O branqueamento de capitais está, como é
sabido, presente em várias das sucessivas “bolhas especulativas” cujo
rebentamento é um dos nós centrais na eclosão da atual crise capitalista. Nas
operações financeiras com que o grande capital vem gerando super-lucros, muito
do dinheiro em causa nem tem passado, nem traz marcas. Se tivesse, é muito
provável que seria o rasto de todo o gênero de tráficos criminosos.
Por uma curiosa coincidência, o Economist
(5.01.2013) escreve sobre os investigadores a que as grandes empresas
transnacionais vêm recorrendo para verificar se os parceiros com quem negociam
são ou não aldrabões («crooks»). Não deixa de ter um certo encanto esta imagem
do capitalismo atual: o de aldrabões contratando investigadores para verificar
outros aldrabões.
Mas onde o Economist quer chegar é a outro
lado. É a fazer crer que estes dinheiros e estas operações sujas prejudicam o
grande capital, e que este pretende evitá-las. Diz que a multa que o banco HSBC
pagou é um sinal de alarme. Mas, na realidade, não deve constituir grande
problema: entre 2006 e 2008 quatro bancos norte-americanos pagaram um total de
111,6 milhões de dólares para evitarem processos, e nenhum deles faliu,
naturalmente.
Pelo contrário. Um alto funcionário do
departamento da ONU que acompanha as questões do branqueamento de capitais
opinou não há muito que foi sobretudo o dinheiro dos cartéis da droga que
salvou numerosos bancos face à crise financeira de 2008. E não são as cortinas
de fumo do Economist que podem ocultar uma realidade fundamental: a de que
existe uma estreita inserção das grandes redes do crime organizado na estrutura
global do imperialismo, e de que um dos aspectos em que o quadro mundial se
agravou profundamente com a queda dos países socialistas do Leste europeu é
precisamente esse.
Basta olhar para o Afeganistão, onde um dos
resultados evidentes da ocupação imperialista é a produção de ópio ter mais do
que duplicado em relação a 1995. Num quadro geral de financeirização das
economias e de crise do capitalismo, como poderia o capital bancário prescindir
dos capitais oriundos de uma atividade que representa mais de 1% do PIB
mundial, e cuja origem criminosa, no fundo, não está muito distante da origem
dos capitais "legítimos"?
Lenine afirmou que "o capitalismo, na sua
fase imperialista, conduz à socialização integral da produção nos seus mais
variados aspectos". Na sua extrema degradação atual, inclui a socialização
do crime organizado.
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