Por Eduardo Magalhães, no blog da Cidadania
Fiquei sabendo da última da dupla Veja/Gilmar Mendes na
tarde de sábado, durante o 3º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas,
que ocorreu no fim de semana em Salvador. O assunto foi muito discutido pelos
blogueiros. E caso alguém esteja chegando agora de Marte e não saiba do que se
trata, aí vai um breve relato.
Veja publicou mais uma daquelas “denúncias” baseadas em
grampos sem áudio e declarações sem provas. Parece até surpreendente pela
ousadia, mas não é. Para falar a verdade, é tudo até bem banal.
Segundo a revista, Gilmar Mendes teria encontrado Lula
“casualmente” no escritório de Nelson Jobim e, então, o ex-presidente teria
tentado chantagear o ministro do STF para que “aliviasse” para os envolvidos no
inquérito do mensalão, que será julgado proximamente. Teria ameaçado o
magistrado com os indícios de envolvimento seu com Demóstenes Torres e
Carlinhos Cachoeira.
O colunista de O Globo Jorge Moreno, no mesmo sábado da
chegada de Veja às bancas, fez contato com Jobim, que negou tudo. E, claro,
esse colunista que vive pedindo desculpas públicas aos chefes por matérias que
os desagradam conclui o relato do desmentido de Jobim bem ao estilo de O Globo,
insinuando que “sentiu”, pela voz do entrevistado, que ele mentiu para encobrir
Lula.
Em conversas com outros blogueiros em Salvador, especulamos
muito sobre o que pode ter levado Veja a publicar matéria tão fraca,
apesar do suposto endosso de Mendes à acusação da revista. Particularmente,
fiquei com a pulga atrás da orelha. Seria Veja tão idiota? Estaria tão “desesperada”,
como muitos acham que está? Desespero algum. Veja faz essas coisas como se
estivesse escovando os dentes.
Primeiro, não nos esqueçamos de uma coisa: a história do
grampo sem áudio, protagonizada por Mendes e Demóstenes Torres, derrubou Paulo
Lacerda, um dos policiais mais respeitados do país. Ou seja: uma história sem
pé nem cabeça, que jamais foi provada, produziu uma das maiores injustiças da
era Lula e uma longa investigação (inútil, porque não encontrou nada) da
Polícia Federal.
Diante de fatos assim, percebemos que uma empresa de
comunicação conseguiu manipular a República sem maior esforço. E por que?
Simplesmente porque tinha uma autoridade do porte de um ministro do Supremo a
respaldá-la. Assim, a investigação mostrou que jamais existiu grampo algum e
tudo ficou por isso mesmo.
Ou seja: não chega a ser surpreendente o que acaba de
acontecer.
Diante do desabamento iminente da história de Mendes/Veja,
decorrente do desmentido de Jobim, as forças que a produziram saíram logo com
um boato que estão fazendo circular na internet, de que o ministro do STF teria
gravado a suposta tentativa de Lula de chantageá-lo.
Se existisse isso, teríamos que concluir que Lula
enlouqueceu com o tratamento contra o câncer. Com tantos ministros do STF que
nomeou, por que iria se preocupar em cometer um crime chantageando um
adversário? Estamos falando de Lula, do homem que nomeou procuradores-gerais da
República que atacaram seu grupo político sem dó nem piedade.
Então vamos lá: o que direi agora não é uma opinião, mas um
fato que logo irá se comprovar. As gravações da Polícia Federal que geraram a
CPI do Cachoeira envolvem Mendes até o pescoço. E não só a ele. Envolvem Veja,
envolvem Globo (como mostra reportagem de Leandro Fortes na Carta Capital deste
fim de semana) e outros grandes veículos. E junho será o mês dessas revelações.
Para que se tenha uma idéia, há dezenas de gigabites de
gravações, vídeos e áudios da PF que ainda não foram transcritos, que estão em estado
bruto, e que agora chegam à CPI. Fontes fidedignas garantem que o que existe
ali é dinamite pura. Tanto que a Globo, segundo a Carta Capital, teria
procurado Michel Temer para mandar um recado a Dilma: a mídia não pode ser
investigada. Senão…
Senão o quê? O que a mídia poderia fazer além do que fez em
2005 e 2006, durante o escândalo do mensalão? Forjaria uma gravação que, após
periciada e considerada falsa pelos peritos, a mídia diria não poder endossar
ou negar como fez com a ficha policial falsa de Dilma que a Folha de São Paulo
publicou na primeira página? Faria, sim.
O que vem agora, pois, é que é apenas opinião do blogueiro:
a iniciativa da mídia e de Gilmar Mendes foi tentativa de criar uma vacina
contra o que virá à tona, para que possam dizer que tudo decorre de “vingança”
de Lula pela denúncia do ministro do STF e da revista contra si.
Veja a manipulação, leitor: o site Consultor Jurídico pediu
ao ministro Celso de Melo, do STF, que analisasse a hipótese de Lula ter
realmente feito o que Veja e Mendes dizem que fez. O que se esperaria que ele
dissesse, que não haveria nada demais? Claro que não. Diria que, sendo verdade,
seria um crime. E o que faz a mídia? Divulga a entrevista como se Melo
estivesse condenando Lula, apesar de só estar falando sobre mera hipótese.
Manipulação pura e simples dos fatos pela mídia não é
novidade para ninguém. E essa de agora é só mais uma, que servirá como
estratégia diversionista, ou seja, para tirar o foco da CPI e intimidar seus
membros.
Todavia, podem escrever aí: essa jogada só tornará
inevitável a convocação de Policarpo Júnior ou até de Roberto Civita pela CPI.
E mais: irá quebrar resistências da base governista, notadamente no PMDB, que,
agora, foi diretamente atacado com a tentativa de colocarem Jobim e Lula no
mesmo balaio.
A matéria da Veja enterrou de vez uma possibilidade que
jamais existiu, de ser produzido um arreglo entre governo e oposição para a CPI
terminar em pizza. E essa matéria é a prova definitiva de que a mídia e Mendes
concluíram que o PT e aliados estavam dispostos a levar o processo até o fim.
Por isso fizeram ataque desse porte.
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