teórica e imaginativa à luta para construir a nova mídia. No novo livro, ele busca, por exemplo, caminhos para associar a blogosfera a publicações que funcionem como nós na rede – pontos de convergência, debate e colaboração permanente entre blogueiros e outros comunicadores. Também especula sobre as maneiras de oferecer, aos novos meios e seus “neojornalistas”, condições de sustentabilidade material em bases pós-mercantis.

No final da semana passada, Ramonet concedeu, ao jornal francês L’Humanité, ampla entrevista sobre seu novo livro. É um prazer traduzi-la e oferecê-la aos leitores de Outras Palavras (A.M.) Entrevista a Frédéric Durand, no L’Humanité. Tradução: Antonio Martins:

Você afirma, em seu livro, que “o jornalismo tradicional desintegra-se completamente”.

Sim, inclusive porque ele está sendo atacado de todos os lados. Primeiro, há o impacto da internet. Parece claro que, ao criar um continente midiático inédito, ela produz um jornalismo novo (blogs, redes sociais, leaks), em concorrência direta com o jornalismo tradicional. Além disso, há o que poderíamos chamar de “crise habitual” do jornalismo. Ela é anterior à situação atual. Desdobra-se em perda de credibilidade, diretamente ligada à consanguinidade entre muitos jornalistas e o poder econômico e político, que suscita uma desconfiança geral do público. Por fim, há a crise econômica, que provoca uma queda muito forte da publicidade, principal fonte de financiamento das mídias privadas e desencadeia pesadas dificuldades de funcionamento para as redações.

A que se deve a perda de credibilidade?

Ela acentuou-se nas duas últimas décadas, essencialmente como consequência do desenvolvimento do negócio midiático. A imprensa nunca foi perfeita, fazer bom jornalismo foi sempre um combate. Mas a partir da metade dos anos 1980, vivemos duas substituições. Primeiro, a informação contínua na TV, mais rápida, tomou o lugar da informação oferecida pela impressa escrita. Isso conduziu a uma concorrência mais viva entre mídias uma corrida de velocidade em que resta cada vez menos tempo para verificar as informações. Em seguida, a partir da metade dos anos 1990, com o desenvolvimento da internet. Particularmente há alguns anos, com a emergência dos “neojornalistas”, estas testemunhas-observadoras dos acontecimentos (sejam sociais, políticos, culturais, meteorológicos ou amenidades). Eles tornaram-se uma fonte de informações extremamente solicitada pelas próprias mídias tradicionais.

O público parece justificar sua desconfiança em relação à imprensa pela promiscuidade entre o poder e os jornalistas.

Para a maioria dos cidadãos, o jornalismo resume-se a alguns jornalistas: estes que se vê em toda parte. Duas dezenas de personalidades conhecidas, que vivem um pouco “fora da terra”, que passam muito tempo “integrados” com os políticos, e que, em toda o mundo, conciliam bastante com eles. Constitui-se assim uma espécie de nobreza política, líderes políticos e jornalistas célebres que vivem (e às vezes se casam) entre si mesmos, uma nova aristocracia.

Mas esta não é a realidade do jornalismo. A característica principal desta profissão é, hoje, a precarização. A maior parte dos jovens jornalistas é explorada, muito mal paga. Trabalham por tarefa, muitas vezes em condições pré-industriais. Mais de 80% dos jornalistas recebem baixos salários. Toda a profissão vive sob ameaça constante de desemprego. Portanto, as duas dezenas de jornalistas célebres não são nem um pouco representativas, e mascaram a miséria social do jornalismo – na França e em mutos outros países.

Isso não mudou com a internet – talvez, tenha se agravado. Nos sites de informação em tempo real criados pela maior parte da velha mídia, as condições de trabalho são ainda piores. Surgem novos tipos de jornalistas explorados e superexplorados. O que pode consolá-los é saber que, talvez, seu futuro lhes pertença.

Nestas condições, o jornalismo pode ainda assumir o título de “quarto poder”, que age como um contra-poder?

Vivemos uma concentração extraordinária das mídias. Quem examina a estrutura de propriedade da imprensa francesa, por exemplo, constata que ela está em mãos de um número reduzidíssimo de grupos. Um punhado de oligarcas – Lagardère, Pinault, Arnault, Dassault – tornou-se proprietário dos grandes meios. Estes expressam uma pluralidade cada vez menor e se supõem que defendam os interesses dos grandes grupos financeiros e industriais a que pertencem.

Isso provoca a crise do “quarto poder”. Sua missão histórica, que consiste em criar uma opinião pública com senso crítico e capaz de participar ativamente do debate democrático, já não pode ser garantido. A mídia procura, ao contrário, domesticar a sociedade e evitar qualquer questionamento ao sistema dominante. Os grandes meios criaram um consenso em torno de certas idéias (a globalização e o livre-comércio, por exemplo), consideradas “boas para todos” e incontestáveis. Quem as renega deixa aquilo que Alain Minc chamou de “círculo da razão”. Entra, portanto, em desrazão…

Você refere-se às vezes à necessidade de um “quinto poder”.

Sim. Se constatamos que o “quarto poder” não funciona, isso representa um grave problema para a democracia. Não se pode conceber uma democracia sem o autêntico contra-poder da opinião pública. Uma das especificidades dos sistemas democráticos está, aliás, nesta tensão permanente entre poder e no respectivo contra-poder. É o que faz a versatilidade e capacidade de adaptação deste sistema. O governo tem, como contrapeso a seu poder, uma oposição, os patrões, os sindicatos. Mas a mídia não tem – e não quer ter! – um contra-poder.

Ora, há uma demanda social forte e crescente de informações sobre a informação. Diversas associações tem se constituído (na França, a Acrimed) para aferir a veracidade e o funcionamento da mídia. Para que a sociedade possa defender-se melhor. É assim que as sociedades constroem, pouco a pouco, um “quinto poder”. Sendo que o mais difícil é fazer com que a mídia dominante aceite este “quinto poder” e lhe dê a palavra…

Em seu livro, você afirma que o futuro dos jornais escritos é tornar-se imprensa de opinião. Por que?

Os jornais mais ameaçados são, em minha opinião, os que reproduzem todas as informações gerais e cuja linha editorial dilui-se totalmente. Embora seja importante, para os cidadãos, que todas as opiniões se exprimam, isso não quer dizer que cada mídia deva reproduzir, em si mesma, todas estas opiniões. Neste sentido, a imprensa de opinião é necessária. Não se trata de uma imprensa ideológica, ligada ou identificada com uma organização política – mas de um jornalismo capaz de defender uma linha editorial definida por sua redação.

Na medida em que, para tentar enfrentar a crise da imprensa, os jornais decidiram abrir espaço, em suas colunas, a todas as teses políticas, da extrema esquerda à extrema direita, sob pretexto de que vale tudo, muitos leitores deixaram de comprar estas publicações. Porque uma das funções de um jornal, além de fornecer informações, é conferir uma “identidade política” a seu leitor. Porém, agora, o jornal não expressa mais o que são seus leitores. Estes, ao contrário, confundem as identidades dos jornais e se desconcertam. Eles compram, digamos, Libération, e leêm uma entrevista com Marine Le Pen.

Aliás, por que não? Mas os leitores podem descobrir, por exemplo, que têm talvez algumas ideias em comum com o Front National. E ninguém lhes dá referências a respeito, o que provoca inquietação. Tal desarranjo confunde muitos leitores. Hoje, o fluxo de informações que transita na internet permite que cada um forme sua própria opinião. Em plena crise dos jornais, o sucesso do semanário alemão Die Ziet é significativo. Ele escolheu contestar as ideias e informações dominantes, com artigos de fundo – longos e às vezes árduos. As vendas crescem. No momento em que toda a imprensa faz o mesmo – artigos cada vez mais curtos, com um vocabulário de 200 palavras, Die Ziet escolheu uma linha editorial clara e distinta. Além disso, seus textos permitem lembrar de que o jornalismo é um gênero literário…

Ao mencionar a superabundância de informações, na internet e em suas redes sociais, você refere-se a sabedoria coletiva e a embrutecimento coletivo. Por que?

Nunca na histórias das mídias os cidadãos contribuíram tanto à informação. Hoje, quando um jornalista publica um texto online, ele pode ser contestado, completado, debatido por um enxame de internautas que serão, sobre muitos temas, tão ou mais qualificados que o autor. Assistimos, portanto, a um enriquecimento da informação graças aos “neojornalistas”, que eu chamo de “amadores-profissionais”. Lembremos que estamos numa sociedade em que formação superior tornou-se acessível como nunca antes. O jornalismo dirige-se, portanto, a um público muito bem formado – ainda que esta formação seja segmentada.

Além disso, as ditaduras que procuram controlar a informação não conseguem fazê-lo mais, como vimos na Tunísia, Egito e em outras partes. Lembremos que a aparição da imprensa, em 1440, não transformou apenas a história do livro. Ela sacudiu a história e o funcionamento das sociedades. Da mesma forma, o desenvolvimento da internet não é apenas uma ruptura no campo midiático. Ele modifica as relações sociais. Cria um novo ecossistema, que produz paralelamente a extinção maciça de certas mídias, em particular a imprensa escrita paga. Nos Estados Unidos, cerca de 120 jornais já desapareceram.

Significa que a imprensa escrita desaparecerá? A resposta é não. A história mostra que as mídias se reentrelaçam e reorganizam, ao invés de desaparecer. No entanto, poucos jornais vão sobreviver. Sobreviverão aqueles que tiverem uma linha clara, proponham análises amparadas em pesquisa, sérias, originais, bem escritas.

Mas o contexto da hiper-abundância de informações também desorienta o cidadão. Ele não chega a distinguir o que é importante e o que não é. Que informações são verdadeiras? Quais são falsas? Ele vive num sentimento permanente de insegurança informativa. Cada vez mais, as pessoas irão se propor a pesquisar informações de referência.

Como assegurar um futuro à informação e aos que a fazem, agora que ele é acessível gratuitamente?

Embora seja incontestável que a imprensa online é a que dominará a informação nos anos futuros, é evidentemente necessário encontrar um modelo econômico viável. No momento, a cultura dominante na internet é a da gratuidade. Mas estamos, precisamente agora, entre dois modelos, e nenhum deles funciona. A informação tradicional (rádio, TV, imprensa escrita) é cada vez menos rentável. E o modelo de informação online não o é ainda, com raríssimas exceções.

Os novos espaços midiáticos podem modificar as relações de dominação que prevalecem hoje no seio da própria sociedade?

Dediquei um capítulo inteiro de meu livro ao WikiLeaks. É o terreno da transparência. Em nossas sociedades contemporâneas, democráticas e abertas será cada vez mais difícil, para o poder, manter dupla política: uma para fora e outra, mais opaca e secreta, para uso interno, onde há o direito e risco de transgredir as leis.

O Wikileaks demonstrou que as mídias tradicionais já não funcionavam nem assumiam seu papel. Foi no nicho destas carências que o Wikileaks pôde introduzir-se e se desenvolver. O site também revelou que a maior parte dos Estados tinham uma lado obscuro, oculto. Mas o grande escândalo é que, depois das revelações do Wikileaks, nada ocorreu! Por exemplo: revelou-se que, na época da guerra do Iraque, um certo grupo de dirigentes do Partido Socialista francês dirigiu-se à embaixada dos Estados Unidos para explicar que, se estivessem no poder, teriam envolvida a França na guerra. E este fato – próximo da alta traição – não provocou reações.

Esta evolução para mais transparência pode provocar efeitos concretos?

Ela vai necessariamente atingir os privilégios das elites e as relações de dominação. Se as mídias podem, até agora, dissecar o poder político, é porque a política perdeu muito de seu poder, abocanhado pelas esferas financeiras. Sem dúvidas, é à sombra das finanças, dos traders, dos fundos de pensão, que se localiza hoje o verdadeiro poder.

Tal poder permanece preservado porque é opaco. É significativo que a próxima revelação anunciada pelo Wikileaks diga respeito, precisamente, ao sigilo bancário. Graças aos novos sistemas midiáticos, tornou-se possível atacar estes espaços ocultos. Este poder é como o dos vampiros: a luz os dissolve, os reduz a poeira. Podemos esperar, que graças aos novos meios digitais, breve chegará a hora de desvendar o poder econômico e financeiro.

Sem tréguas para Dilma Rousseff

Reproduzo artigo de Wladimir Pomar, publicado no Correio da Cidadania:

Nem bem passaram cem dias de governo Dilma e já assistimos a uma campanha orquestrada para demonstrar a sua incompetência. Essa campanha começou com a unção do senador Aécio Neves como nova liderança nacional do PSDB, aparentemente com o apoio de Serra. Aécio atacou desabridamente o PT, comparando-o negativamente ao PSDB.



Depois disso, surgiu o estudo de um pesquisador de um organismo estatal, apontando que as obras dos aeroportos, para atender ao crescimento da demanda de transporte aéreo, seja pelo aumento do poder de compra da população de baixa renda, seja pelo afluxo de visitantes para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, não ficariam prontas a tempo para a Copa. Coincidentemente, no dia seguinte, apareceu ao vivo a propaganda política do PSDB, acusando o governo de incompetência nas obras e insinuando que há algo de errado (não chegou a dizer de podre) nesses projetos.

No mesmo período, um grande órgão da imprensa noticiou que o governo não tratará mais da inflação, com base na leitura transversa da declaração de alguma autoridade ou pesquisador. Coincidentemente, logo depois, a propaganda política do PSDB acusou o governo de incompetente no controle inflacionário, algo que, segundo ela, estaria resolvido desde 1994 (a memória curta impede a oposição de reconhecer o estouro inflacionário do final de governo FHC), e que haveria algo de errado (ou de podre?) nessa questão.

Essas dobradinhas coincidentes estão ocorrendo em relação a diversos outros assuntos, como o enfrentamento da crise econômica global, iniciada em 2008, o baixo crescimento das taxas de investimento, a desindustrialização, a queda na balança comercial e qualquer outro assunto que possa servir para atacar a suposta incompetência do governo e insinuar que existe algo de podre no reino petista. Algum especialista, do governo ou não, ingenuamente ou não, planta um estudo crítico. Isso, ou algum ponto tirado do contexto, logo se torna manchete num dos órgãos da grande imprensa. E, imediatamente ou mais tarde, se torna peça de propaganda do PSDB, DEM ou algum de seus aliados.

Em outras palavras, a idéia de que a oposição continuaria desarticulada, dividida e inativa por um longo período já não tem mais sentido. Seus componentes chegaram a um acordo tácito para a guerra publicitária contra o PT e a pressuposta incompetência do governo Dilma. É lógico que essa campanha se choca com a realidade, mas ela pode ser acompanhada de sabotagens e trabalhos de sapa no interior do Estado. E alguns de seus argumentos jogam com interesses díspares, podendo encontrar ressonância em setores sociais e políticos que, neste momento, fazem parte do campo aliado. Portanto, não se pode deixar que apenas o tempo demonstre que a oposição reacionária está assacando mentiras e inverdades.

Tomemos o caso das taxas de investimento. Em termos percentuais, o governo Lula não conseguiu ultrapassar os 19% do PIB, quase a mesma taxa anual de investimento do período FHC. A direita tem se aproveitado do discurso da ultra-esquerda, que acusa Lula de haver mantido uma taxa de investimento semelhante à de FHC, o que comprovaria que Lula e FHC teriam sido idênticos.

É verdade que essa taxa é relativamente baixa para alavancar um crescimento econômico sustentável. No entanto, tanto a direita quanto a ultra-esquerda escondem que a natureza dos investimentos no governo Lula foi radicalmente diferente dos investimentos no governo FHC.

Neste, os investimentos foram realizados principalmente para a compra de empresas estatais e privadas brasileiras e para o jogo especulativo na bolsa de valores. No governo Lula, embora não tenha sido fechado o cassino da especulação financeira, a privatização dos bens públicos foi paralisada e os investimentos diretos foram direcionados para a instalação de novas plantas industriais.

Nesse sentido, a acusação de que Dilma continua pondo em prática uma política de desindustrialização é, na melhor das hipóteses, propaganda enganosa, que mereceria sanções do Conar. Na verdade, por trás dela há uma intrincada teia de interesses de corporações estrangeiras e empresas mistas e brasileiras, que se sentem ameaçadas pela concorrência chinesa. Bobagens como a acusação de que o governo só se preocupa com investimentos no agronegócio, na mineração e no pré-sal, na perspectiva de vender soja, minérios e petróleo para o dragão China, são repetidas à exaustão, às vezes por economistas e politólogos de certo renome.

Tanto no governo Lula, quanto nos primeiros meses de governo Dilma, a preocupação com o processo de industrialização se expressou no PAC, na decisão política de sediar a Copa, as Olimpíadas e vários outros eventos internacionais, indutores de modernização da infra-estrutura (totalmente sucateada durante os 12 anos de governos neoliberais); e, agora, na decisão de visitar a China para dar um novo salto nas relações comerciais, econômicas, científicas, tecnológicas, sociais, culturais e políticas com aquele país.

Assim, não é por acaso, ignorância ou ingenuidade que o PAC, as commodities agrícolas e minerais, as obras para a Copa e as Olimpíadas e as relações com a China se tornaram um emaranhado intrincado de acusações, desinformações e desqualificações. Esse emaranhado engloba a suposta comprovação de que o PAC não teve qualquer efeito real sobre o desenvolvimento econômico. Engloba também a acusação de que a exportação de commodities agrícolas e minerais representa um retorno à condição do país como produtor exclusivo de produtos primários, o que alguns economistas chamam de reprimarização.

O governo Dilma, além disso, não teria competência para entregar as obras comprometidas com a FIFA e o COI no tempo aprazado. E, quanto à China, esta pretenderia usar no Brasil a mesma estratégia que estaria utilizando em outros países da América do Sul, da África e da Ásia, para controlar as fontes de matérias-primas e criar mercados para seus bens e serviços de alto valor agregado. O governo Lula, assim como o governo Dilma, estaria entregando o Brasil à China.

Com base nessa tese, não foram poucos os comentaristas econômicos e políticos que tentaram pautar os temas que a presidenta deveria tratar com os chineses, estimulando-a a interferir nos assuntos internos daquele país, com a mesma naturalidade com que apóiam a interferência dos Estados Unidos e outras potências estrangeiras nos assuntos internos do Líbia, Egito etc., e do próprio Brasil.

Portanto, mal começou na presidência, Dilma já se vê sob o fogo cruzado da oposição reacionária e de setores múltiplos, que pretendem traçar o rumo do desenvolvimento econômico e social brasileiro segundo seus próprios interesses. O que impõe, tanto aos petistas, quanto à esquerda em geral, aprofundar-se mais nesses assuntos, porque a tendência não é de trégua ou amainamento. Afinal, os Estados Unidos e a Europa não conseguiram sair da crise e pretendem descarregar o ônus dela sobre os outros. Quem pensa que o Brasil vive uma trégua generalizada, e está fora dos objetivos daquelas potências, certamente será apanhado de surpresa.

Aécio Neves e a "isenção" da mídia

Reproduzo comentário publicado no sítio Carta Maior:

Sem dúvida o aspecto mais chocante no episódio da blitz da Lei Seca, no Rio, que flagrou Aécio Neves dirigindo com habilitação vencida e metabolicamente impossibilitado de soprar o bafômetro, não foi o fato em si, mas o comportamento da mídia demotucana.

Os blindados da "isenção" entraram em cena para filtrar o simbolismo do incidente, "um episódio menor", na genuflexão de um desses animadores da Pág 2 da Folha. Menor? Não, nos próprios termos dele e de outros comentaristas do diário em questão.



Recordemos. Em 24 de novembro de 2004, Lula participou da cerimônia de inauguração de turbinas da Usina de Tucuruí, no Pará. No palanque, sentado, espremido entre convidados, o presidente comeu um bombom de cupuaçu, jogou o papel no chão. Fotos da cena captada por Luiz Carlos Murauskas, da Folha, saturaram o jornalismo isento ao longo de dias e dias. Ou melhor, anos e anos.

Sim, em 2007, por exemplo, dois colunistas do jornal recorreriam às fotos de Tucuruí para refrescar o anti-petismo flácido do eleitor que acabara de dar um novo mandato a Lula. O papel do bombom foi arrolado por um deles como evidencia de que o país caminhava a passos resolutos para a barbárie: "Só falta o osso no nariz", arrematava Fernando Canzian (23-07-2007) do alto de sofisticada antropologia social.

Sem deixar por menos, Fernando Rodrigues pontificaria em 09-04-2007: "...Respira-se em Brasília o ar da impunidade. Valores republicanos estão em falta. Há exemplos em profusão (...) em 2004, Lula recebeu um bombom... O doce foi desembrulhado e saboreado. O papel, amassado. Da mão do petista, caiu ao chão. Lula seguramente não viu nada de muito errado nesse ato. Deve considerá-lo assunto quase irrelevante... Não é. No Brasil é rara a punição - se é que existe - para pequenas infrações como jogar papel no chão. Delitos milionários também ficam nos escaninhos do Judiciário anos a fio (...) Aí está parte da gênese do inconformismo de alguns, até ingênuos, defensores de uma solução extrema como a pena de morte. Gente que talvez também jogue na calçada a embalagem do bombom de maneira irrefletida. São "milhões de Lulas", martelava o jingle do petista. São todos a cara do Brasil...".

sábado, 23 de abril de 2011

EXCLUSIVO: PARA LULA, PT DEVE PRIORIZAR ABCD

Mais uma vez o ex-presidente Lula da uma martelada nos grandes veículos de comunicação e fugindo das pautas impostas pelo PIG (Partido da Imprensa Golpista) ou da nossa imprensa colonizada, concede entrevista a um veículo de comunicação do ABC paulista, tendo assim liberdade para fugir das pautas determinadas pelo PIG e das intrigas políticas sempre levantadas pelo mesmo.

Reproduzo entrevista do ex-presidente Lula concedida ao jornal ABCD MAIOR, realizada por Karen Marchetti e Júlio Gardesani(pauta@abcdmaior.com.br)


Lula está disposto a dedicar tempo especial ao ABCD em 2012.

Em entrevista ao ABCD Maior, Lula diz que ministra Miriam Belchior não deve deixar o governo federal para disputar eleição

Um dia após ter participado de uma reunião da direção do PT paulista para discutir as prioridades nas eleições municipais de 2012, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu entrevista exclusiva ao ABCD MAIOR e afirmou que o partido deve se empenhar em fortalecer a legenda na Região. Na entrevista, a primeira a um jornal impresso brasileiro após o final de seu mandato, Lula adverte que os petistas de Santo André devem evitar as prévias para definir o candidato a prefeito, nome que deve ser consenso.

ABCD MAIOR - O senhor se dispôs a conversar com os partidos sobre a reforma política. Quais os principais itens da reforma, na sua avaliação?

Luiz Inácio Lula da Silva - Primeiro: a reforma política é importante para dar mais seriedade aos partidos políticos, ainda mais num País que conta com muitos partidos e por isso acabamos sendo obrigados a construir alianças políticas. É importante que as direções partidárias tenham autoridade para fazer as negociações. Não se pode negociar com a direção do partido, e os deputados, prefeitos e vereadores dizerem depois que não fizeram parte dessa negociação. Quando se faz uma negociação com um partido é um tratado que deve ser cumprido. A segunda coisa é o financiamento público de campanha. Muitos acham que o financiamento público vai significar mais impostos. Só que na verdade é o contrário. O financiamento público significará a moralização da política brasileira. Vai acabar com a relação promíscua entre o candidato, o partido e o empresário. Ficará melhor, mais barato, e o Estado garantirá uma determinada quantia por eleitor, distribuídos entre os partidos em função das votações passadas. Mas, em contrapartida, as legendas deverão fazer a lista fechada, a ser votada democraticamente. O que eu penso é que, se o Brasil não fizer esta reforma, nunca acabaremos com a corrupção e, em época de eleição, continuará existindo o caixa dois. O ideal é termos a constituinte para fazer a reforma política, já que os deputados têm o interesse neste debate. De qualquer forma, é o que temos e acredito que o Congresso tem disposição para avançar. Mesmo assim, não deverá haver uma grande reforma, mas, ainda assim, teremos avanços importantes, como por exemplo a votação em lista, onde o eleitor poderá votar numa lista inteira e depois escolher um candidato. Para isso vamos precisar conversar com os partidos políticos, movimentos sindicais e sociais, para que possamos transformar a reforma política numa coisa de interesse nacional.

ABCD MAIOR - Como o senhor citou, alguns pontos são polêmicos, como a votação em lista e financiamento público. Muitos acreditam que o financiamento não acabará com o caixa dois. Qual sua avaliação?

Lula - Veja, se tornarmos proibitiva, a contribuição privada passa a ser crime. O que não pode é termos o financiamento público e também querer combinar com a iniciativa privada. Por isso, é preciso acabar de uma vez por todas com o financiamento privado. Se o político pegar dinheiro, estará cometendo um crime. Tem muito chão pela frente e se não mudarmos vamos continuar com os partidos fragilizados.

ABCD MAIOR - Junto com a reforma podemos também discutir a verticalização das coligações. No ABCD, por exemplo, em São Bernardo e Santo André, alguns partidos que estão na base nacional do PT não caminham com a legenda, como é o caso do PSB e do PMDB. Como o PT irá trabalhar para tentar reeditar a aliança nacional nas cidades?

Lula - Tem municípios que nem se o papa se reunir com os políticos as coisas vão mudar. O importante é que cada companheiro precisa ter a clareza que é mais difícil governar do que ganhar eleição. Para governar é preciso compor e ter um leque de apoio que passe na Câmara e na sociedade. Estou convencido de que o Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo, é um bom exemplo disso. Nós elegemos o Maurício Soares (PT) em 1988 (atual secretário de Governo de São Bernardo) e depois dele nunca mais conseguimos eleger outro prefeito do PT. Ou seja, toda eleição tínhamos mais de 20 partidos contra e o PT saía sozinho. O Marinho conseguiu trazer uma aliança política e reuniu mais de 300 candidatos a vereador, o que permitiu a vitória em 2008.

ABCD MAIOR - E nas demais cidades da Região, como o senhor avalia a composição política?

Lula - De Diadema eu nem falo nada, pois temos uma história forte na cidade. Em Diadema, quando nós perdíamos, perdíamos para nós mesmos. Agora, em Santo André, é preciso fazer uma analise. Em Santo André perdemos a eleição por problemas internos. Era muito difícil o PT perder aquela disputa (eleição de 2008), mas perdeu. O partido precisa ter humildade para compreender e entender que erramos e temos que nos recuperar.

ABCD MAIOR - Durante reunião com prefeitos do Estado de São Paulo e lideranças do PT, nesta semana, o senhor falou da importância de recuperar Santo André. O senhor acredita que o partido deverá evitar prévias na cidade. Quem será o candidato?

Lula - Em 1991 eu propus a prévia no PT para resolvermos problemas de conflitos entre as tendências, mas as prévias viraram uma guerra. Muita gente vai para disputa interna e quando perde não faz campanha para quem ganhou. Foi uma coisa boa, que se tornou, em alguns casos, prejudicial. No caso de Santo André, teríamos uma candidata nata, se ela não fosse escolhida antes pela presidente Dilma Rousseff (PT): a ministra de Planejamento, Miriam Belchior. Acredito que Miriam não pode largar o ministério para ser candidata em Santo André, pois já prestou e está prestando um importante serviço ao Brasil. No entanto, o PT tem quadros importantes em Santo André, mas é preciso fazer uma avaliação da coalizão de forças dos possíveis aliados. É uma questão de bom senso. É como se tivéssemos que tomar um cafezinho no bar, mas só com uma xícara para três companheiros. O cidadão mais humilde prefere não tomar ou repartir com os companheiros. No PT nós precisamos fazer isso, ninguém pode ser candidato só porque quer ser. Temos de permitir que outras pessoas possam dizer quem é o melhor, e o escolhido tem de ter o apoio de todo mundo. Mas não é apenas em Santo André. O PT precisa trabalhar muito para conquistar São Caetano e ter um partido forte em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires. Em Mauá, precisamos reforçar a necessidade de manter o partido na Administração.

ABCD MAIOR - O senhor fará a articulação na Região para que o PT conquiste a mesma coligação editada para Dilma Rousseff (PT) em 2012? Qual será sua participação nas campanhas eleitorais?

Lula - Posso garantir, antecipadamente, inclusive sem falar antes com o Michel Temer (vice-presidente da República), que o PMDB desta vez terá o PT como aliado principal em todos os municípios. Conversei com o presidente estadual do PMDB, o deputado Baleia Rossi, que me garantiu que a preferência de aliança é com o PT. Participarei da eleição municipal, mas tenho cerca de 8,5 milhões de quilômetros para percorrer. Obviamente que vamos precisar ter uma escala de prioridades e o ABCD estará entre elas. Estou disposto a dedicar um tempo especial em São Bernardo, Santo André, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. As cidades que nós já governamos. Mas é importante saber que tenho outras tarefas e outras capitais que tenho de visitar. Em São Paulo está chegando a hora de o PT voltar a governar. Só precisamos montar uma chapa perfeita. O PT tem de encontrar um vice que dialogue com representantes do setor médio da sociedade, do pequeno empresariado, do profissional liberal e pessoas que têm um pouco de cisma do PT. Costumo dizer que vamos vencer em São Paulo quando encontrarmos o nosso “José Alencar” (ex-vice-presidente da República nas duas gestões com o Lula). Alencar significou muito nas minhas gestões. A nossa política e parceria foi impressionante.

ABCD MAIOR - A crise do PSDB em São Paulo poderá ajudar o PT a retomar a Prefeitura de São Paulo e outros municípios?

Lula - O PSDB está em crise de fragilidade ideológica. O PSDB não sabe se é PSDB, se é PMDB ou se é DEM. É um partido com muitas dúvidas e que não tem um perfil ideológico definido. Não acho que devemos julgar a crise do PSDB apenas com a saída dos vereadores da Câmara de São Paulo. A crise do PSDB é mais profunda. Quando Fernando Henrique Cardoso venceu a eleição de 1994, eles projetaram 20 anos de governança contínua do PSDB, o que não aconteceu. Na verdade, quem deverá ter os 20 anos de governança direta é o PT, pois fizemos muitas coisas nos oito anos do meu governo e a Dilma vai fazer muito mais nos próximos oito anos. Eles (tucanos) não se conformam de que é o PT que terá tempo necessário para mudar, para melhor e definitivamente, a cara do Brasil. Estou certo de que a crise do PSDB é uma crise de identidade. Ou seja, primeiro tem uma disputa interna entre Serra (José Serra), Alckmin (governador de São Paulo, Geraldo Alckmin) e Aécio Neves (senador). Eles têm o PT como adversário principal, e o PT tem que juntar todos os diferentes para que possamos vencer os antagônicos.

ABCD MAIOR - A Dilma será a candidata à reeleição em 2014?

Lula - Não tem como esconder, embora ela não pode, e nem deve falar, mas Dilma será a candidata do PT em 2014. Dilma vai mudar a cara do Brasil para muito melhor. Ela vai lançar o programa de combate à miséria absoluta, onde fará um pente-fino para descobrir quais são os pobres que ainda não foram atendidos e apresentará novas propostas para formação e geração de emprego. É importante o pessoal saber que Dilma trabalhou cinco anos na formação e coordenação de todos os programas do nosso governo. Ela sabe tanto, ou até mais que eu, do caminho que deverá trilhar para acabar com a pobreza e miséria absoluta do Brasil.

ABCD MAIOR - O senhor pretende voltar às portas de fábricas do ABCD para fazer campanha sindical?

Lula - Falei com o Sérgio Nobre (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) que terei um enorme prazer de participar de algumas assembleias. As pessoas têm clareza que os trabalhadores do ABCD, principalmente os metalúrgicos, tiveram muitas conquistas nos últimos oito anos, com aumento salarial acima da inflação e participação nos lucros. Além disso, imprimimos um ritmo de crescimento em que o ganho de produtividade não resultou em aumento da inflação. E neste momento precisamos estar juntos com a nossa presidenta para evitar que volte a inflação. Todos nós, pois combater a inflação não é uma responsabilidade apenas da Dilma ou do Guido Mantega (ministro da Fazenda).