Por Érico Firmo, no Jornal O POVO
É a lógica de faturar o que é bom e descredenciar o que é
ruim para o candidato
A coluna tem abordado o absurdo que são as infrações
cometidas justamente por aqueles que se candidatam a representar o povo de
Fortaleza e zelar pelo cumprimento das leis. É o fim da picada que aqueles que
pretendem ser prefeito ou vereador comandem o processo de subversão das leis
urbanas durante o período eleitoral. Ao invés de dar o exemplo, são os
primeiros a degradar o espaço público. No O POVO de ontem, a repórter Ranne
Almeida informou que já foram aplicados R$ 86 mil em multas por campanha
irregular no Ceará. Nesse ranking inglório, quanto mais dinheiro o concorrente
tem para gastar, mais desvios comete.
Roberto Cláudio (PSB),
assim, está bem na frente. Ele é alvo de mais de 150 representações. Já fora
condenado por dez no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE). O valor acumulado é
de R$ 20 mil. Nessa média, mesmo que seja punido por todas, terá de pagar algo
em torno de R$ 300 mil. Ora, só nos primeiros dois meses, a campanha arrecadou
declarados R$ 5,23 milhões. Elmano de Freitas (PT), pelo pouco já julgado das
mais de 70 representações movidas contra ele, recebeu R$ 4 mil em multas. E, só
no segundo mês de campanha, ele arrecadou R$ 3,1 milhões. Ou seja, infringir a
lei é excelente negócio, sobretudo para as candidaturas endinheiradas.
Na campanha presidencial de 2010, José Serra (PSDB) recebeu
R$ 70 mil em multas. Dilma Rousseff (PT) foi multada em R$ 58 mil. Mesmo sem
ser candidato, o ex-presidente Lula recebeu R$ 47,5 mil em multas. Convenhamos,
uma brincadeira para processo que envolve centenas de milhões de reais.
No dia das eleições de 2010, Fortaleza amanheceu tomada pela
sujeira como em poucos dias em sua história. Resultado da ação de candidatos e
de seus cabos eleitorais. O triste, do ponto de vista de nossa consciência
cidadã, é que a sujeira, a poluição visual, a sonora e as carreatas que deixam
o trânsito ainda mais caótico ainda sejam instrumentos eficientes para angariar
votos.
Acima, o fac-símile da matéria do O POVO do dia seguinte ao
primeiro turno de 2010. Com a esperança – e apelo – de que tal absurdo não se
repita no próximo domingo, nem nunca mais.
AS PESQUISAS E O CASUÍSMO
Por vezes, as pesquisas são tratadas quase como se fossem
substitutas do voto em campanhas eleitorais. Não o são, evidentemente. Mas
podem ser instrumentos muito interessantes de informação e ajudam a compreender
o cenário. Só não devem ser tomadas como verdades absolutas. É importante dar
às pesquisas o tamanho que elas têm: o de uma parte do processo, um diagnóstico
passível de erro, não o centro em torno do qual a política orbita. Se o pé
atrás é até saudável, chega a ser hilário o comportamento de alguns militantes
que comemoram as pesquisas a seu favor – aí nada de anormal –, mas
desqualificam números desfavoráveis. É a lógica de faturar o que é bom e
descredenciar o que é ruim. Os mesmos eleitores de Heitor Férrer (PDT) e Renato
Roseno (Psol) que festejaram os índices que mostravam crescimento se irritam
com os resultados mais recentes e atacam os institutos. O próprio Roseno, nas
primeiras semanas de campanha, chegou a estranhar a ausência de pesquisas,
insinuando suposto interesse de não prejudicar os candidatos oficiais. Agora,
reclama da forma como são feitas e da influência da divulgação dos resultados.
O mesmo com os adeptos de Moroni, que alardearam a liderança no começo e agora
desmerecem as mesmas instituições. E os apoiadores de Elmano, que antes
defendiam o Ibope que lhes mostrava na frente na rodada anterior e agora se
apegam ao Datafolha. E com os que votam em Roberto Cláudio dá-se justo o inverso.
Não que cause surpresa qualquer tipo de infantilidade vinda
daqueles que travam a disputa pelo poder. Mas as reações são simplesmente
risíveis.
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