segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A infração que compensa


Por Érico Firmo, no Jornal O POVO

É a lógica de faturar o que é bom e descredenciar o que é ruim para o candidato

A coluna tem abordado o absurdo que são as infrações cometidas justamente por aqueles que se candidatam a representar o povo de Fortaleza e zelar pelo cumprimento das leis. É o fim da picada que aqueles que pretendem ser prefeito ou vereador comandem o processo de subversão das leis urbanas durante o período eleitoral. Ao invés de dar o exemplo, são os primeiros a degradar o espaço público. No O POVO de ontem, a repórter Ranne Almeida informou que já foram aplicados R$ 86 mil em multas por campanha irregular no Ceará. Nesse ranking inglório, quanto mais dinheiro o concorrente tem para gastar, mais desvios comete.

Roberto Cláudio (PSB), assim, está bem na frente. Ele é alvo de mais de 150 representações. Já fora condenado por dez no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE). O valor acumulado é de R$ 20 mil. Nessa média, mesmo que seja punido por todas, terá de pagar algo em torno de R$ 300 mil. Ora, só nos primeiros dois meses, a campanha arrecadou declarados R$ 5,23 milhões. Elmano de Freitas (PT), pelo pouco já julgado das mais de 70 representações movidas contra ele, recebeu R$ 4 mil em multas. E, só no segundo mês de campanha, ele arrecadou R$ 3,1 milhões. Ou seja, infringir a lei é excelente negócio, sobretudo para as candidaturas endinheiradas.

Na campanha presidencial de 2010, José Serra (PSDB) recebeu R$ 70 mil em multas. Dilma Rousseff (PT) foi multada em R$ 58 mil. Mesmo sem ser candidato, o ex-presidente Lula recebeu R$ 47,5 mil em multas. Convenhamos, uma brincadeira para processo que envolve centenas de milhões de reais.

No dia das eleições de 2010, Fortaleza amanheceu tomada pela sujeira como em poucos dias em sua história. Resultado da ação de candidatos e de seus cabos eleitorais. O triste, do ponto de vista de nossa consciência cidadã, é que a sujeira, a poluição visual, a sonora e as carreatas que deixam o trânsito ainda mais caótico ainda sejam instrumentos eficientes para angariar votos.

Acima, o fac-símile da matéria do O POVO do dia seguinte ao primeiro turno de 2010. Com a esperança – e apelo – de que tal absurdo não se repita no próximo domingo, nem nunca mais.

AS PESQUISAS E O CASUÍSMO

Por vezes, as pesquisas são tratadas quase como se fossem substitutas do voto em campanhas eleitorais. Não o são, evidentemente. Mas podem ser instrumentos muito interessantes de informação e ajudam a compreender o cenário. Só não devem ser tomadas como verdades absolutas. É importante dar às pesquisas o tamanho que elas têm: o de uma parte do processo, um diagnóstico passível de erro, não o centro em torno do qual a política orbita. Se o pé atrás é até saudável, chega a ser hilário o comportamento de alguns militantes que comemoram as pesquisas a seu favor – aí nada de anormal –, mas desqualificam números desfavoráveis. É a lógica de faturar o que é bom e descredenciar o que é ruim. Os mesmos eleitores de Heitor Férrer (PDT) e Renato Roseno (Psol) que festejaram os índices que mostravam crescimento se irritam com os resultados mais recentes e atacam os institutos. O próprio Roseno, nas primeiras semanas de campanha, chegou a estranhar a ausência de pesquisas, insinuando suposto interesse de não prejudicar os candidatos oficiais. Agora, reclama da forma como são feitas e da influência da divulgação dos resultados. O mesmo com os adeptos de Moroni, que alardearam a liderança no começo e agora desmerecem as mesmas instituições. E os apoiadores de Elmano, que antes defendiam o Ibope que lhes mostrava na frente na rodada anterior e agora se apegam ao Datafolha. E com os que votam em Roberto Cláudio dá-se justo o inverso.
Não que cause surpresa qualquer tipo de infantilidade vinda daqueles que travam a disputa pelo poder. Mas as reações são simplesmente risíveis.

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