quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Que a poesia sobrepuje a mediocridade

Reproduzo artigo de site Carta Maior

Obscurantismo, moralismo, intolerância, fundamentalismo religioso, ódio e preconceito (às mulheres, aos homossexuais, ao povo nordestino), fascismo, militarismo, e por aí segue essa torrente, lava medonha, que ora emerge, perigosamente, dos subterrâneos da alma e do submundo da política.
Lula Miranda
Assistimos todos, entre perplexos e enojados, a um funéreo e infame cortejo de temas miúdos, sentimentos nada edificantes e “máfias” ou “bandos” que, humanistas que somos, imaginávamos já estarem ultrapassados, enterrados no lixo do passado, da história. Obscurantismo, moralismo, intolerância, fundamentalismo religioso, ódio e preconceito (às mulheres, aos homossexuais, ao povo nordestino - de toda ordem, enfim), nazismo, fascismo, militarismo, e por aí segue essa torrente, lava medonha, que ora emerge, perigosamente, dos subterrâneos da alma e do submundo da política.

Eis que todo esse entulho odiento do passado ressurge das cinzas e se alevanta dos ínferos para assombrar esse nosso sonho de construção de um novo projeto de país, a que chamamos, com delicadeza, de “novo Brasil”. Projeto este representado pela continuidade e incremento/aperfeiçoamento das políticas públicas paulatinamente implementadas por Lula/Dilma.

Mas o ódio não vencerá o amor. O amor – fundamento de todo humanismo – prevalecerá. A nossa poesia sobrepujará essa mediocridade que tenta nos amarrar as pernas, emudecer o grito libertário e atravancar a leveza do nosso caminhar. A luz destruirá as trevas, iluminando assim o sol de um novo mundo. “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido /de amor e de esperança à terra desce...”.

E, observe bem, não queremos/desejamos muito. Queremos/desejamos pouco; “apenas” uma sociedade menos desigual. Anote ainda: apenas começamos a “amortizar” essa secular e imensurável dívida social que esse país [paradoxalmente tão injusto, pois extraordinariamente grande, rico e generoso] ainda tem para com parcela significativa do seu povo que ainda vive na pobreza: “ Se o penhor dessa igualdade/conseguimos conquistar com braço forte.../ Gigante pela própria natureza/ és belo, és forte/ Impávido colosso/ e o teu futuro espelha essa grandeza...”.

Mas como derrotar, de modo definitivo, essas forças medonhas do mal e do medo que ora nos afligem/atormentam? Esses que se utilizam da infâmia, da maledicência, da manipulação, da torpeza, em suma dos meios mais baixos para ganhar essa eleição – nem que para esse fim se utilizem da fraude, da mentira e do “tapetão”. Sabemos que o que está em jogo é muito mais que uma eleição. “Mas, se ergues da justiça a clava forte/ Verás que um filho teu não foge à luta/ Nem teme, quem te adora,a
Própria morte/ Terra adorada...”.

Teremos que nos unir, todos, apesar de nossas diferenças, nossas nuances e matizes. Todas as nossas diferenças tornaram-se menores diante do inimigo que ora se alevanta diante de nossos olhares perplexos. Para tanto, de agora em diante, nos reuniremos – nas praças, auditórios, teatros e avenidas – em atenção ao chamamento que se faz inadiável e urgente: humanistas de todos os tempos, uni-vos.

“Verás que um filho teu não foge à luta”.

Então que venha você, meu irmão, companheiro e camarada, seja você de qualquer credo (ou igreja), gênero, cor, classe, ideologia ou partido político (os nossos “irmãos” do PSOL, do PSTU, do PCO, os anarquistas, vocês também não podem estar alheios a esse processo). Pensemos em formas alternativas e criativas de intervenção urbana [flash mob (mobilizações instantâneas), teatro do oprimido, caminhadas, carreatas, “bandeiraços” etc.]. É chegada a hora da ação. Tomemos as ruas, pois! De modo pacífico, generoso e fraterno, vamos seduzir o nosso próximo, mostrar-lhe , pela palavra e pelo afeto, o valor e grandeza da nossa causa, que já é um projeto em curso. Rio que corre para o mar.

“Verás que um filho teu não foge à luta”.

Estamos todos convocados para esse momento capital: professores, jornalistas, escritores, advogados, médicos, engenheiros, demais profissionais liberais, comerciários, bancários, operários, agricultores, cozinheiras, faxineiros, aposentados, enfim todos os brasileiros honestos, trabalhadores autêntica e abnegadamente devotados ao processo de construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

“Verás que um filho teu não foge à luta”.

Saiamos às ruas. Organizemo-nos em grupos de amigos e/ou familiares; conversemos uns com os outros, e com outros mais nossos concidadãos, que ainda não se aperceberam dessas forças reacionárias e atrasadas que ameaçam matar, ainda no berço, esse nosso novo projeto de país já em curso: uma nação mais justa, humana e solidária, uma nação desenvolvida e diversa como nós, com a nossa cara.

Humanistas de todas as crenças e ideologias, uni-vos! Preguemos o humanismo como fundamento de uma nova sociedade brasileira. Que a poesia sobrepuje a mediocridade.

[N.A. Utilizei-me, ad libitum, de excertos do Hino Nacional como marcadores da cadência semântica da mensagem]

Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.

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