sexta-feira, 27 de julho de 2012

Mas Erenice não era “culpada”?


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

A mídia, no mundo inteiro, tem um poder que ninguém deveria ter nas democracias: condenar e absolver quem quiser das acusações que faz ou que, para os políticos “amigos”, tenta desfazer. Agora mesmo, o país está às portas de ver no que vai dar uma dessas feitiçarias midiáticas, a do escândalo do mensalão “do PT”.


Há mais ou menos sete anos que a opinião pública vem sendo induzida pela mídia a acreditar piamente na culpa “inquestionável” dos 38 réus no inquérito do mensalão, o qual vai a julgamento no STF a partir da semana que vem. Muita gente caiu nessa, inclusive pessoas que não são movidas pela má fé da imprensa partidarizada.

Na semana que finda, porém, ainda que a notícia tenha sido dada com extrema discrição, mais um dos integrantes de um governo petista que fora “condenado” pela mídia foi absolvido pela Justiça, gerando perplexidade naqueles que tiveram acesso à notícia mal-divulgada sobre essa absolvição.

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região arquivou o processo contra a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra por suposto tráfico de influência, após acatar recomendação do Ministério Público Federal (MPF). A decisão foi decretada na sexta-feira passada (20) pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal.

Em 2010, no auge da campanha eleitoral em que Dilma Rousseff derrotou José Serra, Erenice – sucessora de Dilma na Casa Civil – fora acusada pela mídia de ter beneficiado parentes em contratações de serviços aéreos para os Correios, estudos para projetos de mobilidade urbana e outorgas de concessão de serviço móvel especializado.

As denúncias contra Erenice, entre outros fatores, ajudaram a levar a eleição presidencial de 2010 para o segundo turno, favorecendo José Serra, que por pouco não sofreu uma derrota ainda maior para alguém como Dilma, que, ao contrário dele, jamais disputara uma eleição na vida.

A indisposição da mídia com Erenice, em particular, fora desencadeada mais de dois anos antes, ainda em 2008, quando também sofrera outra acusação que se esboroou ao ser investigada pela Justiça e pela Polícia Federal.

Naquele início de 2008, a oposição acusara o governo Lula de montar um dossiê com gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O objetivo, de acordo com a oposição, seria constrangê-la na CPI dos Cartões, criada naquele ano para investigar possíveis irregularidades no uso dos cartões corporativos do governo federal.

Não tardou para a mídia comprar a tese tucana. O suposto dossiê, de acordo com reportagem da Folha, foi montado pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito da ministra Dilma Rousseff. A oposição e aquele jornal, e posteriormente o resto da mídia, insinuaram que a hoje presidente da República tinha ordenado a Erenice a confecção do dossiê.

Ainda hoje, apesar da primeira absolvição de Erenice, a mídia e a oposição a Dilma tratam aquele caso como se tivesse dado em alguma coisa – continuam repetindo uma acusação que, após ser investigada exaustivamente, mostrou-se mentirosa.

Todavia, nada seria mais contundente e massacrante do que a denúncia eleitoreira que se daria contra Erenice na véspera do primeiro turno da eleição presidencial de 2010, sobre tráfico de influência por Erenice, a qual a Justiça acaba de rechaçar por falta de provas que a imprensa, então, dizia que abundavam.

Em 11 de setembro de 2010, a 3 semanas do primeiro turno da eleição presidencial, justamente em um momento em que as pesquisas davam conta de enorme superioridade de Dilma sobre Serra, a revista Veja acusa o filho de Erenice de fazer “tráfico de influência” usando o cargo da mãe, então ministra da Casa Civil.

A partir dali, todo o noticiário foi sendo construído de forma a garantir à sociedade que Erenice e Dilma eram culpadas das acusações sem provas que a Veja fez e que toda a grande imprensa comprou sem questionar nada. O noticiário não deixava margem para sequer cogitar que a acusação não fosse séria.

Abaixo, algumas capas da Folha – que poderiam ser da Veja, de O Globo, do Estadão etc – que acusaram Erenice de forma tão cabal que não houve outro jeito senão demiti-la, e que servem de amostra de um fato impressionante: de 11 de setembro a 3 de outubro, todo dia Folha, Estadão, Globo e (semanalmente) Veja fustigaram a campanha de Dilma com o caso Erenice até a eleição ir ao segundo turno.

Observação: leia a primeira coluna de capas da Folha e depois a segunda coluna, obedecendo à ordem de datas abaixo de cada capa.



Agora, leitor, dê uma olhada, abaixo, em como saiu a notícia da absolvição de Erenice nesse mesmo jornal. 






Não é por outra razão que Erenice Guerra anunciou, após ser absolvida, que estuda processar por danos morais os veículos de comunicação que, segundo afirmou, “promoveram um verdadeiro linchamento público” com objetivo eleitoral.

Essa é uma causa ganha – ou deveria ser, devido ao que prova este post sobre o que fez a mídia na reta final do primeiro turno da campanha eleitoral de 2010. O que se espera, portanto, é que Erenice não esmoreça e leve esse processo até o fim, pois esse tipo de armação continua sendo praticado a cada ano eleitoral pela mídia.

Agora mesmo, isso está acontecendo no que tange ao inquérito do mensalão, que começa a ser julgado pelo STF nos próximos dias. O uso eleitoral do processo está ocorrendo tal qual ocorreu em 2010, conforme se vê acima.

Todavia, assim como em 2010 não deu certo, em 2012 isso pode se repetir. Até porque, caso o STF absolva José Dirceu – e, quando se fala no inquérito do mensalão, fala-se especificamente nele – não apenas o resultado eleitoral que a mídia tucana busca pode ser de novo frustrado, mas essa mídia pode sofrer uma desmoralização muito maior do que a de 2010.


quinta-feira, 26 de julho de 2012

A crença míope nos superpoderes de blogueiros


por Luiz Carlos Azenha, no sítio viomundo

Confesso que, de uns tempos para cá, minha tolerância com a hipocrisia é próxima de zero.
Acho perda de tempo participar de polêmicas cuja função essencial é mascarar a realidade, além de alimentar o desejo de alguns por circo.
Circo move tráfego na rede.
A ação do PSDB relativa aos blogueiros Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif não busca debater o essencial, ou seja, o uso do dinheiro público em publicidade ou propaganda. Se buscasse, haveria de tratar do conjunto: quais são os gastos de governos federal, estaduais e municipais com propaganda? Quanto recebem a Globo, a Veja, a Folha e o Estadão proporcionalmente ao bolo? Os governos não poderiam reduzir estes custos investindo mais na internet, por exemplo, dada a crescente capacidade de disseminação de informações através das redes sociais? É viável fazer como o agora senador Roberto Requião, que quando governador do Paraná cortou todas as verbas publicitárias, a não ser as de campanhas de utilidade pública? Cabem políticas públicas para promover a pluralidade e a diversidade de opiniões?
Há outras questões, tão interessantes quanto. Deve um partido tentar definir a pauta de um blog eminentemente pessoal? Por que o anúncio de empresas públicas supostamente compra um blogueiro mas não compra um dono de jornal? Crítica é ataque às instituições? Ao criticar o Congresso, o governo federal ou o Judiciário os colunistas dos grandes jornais estariam ‘atacando as instituições’? Mas, se o financiamento dos jornais para os quais escrevem — ou das emissoras de rádio e TV nas quais trabalham — é feito parcialmente com dinheiro público, eles podem ‘atacar as instituições’ livremente e os blogueiros não? E a liberdade de expressão e o direito ao contraditório?
Trato destes temas com tranquilidade. O Viomundo, pelo menos por enquanto, é mantido com anúncios Google. O Leandro Guedes, que nos representa comercialmente, desenvolve ferramentas para que nosso financiamento seja proporcionado pelos próprios leitores. Desde que começou a fazer isso, há dois meses, não está autorizado nem a enviar os media kits (com dados de audiência, etc) a empresas públicas ou governos federal, estaduais ou municipais. Esperamos que a grande mídia siga nosso exemplo.
[Pausa para gargalhar]
Não sei o que moveu o PSDB. Provavelmente, pela escolha dos alvos, José Serra. Tenho comigo que algum mago, daqueles que cobram fortunas para fazer campanha, tenha concluído que existe uma relação entre a altíssima taxa de rejeição de Serra e a blogosfera/mídias sociais.
Não sei se o diagnóstico está certo ou errado, mas a cura é duvidosa. Parte do pressuposto de que blogueiros sejam capazes de mover legiões de internautas. A crença nisso é uma farsa, muitas vezes alimentada por quem está chegando agora ou está “investido” na blogosfera. Quem lida com os internautas no dia a dia e respeita a diversidade de opiniões descobre que este é um meio horizontal. Não é estruturado hierarquicamente. Não obedece a comandos. O valor das opiniões não está na autoridade, nem no currículo, nem no status do autor: deriva da qualidade, da lógica, da originalidade da argumentação. Deriva da capacidade de apontar algo que outros não notaram. De desvendar conexões encobertas. De colocar fatos em perspectiva histórica. De ajudar a concatenar e, portanto, fixar ideias que circulavam desconexas no “inconsciente coletivo digital”. Simplificando, quando a piada é boa ganha o mundo.
Aquela foto de Serra sobre o skate, na capa da Folha, pode ter sido feita num momento autêntico de descontração, mas cristalizou a imagem de um candidato tentando parecer o que não é: jovem. Se dezenas de milhares de pessoas perceberam isso ao mesmo tempo e puderam conversar sobre isso nas redes sociais — o que não poderiam ter feito no passado, quando dependiam de passar pelo crivo de um repórter, de um editor e do dono de um grande jornal e de escrever carta para a coluna do leitor  – é culpa dos blogueiros?
Acreditar que dois blogueiros — ou duas dúzias —  sejam capazes de mover a rede é subestimar a inteligência dos internautas. Ou alguém acredita que tem um comunista escondido embaixo de cada Curtir? Com ferramentas razoavelmente simples como o twitter e o Facebook, hoje cada leitor pode exercer como nunca seu direito de escolha, de interagir e de se fazer ouvir. É natural que quem vive no mundo das hierarquias rígidas estranhe, se sinta intimidado ou frustrado. O que está em curso nas redes sociais é o equivalente a uma segunda revolução do controle remoto.
Portanto, não estamos diante de uma tentativa do PSDB de defender as instituições ou de zelar pelo dinheiro público. Pode ser uma resposta exagerada ou míope diante de um fenômeno que o partido não consegue entender ou pretendia replicar e não consegue. Quem sabe exista um desejo subjacente de controle, de um ‘choque de ordem’ que preceda a privatização da crítica e do conhecimento intelectual, colocando ambos dentro de parâmetros aceitáveis pelo mercado (sobre isso, escreveu Slavoj Zizek). Ou é tentativa de intimidação, pura e simples.
Fonte: VioMundo

quarta-feira, 11 de julho de 2012

McDonald’s e Coca fora da Olimpíada?

Por Altamiro Borges, em seu blog 

O repórter Rodrigo Russo, da Folha, publicou hoje uma reportagem que não será capa dos jornalões nem destaque dos telejornais. Talvez nem apareça no Jornal Nacional da TV Globo, que nem sequer tem tratado das Olimpíadas de Londres. Segundo informa, “a menos de três semanas do início dos Jogos Olímpicos, a Assembleia de Londres (órgão legislativo municipal) contesta os patrocínios de Coca-Cola e McDonald's para a competição e pede que sejam banidos - o que é pouco provável de acontecer”.

A autora da proposta, a parlamentar Jenny Jones, argumentou que “Londres ganhou o direito de sediar os Jogos de 2012 com a promessa de deixar um legado de crianças mais ativas e sadias ao redor do mundo”. Segundo ela, os produtos do McDonald’s e da Coca-Cola são prejudiciais à saúde, sendo responsáveis diretos pela crescente obesidade infantil. O projeto afirma que é um contrassenso o Comitê Olímpico Internacional (COI) ser patrocinado por empresas que fornecem produtos altamente calóricos.

A obesidade da mídia comercial

Segundo a reportagem, “no Reino Unido, mais de 30% das crianças estão acima do peso ou têm obesidade. Na população adulta, o percentual sobe para 60%”. O McDonald's e a Coca-Cola têm contratos que garantem a exclusividade da venda de alimentos e de bebidas não alcoólicas nos locais que abrigarão disputas olímpicas. No Parque Olímpico, o McDonald's terá a sua maior loja do mundo, para 1.500 pessoas – dez vezes mais que a média de seus restaurantes.

Será que as emissoras de televisão do Brasil, que tem feito de tudo para derrubar a classificação indicativa, tratarão deste tema tão indigesto? Ou será que os bilionários anunciantes realmente pautam a mídia comercial? E dane-se a saúde da população!


Incra rebate acusações do MPF e da Globo


Por Vinicius Mansur, no sítio Carta Maior:

Na última semana o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ações contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em seis estados alegando que órgão seria responsável por um terço dos desmatamentos na Amazônia. A denúncia foi amplificada pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, na última quinta-feira (5): “a acusação ao órgão responsável pela reforma agrária é de ser o maior desmatador da Amazônia”, taxou William Bonner. De acordo com a reportagem, o Incra seria responsável por 29,4% do desmatamento em 2011. Nenhuma menção foi feita sobre os outros 70,6%.


O presidente do Incra, Celso Lacerda, afirmou que as denúncias tem cunho político e visam desgastar a reforma agrária com base em mentiras. “Eles estão computando áreas que já não são do Incra ou que nunca foram. Por exemplo, projetos de colonização, muitos da década de 70, quando o governo fomentava o desmatamento. E aí, ninguém é ingênuo, quando computa isso é porque tem outros interesses que não mostrar a realidade para a sociedade brasileira.”

Segundo o Incra, entre 2005 e 2011 o desmatamento nos assentamentos da Amazônia tiveram uma redução de 66% em área e, no ano passado, representou 18% do total desmatado na região. Os dados foram tirados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/Prodes), base oficial de dados do governo federal.

Já o MPF afirmou que, além dos dados do Inpe, também utilizou informações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), organização não governamental que monitora o desmatamento em paralelo ao governo. “A ação faz uma confusão de números”, disse Lacerda.

Em nota, a Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) afirmou que nem mesmo os dados do Imazon, que teriam sido a principal referência do MPF, apontam para o um terço de desmatamento. O documento aponta que entre junho de 2010 e maio de 2011, o Imazon registrou 165 Km² de área desmatada, sendo 12% (19 Km²) em assentamentos da reforma agrária. De junho de 2011 a maio deste ano, o números total caiu para 42,5 Km² e o percentual correspondente aos assentamentos manteve-se em 12% (5 Km²).

A Abra considerou como “no mínimo curioso” o fato do Imazon não especificar em seus estudos os dados do desmatamento nos grandes imóveis rurais. São especificados os dados para assentamentos de reforma agrária, unidades de conservação e terras indígenas. Todo o restante é computado na categoria “privadas, posses & devolutas”.

Além de acusar o Incra de desmatamento ilegal, as ações protocoladas pelo MPF no judiciário do Pará, Rondônia, Roraima, Amazonas, Acre e Mato Grosso ainda culpam o Incra de estimular o desmatamento e criar e manter projetos de assentamento sem licença ambiental. Celso Lacerda nega e explica que o licenciamento ambiental para tais projetos não era obrigatoriedade até dezembro de 2006, quando o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou a resolução 387 determinando a necessidade das licenças. Desde então, aponta o presidente, o Incra não criou nenhum assentamento sem a permissão ambiental e corre atrás para regularizar os projetos anteriores à resolução.

Dos cerca de 6,5 mil projetos de assentamentos que tem a obrigatoriedade de licenciar, o Incra já entrou com pedido para 2,8 mil e obteve a licença para aproximadamente 1,2 mil. “Nós herdamos uma degradação ambiental de quase 25 de reforma agrária sem obrigatoriedade de licenciar que você não recupera num curto espaço de tempo, em 6 anos. E quem licencia são os órgãos estaduais de meio ambiente e muitos não estão preparados ainda”, explicou Lacerda.

O presidente do Incra ainda ressalta que muito da degradação em áreas de reforma agrária foram feitas por grileiros. “Para tirá-los de lá temos que entrar com pedido de reintegração de posse, fundamentar o processo em juízo, para depois o juiz conceder uma liminar para a polícia despejar, nesse meio tempo muita área foi degradada”.

As ações movidas pelo MPF podem acabar por beneficiar os próprios grileiros. Uma das exigências feita pelos procuradores é a proibição de novos assentamentos naquela região do país.