domingo, 31 de outubro de 2010

O cérebro muito próximo do fígado (ou: a vocação elitista dos vaidosos intelectuais medíocres)

Reproduzo Artigo de Roberto Buenno, postado no site SejaDitaVerdade.net

Agosto de 1978. Plena efervescência da memorável campanha eleitoral cujo resultado levou ao fim do bipartidarismo imposto pela ditadura de 1º de abril de 1964 por conta da fragorosa derrota do partido de sustentação do regime militar.
Um grupo de calouros da filosofia da PUC de São Paulo estava reunido num bar acolhedor da Alameda Santos, bem próximo de uma emblemática livraria, no bairro Cerqueira César. Com um exemplar da Folha, um universitário entusiasta da candidatura de Fernando Henrique Cardoso (então candidato a senador na sublegenda do MDB; na outra Franco Montoro era candidato à reeleição) recebe uma ducha de água fria ao ouvir o discreto recado de um amigo do querido professor Florestan Fernandes, recém-chegado à PUC depois de mais de dez anos de aposentadoria compulsória na USP e docência fora do Brasil: “Vá devagar com o andor, meu jovem. Esse moço tem o cérebro muito próximo do fígado.”
Antes, porém, é preciso registrar que, nessa época, a Folha de S.Paulo, em cujo time havia jornalistas de primeira grandeza como o saudoso Cláudio Abramo, Perseu Abramo, Nelson Merlin, Mino Carta, Newton Carlos, J.B. Natali, Osvaldo Peralva e Newton Rodrigues (entre outros), era, sim, um jornal de vanguarda, ainda que sob intervenção de Bóris Casoy, desde o trágico episódio em que, um ano antes, estivera envolvido Lourenço Diaféria com a sua malfadada homenagem póstuma ao sargento morto na tentativa de salvar uma criança do ataque de uma ariranha num parque em Brasília, e quando da “invasão” do coronel Antônio Erasmo Dias (o temido secretário de Segurança Pública de Paulo Egydio Martins) à redação para pedir a destituição de alguns “comunistas”, entre os quais Abramo, Diaféria e Tarso de Castro (ele, Merlin e Fortuna eram os editores do emblemático Folhetim, ou o Pasquim da Folha, uma paródia do sisudo Suplemento Cultural do embolorado Estadão).
O movimento estudantil engatinhava, depois da avassaladora e sangrenta decapitação de sua vanguarda em todo o território nacional, sob acusação de subversão e terrorismo, não só por meio de mecanismos institucionais obscurantistas (como o AI-5 e os famigerados decretos 228 e 477, de triste memória), mas com a “ajuda” do Esquadrão da Morte (EM), do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), da Operação Bandeirantes (OBAN), da Tradição, Família e Propriedade (TFP), entre outras organizações nazifascistas protegidas pelo regime militar, além das execuções acintosas do DEOPS do nefasto Sérgio Paranhos Fleury, do DOI-CODI, do SNI, do SENIMAR etc.
Ao lado de Fernando Henrique Cardoso, que havia sido capa e personagem entrevistado nas amarelas das principais revistas e jornais semanais da época (obviamente à exceção das decadentes Visão, Fatos&Fotos, O Cruzeiro e Manchete, ostensivamente favoráveis à ditadura), aparecia um acanhado ex-presidente da UNE que o regime não havia permitido que fosse candidato naquele ano: José Serra. O pessoal do velho Partidão, hoje PPS (e que fazem parte da coligação “O Brasil pode mais”), cá pra nós, que na época era muito influente no movimento estudantil e na vanguarda do MDB, não morria de amores pelos dois (FHC e Serra), e, especialistas na arte da rotulação dos adversários potenciais, estimulavam rumores de que eles eram suspeitos de trabalharem para grupos ligados à CIA, até pelo fato de haverem sido bolsistas de instituições americanas em plena guerra-fria. E o motivo era óbvio (não para nós, jovens desinformados na época): tanto FHC quanto Serra vinham de outros setores da chamada esquerda nacional (este último um dos influentes ativistas da Ação Popular, grupo nascido no seio da Juventude Estudantil Católica).
Por essa razão, o entusiasta calouro “cabo eleitoral” de Fernando Henrique, retrucara indignado: “Por acaso, o senhor é ligado ao Partidão?” O sábio e ponderado professor da PUC (já beirando os 60 anos) jogou uma pá de cal na raiva do estudante: “Cuidado com o que fala. Mas, ainda que fosse, não iria dizê-lo, nem sob tortura, rapaz!” E para tranquilizá-lo, esclareceu por que havia feito a observação ao seu “inatacável” candidato: “Já ouviu falar de Enzo Faletto e de Alain Touraine? Ninguém melhor que eles para explicar a verdadeira personalidade desse professor, meu jovem. Mas há outro, também fora do Brasil, que pode lhe dar algumas pistas. Deste você deve ter ouvido falar, talvez horrores, mas injustamente. É Darcy Ribeiro, o grande idealizador da UnB.”
Passados alguns anos, ainda sob a ditadura, num seminário sobre os povos indígenas, Darcy Ribeiro apresentava um sábio do povo Guarani, Marçal de Souza, assassinado pouco tempo depois em Mato Grosso do Sul (algo parecido ao assassinato de Chico Mendes, mas que ainda permanece impune). Sob pretexto de pedir um autógrafo num dos livros dele, o então recém-formado mas ainda entusiasta fã do suplente de senador Fernando Henrique “entra de sola” no assunto com Darcy: “Professor, como o senhor vê o professor Fernando Henrique?” O sincero mas habilidoso estudioso da realidade brasileira se saiu com essa: “Um acadêmico muito dedicado que trabalhou ao lado de Teotônio dos Santos no exílio. Não tive oportunidade de conviver com ele politicamente, mas o (Celso) Furtado está no mesmo partido e poderá lhe dar a resposta que procura.”
Não foi possível. Mas quase uma década depois, qual não foi a sua frustração, quando, no segundo-turno de 1989, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Waldir Pires e Celso Brant subiram no palanque de Lula, enquanto FHC e Serra preferiram ficar “no muro”, a pedido do amigo Itamar Franco, candidato a vice-presidente de Collor, que havia convidado o sociólogo da Sorbonne para ser ministro de Relações Exteriores no futuro governo. Isso, aliás, pode ser comprovado pela explícita omissão desses dois tucanos na batalha pelo impeachment de Collor, tanto no congresso nacional quanto nas ruas, enquanto o veterano Ulysses, a despeito da idade e da ingratidão de expressivos setores da sociedade organizada, se posicionara ao lado dos caras-pintadas.
Mas foi no medíocre e entreguista (des)governo tucano de FHC-Serra, recheado de maracutaias e falcatruas de ruborizar José Dirceu (companheiro de Ação Popular de Sérgio Motta e José Serra), Orestes Quércia e até Paulo Maluf, que ficou evidente a advertência, em 1978, do hoje professor aposentado da PUC de São Paulo, amigo do saudoso Florestan Fernandes, de que todo cuidado é pouco com esses “meninos”: venda por valor inferior ao lucro anual da Vale do Rio Doce; compra de votos para a adoção do instituto da reeleição de presidente no fim do seu próprio mandato e que já lhe permitia o direito de ser candidato a reeleição; abandono dos projetos sociais adotados por influência de Dom Mauro Morelli e de Herbert de Souza (Betinho) no governo Itamar Franco para dar origem ao vergonhoso Comunidade Solidária, produto da vaidade do sociólogo-presidente; escândalos como o famigerado PROER, para socorrer banqueiros falidos, além dos casos Salvatore Cacciolla e Daniel Dantas…
E se isso fosse pouco, Serra conseguiu superar seu mestre FHC: além de consolidar uma aliança espúria com órfãos e viúvas da ditadura (UDR, TFP, neonazistas e os extremistas do DEM), realiza uma campanha eleitoral insidiosa e antidemocrática, porque recheada de preconceitos machistas e fascistas, calúnias, anticomunismo (quando são eles os que têm o apoio dos que se arvoravam como os “únicos e verdadeiros comunistas”) e total despolitização – um verdadeiro desserviço para nossa democracia recente, construída graças à generosidade e à coragem dos milhões de brasileiros e brasileiras anônimos, que, igual à Dilma, combateram o regime de arbítrio sem serem “profissionais” da política.
E o que dizer, então, depois de ver o canastrão do Serra se passando por “ético” do Rodoanel; por “protetor” da Petrobrás, do Banco do Brasil, do BNDES e dos Correios; por “pacificador” de meia-tigela, que provoca para posar de vítima (que atira a pedra e esconde a mão, o tempo todo); por “democrata” que não aceita opinião diferente da sua e por tal motivo demitiu Heródoto Barbeiro e Paulo Markun da TV Cultura, além de mandar a tropa-de-choque da polícia militar “dialogar” com os professores que reivindicavam direitos; por “beato” do pau-oco e do aborto mal-sucedido; por “vítima” da bolinha-de-papel e do rolo de fita crepe; por “engenheiro” de obras feitas; por “economista” do Plano Real (aliás, onde ele estava mesmo durante os governos Collor e Itamar?), e, pior, “pai” dos genéricos (o então deputado Eduardo Jorge é que foi responsável por sua instituição no tempo do então ministro Jamil Haddad) e do PRONAF (instituído no tempo do Itamar, quando era ministro da Agricultura Synval Guazzelli), bem como agora anuncia no horário eleitoral as obras em execução do PAC como sendo de seu programa de governo?…
Aí, sim, é que o hoje maduro profissional da filosofia veio entender por que FHC e Serra são de uma laia de pessoas cujo cérebro está muito próximo do fígado, pois, sua trajetória política mistura alhos com bugalhos e acabam pondo os pés pelas mãos. Mas o verdadeiro perigo é estar no caminho deles quando têm alguma obstinação, como a de chegar à presidência, pelo que são capazes até de se aliarem ao DEMO (e não é que o fizeram agora?), no afã doentio de chegar ao Planalto.
O detalhe é que eles se esqueceram de combinar isso com o povo brasileiro. Nas sábias palavras de Chico Buarque, com Lula “o Brasil não precisou falar fino em Washington e falar grosso com a Bolívia e o Paraguai”. Daí por que a extrema-direita, mesmo contra sua vontade e sem botar muita fé, apoia Serra. Já quem os conhece, como o escritor e jornalista Fernando Morais, apoia Dilma. E a melhor explicação para essa conduta veio exatamente de Alain Touraine, anos atrás, quando disse que FHC não estava indo para a direita, mas, sim, estava em decadência. Quem os conhece, não os recomenda, pois, como intelectuais medíocres reproduzem o pior comportamento preconceituoso da elite decadente, como eles.

“Indecisos”, pero no mucho

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, postado no Blog da Cidadania

Há que reconhecer que a Globo encontrou uma fórmula extremamente eficiente para favorecer a Serra no debate de ontem. É de se imaginar que poucos tenham se dado conta dessa fórmula até que foi possível vê-la em uso.

O modelo de “indecisos escolhidos pelo Ibope” inquirirem os candidatos poupou a estes e ao público dos bate-bocas dos debates anteriores e, assim, favoreceu a Dilma, que ficou muito mais calma desta vez.

A petista foi favorecida ao não ter que se confrontar diretamente com o adversário, pois nos debates anteriores esteve mais nervosa do que ele.

Aí termina qualquer favorecimento ou igualdade de condições para ela, porque o modelo do debate constituiu-se, também, em uma armadilha devido aos tais “indecisos”. Em suas perguntas, pintaram um quadro muito ruim do Brasil.

Saúde, Educação, Segurança, Saneamento, tudo o que perguntaram sobre esses tópicos – e sendo eles de várias partes do país – colocou a candidata do PT em desvantagem, pois diziam frases como “somos tratados como animais na saúde”.

E de quem é a responsabilidade por 500 anos depois do descobrimento ainda haver gente recebendo serviços públicos básicos de má qualidade?

Houve, também, favorecimentos sutis. Willian Bonner modulou a voz para o modo ironia ao cortar a fala de Dilma quando ela estourava o tempo, o que não ocorria quando Serra fazia o mesmo.

Nas considerações finais, por longos segundos Dilma foi enquadrada de muito longe, aparecendo pequenina no centro da tela. Quando a câmera se aproximou, pegou-a meio que de lado.

Já Serra entrou num belo enquadramento de frente do começo ao fim de sua fala final. E a câmera se aproximou de seu rosto quando ele, previsivelmente, deu aquela choradinha básica ao concluir.

Houve empate no primeiro bloco, com questões mornas e poucas indiretas ou até menções ao governo federal, ao PT ou ao governo de São Paulo por cada candidato ao criticarem indiretamente as administrações adversárias.

No segundo bloco, Dilma não foi bem na questão sobre saúde. O “indeciso” não era de São Paulo e, como em outros tópicos, sua crítica remetia ao problema em termos federais.

Ela poderia ter respondido que havia que comparar a situação de hoje com a que Serra e FHC deixaram, mesmo sem citá-los. Naquele momento, porém, começou a enumerar programas em andamento que, diante de crítica forte à situação atual, não explicam nada.

No terceiro bloco, Dilma venceu. Abordou com paixão e sinceridade a questão pobreza e miséria quando um “indeciso” quis saber como parar de dar o Bolsa Família. E rechaçou acusação indireta do adversário sobre o Estado estar arrecadando muito porque os impostos são altos, respondendo que arrecada-se muito hoje porque o bolo sobre o qual arrecadar é maior devido à economia crescer mais do que no governo passado.

Um ponto digno de nota foi a audiência. Durante o debate, no Twitter falava-se em 29 pontos. Não deve ter ficado muito longe disso.

Com tal audiência e com uma vantagem de Dilma que não é tão confortável – sempre de acordo com as pesquisas –, foi bastante arriscado ela participar daquele jogo. Sobretudo porque não é possível que sua campanha não soubesse que os “indecisos” fariam o que fizeram.

Contudo, Dilma teve uma postura muito boa. Em algumas respostas a eleitores pareceu ter sido eficientemente intimista e adotado um tom sincero. Soube responder sem hesitação a tudo e teve sangue-frio até para brincar com Bonner quando o relógio a prejudicou.

Se não houver abstenção em desfavor de Dilma em um nível que desequilibre o estimado em termos de intenções de votos, ela deve manter a vantagem que lhe dão as pesquisas. Serra precisaria ter extraído muito mais dessa oportunidade.

sábado, 30 de outubro de 2010

Bispo divulga carta de apoio a Dilma

Postado no site Carta Maior

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada. Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos”. A carta é do bispo de Caçador, Dom Luiz Carlos Eccel.
Dom Luiz Carlos Eccel

O bispo Dom Luiz Carlos Eccel, de Caçador, Santa Catarina, divulgou ontem (29), uma carta de apoio à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Segue a íntegra da carta que elogia a recente fala do Papa Bento XVI aos bispos brasileiros e diz que ela aponta para a defesa da vida:

Já havia lido o discurso do Papa Bento XVI, aos Bispos do Maranhão, em visita ad limina apostolorum.

Muito interessante o discurso do Papa. Ele não pode deixar de cumprir sua missão de Pastor Universal, exortando o Povo de Deus, especialmente no que diz respeito à defesa da VIDA.

O Santo Padre foi muito oportuno e feliz nas suas colocações, porque o Estado Brasileiro é laico, mas seu povo é religioso, e isto precisa ser respeitado.

Quando digo que o povo é religioso é porque está disposto a fazer a Vontade de Deus e não somente dizer: Senhor, Senhor…, como às vezes se pretende, de maneira especial dentro da própria Igreja. Existem facções sociais, políticas e religiosas especializadas em fazer lavagem cerebral, deixando as pessoas sem convicções, mas com obsessões, e com a consciência invencivelmente errônea. Ficam semelhantes aos grãos de pipoca que levados ao fogo não estouram, e com mais fogo, mais duros ficam. Tornam-se donas da “verdade”.

Estão até manipulando o texto do Papa, para justificar a sede do poder. (cf. http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp) É a Vontade de Deus que nos salva e não a nossa, e sobre isto precisamos sempre nos exortar mutuamente, como diz o Apóstolo São Paulo. Portanto, que nossa fé seja sempre vivificada pela mútua exortação. Pode ocorrer de nos esquecermos que somos todos peregrinos caminhando para a Casa do Pai, e quando lá chegarmos, poderemos ouvir de Jesus o seguinte: “Afastai-vos de mim, vós que praticastes a injustiça, a maldade” (Lc13,27). Creio que ninguém vai querer ouvir isto naquela hora. Seu passaporte está em dia? Pode ter certeza de que a eternidade existe…

Assim, busquemos alimentar nossa fé, sem esquecer, como diz o Papa, que ela deve implicar na política. A fé sem obras é morta, diz a Escritura Sagrada. E uma das obras que deve provir da fé, é o nosso voto consciente em pessoas que vão governar para o bem comum, respeitando a vida em todas as suas etapas e dimensões.

No mesmo dia em que li o discurso do Papa, assistindo ao telejornal, à noite, escutei o pronunciamento da candidata e do candidato à presidência do Brasil a respeito do discurso do Papa. Ambos concordaram com as Palavras do Papa, dizendo que é missão dele exortar para uma vida coerente com os valores da fé e da moral, e que as palavras do Papa valem para todas as pessoas de fé, no mundo inteiro.

O Papa falou, também, que o voto deve estar a serviço da construção de uma sociedade justa e fraterna, defensora vida.

Como Bispo da Igreja Católica, e como cidadão brasileiro, fico feliz por saber que nosso Presidente tem defendido a vida, e sempre se pronunciou contra o aborto. Nesses últimos anos o Brasil tem crescido e melhorado em todos os aspectos, de maneira especial no respeito à vida e a valorização da dignidade humana. Esta é a Vontade de Deus! E as pessoas, em plena posse de suas faculdades mentais, vão reconhecer esta verdade.

Nosso país está em pleno desenvolvimento e assim queremos continuar e, depois de 500 anos, nosso povo quer eleger, pela primeira vez, uma mulher que tem compromisso com a vida e provou isso com sua própria vida. Como? Ela não fugiu para o exterior durante a ditadura, mas a enfrentou com garra e, por isso, foi presa e torturada.

Ela queria um país livre, e que todas as pessoas pudessem viver sem medo de serem felizes, vencendo a mentira e o ódio com a verdade e o amor, servindo aos ideais de liberdade e justiça, com sua própria vida. Disse Jesus: “Ninguém tem maior amor do aquele que dá a própria vida pelos irmãos” (Jo 15,13). Obrigado Santo Padre por suas sábias palavras! A Dilma é a resposta para as nossas inquietações a respeito da vida.

Quem sofreu nos porões da ditadura, não mata. Mas teve gente que matou a vida no seu ventre para fugir da ditadura, e portanto não deveria se comportar como os fariseus, que jogam pedras, sabendo-se pecadores. E Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem entregar sua vida por causa de mim, vai salvá-la”(Mt 10,39)

Vamos fazer o nosso Brasil avançar ainda mais, com Dilma, que já provou ser coerente, competente e comprometida com a VIDA. O dragão devastador não pode voltar ao poder.

Deus abençoe os leitores e eleitores, governos e governados. Saúde e paz a todos (as)!

Tudo o que você me desejar, eu lhe desejo cem vezes mais. Obrigado.

Caçador, 28 de outubro de 2010

Dom Luiz Carlos Eccel

Bispo Diocesano de Caçador – Santa Catarina

Onde você estava em 1964?

Reproduzo artigo de Emir Sader, postado no site Carta Maiuor

Há momentos na história de cada país que são definidores de quem é quem, da natureza de cada partido, de cada força social, de cada indivíduo. Há governos em relação aos quais se pode divergir pela esquerda ou pela direita, conforme o ponto de vista de cada um. Acontecia isso com governos como os do Getúlio, do JK, do Jango, criticado tanto pela direita – com enfoques liberais ou diretamente fascistas – e pela esquerda – por setores marxistas.

Mas há governos que, pela clareza de sua ação, não permitem essas nuances, que definem os rumos da história futura de um país. Foi assim com o nazismo na Alemanha, com o fascismo na Itália, com o franquismo na Espanha, com o salazarismo em Portugal, com a ocupação e o governo de Vichy na França, entre outros exemplos.

No caso do Brasil e de outros países latinoamericanos, esse momento foi o golpe militar e a instauração da ditadura militar em 1964. Diante da mobilização golpista dos anos prévios a 1964, da instauração da ditadura e da colocação em prática das suas políticas, não havia ambigüidade possível, nem a favor, nem contra. Tanto assim que praticamente todas as entidades empresariais, todos os partidos da direita, praticamente todos os órgãos da mídia – com exceção da Última Hora – pregavam o golpe, participando e promovendo o clima de desestabilização que levou à intervenção brutal das FAA, que rompeu com a democracia – em nome da defesa da democracia, como sempre -, apoiaram a instauração do regime de terror no Brasil.

Como se pode rever pelas reproduções das primeiras páginas dos jornais que circulam pela internet, todos – FSP, Estadão, O Globo, entre os que existiam naquela época e sobrevivem – se somaram à onda ditatorial, fizeram campanha com a Tradição, Família e Propriedade, com o Ibad, com a Embaixada dos EUA, com os setores mais direitistas do país. Apoiaram o golpe e as medidas repressivas brutais e aquelas que caracterizariam, no plano econômico e social à ditadura: intervenção em todos os sindicatos, arrocho salarial, prisão e condenação das lidreanças populares.

Instauraram a lua-de-mel que o grande empresariado nacional e estrangeiro queria: expansão da acumulação de capital centrada no consumo de luxo e na exportação, com arrocho salarial, propiciando os maiores lucros que tiveram os capitalistas no Brasil. A economia e a sociedade brasileira ganharam um rumo nitidamente conservador, elitistas, de exclusão social, de criminalização dos conflitos e das reivindicações democráticas, no marco da Doutrina de Segurança Nacional.

As famílias Frias, Mesquita, Marinho, entre outras, participaram ativamente, no momento mais determinante da história brasileira, do lado da ditadura e não na defesa da democracia. Acobertaram a repressão, seja publicando as versões mentirosas da ditadura sobre a prisão, a tortura, o assassinato dos opositores, como também – no caso da FSP -, emprestando carros da empresa para acobertar ações criminais os órgãos repressivos da ditadura. (O livro de Beatriz Kushnir, “Os cães de guarda”, da Editora Boitempo, relata com detalhes esse episódio e outros do papel da mídia em conivência e apoio à ditadura militar.)

No momento mais importante da história brasileira, a mídia monopolista esteve do lado da ditadura, contra a democracia. Querem agora usar processos feitos pela ditadura militar como se provassem algo contra os que lutaram contra ela e foram presos e torturados. É como se se usassem dados do nazismo sobre judeus, comunistas e ciganos vitimas dos campos de concentração. É como se se usassem dados do fascismo italiano a respeito dos membros da resistência italiana. É como se se usassem dados do fraquismo sobre o comportamento dos republicanos, como Garcia Lorca, presos e seviciados pelo regime. É como se se usasse os processos do governo de Vichy como testemunha contra os resistentes franceses.

Aqueles que participaram do golpe e da ditadura foram agraciados com a anistia feita pela ditadura, para limpar suas responsabilidades. Assim não houve processo contra o empréstimo de viaturas pela FSP à Operação Bandeirantes. O silêncio da família Frias diante da acusações públicas, apoiadas em provas irrefutáveis, é uma confissão de culpa.

Estamos próximos de termos uma presidente mulher, que participou da resistência à ditadura e que foi torturada pelos agentes do regime de terror instaurado no país, com o apoio da mídia monopolista. Parece-lhes insuportável moralmente e de fato o é. A figura de Dilma é para eles uma acusação permanente, pela dignidade que ela representa, pela sua trajetória, pelos valores que ela representa.

Onde estava cada um em 1964? Essa a questão chave para definir quem é quem na democracia brasileira.

Debate na TV Globo: Dilma comemora

Reproduzo artigo de André Cintra, publicado no sítio Vermelho:

A TV Globo bem que tentou dar uma forcinha para o tucano José Serra, no último debate entre os presidenciáveis, na noite desta quarta-feira (29). Mas quem fez a festa nos estúdios da emissora no Rio de Janeiro, logo após o encontro, foram os apoiadores de Dilma Rousseff – e com razão. Ao superar um dos mais temidos obstáculos da campanha, a candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando passou a ter chances ainda mais concretas de se tornar a sucessora do presidente Lula.

Numa atração com 25 pontos de média no Ibope (cada ponto equivale a 55 mil televisores na Grande São Paulo), Dilma soube explorar o formato do debate melhor do que Serra. Pela primeira vez nestas eleições, não houve perguntas de candidato para candidato. As 12 questões foram formuladas e lidas por eleitores supostamente indecisos, que não tinham o direito de comentar as respostas. Sem o confronto direto, o candidato que está à frente nas pesquisas – no caso, Dilma – larga em vantagem.

Mas a petista não se contentou com esse trunfo. Seu principal acerto foi captar a singularidade das perguntas, demonstrando estar interessada não só em expor seu plano geral de governo – mas também em dar perspectivas até para questões mais pontuais. De longe, foi Dilma quem conseguiu estabelecer um diálogo mais franco e natural com o grupo de eleitores indecisos. Ao mesmo tempo, Dilma frisava melhor as diferenças de concepções e projetos das duas candidaturas.

Serra, ao contrário, causou ruído já na hora de agradecer às perguntas que lhe foram feitas. Pesquisas qualitativas realizadas durante o debate apontaram particular rejeição à maneira como Serra, com sorriso forçado e de forma pouco convincente, atribuía “grande importância” a todas as questões.

Sem contar suas frases de efeito, ocas a não mais poder: “Investir no serviço público é melhorar a autoestima do país”; “A batalha da saúde tem que ser para que hoje seja melhor do que ontem e amanhã melhor que hoje”; “A primeira condição para enfrentar o problema da segurança é admitir que o problema é sério”; “Saúde e segurança são a vida, mas a educação é o futuro”.

Funcionalismo

Logo na primeira pergunta do debate – sobre propostas para os servidores públicos –, as diferenças entre Serra e Dilma se impuseram. Serra, um notório inimigo do funcionalismo, defendeu propostas genéricas – “a carreira e o concurso, a valorização dos profissionais”, a “despartidarização” das agências reguladoras.

Mais tarde, o tucano teve a oportunidade de voltar ao assunto, quando uma eleitora baiana contou estar penalizada pela filha, que é professora sem ser valorizada. Serra disse defender um pacto nacional pela educação (abstração pura) e o combate ao analfabetismo. E a valorização do professor – onde é que fica?

Dilma, em suas réplicas, lembrou que o governo Lula já iniciou uma política de valorização do funcionalismo, com destaque para a aprovação do piso salarial nacional dos professores. Para se diferenciar da política à “base de cassetetes” praticada pelo PSDB em São Paulo, a candidata mostrou que não há saída para o funcionalismo se o governo não ouvir os principais interessados. “Um governante não pode estabelecer uma relação de atrito quando o professor pede diálogo.”

Serra acusou o governo Lula de “duplicar impostos sobre saneamento”, mas patinou ao fugir do compromisso de desonerar a folha de pagamento em benefício dos pequenos empreendedores. “Temos de ser responsáveis, não é moleza”, argumentou. Dilma não perdeu a oportunidade e defendeu abertamente “uma reforma tributária que diminua a oneração”.

“Percebemos que, quando diminui a tributação, não diminui a arrecadação”, afirmou, pondo em destaque as inúmeras reduções do IPI pelo governo Lula durante a crise de 2008-09. “Eu concordo com a desoneração. A pessoa contrata mais, e mais pessoas consomem. É um círculo virtuoso.”

Uma eleitora relatou o trauma de ter sido assaltada a mão armada. Serra voltou a bater na tecla da criação de um Ministério da Segurança Pública e no combate ao tráfico de drogas. Dilma, mais sensível, disse que boa parte da criminalidade exige uma ação específica. Comprometeu-se, assim, a levar polícias comunitárias aos bairros populares, com ação concentrada e fiscalização.

Social

Um eleitor de São Paulo cobrou iniciativas para que os programas sociais, como o Bolsa Família, não sejam “vitalícios. Outro, do Paraná, reclama que os brasileiros pagam muito impostos, sem receber nada em troca. Dilma interveio a favor dos programas sociais – uma questão que, segundo ela, será “central” em seu governo.

Agregou que o ProUni, com seus mais de 700 mil beneficiados de renda média e baixa, é um exemplo de como o governo Lula tenta incluir quem paga imposto e foi historicamente desprezado. Serra, mais uma vez, tentou fazer da pergunta um trampolim para ele falar de seu programa para outras áreas – “Política social é também saúde e segurança”, tentou justificar-se.

Quando o eleitor de Pernambuco reclamou que seis irmãos seus estão na informalidade e não conseguem pagar a Previdência, Serra falou em “empuxo político” e incentivo ao empreendedorismo. “Se a contribuição for pesada, ninguém vai pagar”, rebateu Dilma, em defesa da formalização máxima do mercado de trabalho e, somado a isso, de contribuições variadas à Previdência de acordo com a faixa de renda.

Nas considerações finais, uma inesperada manipulação: a Globo usou câmeras panorâmicas para expor Dilma, enquanto Serra mereceu uma transmissão em close. As reações de protesto no estúdio foram automáticas. No conteúdo, Dilma disse representar a continuidade de “um projeto que fez com que o Brasil despertasse para a consciência de sua grandeza”.

Saber enfrentar Serra e a Globo, a dois dias das eleições, também mostra como Dilma percebeu sua própria grandeza e está à altura de governar o Brasil. A vitória ficou mais próxima. Que venha 31 de outubro!

A arapuca do debate da Globo. O problema é a edição

Reproduzo artigo de Paulo Henrique Amorim, do site Conversa Afiada

Os debates na televisão brasileira são irrelevantes – para dizer pouco.

E por que ?

Porque os partidos e os candidatos nao confiam na imprensa brasileira e não deixaram jornalistas fazer peguntas, com direito a follow-up.

Candidato não sabe fazer pergunta.

Candidato faz pergunta para responder ele mesmo, na volta.

Quem sabe fazer pergunta é jornalista isento, sério.

Desde que ele tenha o direito a fazer a pergunta seguinte à resposta.

Não adianta um jornalista perguntar sobre a maracutaia da concorrência do metrô de São Paulo e o Serra responder sobre Nossa Senhora da Aparecida.

O jornalista tem que ter o direito de ir para a réplica, o follow up: mas, pera ai, santinho do pau oco … a pergunta era sobre a carta marcada da concorrência do metrô que o senhor administrou.

Hoje, no Brasil, realizou-se a proeza de tirar o jornalista do jornalismo.

Porque os jornalistas do PiG (*) não prestam.

Para evitar desgaste, os partidos e candidatos desidrataram o debate.

Sobra a edição do debate.

E aí a Globo é imbativel.

Numa boa mesa de edição, a Globo já mudou o rumo de duas eleições, a partir de debates.

O mais recente foi em 2006, quando o Ali kamel produziu sua “finest hour”: levou a eleição para o segundo turno do Lula contra o Alckmin, ao mostrar o dinheiro dos aloprados e a cadeira do Lula vazia no debate da Globo.

Ele conseguiu passar a ideia de que o Lula tinha fugido do dinheiro dos aloprados.

Clique aqui para ler “O primeiro golpe já houve. Falta o segundo”.

É bom não esquecer que o dinheiro dos aloprados nasce das ambulâncias superfaturadas no Ministério da Saúde do Serra, que tinha o Marcelo Lunus Itagiba e o Barjas Negri – gente finíssima.

E que, no segundo turno, o Alckmin teve menos votos do que no primeiro – uma das proezas do marqueteiro do Serra.

O outro debate que a Globo manipulou foi em 1989, quando Lula e Collor se enfrentaram na véspera da eleição do segundo turno.

Sem direito, como agora, a uma réplica no horário eleitoral gratuito.

(Como é que a Dilma foi cair nessa ?)

O Dr Roberto mandou editar o debate de forma muito precisa: tudo de bom do Collor e tudo de ruim do Lula.

E assim fez a Globo.

Logo em seguida ao resumo do debate – o ruim do Lula e o bom do Collor – , na histórica edição do jornal nacional, Alexandre Maluf Garcia leu um editorial em que dava a entender que votar no Collo significava preservar a jovem democracia de um sapo barbudo furioso.

Está na hora de se livrar do monopólio das pesquisas.

E da Globo.

No enterro do Néstor Kirchner, o presidente Lula podia trazer de volta no avião, para dar uma lida, uma cópia da Ley de Medios.

E ver o que Néstor e Cristina fizeram com o Clarín, que mandava na Argenina muitas vezes menos do que a Globo manda no Brasil.

Quando for melancolicamente para casa no dia 1º de novembro, Serra não descansará.

Montado na UDN de São Paulo e na garupa do PiG (*), Serra vai liderar a campanha do impeachment do Dilma.

A partir do dia 1º.

Seu grande aliado nessa eleição, um quadro que honra a campanha udenista, Roberto Jefferson, já avisou: vai jorrar sangue.

Se depender do Serra, a partir de 1º de novembro, jorrará muito sangue.

Ele será capaz de ir a Nápoles e ver como jorra sangue de San Genaro.

Serra travará uma Guerra “Santa” movida pelo ódio.

Ele não descansará.

Ate mandar a mulher para um convento em Lourdes.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

O Papa e o aborto no Brasil

Reproduzo artigo do teólogo Leonardo Boff, publicado no sítio da Adital:

É importante que na intervenção do Papa na política interna do Brasil acerca do tema do aborto, tenhamos presente este fato para não sermos vítimas de hipocrisia: nos catolicíssimos países como Portugal, Espanha, Bélgica, e na Itália dos Papas já se fez a descriminalização do aborto (cada um pode entrar no Google e constatar isso).

Todos os apelos dos Papas em contra, não modificaram a opinião da população quando se fez um plebiscito. Ela viu bem: não se trata apenas do aspecto moral, a ser sempre considerado (somos contra o aborto), mas deve-se atender também a seu aspecto de saúde pública. No Brasil a cada dois dias morre uma mulher por abortos mal feitos, como foi publicado recentemente em O Globo na primeira página. Diante de tal fato devemos chamar a polícia ou chamar médico? O espírito humanitário e a compaixão nos obriga a chamar o médico até para não sermos acusados de crime de omissão de socorro.

Curiosamente, a descriminalização do aborto nestes países fez com que o número de abortos diminuísse consideravelmente.

O organismo da ONU que cuida das populações demonstrou há anos que quando as mulheres são educadas e conscientizadas, elas regulam a maternidade e o número de abortos cai enormemente. Portanto, o dever do Estado e da sociedade é educar e conscientizar e não simplesmente condenar as mulheres que, sob pressões de toda ordem, praticam o aborto. É impiedade impor sofrimento a quem já sofre.

Vale lembrar que o cânon 1398 condena com a excomunhão automática quem pratica o aborto e cria as condições para que seja feito. Ora, foi sob FHC e sendo ministro da saúde José Serra que foi introduzido o aborto na legislação, nas duas condições previstas em lei: em caso de estupro ou de risco de morte da mãe. Se alguém é fundamentalista e aplica este cânon, tanto Serra quanto Fernando Henrique estariam excomungados. E Serra nem poderia ter comungado em Aparecida como ostensivamente o fez. Mas pessoalmente não o faria por achar esse cânon excessivamente rigoroso.

Mas Dom José Sobrinho, arcebispo do Recife o fez. Canonista e extremamente conservador, há dois anos atrás, quando se tratou de praticar aborto numa menina de 9 anos, engravidada pelo pai e que de forma nenhuma poderia dar à luz ao feto, por não ter os órgãos todos preparados, apelou para este cânon 1398 e excomungou os médicos e todos os que participaram do ato. O Brasil ficou escandalizado por tanta insensibilidade e desumanidade. O Vaticano num artigo do Osservatore Romano criticou a atitude nada pastoral deste Arcebispo.

É bom que mantenhamos o espírito crítico em face desta inoportuna intervenção do Papa na política brasileira fazendo-se cabo eleitoral dos grupos mais conservadores. Mas o povo mais consciente tem, neste momento, dificuldade em aceitar a autoridade moral de um Papa que durante anos, como Cardeal, ocultou o crime de pedofilia de padres e de bispos.

Como cristãos escutaremos a voz do Papa, mas neste caso, em que uma eleição está em jogo, devemos recordar que o Estado brasileiro é laico e pluralista. Tanto o Vaticano e o Governo devem respeitar os termos do tratado que foi firmado recentemente onde se respeitam as autonomias e se enfatiza a não intervenção na política interna do país, seja na do Vaticano seja na do Brasil.

Mulheres reagem a pedido de Serra para convencer pretendentes

Reproduzo artigo da Redação do jornal Correio do Brasil

O candidato tucano, José Serra, gerou uma nova onda de protestos na internet, no início da noite desta quinta-feira, por parte das mulheres que se sentiram ofendidas com o pedido do candidato, feito no encerramento do discurso em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, para uma plateia de cabos eleitorais e convidados. Ele apelou para que para as “meninas bonitas” busquem convencer os seus pretendentes masculinos a votar nele, principalmente na internet.
– Quero me concentrar agora no que vamos fazer até domingo. Temos que não apenas votar, temos que ganhar voto de quem está indeciso, voto de quem não está ainda muito decidido do outro lado – argumentou o candidato.
Segundo o candidato tucano, mulheres bonitas têm mais condições de cabalar votos para a aliança da direita.
– Se é menina bonita, tem que ganhar 15 (votos). É muito simples: faz a lista de pretendentes e manda e-mail dizendo que vai ter mais chance quem votar no 45 – completou.
A proposta caiu mal para as mulheres brasileiras que, no Twitter, alçaram o primeiro lugar nos trends (assuntos mais debatidos nas redes sociais) nacionais e terceiro lugar, em nível mundial, com as mensagens de protesto contra o candidato.
“Sou mineira e bonita, mas não tenho tenho vocação pra trabalho de bordel”, escreveu @fiz_mesmo, seguida de @velvetinha: “Credo, o Serra é antigo, que ideia mais triste, gente. Ele imagina as meninas coqueteando para ganhar votos. Perai, vou ali vomitar”.
Os protestos foram rastreados pela tag #serracafetao, que chegou ao terceiro lugar em nível mundial, no início da noite. O internauta @emrsn ponderou que “por muito menos o Ciro foi mega desacreditado pela imprensa”, e @purafor pergunta se esta seria uma proposta do candidato para se criar “um bordel a nível nacional”. Enquanto isso, @rodrigonc, que não deve passar dos 14 anos, aproveita para entrar na discussão, “só avisando às meninas bonitas do Twitter: podem me mandar DM (mensagem direta, na tradução do inglês) que a gente já pode negociar esse voto”.
O internauta @luisfelipesilva acirra o debate ao constatar que “não tem profissão mais ingrata do que ser marketeiro do Serra, haja gafe…”, mas coube à internauta @alessandra_st colocar o tom do protesto: “Serra desvaloriza a mulher e subestima eleitorado feminino em MG”, concluiu.

Serra e o relógio da mentira

Reproduzo ótima piada enviada por Bezerra ao Blog do Miro:

Um cidadão morreu e foi para o céu. Enquanto estava em frente a São Pedro nos Portões Celestiais, viu uma enorme parede com relógios atrás dele.

Ele perguntou: O que são todos aqueles relógios?

São Pedro respondeu: São Relógios da Mentira. Todo mundo na Terra tem um Relógio da Mentira.

Cada vez que você mente, os ponteiros de seu relógio movem-se.

- Oh!! – exclamou o cidadão – De quem é aquele relógio ali?

- É o de Madre Teresa. Os ponteiros nunca se moveram, indicando que ela nunca mentiu.

- E aquele, é de quem?

- É o de Abraham Lincoln. Os ponteiros só se moveram duas vezes, indicando que ele só mentiu duas vezes em toda a sua vida.

- E o Relógio do Serra, também está aqui?

- Ah! O do Serra está na minha sala.

- Ué – espantou-se o cidadão, – por quê?

E São Pedro, rindo, respondeu:

- Estou usando como ventilador de teto.

Comparações: Lula/Dilma e FHC/Serra

Reproduzo artigo feito a partir de várias “notinhas” enviadas por um amigo internauta de Brasília, postado no Blog do Miro:

Saúde:

FHC aumentou os gastos com saúde de 18 bilhões em 1999 para 25 bilhões em 2002: 7 bilhões de aumento.

Lula aumentou os gastos com saúde daqueles 25 para 54, em 2009: são 29 bilhões de reais a mais!

Com Dilma, mais saúde!

Ciência e tecnologia:

Com FHC, o gastos em ciência e tecnologia passaram de 953 milhões para 2 bilhões e 79 milhões de reais em 2002. Um aumento de pouco mais de 1 bilhão...

Com Lula, os gastos em ciência e tecnologia passaram de 2,7 bilhões para 5 bilhões e 800 milhões!

Foram 3 bilhões de reais a mais!

Mais de 3 vezes mais!

A ciência é o futuro! Vote em Dilma!

Segurança pública:

Com FHC, o número de policiais federais passou de 7.316 em 1995 para 9.231 em 2002.

Com Lula, o número de policiais federais passou de 9.231 em 2002 para 14.383 em 2009!

FHC aumentou o número de policiais em 2 mil.

Lula aumentou 5 mil, duas vezes e meia !

Ter segurança é votar em Dilma!

Redução da pobreza:

Com FHC, os pobres passaram de 52 milhões em 1995 para 58 milhões em 2002.

Com Lula, os pobres se reduziram a 40 milhões em 2009.

O número de pobres aumentou em 6 milhões com FHC!

Com Lula, o número de pobres se reduziu em 18 milhões!

Um aumentou a pobreza; o outro a reduziu!

Votar em Dilma é lutar contra a pobreza!

Crédito internacional:

Com FHC, em dezembro de 1995, a dívida externa pública era de 38 bilhões de reais e passou para 237 bilhões de reais em 2002.

Com Lula, a dívida externa caiu 237 bilhões de reais e se transformou em um crédito de 287 bilhões de reais em 2009.

Com FHC, a dívida se multiplicou por seis!

Com Lula, o Brasil passou de devedor a credor!

É preciso comparar!

Votar em Dilma é garantir o Brasil credor!

Salário mínimo:

Em janeiro de 1995, o salário mínimo era de 70 reais.

Em janeiro de 2003, o salário mínimo era de 200 reais.

FHC aumentou o salário mínimo em 130 reais...

Com Lula, o salário mínimo aumentou de 200 reais em 2003 para 510 reais em 2010!

310 reais de aumento.

Bem mais do que o dobro!

Votar em Dilma é garantir um salário melhor!

Reservas internacionais:

Em dezembro de 2002, último ano de FHC, as reservas brasileiras eram de apenas 38 bilhões de dólares...

Com Lula, as reservas brasileiras passaram de 49 bilhões de dólares em 2003 para atingir 280 bilhões de dólares em outubro de 2010.

Com FHC, 38 bilhões...

Com Lula, 280 bilhões. Sete vezes mais!

Votar em Dilma é garantir a nossa tranqüilidade externa!

Exportações:

As exportações brasileiras passaram de 47 bilhões de dólares em 1995 para 61 bilhões em 2002.

Com Lula cresceram de 73 bilhões de dólares em 2003 para 145 bilhões em 2010: dobraram.

Com FHC, mais 14 bilhões...

Com Lula, mais 72 bilhões. Cinco vezes mais!

Votar em Dilma é garantir o futuro das exportações!

Inflação:

A inflação com FHC foi na média por ano de 9,2%...

Com Lula, a inflação média anual foi de 5,8%. Praticamente a metade!

Dilma garantirá preços baixos!

Geração de empregos:

FHC criou 5 milhões de empregos...

Lula criou 14 milhões de empregos...

Quase três vezes mais!

Vote em Dilma para poder trabalhar!

Crédito para consumo:

O crédito dos bancos públicos aos consumidores e aos produtores brasileiros cresceu de 109 bilhões (1995) para 145 bilhões (2002). 36 bilhões de aumento...

Com Lula, passou de 145 bilhões para 593 bilhões em 2010: um aumento de 448 bilhões! Dez vezes mais crédito para comprar e investir!

Crescer é crédito; crédito é Dilma!

Educação:

Em 2002, no último ano de FHC, as despesas com educação foram de 13 bilhões de reais.

Com Lula, a educação passou de 13 bilhões para 28 bilhões de reais: 15 bilhões de reais a mais!

Educação é com Dilma!

Agricultura familiar:

Com FHC, os valores efetivamente gastos subiram de 410 milhões, em 1999, para 2 bilhões e 160 milhões em 2002. Aumento importante de 1 bilhão e 700 milhões!

Com Lula, passaram de 2 bilhões e 160 milhões para 10 bilhões e 790 milhões!

Um aumento extraordinário de 8 bilhões e meio!

Votar em Dilma é alimento em sua mesa!

Saneamento básico:

Com FHC, os gastos orçamentários com saneamento caíram de 161 milhões, em 2000, para 97 milhões em 2002. Menos 64 milhões!

Com Lula, os gastos com saneamento passaram de 59 milhões, em 2003, para 845 milhões em 2009. Um aumento de 786 milhões de reais!

Votar em Dilma pela saúde!

Crédito para a indústria:

Com FHC, os desembolsos do BNDES para as indústrias cresceram de 7 bilhões de reais em 1995 para 38 bilhões em 2002. 31 bilhões de aumento!

Com Lula, os desembolsos passaram de 35 bilhões em 2003 para 137 bilhões em 2009. 102 bilhões de aumento!

Com Dilma, industrializar para crescer!

Amazônia:

No Governo Lula, o desmatamento na Amazônia caiu de 21 mil km2 para 7 mil km2! Três vezes menor!

Votar em Dilma é preservar a Amazônia!

Meio Ambiente:

Com FHC, foram destinados 13 milhões de hectares a áreas de conservação ambiental na Amazônia...

Com Lula, foram 22 milhões de hectares!

Com Dilma, pela Amazônia!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dossiê GloboGate 3ºparte - Como tutelar o seu leitor

Reproduzo artigo de Antonio Martins, no site Outras Palavras

Este artigo é a terceira parte do Dossiê GloboGate.

Num caso antológico de partidarismo, Folha e Jornal Nacional triaram as denúncias relacionadas à quebra de sigilos fiscais. Alardearam o que interessava a Serra e esconderam o que o comprometia

Meu Deus, o JN tem acesso a isso http://bit.ly/cVNb0M e faz aquela matéria sobre vazamento de sigilos. Na tarde de sexta-feira (22/10), o jornalista Luís Nassif fez questão de republicar, no Twitter, mensagem que recebera de LuizKK, outro membro da rede. Pouco antes, os sites dos jornais paulistas haviam disponibilizado, sem alarde, a íntegra de algo que haviam explorado por dias, em suas edições anteriores: o depoimento prestado à Polícia Federal (PF), uma semana antes (15/10), pelo jornalista Amaury Ribeiro.

O espanto de LuizKK e Nassif era justificado. Amaury é o personagem central de um tema que acompanhou (e influenciou) toda a disputa eleitoral: a quebra dos sigilos fiscais de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB, e alguns expoentes do partido. A aparição do documento comprovou algo de que já se suspeitava: a parcialidade da velha mídia, ao atribuir, com insistência, o vazamento à campanha de Dilma. Mas revelou, também, algo novo. Na “semana em que as elites perderam a noção” (ler o texto de abertura deste dossiê), dois veículos – a Folha de S.Paulo e o Jornal Nacional (o JN, na mensagem de LuizKK) – levaram esta parcialidade a um ponto extremo, que um dia será tema de estudo nas escolas de Comunicação.

Numa evidente violação de seu compromisso com os leitores, eles triaram partidariamente o depoimento de Amaury. Os elementos que poderiam comprometer Dilma foram divulgados com espalhafato, “merecendo” por quatro edições da Folha (20 a 23/10) o status de principal assunto do dia (incluindo três manchetes). Enquanto isso, esconderam-se as afirmações do jornalista que comprometiam Serra em dois episódios. O primeiro é o processo de privatizações do governo FHC, durante o qual membros do PSDB – além de Verônica Serra – teriam se envolvido em corrupção e ou lavagem de dinheiro. O segundo, a disputa fratricida em que os tucanos se consumiram, para escolha de candidato à Presidência, com os dois lados (Serra e Aécio Neves) chegando a ponto de encomendar a preparação de dossiês sobre crimes cometidos pelo grupo adversário.


* * *

Para desfazer o cipoal em que a cobertura da mídia transformou o assunto, e compreendê-lo, é preciso retroceder à última semana de agosto. Uma apuração da Receita Federal verificou que, em 8 de outubro de 2009, servidores da Receita Federal no ABC Paulista haviam acessado declarações de Imposto de Renda de quatro integrantes do PSDB: o ex-diretor do Banco do Brasil (no governo FHC) e arrecadador de recursos do partido, Ricardo Sérgio de Oliveira; o ex-ministro das Comunicações no governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros; o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge; e o empresário Gregório Marin Preciado, casado com uma prima-irmã de José Serra. Dias mais tarde, apurou-se que o mesmo sucedera com Verônica Serra, filha do candidato à Presidência.

O assunto dominou a mídia durante ao menos quinze dias. Foi destacado, em manchetes seguidas, por Veja, O Globo, Folha e Estado, além do JN. O acesso indevido a dados fiscais de milhões de contribuintes não é incomum. Inúmeras matérias, nos jornais e TVs, já destacaram a venda em massa de CDs com tais informações, em pontos como a Rua Santa Ifigênia, em São Paulo. No entanto, o fato foi tratado como espionagem política, quando envolveu os cinco tucanos.

Insinuou-se largamente que o vazamento fora produzido a mando de um “setor de inteligência” na campanha Dilma, que prepararia um “dossiê” sobre os tucanos. Veja falou em “enfraquecimento das instituições”, num texto intitulado “O Estado a serviço do Partido”, em edição cuja capa trazia a imagem de um polvo apoderando-se, com seus tentáculos, do brasão da República. Um editorial do Estado atribuiu a Lula a responsabilidade pelo incidente. A presença de Verônica acrescentou um componente sentimental ao caso: o aparelhamento da máquina pública, pelos adversários de Serra, ia a ponto de acossar a família do candidato…

* * *

A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso. Ouviu 37 pessoas. Embora a investigação corra em sigilo de justiça, Eduardo Jorge – um dos que teve os dados fiscais vasculhados – valeu-se da condição de parte envolvida e requereu, por meio de liminar, acesso aos autos. É a fonte provável da retomada do tema, pela mídia. A partir de 20 de outubro, Folha e Jornal Nacional, depois secundados pelos outros jornais e por Veja, voltaram a tratar a quebra de sigilos como um assunto de relevância nacional.

Segundo a mídia, o jornalista Amaury Ribeiro é apontado no inquérito da PF como pivô do vazamento das informações fiscais dos tucanos. Amaury é um repórter experimentado, que passou pelos jornais de maior circulação do país e foi distinguido por três Prêmios Esso e quatro Vladimir Herzog. Nega que tenha encomendado a funcionários da Receita a consulta das declarações de Imposto de Renda dos tucanos. Admite que reúne, sobre o tema, um “dossiê”.

Porém, ao terem acesso a seu depoimento na PF, Folha e Jornal Nacional recolheram evidências que desmentem, por completo, a subordinação do trabalho de Amaury Ribeiro ao PT ou à campanha de Dilma. O jornalista premiado, que prepara um livro sobre as privatizações, relata, entre outros pontos, os seguintes.

1. Sua investigação teve início na virada da década passada, quando transitou entre a sucursal paulista de O Globo e a redação do Jornal do Brasil – e se interessou pela participação de Ricardo Sérgio do processo de privatizações.

2. Nessa época, teve acesso a uma primeira declaração de renda de Ricardo Sérgio (relativa a 1998), por meios totalmente legais. O documento constava dos autos de um processo movido pela Rhodia do Brasil contra a Calfat, de propriedade de Ricardo Sérgio.

3. Ao persistir na investigação, verificou, em 2003 – por meio de documentos públicos, obtidos pela CPI do Banestado – que Ricardo Sérgio movimentava “milhões de dólares” anualmente. Servia-se, para tanto, de rede de doleiros e operava inclusive em paraísos fiscais.

4. Chegou a publicar, já em 2003 (em IstoÉ), diversas matérias sobre esta movimentação. Foi processado por Ricardo Sérgio. Serviu-se do direito à “exceção da verdade” — que garante aos acusados de praticar calúnia o direito de demonstrar que suas alegações são verdadeiras. Ao fazê-lo, pôde requerer da CPI do Banestado novos documentos sobre movimentação de dinheiro no exterior, por seu antagonista.

5. O material recebido permitiu-lhe verificar que Gregório Marin Preciado (o marido da prima-irmã de José Serra), e outras pessoas de algum modo relacionadas ao processo de privatizações do governo FHC, também haviam feito ampla movimentação de recursos no exterior.

6. A partir de 2007, passou a trabalhar no Estado de Minas e Correio Braziliense (ambos do grupo Diários Associados). Nessa época, descobriu que um grupo clandestino de inteligência, espionava o governador Aécio Neves, a serviço de José Serra.

7. Suas fontes na “comunidade de informações” apuraram que este grupo, articulado pelo delegado da PF e deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) trabalhava para José Serra – que então disputava com Aécio a indicação para candidato do partido à Presidência.

8. Ao apurar as atividades deste grupo, descobriu que Verônica Serra e seu esposo possuíam empresas operando em paraísos fiscais. Utilizadas para lavar dinheiro, elas dividiam escritório, nas Ilhas Virgens, com companhias de Ricardo Sérgio.

9. Concluiu, a partir do conjunto de informações levantadas, que Ricardo Sérgio, dirigente do Banco do Brasil, participou da articulação dos consórcios privados que assumiram o controle do Sistema Telebrás. E tesoureiro do PSDB cobrou propina e executou, a partir de sua base nas Ilhas Virgens, internação ilegal de valores no Brasil.

Nada assegura que este elenco de afirmações seja verdadeiro. É certo, porém, que são de imensa gravidade e relevância. Tendo acesso privilegiado ao material, a Folha, o JN e as publicações que os seguiram ocultaram-no de seus leitores. Não tinham como objetivo apurar e informar. Queriam comprovar uma hipótese pré-concebida – a de que a quebra de sigilos demonstrava a prática, por parte do PT, de espionagem e aparelhamento do Estado. Por isso, pinçaram do depoimento de Amaury Ribeiro outro conjunto de informações, a saber:

10. Afastado de O Estado de Minas em função da doença e morte de seu pai, o jornalista foi sondado, em abril de 2010, pela Lanza Comunicações, que cuidava à época das comuicações, na pré-campanha de Dilma. Por saberem de sua relação com a “comunidade de informações” os responsáveis pela empresa pediam indicação de um profissional capaz de investigar suspeita de espionagem, na “Casa do Lago Sul”, usada para prestar serviços à candidatura.

11. Onézimo Graça, o profissional indicado por Amaury, apresentou um orçamento (R$ 180 mil), considerado muito elevado. O próprio Amaury descartou a possibilidade de trabalhar para a campanha de Dilma, diante do risco de “infiltração” de espiões.

12. Durante os dias em que manteve contato com a campanha petista, Amaury hospedou-se no apart-hotel de “Jorge” o responsável pela administração da “Casa do Lago Sul”. Neste período, o conteúdo de suas investigações sobre corrupção e lavagem de dinheiro ligadas às privatizações da era FHC foi copiado, de seu notebook, por Rui Falcão, integrante da campanha de Dilma. Envolvido numa disputa interna com a Lanza, Falcão entregou o material ao jornalista Policarpo Júnior, de Veja.

Enquanto sonegavam, por completo, o primeiro grupo de informações, o Jornal Nacional e a Folha davam ao segundo máximo destaque. Durante os anos 1990, a Folha orgulhava-se de um slogan: “De rabo preso com leitor”…


Este texto é a terceira parte do Dossiê GloboGate. Na mesma série:

1. A semana em que as elites perderam a noção
Como a velha mídia manipulou imagens e fatos, para tentar forçar a vitória de Serra. O papel da blogosfera na desmontagem da farsa e a necessidade de uma democratização radical das comunicações

2. A batalha de Campo Grande
Produzir um incidente grave, e atribuí-lo ao adversário, é uma das formas de virar uma eleição quase perdida. Serra e a Globo parecem ter tentado esta estratégia, em 20 de outubro. Foram derrotados por milhões de internautas – e pelo Twitter

Dossiê GloboGate 2ºparte - A batalha de Campo Grande

Reproduzo artigo de Antonio Martins, no site Outras Palavras

Este artigo é a segunda parte do Dossiê GloboGate.

Produzir um incidente grave, e atribuí-lo ao adversário, é uma das formas de virar uma eleição quase perdida. Serra e a Globo parecem ter tentado esta estratégia, em 20 de outubro. Foram derrotados por milhões de internautas – e pelo Twitter

Por volta da meia noite de quinta-feira (21/10), o professor José Antonio Meira da Rocha sentiu a aguilhoada de uma pulga, atrás da orelha. Três horas antes, ele havia assistido ao Jornal Nacional, e “quase” se convencera com as explicações do “perito” Ricardo Molina. Claro, havia exagero e encenação: é insólito fazer tomografia no cérebro depois de sentir na testa o choque de um rolo de fita adesiva. Mas as imagens pareciam mostrar que José Serra havia sido, de fato, atingido por um objeto um pouquinho mais pesado que uma bola de papel.

Como complemento a suas aulas de Jornalismo Gráfico, no campus de Frederico Westfalen da Universidade Federal de Santa Maria, José Antonio tem o hábito de debater, com os alunos, tratamento de imagens na internet ou na TV. Instalou em seu computador uma placa de captura de vídeo de 120 reais. Usa o programa Avidemux (eu Ubuntu-Linux) para examinar quadro a quadro tudo o que assiste.

Algo chamou a atenção de José Antonio, quando analisava as imagens da Globo. A suposta fita adesiva surgia do nada. Não aparecia nem antes, nem depois de tocar a cabeça de Serra. O professor comparou com as cenas da bolinha de papel. Nestas, há uma trajetória, um antes e um depois – ainda que o objeto surja naturalmente distorcido, como um risco de luz.


O professor José Antonio considera risível o trecho em que o “perito” Ricardo Molina assegura, em seu laudo das 23h09 de 22/10, que Serra foi atingido por um objeto real, descartando uma fusão de imagens. “Molina, um especialista em áudios, não deveria aventurar-se a análises de vídeo. Ao argumentar que o ‘objeto’ que aparece sobre a cabeça Serra não é ilusório porque tem formas definidas, ele reforça a hipótese contrária. A característica principal do efeito artifact é ser uma distorção. Imagens tênues assumem, quando muito comprimidas, a aparência de objetos com formas exageradamente geométricas. Enxergar o resultado como prova é grosseiro”.

Inquieto com uma fita adesiva que se materializava num único quadro, sem existência anterior ou posterior, José Antonio decidiu escrever uma mensagem a seus alunos e às listas de internet especializadas em jornalismo: uma na Universidade do Texas (seguida por dezenas de jornalistas brasileiros), outra no Fórum pela Democratização das Comunicações. Animou-se, enquanto redigia. Ao final, decidiu postar a análise também em seu blog. Foi dormir às três da madrugada de sexta (22/10). Ao acordar, às onze, estava fora do ar, devido ao excesso de audiência… O desmascaramento do Jornal Nacional de quinta-feira – o feito mais decisivo na batalha que a velha e a nova mídia travaram, durante 48 horas e em dois rounds, começava a ganhar a blogosfera.

* * *

A disputa começou na tarde de quarta-feira. Ao decidir deslocar-se ao Calçadão de São Cristóvão, José Serra contrariou todas as estratégias razoáveis para a campanha de um candidato em segundo turno. Ao menos, para uma campanha normal: de convencimento, diálogo com formadores de opinião e geração de emoções positivas, capazes de se converter em votos.

No Rio de Janeiro, Serra teve seu quinto pior resultado no primeiro turno: apenas 22,5% dos votos1. Entre as centenas de zonas eleitorais do Rio, as sete que atendem os eleitores de Campo Grande2 estão entre as menos favoráveis ao candidato tucano. Nelas, sua média cai para 18%. Ele perde invariavelmente de Dilma e de Marina, chegando a 15,9% na 246ª zona – onde por pouco não ficou atrás de brancos e nulos (12,3%).

Por fim, em todo o extenso bairro de Campo Grande (o terceiro em área, no Rio), o Calçadão é, talvez, o setor mais adverso ao candidato. São três ruas curtas e muito estreitas, dominadas por comércio popular e ambulante (veja fotos e visão de rua, no Google). A dez dias das urnas, e cerca de dez milhões de votos atrás de sua adversária, quantos sufrágios seria possível recuperar por lá?

Milhões – caso se criasse um fato político capaz de provocar comoção nacional. A cinco minutos do Calçadão3, está localizada a sede do SintSaúde, o sindicato dos “mata-mosquitos”, agentes da Fundação Nacional de Saúde encarregados de parte do combate à dengue. Entre as milhares categorias profissionais em que se dividem os trabalhadores brasileiros, é, provavelmente, a que mais teme José Serra. No rastro do “ajuste fiscal” determinado por Fernando Henrique Cardoso em 1999, ele demitiu 6 mil destes trabalhadores de uma vez – um ato tido por muitos como causa do alastramento da epidemia, no período seguinte. A maior parte foi readmitida por Lula, anos depois.

A presença de Serra soaria aos “mata-mosquitos”, é evidente, como uma provocação. Na tarde de quarta-feira, um número expressivo deles preparou cartazes às pressas e se dirigiu ao Calçadão para contrapor-se ao candidato. Fizeram-no de modo pacífico. Foram agredidos pelos segurança do candidato e se exaltaram, o que permitiu à mídia gerar fotos e vídeos de tumulto.

Ainda assim, nenhuma imagem é capaz, até agora, de justificar as duas cenas em que Serra leva as mãos à cabeça – numa delas, produzindo impressão de dor; noutra, imediatamente após falar ao telefone. Foi em torno destas fotos e vídeos que se produziram as duas etapas da disputa.

* * *

A primeira vai da tarde de quarta-feira até a noite de quinta. Por volta das 15h, o site G1, da Globo “informa” que José Serra fora “atingido na cabeça”, após tumulto provocado por “militantes petistas” em Campo Grande. O filme que acompanha a narrativa, porém não sugere nada grave. O candidato aparece sereno, em todas as cenas. Na última, em que se retira da área, acena e sorri.

Na sequência, produz-se algo curioso. A Globo deixa de destacar, em seus sites, o vídeo que ela própria produzira. Ele é substituído por uma foto estática, na qual Serra curva-se para baixo, leva as mãos à cabeça e é circundado por pessoas que gritam. A notícia ganha dramaticidade crescente. O candidato submete-se a tomografia e é aconselhado, por um oncologista (!) ligado ao PSDB e ao DEM4, a 24 horas de repouso.

O jornalista Paulo Henrique Amorim reage quase de imediato, em seu blog. Percebendo grande exagero na repercussão dada ao incidente, compara José Serra a Roberto Rojas, o goleiro da seleção chilena que, em 1989, simulou ter sido atingido por um rojão em jogo contra o Brasil, em 1989. Começa, com este mote, a primeira grande onda de resistência à manipulação. Seu meio principal é o Twitter, onde toda postagem pode associada a um assunto (“tag”) e é possível, graças a isso, acompanhar o que milhões de pessoas escrevem sobre o mesmo tema.

Em algumas horas, a “tag” #serrarojas espalha-se. A corrente leva milhares de pessoas à investigação jornalística – um fenômeno muito mais potente que o antigo “esforço de reportagem” dos jornalões. Na busca, descobre-se o vídeo do SBT sobre a caminhada.

A novidade desperta uma catarse. Parece desnudar-se, de forma patética, um comportamento farsesco, presente em toda a campanha de Serra. “Hoje aprendemos que, quando atingidos por uma bolinha de papel, devemos fazer tomografia”, diz uma postagem de ironia sutil, no Twitter. Centenas de outras debocham do fato de o candidato ter manifestado dor vinte minutos depois do choque com a folha de papel A4 amassada – e logo após ter recebido um telefonema.

Lula, que na quarta-feira estivera a ponto de telefonar a José Serra, solidarizando-se com ele contra a “agressão” sofrida, executou um giro. Na manhã de quinta, ao inaugurar o polo naval do Rio Grande do Sul, fez uma declaração que mudaria o curso da campanha, por obrigar Serra a atacá-lo diretamente. “A mentira que foi produzida ontem pela equipe de publicidade do candidato José Serra é uma coisa vergonhosa. Ontem deveria ser conhecido como dia da farsa, dia da mentira. (…)Espero que o candidato tenha um minuto de bom senso e peça desculpas ao povo brasileiro pela mentira descarada”

Entre a manhã e a tarde de quinta-feira, #serrarojas tornou-se uma preferência mundial, um fenômeno tão impressionante quanto o “Cala Boca, Galvão” — que chegou a merecer, durante a Copa do Mundo, uma capa de Veja… Nesse mesmo período, começou, porém, uma reação. Diante da chacota que se seguiu à revelação de que uma bolinha de papel “ferira” José Serra, surgia – vinte e quatro horas depois do incidente de Campo Grande – um “novo” vídeo. Feito pelo repórter Ítalo Nogueira, num telefone celular, tem qualidade muito precária. Apareceu primeiro no site da Folha de S.Paulo, no meio da tarde de quinta. Embora tenha tomado a iniciativa de divulgá-lo, a sucursal carioca do jornal jamais chegou às conclusões que a Rede Globo sacaria (leia coluna de Jânio de Freitas a respeito).

À noite, poucas horas depois de difundidas, as novas imagens ganhavam o país por meio do Jornal Nacional. Eram uma espécie de revanche: por isso, precisavam ser tratadas como verdade absoluta. Ocuparam sete minutos do noticiário – um tempo só concedido, em condições normais, aos grandes acontecimentos nacionais ou internacionais. Zombavam de milhões de usuários do Twitter, e do próprio Lula. Ressuscitavam a foto dramática em que Serra leva as mãos a cabeça. “Explicavam” que, além da bolinha, o candidato havia sido atingido por outro objeto, “mais consistente”. Vinham com a suposta chancela do “perito” Ricardo Molina – um “especialista” cultivado pela Globo, cujo currículo inclui a tentativa de culpar o MST pelo massacre de Eldorado de Carajás; de “demonstrar” que PC Farias suicidou-se; e de inocentar o casal Nardoni pela morte da menina Isabela.

Tinham o poder da Rede Globo: sua audiência, sua capacidade de repercutir imediatamente e influenciar outras mídias. Tudo indica que teriam promovido um tufão. Em especial, porque supostamente desautorizavam os dois pilares essenciais à candidatura Dilma: a mobilização social e o apoio do presidente mais popular da história do país. Em outras condições, teriam permitido à emissora exercer o mesmo papel que desempenhou nas eleições de 1989 – e que tentou cumprir em 2006.

Agora, foi diferente. O professor José Antonio Meira Rocha foi o primeiro a contestar o Jornal Nacional e seu “perito”. A partir das primeiras horas da manhã de sexta, o Twitter deu publicidade intensa e rápida a seu esforço. Em algumas horas, desenhava-se um novo fenômeno na internet, mais consistente que o anterior. Agora, a “tag” #globomente substituía #serrarojas. Já não era apenas o desprezo às mistificações de um candidato – mas o protesto claro contra um sinal evidente de manipulação mediática, praticado pela maior emissora do Brasil.

A análise de Meira Rocha fora feita com equipamento amador, nas últimas horas de vigília após um dia de trabalho. Mas o Twitter deslanchou uma nova onda de esforço coletivo. Na trilha aberta pelo professor, e dispondo de mais tempo, outros estudos evidenciaram com clareza ainda maior os sinais de fraude imagética. Vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, o advogado Marcelo Zelic publicou no YouTube um estudo intitulado “Farsa em 6 partes”. Nele, além de destacar a ausência de trajetória na “fita crepe”, no vídeo exibido pela Globo, aponta os primeiros sinais de fusão deturpadora de imagens. Ao contrário do que ocorrera ao ser atingido por uma bolinha de papel, Serra permanecia inteiramente impassível, diante do choque com o que Molina chamara, na véspera, um “objeto maior e mais consistente”. Além disso, as cenas da “fita crepe” haviam sido fundidas com a foto em que o candidato leva as mãos à cabeça, em sinal de dor. Houvera um lapso de vinte minutos, entre os dois momentos. Juntá-los, como se fizessem parte de uma mesma sequência, era sinal evidente de má-fé.

Mas o estudo em que os sinais de falsificação são mais consistentes – e mais úteis, para uma investigação futura – é, provavelmente, “Bolinhagate”, postado também YouTube pelo cineasta Daniel Florêncio. Graças a sua experiência no tratamento de imagem, Florếncio aponta com clareza dois fatos eloquentes. O suposto rolo de fita crepe que teria “atingido” o candidato é, na verdade, distorção da cabeça de um correligionário, que está bem atrás de Serra. Ele permanece impassível simplesmente porque não pode sentir um impacto que não houve. O vídeo foi fundido com outra cena (Florêncio aponta o instante preciso da fusão, destacando objetos que surgem e desaparecem, em cada um dos trechos), para transmitir a falsa impressão de que, depois de “atingido”, Serra leva as mãos à cabeça.

A multiplicação das evidências de fraude, apontadas cada vez com mais detalhe, produz um novo fenômeno no Twitter. Na sexta-feira (22/10) à tarde, a “tag” #globomente está entre as três mais mencionadas, em todo o mundo. A Globo foi nocauteada no segundo round. O assunto desaparece por completo do Jornal Nacional, nesse dia e em todos os seguintes. Às 23h09, entra a nota do “perito” Molina, a tentativa de colocar uma pedra sobre o assunto.

No final da noite de sexta, o jornalista Paulo Cesar Rosa, diretor da Veraz Comunicação, de Porto Alegre, posta, via Twitter, uma hipótese perturbadora: “Se bobear, o Serra saiu, da entrevista que deu no dia anterior à Globo, com o roteiro da bolinha pronto”… Mais dois estudos – estes postados por Arcosta, no YouTube, dão força a esta possibilidade dramática. Eles (1 2) reúnem evidências de que a própria bolinha de papel que atingiu Serra tucano foi atirada não por “militantes petistas”, como a Globo fez questão de difundir desde o primeiro momento – mas por um guarda-costas do próprio candidato tucano…

Dossiê GloboGate 1ºparte - A semana em que as elites perderam a noção

Reproduzo artigo de Antonio Martins, no site Outras Palavras

Este artigo é a primeira parte do Dossiê Globogate

Como a velha mídia manipulou imagens e fatos, para tentar forçar a vitória de Serra. O papel da blogosfera na desmontagem da farsa e a necessidade de uma democratização radical das comunicações

A esta altura, restam muito poucas dúvidas: tudo indica que também o vídeo da suposta “segunda agressão” a José Serra no bairro carioca de Campo Grande (20/10) foi manipulado pela Rede Globo. Denunciada mundialmente no Twitter, na sexta-feira (22/10), após a aparição de análises que demonstram fusão falsificadora de imagens, a emissora não procurou se defender, nas edições seguintes do Jornal Nacional. Sua redação paulista fora palco, na véspera, de uma cena insólita. Os próprios jornalistas vaiaram a “edição” das cenas em que o candidato do PSDB é atingido por um rolo de fita adesiva, materializado do nada. (leia relato de Rodrigo Vianna). Na madrugada posterior às denúncias de fraude (23h09 de 22/10), o site da Globo exibiu discretamente uma nota do “perito” “Ricardo Molina. Redigido depois que os sinais de fusão fraudulenta de imagens tornaram-se evidentes, o texto procura, em essência isentar a emissora em investigações futuras sobre falsificação. Molina alega que analisou material “encontrado na internet” (veja análise de CDM, no Blog do Nassif).

À medida em que a primeira certeza se consolida, começa a se desenhar uma segunda. A provável manipulação de imagens não foi um fato isolado. Ela articula-se com outro assunto que dominou o noticiário da velha mídia esta semana. Vazaram os depoimentos que o jornalista Amaury Ribeiro prestou à Polícia Federal, no inquérito sobre a quebra dos sigilos fiscais de Verônica Serra e outros expoentes do PSDB. O processo corre em sigilo de justiça. Porém, por serem parte envolvida, os advogados de Eduardo Jorge Caldas, ex-tesoureiro de campanha do partido, pediram, através de liminar, acesso às peças. São a fonte óbvia da inacreditável sequência de matérias publicadas, também a partir de 22/10, pela Folha de S.Paulo e Jornal Nacional.

Aqui, já não se trata, como se verá no terceiro texto desta série, de manipulação de imagens – mas de substituição explícita do jornalismo pelo panfleto partidário. Tendo acesso exclusivo ao depoimento de Amary Ribeiro, a Folha e o JN esconderam de seus leitores uma série assombrosa de informações ou pistas de grande relevância. Preferiram destacar em manchete, durante quatro dias, uma penca de ninharias, pinçadas com claro intuito de servir à campanha de José Serra. A tentativa foi reforçada pela edição de Veja que circula este fim-de-semana.

Iniciado na quarta-feira – poucas horas, portanto, depois de o candidato tucano comparecer à Globo para uma entrevista ao vivo no Jornal Nacional – o movimento inclui sinais de ataque flagrante ao direito à informação, praticado por empresas que se beneficiam de concessão e pesados subsídios públicos. Foi, provavelmente, concebido para desencadear, a onze dias do pleito, a última tentativa de vitória do candidato conservador, numa disputa em que está em jogo, também, o destino das reservas do Pré-Sal.

A força da velha mídia chocou-se, porém, com a rebeldia da internet. Entre quarta e sexta-feira, as manipulações imagéticas e factuais foram desfeitas por uma rede – auto-organizada e informal, porém muito potente – de busca e difusão da verdade. Personagens quase-anônimos desmontaram, com inteligência e conhecimento, as tentativas da Globo de fabricar a “agressão” a Serra. Jornalistas como Luís Nassif demonstraram o caráter partidista das “reportagens” da Folha. Graças ao Twitter e ao Facebook, cada nova descoberta era retransmitida instantaneamente por milhares de pessoas, o que estimulava novas investigações.

No momento em que este texto é concluído, a batalha não está decidida. O contra-ataque da blogosfera – reforçado por uma fala corajosa, de Lula, denunciando a farsa pró-Serra (na quinta-feira, 21/10) – amedrontou temporariamente a Rede Globo, a Folha e a própria campanha do PSDB. Desde sexta à noite, quando difundiram-se os vídeos que desmentiam o Jornal Nacional, a investida refluiu. O recuo, a esta altura, pode ter sido fatal para as Serra. Após as eleições será indispensável investigar o episódio da semana passada. A depender da mobilização social, ele poderá ser conhecido, no futuro, como o GloboGate. Ou o momento em que o setor mais conservador das elites brasileiras abusou descontroladamente do controle que exerce sobre a mídia, a ponto de provocar, como resposta, um amplo movimento pela democratização das comunicações.


Este texto é a primeira parte do Dossiê GloboGate. Na mesma série:

2. A batalha de Campo Grande
Produzir um incidente grave, e atribuí-lo ao adversário, é uma das formas de virar uma eleição quase perdida. Serra e a Globo parecem ter tentado esta estratégia, em 20 de outubro. Foram derrotados por milhões de internautas – e pelo Twitter

3. Como tutelar o seu leitor
Num caso exemplar de partadarismo, Folha e Jornal Nacional triaram as denúncias relacionadas à quebra de sigilos fiscais. Alardearam o que interessava a Serra e esconderam o que o comprometia

TSE manda suspender telemarketing tucano que calunia Dilma

A ministra Nancy Andrighi, do Tribunal Superior Eleitoral, mandou suspender imediatamente o serviço de telemarketing contratado pela campanha de José Serra e executado pela empresa Transit do Brasil S/A, que divulga informações caluniosas contra a candidata do PT, Dilma Rousseff.
O serviço de divulgação de baixarias que o PT chama de “telemarketing da calúnia” foi denunciado em reportagem dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas.

A BALA DE PRATA PÚRPURA TRAZ A MÁCULA DA PEDOFILIA

Por Saul Leblon, no site Carta Capital

Complacência com pedófilos na alta cúpula da Igreja sonega ao Vaticano autoridade moral sobre o voto cristão: 55% dos católicos brasileiros votam em Dilma e ignoram a aliança entre a extrema direita religiosa, política e midiática travestida em pacto anti-aborto, envelopada com ares de súmula do Santo Ofício, hoje, na primeira página da Folha. O Vaticano encralacrado no celibato pedófilo até hoje não subscreveu a Carta dos Direitos Humanos da ONU, sob o pretexto de que ela não faz nenhuma referência a Deus e retirou seu apoio à Unicef, que defende o uso de preservativo para combater a aids e o planejamento familiar. A mesma ala da Igreja encastelada na Opus Dei, que agora apoia Serra, abençoou Salazar, em Portugal; Franco, na Espanha; Pinochet, no Chile; Videla, na Argentina e o Golpe de 64.

Serra inaugura a sedução eleitoral. Não há limites para o jênio

Publicado no blog Os Amigos do Presidente Lula:

Não há limites para o Zé Baixaria
Serra pede que ‘meninas bonitas’ consigam votos de pretendentes…
Com isso, Serra inaugura a Prostituição Eleitoral!
Amanhã Serra aparece na TV e diz que foi brincadeira…
Mas é o tipo de brincadeira que traz uma carga de desrespeito às mulheres.
Isso lembra o conselho do Serra para o índio
“Ele me disse por telefone: “Não tenho amantes”. Eu até disse: “Também não precisa exagerar”. O que tem que ser é uma coisa discreta”


A matéria que gerou o post foi publicada na Folha Online:


Serra pede que ‘meninas bonitas’ consigam votos de pretendentes

PAULO PEIXOTO
ENVIADO ESPECIAL A UBERLÂNDIA

Ao encerrar o seu discurso em ato da campanha presidencial na tarde desta quinta-feira em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o candidato José Serra (PSDB) apelou até para as “meninas bonitas” irem a campo em busca dos votos dos seus pretendentes masculinos. E orientou as moças a usarem a internet.

“Quero me concentrar agora no que vamos fazer até domingo. Temos que não apenas votar, temos que ganhar voto de quem está indeciso, voto de quem não está ainda muito decidido do outro lado”, disse, acrescentando que cada um dos seus apoiadores deve buscar ao menos mais um voto.

Disse que os que trabalham na saúde, área em que Serra atuou como ministro, podem conseguir cinco votos para ele. E acrescentou: “Se é menina bonita, tem que ganhar 15 [votos]. É muito simples: faz a lista de pretendentes e manda e-mail dizendo que vai ter mais chance quem votar no 45″.

Ato em defesa da liberdade de expressão

Reproduzo reportagem de Suzana Vier, publicada na Rede Brasil Atual:

Em ato de solidariedade à Revista do Brasil, blogues, jornais e revistas independentes que têm sido vítimas de censura sobraram críticas à mídia e à falta de liberdade de expressão, na noite desta quarta-feira (27), na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

Para o presidente da CUT, Artur Henrique, o pedido de suspensão da Revista do Brasil e do Jornal da CUT, pela coligação que reúne PSDB e DEM, encarna a tentativa de calar os movimentos sociais. Artur relembrou que o pedido de tucanos e democratas tinha mais ações que não foram atendidas, como o pedido de segredo de Justiça e a suspensão do blogue do Artur.

O dirigente sindical criticou a censura aos meios de comunicação que expressam a opinião dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que publicações como Veja têm liberdade para estampar em sua capa e no conteúdo Aécio Neves. Artur fez referência à edição nº 2187, de 20 de outubro, da publicação, em que se aposta no poder do político mineiro. "Eles também tentaram a suspensão da edição número 1 da revista do Brasil, mas a Veja com Aécio pode, mostrar Dilma Rousseff com duas caras também pode", dispara.

Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, destacou a seriedade e os motivos que levaram ao lançamento da Revista do Brasil. "Quando criamos a revista não foi para contrapor a grande mídia. Foi para dar informação de qualidade para os trabalhadores", afirma. "Quando li a revista que depois foi suspensa, com um conteúdo que nenhuma outra revista tem, como a matéria sobre suicídio e assédio moral, eu tive certeza da decisão acertada de criar a Revista do Brasil para informar de verdade", afirmou Nobre. Para ele, a grande imprensa já caiu em descrédito.

No mesmo sentido, Juvandia Leite, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, avalia que há interesse de "calar o projeto" da revista, que chega a 360 mil pessoas, e que partidos e grandes empresas de comunicação "não podem controlar". "Os meios de comunicação têm dono. O problema não é o fato de terem interesses. O problema é que não dizem isso", criticou Juvandia.

O diretor da Gráfica e Editora Atitude, empresa responsável pela Revista do Brasil e pelo site Rede Brasil Atual, Paulo Salvador, elencou os veículos de comunicação e profissionais que nos últimos dez dias "sofreram atentados à liberdade de expressão".

Na lista estão, além da Revista do Brasi, do repórter João Peres da Rede Brasil Atual, que sofreu xingamentos por parte do senador eleito pelo PSDB-SP Aloysio Nunes, a TV Record, os blogues dos jornalistas Paulo Henrique Amorim, de Luiz Carlos Azenha e de Renato Rovai. Também lembrou da tentativa de suspensão do blogue do Artur e do processo contra os profissionais do blogue "Falha de S. Paulo". O diretor citou ainda as demissões arbitrárias de jornalistas e articulistas pelo grupo Abril, por O Estado de São Paulo, pelo Diário do Nordeste e o caso do apresentador de TV de Goiás que se demitiu ao vivo em consequência de censura.

"É um absurdo a censura que os veículos alternativos vêm sofrendo. Por que nós, do mundo do trabalho, não podemos apresentar nossa opinião?", indagou Paulo Salvador.

Processo

O jornalista Lino Bocchini e o designer Mario Bocchini, do blogue Falha de S. Paulo, suspenso por liminar obtida pela Folha de S.Paulo, contaram ao público sobre o processo que estão sofrendo pelo jornal que não compreendeu a crítica bem-humorada dos profissionais. "O processo da Folha contra nosso trabalho é uma loucura completa. Seria como cassar a Globo porque o Casseta & Planeta faz paródia do Lula", relaciona Lino. Além de suspender a veiculação do blogue, o jornal conseguiu liminar para cassar o endereço na internet e impedir a utilização de qualquer endereço parecido.

O processo de 88 páginas que o jornal move contra Lino e Mário alega uso indevido da marca e pede indenização por danos morais. "Não somos ligados a nenhum partido ou entidade. Só achamos a Folha um jornal ruim", explicaram às centenas de pessoas presentes ao ato por liberdade de expressão.

Com a suspensão do bloque, os profissionais criaram novo site para se defenderem das alegações da Folha. "Abrimos o desculpeanossafalha.com.br para mostrar tudo para as pessoas analisarem por si mesmas", indicam.

Descontrolados

Para a jornalista Renata Mielli, do Centro de Mídia Barão de Itararé, é preciso amplificar a rede de solidariedade e luta porque os veículos de comunicação da grande imprensa, aliados a grupos de poder da direita, estão descontrolados. "Esta semana, diversas matérias demonizaram a criação de Conselhos de Comunicação", lembra. "Eles estão descontrolados. Jogaram todas as cartas para ganhar as eleições", aponta a jornalista.

A deputada federal reeleita Luiz Erundina (PSB-SP) ressaltou seu sentimento de revolta pelos diversos casos de censura, mas também se disse satisfeita, porque "não se chuta cachorro morto". "Eles ficam enciumados da criatividade, do trabalho que vocês fazem", declarou. "Não conseguem sair da mediocridade", analisou a ex-prefeita de São Paulo.

Um tratado de demência dos tucanos

Reproduzo artigo de Leandro Fortes, intitulado "A última cruzada tucana", publicado no blog “Brasília, eu vi”:

O conteúdo abaixo caiu na minha caixa de spam, hoje de manhã, enviado por um certo Rodrigo Roni, certamente um dos muitos brucutus de internet a serviço da campanha de José Serra. Normalmente, apago da minha caixa de mensagem de e-mails correntes de quaisquer naturezas, pela óbvia razão de serem escritas e disseminadas por fanáticos religiosos, militantes políticos extremistas e idiotas em geral.

Esta, contudo, embora não fuja à regra, é bastante emblemática sobre o desespero de certa porção da classe média em relação à perspectiva da vitória de Dilma Rousseff e da continuidade dos programas sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de um panfleto anti-petista por excelência, recheado de preconceitos e ofensas amarguradas, um último apelo à insensatez em nome da preservação dos piores e mais mesquinhos valores dessa parcela da sociedade brasileira que caminha, felizmente, para a extinção.

Para garantir votos ao tucano José Serra, a corrente estabelece uma fórmula baseada, explicitamente, nas relações da Casa Grande com a Senzala. Ensina ao patrão e à dona-de-casa de classe média como convencer empregadas domésticas, porteiros, motoristas, ascensoristas e empregados em geral do perigo que representará a eleição de Dilma.

Reparem que as recomendações são para os empregados de dentistas, advogados, clientes, nunca para os dentistas, advogados e clientes, desde já colocados como pessoas de primeira categoria, portanto, imunes ao discurso patético de persuasão apregoado pelo panfleto. Há, ainda, o risível apelo a ser feito “ao atendente da sauna, da academia, da escola de natação, da escola de inglês das crianças”.

Enfim, um texto altamente representativo do tipo de elite que temos no País, suas razões, seus preconceitos, seus medos e seu instinto de preservação baseado em conceitos primários. Uma elite que acha que pode convencer seus serviçais, a quem trata como escravos, a não votar na continuidade de um projeto político que lhes garantiu, pela primeira vez na vida, emprego formal, crédito, qualidade de vida, auto-estima e representação política real.

No auge do desespero, o autor do texto deixa transparecer seu caráter doentio ao se referir a Dilma como “perereca assassina e terrorista”. É essa gente que se coloca como alternativa a um governo popular que tirou o Brasil do buraco.

Vale a pena ler, portanto, esse tratado da demência de auto denominados “formadores de opinião”:

*****

Como ganhar votos para o Serra

Meus amigos,

Tenho recebido da maioria de vocês, quase que diariamente, emails de indignação contra PT e Dilma.Ficar falando entre nós não leva a nada. E o que a gente precisa fazer é ir atrás dos indecisos, dos que possam até gostar do Lula mas não necessariamente da Dilma, quem sabe ainda dá pra virar essa eleição. Mas eu pergunto – o que realmente estamos fazendo para que o José Serra ganhe esta eleição??? Por que não adianta nós, os denominados “formadores de opinião” ficarmos trocando emails de coisas que já sabemos. Assim, convoco a todos para um pacto que é: convensar com, no mínimo, duas pessoas por dia sobre a eleição presidencial e convencer esta pessoa a votar no Serra. Quem são as pessoas que temos que conversar e convencer:

· a sua assistente doméstica/sua diarista

· seus funcionários

· o guarda da escola das crianças, a tia da escola, a tia da cantina

· o porteiro da sua casa e do seu trabalho

· o manobrista do seu carro, para quem usa estacionamento

· o ascensorista do prédio do seu dentista, do seu advogado, do seu cliente

· o frentista do posto de gasolina

· a caixa do supermercado, da farmácia, do sacolão, …..

· a recepcionista da empresa do seu cliente

· a vendedora da loja de sapato, de roupa, ….

· o garçon do restaurante e do boteco

· o cabeleireiro, a manicure, a fisioterapeuta, a massagista,

· o atendente da sauna, da academia, da escola de natação, da escola de inglês das crianças, etc

Vejam que todos os dias, encontramos no mínimo 10 pessoas diferentes na nossa vida. Daqui até o dia 31 de outubro são somente 12 dias de trabalho, em prol da mudança de grupo político para governar nosso país.

Não queremos ver o PT mais 8 anos no governo se locupletando e explorando a boa fé dos incautos e/ou ignorantes.

Em vez de falar do tempo, vamos falar da eleição. Quando encontrar alguém no elevador, pergunte em quem ele vai votar. E se essa pessoa disser que vai votar no Serra, instigue ele a entrar nessa campanha.

Não envie apenas emails falando do passado da Dilma, que o Lula não estudou, que o governo do PT sabia do mensalão (isso nós já sabemos).

Vamos à luta!!!

Esse é o momento. Faça a sua parte!!! Ninguém vai saber se você fez a sua parte, somente você e Deus.

A hora de trabalhar é agora!!

Esta é uma corrente… do bem.

Funciona assim:

Se você passar este e-mail para pelo menos 10 outras pessoas e estas passarem para outras 10, e assim por diante, ao final de outubro um milagre irá acontecer e beneficiará você e sua família e a todas as famílias que repassaram esta corrente. Já, se você simplesmente ignorar esta corrente, não a repassando, ao final de outubro você será amaldiçoado com o pior de todos os pesadelos: aturar a perereca assassina e terrorista por quatro longos anos de sua vida!!!! Pense bem!!!

Não se esqueça!

Foi a Internet que ganhou o plebiscito do desarmamento.

Portanto, podemos vencer essa eleição também, se nos concentrarmos em um candidato melhor que o Lula. Com ela: pode ficar muito pior

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O maiô de Dona Marisa, ou: quem são os verdadeiros jecas do Brasil?

Reproduzo artigo de Rodrigo Nunes, postado no site Carta Maior.

Quem quer Estado apenas na medida em que este garante privilégios; quem tira os sapatos no aeroporto de Miami e entra na justiça para que o porteiro o chame de “doutor”; quem troca direitos por capacidade de consumo; quem sonega impostos e abomina as gambiarras e “gatos” das favelas; quem se queixa da falta de autoridade e do “jeitinho”, mas suborna o policial e espera que as legislações ambientais ou trabalhistas não se apliquem aos seus negócios; quem ainda se comporta como se estivesse com a caravela ancorada, sem nenhum interesse no país a não ser o lucro rápido para partir de novo, e então se queixa de um pais que não “vai para frente” – esses são os verdadeiros jecas do Brasil.

Tendo recebido uma bolsa de estudos no exterior, passei quase todo o governo Lula distante do Brasil. Antes de meu retorno, no ano passado, minha única vinda ao Brasil desde 2003 fora por um mês, em janeiro de 2005. Num dos poucos momentos que tive na frente da televisão, acabei assistindo um programa (bastante conhecido) onde se discutiam os destaques do ano anterior. Muita coisa aconteceu em 2004, no Brasil e no exterior, mas uma das apresentadoras do programa optou por destacar “o maiôzinho da Dona Marisa”. Com tantos estilistas brasileiros de renome internacional, se perguntava, como pode a esposa do presidente usar uma coisinha tão jeca? Não foi nem a irrelevância da escolha, nem o comentário, mas o tom que mais me chamou a atenção: o desdém que não fazia o menor esforço em disfarçar-se, a condescendência de quem se sabe tão mais e melhor que o outro, que o afirma abertamente.

Veio-me imediatamente uma piada corrente durante as eleições de 1989, quando pela primeira vez Lula ameaçara chegar ao poder. Ele e Dona Marisa passam pela frente do Palácio Alvorada, e Lula diz a ela, “É aqui que vamos morar”; ao que Dona Marisa responde, “Ai, Lula, não! Essas janelas vão dar muito trabalho para limpar”. A piada explica tudo: no Brasil, uma camada da população tem sua superioridade sobre a outra tão garantida, que não vê necessidade de dissimular essa distância, mesmo em público. Ser ou não primeira-dama, aqui, é secundário; pode-se rir na TV da “jequice” de Dona Marisa do mesmo modo em que se faz troça do perfume que põe a empregada quando termina o trabalho, e pelo mesmo motivo – porque a patroa pode, e a subalterna, não.

Um mau momento de má televisão teve, para mim, a força de várias revelações. Em primeiro lugar, sobre o país em que eu então vivia, a Inglaterra. Um comentário desses, lá, receberia condenação pública. Alguém certamente acionaria o Ofcom, órgão que fiscaliza a imprensa, para exigir providências. Se fosse na BBC, rede pública de TV e rádio, talvez o autor fosse demitido. Não por atentar contra a esposa de uma autoridade, ou essa bizarra “liturgia do cargo” que a cada tanto se invoca no Brasil, mas por ser uma manifestação pública de preconceito. O quê tem a ensinar o livre exercício desse preconceito sobre o Brasil? O quê tem a ver com a grita (“Estalinismo! Chavismo! Retrocesso!”) cada vez que se fala em fiscalização da mídia, coisa corriqueira naqueles países (Reino Unido, Suécia, Portugal, EUA...) em que nossa elite não cansa de querer espelhar-se; e que, até hoje, pouquíssimas sejam as instituições brasileiras públicas que se comparem, em qualidade de serviço, a uma BBC?

Nos anos 70, Edmar Bacha popularizou o termo “Belíndia” como descrição do país: um pouco de Bélgica e muito de Índia, o Brasil era muito rico para poucos e muito pobre para muitos. A auto-imagem que mantém os habitantes de nossa “Bélgica” consiste em ver os dois lados da moeda sem sua conexão necessária. Para esses, o verdadeiro Brasil é o deles – branco, remediado, educado. A “Índia” sem lei do lado de fora dos muros não somente existe por si só, sem nenhuma relação causal com a riqueza do lado de dentro, como é aquilo que atrasa o país; não fosse a plebe, já seríamos Bélgica, ou seja, já não seríamos principalmente Índia. A pobreza dos pobres não resulta da má distribuição da riqueza que se gera, pelo contrário: os pobres são culpados de sua própria pobreza. Mais do que isso, o potencial sub-aproveitado do país nada tem a ver com o a maioria da população ser sistematicamente excluída na educação, nos direitos, na renda; pelo contrário, “é por conta desse povinho que o país não vai para a frente”.

Essa é a cara de uma elite pós-colonial: crê-se um ser estranho na geléia geral da colônia, padecendo num purgatório de nativos indolentes e enfermidades tropicais. Comporta-se todo o tempo como se ainda tivesse a caravela estacionada ali na costa, pronta para zarpar de volta à metrópole. Mas sofre mais ainda porque, não muito no fundo, sabe que não pode voltar, e que chegando lá será apenas mais um subdesenvolvido, um imigrante, um “moreninho”, um jeca. Parte de sua truculência vem de saber que jamais será aquilo que quer ver no espelho, e que aquilo que menos quer ser é o que realmente é; de precisar provar para si que é diferente de quem exclui e discrimina, já que nunca será igual a quem gostaria de ser.

No fim das contas, ela sabe que sua verdadeira cara não é nem a das socialites da Zona Sul, nem dos intelectuais de Higienópolis, mas a do grileiro da fronteira agrícola, do “coroné” do agreste. E que, no fim das contas, o que a mantém no topo não são os rapapés de seus salões, mas o bangue-bangue de seus jagunços. Da modernidade do primeiro mundo a que gostariam de aceder, só o que lhes interessa são os sinais externos de consumo e distinção social, não o histórico de direitos sociais, democratização das instituições, criação de equipamentos públicos e reconhecimento de minorias e setores desfavorecidos. Seu modelo sempre foi menos a Bélgica, a Escandinávia, a Alemanha ou o Reino Unido, e mais o excesso kitsch de uma Miami, a opulência caipira de uma Dallas.

A falta de uma instituição como a BBC (ou boas escolas públicas) tem tudo a ver com essa maneira de desejar o desenvolvimento apenas o suficiente para manter as bases dos privilégios existentes. É a mesma dinâmica que vê crescerem, paralelamente, o crime organizado e a indústria dos condomínios fechados e da segurança privada: as camadas superiores da sociedade brasileira trocam direitos – inclusive o direito de desfrutar da cidade e de seus bens sem medo – por consumo. Da porta para dentro, luxo; da porta para fora, faroeste. Cada vez que um debate sobre democratização ou fiscalização da mídia é silenciado por acusações de autoritarismo, o que temos é a jagunçada defendendo os latifúndios comunicativos que algumas poucas famílias grilaram há um bom tempo. É de fazer rir a fingida consternação de alguns grupos e interesses com os riscos que hoje sofreriam as “instituições republicanas”, quando a história das instituições brasileiras no geral demonstra que elas sempre interessaram tão-somente na medida em que permitiam liberdade de ação para uns e limites para outros. Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. A fragilidade institucional sempre foi não apenas instrumento de reprodução da desigualdade, como ainda é o que permite a manifestação explícita do preconceito. Modernidade à Daslu: o luxo “de primeiro mundo” sustentado pela sonegação de impostos; a finesse que se assenta na barbárie de um estado de natureza.

Haverá sido a distância, e a experiência de conhecer o quê foi a modernidade pela via da criação de direitos, que fez nosso preconceito social saltar-me aos olhos; mas também tenho a impressão que as coisas tenham, nestes anos, se tornado ainda mais escancaradas. A polarização seria, sem dúvida, uma consequência do governo Lula. Nem tanto do próprio presidente, de tendência (talvez demasiado) conciliadora, mas da dificuldade de aceitação, por parte de quem faz e consome a grande mídia de massa brasileira, do que aconteceu no país nos últimos anos. O crescimento econômico experimentado nos últimos anos foi a perfeita demonstração da falácia que culpava os pobres por sua própria pobreza, e a do país: ele não teria sido possível se a pobreza não tivesse caído 43% (20 milhões de pessoas), se 31,9 milhões (mais de meia França) não tivessem ascendido às classes ABC, ativando um mercado interno potentíssimo que permaneceria em potencial enquanto essas pessoas estivessem excluídas do consumo mais básico. Graças ao ciclo virtuoso que se formou foi possível, por exemplo, aumentar o orçamento da educação em 125%, expandir 42 universidades federais, criar 15 novas, construir mais escolas técnicas (240) que em todo o século anterior (140).

Mais importante que qualquer número: políticas como o Bolsa Família e o ProUni abrem a perspectiva de um ciclo virtuoso de criação de direitos. Tais ciclos, como demonstra o retrocesso brutal que a Europa atravessa, não apenas podem ser interrompidos, como não se mantém sem a mobilização social que garanta sua expansão. Mas o fato de que hoje milhões de pessoas se percebam como detentoras de direitos a exigir do Estado, ao invés de clientes a trocar seus votos por favores de um “painho” na época da eleição, não apenas é um salto qualitativo para a democracia brasileira, como cria justamente as condições para novos saltos da organização popular. Construir direitos e instituições, no lugar do clientelismo e do casuísmo da república dos bacharéis: se essa tendência se consolida, terá sido a maior herança desses últimos oito anos. É pouco ainda, mas já é muito.

O que para alguns é difícil de engolir é que, quando o Brasil finalmente deu um passo para deixar de ser Belíndia, não foi por obra da “Bélgica”, mas da “Índia”. Para quem se projetava no sangue azul de Odete Roitman, custa aceitar que a cara do Brasil hoje é de Raquel Acioli, a ex-marmiteira que batalhou para subir na vida da novela Vale Tudo. Os episódios mais lamentáveis dessa eleição – os emails e mensagens apócrifos, o uso do telemarketing na propagação de boatos (criação de Karl Rove nos EUA, depois seguida por John Howard na Austrália), a mobilização de um discurso conservador e obscurantista que culminou com fazer do aborto uma questão eleitoral pela primeira vez na história do país – são, mais uma vez, os punhos de renda rasgando a fantasia e abraçando o mais desbragado faroeste. Partido e candidato que um dia representaram uma vertente modernizante das classes média e alta de São Paulo, de quadros intelectuais e tecnocratas bem-formados, dissolveram-se na geléia geral em que quatrocentão e “painho”, uspiano e grileiro, socialite e “coroné” existem, desde sempre, em continuidade e solidariedade uns com os outros. As promessas desesperadas de ampliação do Bolsa Família vindas de quem até pouco tempo o desdenhava como “Bolsa Vagabundo”, ou a cortina de fumaça que se constrói ao redor do debate do pré-sal, indicam que, atualmente, é impossível eleger-se no Brasil negando certos direitos recém-descobertos por vastas parcelas da população. A elite, mais do que nunca, precisa esconder seu verdadeiro programa.

Resta-lhe, então, partir para um jogo que começou nos EUA nos anos 80, e cuja eficiência na Europa cresceu muito na última década: tirar a política do debate político e substituí-la pelos cochichos igrejeiros, pelo apelo a um passado mistificado e a um moralismo espetacular – que instrumentaliza os medos causados por um tecido social cada vez mais esgarçado e propõe falsas soluções simples e regressivas, ao invés de confrontar-se verdadeiramente com a complexidade crescente dos problemas. É um “fim da política” que cobre a política que realmente lhe está por trás. Assim, por exemplo, o governo inglês anuncia, na mesma semana, o perdão de uma dívida de 6 bilhões de libras da empresa Vodafone e um programa de cortes de serviços sociais maior que qualquer coisa jamais proposta por Margaret Thatcher. Ou, depois do mercado financeiro ter usado a crise grega para dobrar a União Européia com a ameaça de um ataque ao euro, volta-se a culpar os imigrantes pela sobrecarga de serviços sociais de orçamentos cada vez mais reduzidos – culminando com o recente apelo de Angela Merkel por “uma Europa de valores cristãos”.

Talvez seja apenas no momento em que a Europa regride que a elite brasileira poderá, enfim, realizar seu sonho: juntar-se a seus “iguais” de ultramar na vanguarda de um retrocesso que mobiliza o medo e o reacionarismo mais rasteiro contra direitos e instituições historicamente conquistados. Afinal, a “lavagem de votos” da extrema-direita, pela qual o centro dá uma cara “respeitável” ao conservadorismo “selvagem”, tornou-se o maior negócio político de nossos tempos. (Quem sabe mesmo, agora, a extrema-direita comece a prescindir de intermediários: ver o PVV de Geert Wilders na Holanda.)

Rasgada a fantasia, fica tudo claro. Quem quer Estado apenas na medida em que este garante privilégios; quem tira os sapatos no aeroporto de Miami e entra na justiça para que o porteiro o chame de “doutor”; quem troca direitos por capacidade de consumo; quem sonega impostos e abomina as gambiarras e “gatos” das favelas; quem se queixa da falta de autoridade e do “jeitinho”, mas suborna o policial e espera que as legislações ambientais ou trabalhistas não se apliquem aos seus negócios; quem ainda se comporta como se estivesse com a caravela ancorada, sem nenhum interesse no país a não ser o lucro rápido para partir de novo, e então se queixa de um pais que não “vai para frente” – esses são os verdadeiros jecas do Brasil. A boa noticia é que, pelo menos por hora, eles estão perdendo.

(*) Rodrigo Nunes é doutor em filosofia pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres, pesquisador associado do PPG em Filosofia da PUCRS (com bolsa PNPD – CAPES), e editor da revista Turbulence (www.turbulence.org.uk).