Por Mino Carta, no sítio da CartaCapital
Símbolo. Dos serviços prestados à ditadura, à "democracia"
de Sarney e ACM, e de FHC, presidente da privataria tucana
Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o
governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que
lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado.
Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça
comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e
compactamente.
Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do
alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém
mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem
acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua
própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do
Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril.
Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de
todos.
O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.
O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano. Ambos desastrados, o editorialista e o líder petista.
Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se
parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine
Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital
americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a
mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal
diferença entre o diretor deVeja e Ben Bradlee, diretor do Washington
Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da
série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitávelimpeachment.
E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro
mafioso.
Recomenda-se um mínimo
de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento
até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer,
de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece,
entre outras façanhas deVeja, aquele épico momento em que a revista
publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de
alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.
Concentro-me em outras miopias de O Globo. Sem
citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de
imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do
PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os
brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição,
hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta
que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.
Foto: Anos de chumbo. O grande e conveniente amigo chamava-se
Armando Falcão
Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos
chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do
presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus
antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a
tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses
dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o
derradeiro instante possível.
Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.
Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso
da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de
Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate
Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois,
cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já
não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do
motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então
pelo acima assinado.
Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique
presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a
privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999,
após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade.
Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800
milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.
Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa”
(eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do
PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo.
A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao
contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o
acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem,
do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a
conveniente distância por sua corte de ienas.
Acreditamos também que entregue à propaganda da linha
auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua
nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País
de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a
evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de
inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de
convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.
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